Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil
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A cor do nosso exemplar testado se chama Vermelho Tramonto e custa R$2.490 à parte. |
A Fiat tem uma história bastante antiga e bem sucedida no mercado brasileiro, mas é como dizem: dinheiro não ocupa espaço, então, como toda empresa, ela sempre está em busca de conseguir cada vez mais capital. Nos últimos anos, a montadora se dedicou a refinar sua imagem no Brasil com produtos inteiramente novos, inclusive em segmentos que ela jamais atuou e que se mostram altamente rentáveis.
Um desses segmentos é o dos utilitários que, na prática, abrange uma série de veículos diferentes. Dessa vez, a marca quis ingressar no mercado das picapes médias com o inédito Titano, lançado no primeiro trimestre do ano passado em três versões com preços bastante competitivos. Passamos duas semanas com a versão topo-de-linha Ranch, com a qual rodamos mais de 1.000km para conhecer a novidade.
Apesar de ser uma novidade para nós, o Titano nasceu em 2019 como F70, da submarca Kaicene que pertence ao grupo chinês Changan. Um ano depois de seu lançamento, o Kaicene F70 deu origem ao Peugeot Landtrek que, na verdade, seria o modelo comercializado no Brasil. Aos 45 do segundo tempo, a Stellantis optou por fazer um "rebadge" (troca de emblemas) no Landtrek para comercializá-lo como Titano sob a chancela da Fiat, aproveitando a tradição da fabricante italiana com picapes como o Strada e o Toro.
O que o grupo fez foi, literalmente, trocar os emblemas do leão pelas letras soltas da FIAT; 100% do design do Titano é o mesmo do Landtrek, trazendo muito da identidade visual da própria Peugeot como as luzes diurnas em formato de presas de felino, sem fazer referências a outros produtos da montadora italiana. Já no interior, a situação é um pouco diferente porque há uma mescla de detalhes típicos da Peugeot com inúmeros elementos da "era chinesa" - o único traço de Fiat é o miolo do volante com o emblema da marca.
O Titano chegou com o mesmo motor 2.2 turbodiesel de quatro cilindros em linha utilizado pelo Ducato, conhecido como "BlueHDi", mas com um acerto diferente para gerar até 180cv e 40,8kgfm de potência e torque máximos. Ele trabalha atrelado a uma caixa automática de seis velocidades e um sistema de tração seletiva com opções 4x2 (apenas traseira), 4x4 (integral) e 4x4 com reduzida. Esse conjunto leva a picape de 0 a 100km/h em 12,5 segundos e a uma velocidade máxima de 175km/h.
Não são os melhores números da categoria, entretanto, ainda assim, o desempenho do Titano é bastante adequado no uso geral. O consumo de combustível também agradou, pois nossa média em percurso misto ficou na casa dos 12,5km/l e chegou a quase 16km/l em trechos estritamente rodoviários, mostrando o bom nível de eficiência energética do bloco diesel. Vale acrescentar que a versão Endurance, de entrada, é a única a contar com transmissão manual de seis marchas.
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Interior do Titano traz elementos típicos da Peugeot como o volante e os comandos no console central. |
Na média
Além da versão Ranch, que custa R$259.990, o Titano também é oferecido na variante de entrada Endurance por R$219.990 e na intermediária Volcano que sai por R$239.990. Desde a configuração mais barata, a lista de itens de série conta com: seis airbags, rodas aro 17 em aço estampado, luzes diurnas, piloto automático, assistente de descida, volante multifuncional com ajustes de altura e profundidade, apoio de braço entre os bancos dianteiros, entre outros.
A versão Volcano acrescenta faróis de neblina, rodas de liga leve, central multimídia, sensores e câmera de ré, capota marítima, entre outros. Já a top de linha Ranch traz recursos exclusivos como câmeras em 360º, faróis com projetores de LED para luz baixa, chave presencial com partida por botão, bancos dianteiros com ajustes elétricos, sensores dianteiros de estacionamento, rodas aro 18, entre outros. Os assistentes semiautônomos de condução ficaram de fora.
