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Sistema de freios dianteiros de um Shelby GT500 atual. Foto: Divulgação |
Não faz muito tempo que uma grande discussão sobre sistemas de freios se estabeleceu no meio automotivo brasileiro, motivada por um Fiat Pulse Abarth que participou da famigerada competição conhecida como Mil Milhas Brasileiras, uma prova de longa duração criada nos anos 50 que é, sem exageros, um verdadeiro teste de confiabilidade para os veículos e de resistência para os competidores. Uma equipe de pilotos experientes levou um exemplar parcialmente modificado do SUV esportivo para competir e os resultados chamaram a atenção de todos.
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Pulse Abarth competiu com todo tipo de veículo. Foto: Vanderley Soares |
Para participar da prova, o Pulse Abarth recebeu uma nova programação para o motor 1.3 turbo entregar até 210cv e 31kgfm, bem como modificações na suspensão (que ficou bem mais baixa e mais firme), retirada de equipamentos e acabamentos internos, inclusão de uma gaiola de proteção, entre outras. Os freios, entretanto, permaneceram originais com discos ventilados na dianteira (cujas medidas são maiores do que os discos das demais versões) e tambores na traseira.
Desde que foi lançado, o Pulse Abarth gerou infinitas discussões e causou a ira de alguns potenciais clientes (ou meros comentaristas) devido a ausência de discos nos freios traseiros; os tambores são uma conhecida solução aplicada normalmente em veículos de baixo custo, de pouca performance ou que combinem ambas as características. Em outras palavras, segundo essas opiniões, a Fiat não deveria ter equipado seu SUV compacto esportivo com freios a tambor na traseira porque isso afetaria a frenagem do modelo de maneira negativa. Acontece que o Pulse Abarth participante das Mil Milhas Brasileiras completou a prova sem problemas ou falhas de natureza mecânica, fazendo os debates sobre as diferenças nos sistemas de freios voltarem com toda força.
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Freios de composto de carbono-cerâmica de um Porsche 911 GT3. Foto: Divulgação |
Afinal, os freios a disco são melhores que os tambores?
Uma coisa é fato: de maneira geral, os discos de freio são mais eficientes do que os tambores e não é preciso apelar para extensos argumentos técnicos a fim de concluir isso. Basta você lembrar que qualquer veículo mais sofisticado ou que entregue um nível de desempenho consideravelmente acima da média traz discos em todas as suas rodas; além disso, 100% dos veículos de passeio/de rua modernos são equipados com freios a disco nas rodas dianteiras.
Isso acontece porque, por via de regra, os freios dianteiros sempre são os mais utilizados e os que recebem a maior parte da força de frenagem. Traduzindo - são eles os principais responsáveis por parar, de fato, o automóvel. Os discos dissipam melhor o calor e os resíduos do desgaste das pastilhas, além de responderem mais rápido desde o pisar no pedal do freio até as pinças "beliscarem" os discos. Sua manutenção também é menos complicada.
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Se você nunca viu, eis o interior de um freio a tambor. Foto: Divulgação |
Porém, contudo, todavia, entretanto, o fato dos discos serem mais eficientes em alguns aspectos não significa que os tambores sejam necessariamente inferiores ou que piorem a frenagem de qualquer carro. A distância de parada, por exemplo, é um tópico que depende de vários outros fatores alheios ao tipo de dispositivo que seu veículo usa para ser parado e, além disso, há questões como os pneus (medidas, tipo, estado de conservação), peso do carro e outras. Não é tanto uma questão sobre um ser bom e o outro ruim, apenas sobre diferenças técnicas, cada qual com vantagens e desvantagens.
Imagine que você quer comparar dois automóveis idênticos (mesmo modelo, ano, versão e características gerais), mas um está usando pneus mais largos que o outro; esse irá parar em uma distância menor que o detentor dos pneus mais estreitos porque o composto mais largo possui uma maior área de contato com o solo, promovendo mais atrito e, por consequência, mais estabilidade e poder de parada. O tipo/estado do asfalto, bem como as condições climáticas vigentes naquele momento também influenciam significativamente, seja para melhorar ou para piorar a frenagem.
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Frenagens geram muito calor e isso pode levar os freios a falharem. Os discos dissipam melhor. Foto: Gerson Borini |
Para bater o martelo: o fato de o Pulse Abarth trazer tambores para os freios traseiros não é nenhum pecado do ponto de vista técnico, pois já foi comprovado que isso não afeta negativamente a desenvoltura do esportivo - e nós também pudemos constatar em nossa avaliação de uma semana. Apesar disso, é fato incontestável que os tambores foram adotados como uma medida de corte de custos e que o Pulse Abarth se comportaria ainda melhor se trouxesse discos em todas as rodas.
A escolha por discos ou tambores também depende do tipo de carro - alguns elétricos trazem tambores na traseira para reduzir poluentes (pois os resíduos de desgaste ficam dentro do tambor ao invés de serem despejados pelas ruas) e a resistência contra rolagem, ajudando na autonomia. O grande X da questão, contudo, é que não se deve julgar o poder de parada de um carro considerando unicamente o que ele usa para frear, pois o assunto é mais complexo do que parece.