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Audi e-tron Sportback, o primeiro elétrico que tivemos contato oficialmente. Foto: Yuri Ravitz |
Pressupõe-se que para gostarmos ou não de alguma coisa, é preciso conhecê-la e experimentá-la, certo? Sem esse experimento prático, nossa opinião pré-estabelecida não passa de preconceito mediante o que aquele algo representa ou a ideia que um terceiro nos passou sobre aquela coisa em questão. Em outras palavras: se a gente não tem contato direto para conhecer aquela coisa qualquer que seja, nosso julgamento se baseia no que achamos que ela é ou significa no nosso universo particular.
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Volvo XC40 Pure Electric foi o primeiro 100% elétrico que nós avaliamos por uma semana. Foto: Yuri Ravitz |
Esse é um assunto deveras delicado, mas que tenho bastante propriedade para falar por um motivo simples: eu dizia que detestava carros elétricos até começar a ter contato com eles. Amante de motores V8 e modelos esportivos, quase sempre barulhentos, o Yuri Ravitz de anos atrás declarava não ver sentido na eletrificação em alto e bom som, condenando todo tipo de esforço realizado pelas empresas nessa direção. Tudo começou a mudar quando passei algumas horas com o Audi e-tron Sportback em seu lançamento.
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Cockpit do e-tron Sportback é repleto de tecnologia. |
É mais fácil aceitar algo quando ele agrada aos olhos, não é verdade? Como jornalista, é claro que eu não recusaria a oportunidade de testar a novidade elétrica da montadora alemã, afinal de contas, meu objetivo primário é apurar os fatos e analisá-los com o máximo de proximidade e isenção que eu puder, mas quando fui buscar o SUV de luxo e o vi no clássico Azul Navarra com as belas rodas de 21 polegadas, a coisa toda começou a parecer bem mais interessante para o então "hater" de veículos elétricos.
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Belíssima combinação visual enche os olhos. |
Ao abrir a porta, mais elementos saltaram aos olhos como a fartura de tecnologia embarcada - e eu sempre gostei de tecnologia ao volante. Já andando pelas ruas, pude experimentar as benesses da eletrificação de uma forma que nunca consegui antes, ou seja: na direção cotidiana, entre as caóticas ruas da capital fluminense e até umas rápidas esticadas em trechos mais livres. Foi exatamente nesse momento que tudo ficou claro: eu não odiava carros elétricos, mas sim a narrativa que eu conhecia sobre eles.
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Cinquecento elétrico foi um dos carros mais legais que já experimentei em toda a minha vida. Foto: Yuri Ravitz |
De maneira geral, motoristas gostam de dinamismo ao volante: reações inteligentes e respostas imediatas que nos permitam sair das situações sem esquentar a cabeça. É exatamente isso que os carros 100% elétricos proporcionam, uma vez que o motor elétrico é capaz de despejar toda sua força diretamente nas rodas sem fazê-la passar por inúmeros e complexos componentes mecânicos que roubam preciosos segundos de resposta, além de alguns significativos cavalos de potência e quilos de torque.
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Ainda falando dos melhores carros que já experimentei, o Megane E-Tech é um deles. Foto: Yuri Ravitz |
Sendo mais direto ao ponto: é impossível não gostar da direção de um carro 100% elétrico. Você pode condenar uma série de questões como a falta de mais estações de recarga, a ausência de ronco do motor (embora isso não ME seja um incômodo), a demora nas recargas, entre outros tópicos. São todas queixas muito válidas e que podem, de fato, impedir a compra de um elétrico nesse momento de vida ou como único carro da casa, mas não há o que reclamar sobre a condução pura de um veículo movido a eletricidade.
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Mustang Mach-E foi um dos últimos 100% elétricos que testamos... e um dos mais legais. Foto: Yuri Ravitz |
Posto tudo isso, entendo que o verdadeiro problema dos carros elétricos seja a NARRATIVA promovida pela política e até pelas próprias montadoras, colocando-os como salvadores da humanidade e, por consequência, demonizando os modelos com motores a combustão. Houve, nos últimos anos, um intenso esforço sobre essa narrativa que acabou por soar como uma imposição, fazendo o comprador se sentir obrigado a abraçar a eletrificação porque não haveria outra alternativa, afinal, todo o restante era errado.
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Volkswagen ID. Buzz arrancou sorrisos de quem o viu pelas ruas... e de quem andou nele. Foto: Yuri Ravitz |
Falando no português claro e direto: tentaram obrigar os consumidores de todo o planeta a aceitar uma coisa desconhecida, sem previsibilidade e sem dar justificativas convincentes. Quem é que gosta de fazer algo à força? Acertou: ninguém, nem eu e nem você. Tanto é que a aceitação dos veículos elétricos não foi como o esperado, forçando esses mesmos fabricantes impositores a rever suas estratégias nesse sentido para os próximos anos, voltando a pensar em motores a combustão e/ou híbridos.
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Renault e-Kwid já passou pelo Volta Rápida e, como não podia ser diferente, foi interessante. Foto: Yuri Ravitz |
Para encerrar: entendo que há questões ambientais muito sérias no meio, entretanto, não é correto criminalizar os carros a combustão e muito menos elevar os elétricos ao status de salvadores. Também não é certo obrigar o consumidor a aceitar qualquer coisa que seja; o melhor caminho sempre é a conscientização. Além disso, ainda existem inúmeros obstáculos que precisam ser superados para que as pessoas consigam pensar em adquirir carros 100% elétricos com verdadeiro conforto e tranquilidade.
Como diz o ditado: odeie o jogo, não o jogador. Carros 100% elétricos conseguem ser estupidamente divertidos (conforme já testei inúmeras vezes) e podem, inclusive, coexistir perfeitamente com os tradicionais a combustão - se nunca dirigiu um, dirija assim que tiver a chance e comprove por você mesmo. Apenas não cometa o erro de engolir a narrativa da imposição promovida unicamente por interesses políticos e/ou financeiros, pois eu e você sabemos que todo esse discurso, no fundo, não é pelo bem-estar das pessoas.