Como de costume, nosso teste de duas semanas com o Fiat Titano compreendeu trechos urbanos e rodoviários, mas em uma razão de 35/65 respectivamente. De cara, mesmo sem trazer "a cara" da marca, a picape média agrada bastante e faz boa presença; é uma das maiores da categoria e fica ainda mais refinada na versão Ranch por causa do conjunto ótico exclusivo e as rodas de 18 polegadas com acabamento diamantado. Como ainda não é figura frequente pelas ruas, chega a chamar a atenção de alguns passantes.
Por dentro, a visibilidade do mundo externo é muito boa, mas o ambiente parece ser o de um modelo bem mais barato da década passada - é aí que o preço abaixo da média começa a se manifestar. É fato que mesmo as picapes médias estão, de maneira geral, mais próximas dos carros de passeio tradicionais do que nunca, entretanto, o Titano foge a essa regra com uma cabine ampla e de acabamento extremamente simplório quando o assunto é escolha de materiais. Pelo menos o espaço é adequado para todos.
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Os bancos dianteiros têm o encosto reto demais, o que causa uma certa estranheza na acomodação das costas. |
Devidamente acomodado no banco do motorista, é só dar a partida pelo grande botão à direita do volante. O 2.2 turbodiesel desperta com seu característico "castanhado" grave e encorpado, sem muito filtro mesmo com as janelas fechadas - mais um traço da personalidade rústica do Titano. A direção ainda é hidráulica e o diâmetro de giro é ruim, o que significa que manobrar a picape não é uma tarefa das mais simples; pelo menos a direção é surpreendentemente leve mesmo sem assistência elétrica.
De maneira geral, o desempenho do Titano é comedido e agradável sem deixar faltas quando necessário. O comportamento da picape é bastante pacato, a não ser pela suspensão que quica praticamente o tempo todo, variando apenas pela intensidade de acordo com o piso - pouco em asfalto bom, muito em pistas acidentadas. Não por acaso, o utilitário já recebeu o nome de "Saltitano" nas conversas informais, uma brincadeira com o nome do modelo e o fato de sua suspensão saltar demais.
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Bancos são revestidos em couro. |
Alguns colegas de outros portais relataram ter achado o pedal do freio um tanto "fofo", sem muita precisão, mas não notamos isso na unidade testada. O que é um fato incontestável é a qualidade duvidosa de certos recursos como as câmeras em 360º - a imagem é ruim ao ponto de, em algumas ocasiões, mais atrapalhar do que ajudar. De igual modo, a interface da central multimídia é estranha e um pouco confusa; não é o tradicional Uconnect utilizado pelos demais carros da Fiat, mas sim uma solução própria pensada pela Changan para o Kaicene F70.
A nítida sensação é a de que todos os pontos negativos do Titano se devem justamente às características chinesas do projeto. Não por acaso, a picape receberá atualizações importantes em breve como a troca de motorização, adotando o novo 2.2 turbodiesel de até 200cv e 45,8kgfm que estreou no Ram Rampage para melhorar o desempenho; também podemos esperar melhorias em outros aspectos como a suspensão excessivamente molenga e a direção elétrica no lugar da hidráulica.
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Faróis trazem projetores de LED para a luz baixa e refletores halógenos para a luz alta. |
Avaliação geral
Design: mesmo sem trazer qualquer traço de design da Fiat, o Titano é inegavelmente bonito e harmonioso. As linhas da picape originalmente desenhada para a Peugeot são mais interessantes que as do modelo original. Nota: 10
Interior: visualmente falando, a cabine do Titano agrada com uma boa mescla de detalhes prateados e cromados em um ambiente predominantemente preto. Já a escolha de materiais remete a modelos populares, pois há bastante plástico rígido por todos os lados, quase sempre de baixa qualidade perceptível. Nota: 6
Mecânica: apesar dos números modestos, o 2.2 que equipa o Titano atualmente se mostrou suficiente para a picape no uso geral. De igual modo, a transmissão automática de seis marchas se comportou com decência e fez uma boa dupla com o bloco turbodiesel. Por fim, a picape italiana se nivela às rivais com freios a disco apenas nas rodas dianteiras e suspensão traseira por eixo de torção com molas por feixes. Nota: 7
Tecnologia: por R$259.990, o Titano traz uma boa lista de equipamentos e nenhum pacote opcional. Não há, porém, assistências semiautônomas de condução, o que se manifesta como a principal desvantagem da picape sino-italiana perante alguns rivais. Nota: 8
Conveniência: há abertura e fechamento remoto das janelas pela chave, alças nas colunas A e B para auxiliar os ocupantes a entrar e sair da picape, ajuste elétrico de altura dos faróis e, para completar, capota marítima e protetor de caçamba de série. Muito bom. Nota: 9
Acomodações: há três portas USB pela cabine, sendo duas para os ocupantes da frente e uma para os de trás. O ar condicionado de duas zonas conta com saídas para a segunda fila de bancos e há alças de teto para todos, bem como apoios de braço funcionais na frente e atrás. Nota: 9
Funcionalidades: tudo no Titano Ranch funcionou o tempo inteiro como deveria, sem travamentos ou bugs. Nota: 10
Desempenho: como já dissemos anteriormente, o conjunto motriz dá conta do recado com decência. Os freios acompanham, porém, a suspensão merece atenção; além do fato de quicar o tempo inteiro, a moleza excessiva faz com que a picape "mergulhe" demais nos defeitos da pista. Nota: 7
Segurança: o Titano ainda não passou por nenhum crash test, nem mesmo os seus "irmãos" de outras marcas, então não dá para saber como a picape se sairia. Os recursos mínimos de segurança exigidos por lei estão presentes, mas a grande dúvida é sobre a qualidade estrutural. De todo modo, é fato que o utilitário não receberia nota máxima por não trazer assistentes semiautônomos de condução. Nota: 5
Custo X Benefício: de maneira geral, o Titano custa consideravelmente menos que a grande maioria dos rivais diretos, entretanto, não existe almoço grátis. Ele também entrega menos desempenho, requinte, dinâmica de rodagem e tecnologia embarcada, além de apresentar um comportamento muito mais rústico do que a maioria dos compradores de picape procura hoje em dia. Se isso não lhe for um problema e você faz questão de economizar, vá em frente; no geral, o Titano não irá lhe decepcionar, mas recomendamos fortemente que faça um test-drive antes de fechar negócio para analisar se toda essa pegada raiz da picape sino-italiana irá lhe agradar. Nota: 6
Avaliação final: 77/100
Você obtém o que paga, certo? É exatamente a situação do Titano no mercado atual. Falando da forma mais direta possível, a picape média da Fiat custa menos porque entrega menos e isso não é necessariamente um problema: você pode optar por um utilitário maior, com mais capacidade e menos refinado, ou uma alternativa menor e mais requintada como, por exemplo, o já citado Ram Rampage e outros parecidos como o Ford Maverick ou o próprio Fiat Toro.
Ele não é o melhor companheiro para o dia-a-dia e/ou um uso mais urbano, além de não ser a opção mais indicada para ser o único carro da casa, mas é um dos ingressos mais em conta entre os 0km para o mundo das picapes médias. Seu maior problema, de fato, se concentra nas características herdadas do projeto original, pensado para o público chinês que possui gostos muito diferentes do consumidor brasileiro. Pode ser que as atualizações que prometem chegar em breve resolvam tais questões; vale a pena esperar para ver.
Motor: 2.2 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, diesel
Potência: 180cv a 3.750rpm
Torque: 40,8kgfm a 2.000rpm
Transmissão: automática de seis marchas
Tração: integral seletiva (4WD)
Tração: integral seletiva (4WD)
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: hidráulica
Pneus: 265/60 R18
Comprimento: 5,33m
Largura: 1,96m
Entre-eixos: 3,18m
Altura: 1,85m
Peso: 2.150kg
Caçamba: 1.109l
Carga útil: 1.020kg
Capacidade de reboque: até 3.500kg (com freio)
Tanque de combustível: 80l
0 a 100km/h: 12,4 segundos
Velocidade máxima: 176km/h
Fotos (clique para ampliar):