Volta Rápida: 2023 Volkswagen ID. Buzz Pro EV; meu sonho é ser estrela

Conheça toda a intimidade do Volkswagen mais exclusivo e carismático do Brasil. Rodamos 800km ao longo de uma semana bastante divertida.

Texto e fotos por Yuri Ravitz

Modelo cedido por Volkswagen do Brasil

ID. Buzz posando para as fotos em Saquarema

Nosso exemplar testado veio na mistura do Amarelo Pomelo com o Branco Candy, ao melhor estilo saia-e-blusa.

A principal função de um carro qualquer é levar do ponto A ao ponto B, certo? Em meio a tantas polêmicas e divergências no universo automotivo, essa é uma das poucas verdades incontestáveis e unânimes. Apesar disso, quando somos apaixonados por esses amontoados de lata e plástico sobre rodas, torna-se impossível encará-los unicamente de forma fria e racional; a gente procura qualquer mínima desculpa para admirar além do que os olhos veem e se divertir o máximo que der ao volante.

Se já buscamos fazer isso com os automóveis convencionais que vemos aos montes pelas ruas, imagine com um modelo que é peça raríssima e mais do que exclusiva em solo tupiniquim. De vez em quando aparecem preciosidades desse naipe para avaliarmos (como o Mustang Mach-E e o Range Rover Sport) e felizmente não demorou para que mais uma joia aparecesse no Volta Rápida para conhecermos de perto. Nosso teste mais recente foi com o Volkswagen ID. Buzz, o "sucessor espiritual" do saudoso Kombi.

Apresentado ao mundo em 2022, o ID. Buzz chegou ao Brasil oficialmente em novembro de 2023, oferecido unicamente por assinatura através do programa Sign&Drive assim como seu "irmão" ID.4 (que já avaliamos); a diferença é que o ID.4 agora pode ser adquirido ao final do contrato enquanto o ID. Buzz segue exclusivamente na modalidade polêmica, sem poder ser comprado normalmente. Será que, ainda assim, vale a pena? É o que você vai descobrir nos parágrafos a seguir.

A outra cor disponível para o ID. Buzz no Brasil é o Azul Starlight, deixando toda a carroceria em um único tom. Lá fora existem muito mais opções.

Nova Kombi? Então...

Antes de vir ao mundo como você vê nas fotos, o ID. Buzz nasceu como um conceito homônimo que foi apresentado ao planeta em 2017, durante o North American International Auto Show - o famoso NAIAS que, agora em 2025, voltou a se chamar Detroit Auto Show. O ID. Buzz conceitual buscava fazer uma conexão entre o passado e o futuro da Volkswagen, misturando o estilo retrô a todas as tecnologias que prometiam, naquela época, se tornar padrão na indústria ao lado dos planos de eletrificação completa das frotas.

O conceito foi tão bem recebido pelo público que, cinco anos depois, o ID. Buzz de produção finalmente fez sua estreia global e com pouquíssimas alterações estéticas em relação ao protótipo. Ele foi mais um produto construído sobre a plataforma MEB (de Modular E-Antriebs Baukasten em alemão, algo como "sistema de acionamento elétrico modular"), compartilhada por todos os outros ID já feitos até hoje, alguns modelos da Audi, Cupra, Skoda e até mesmo da Ford. Vale acrescentar que a arquitetura MEB comporta somente veículos 100% elétricos.

É bem evidente que todo o visual da minivan 100% elétrica foi inspirado no Type 2 (o nome oficial do Kombi, para quem não sabe), entretanto, a comparação só é justa em termos. Enquanto o Type 2 original tratava-se de um veículo barato, de manutenção simples e feito para levar grandes grupos de pessoas ou volumes de carga, o ID. Buzz tem uma pegada muito mais luxuosa e tecnológica com vários itens de conforto, além de levar apenas cinco passageiros - aqui no Brasil, pois lá fora existem opções de entre-eixos alongado e seis ou até sete lugares.

Parte da dianteira do ID. Buzz pode ser aberta para repor a água dos esguichos lavadores e a realização de outras manutenções por parte do concessionário.

Semelhanças com ressalvas

Para o Brasil, o ID. Buzz chega com o mesmo conjunto motriz do ID.4 oferecido para nós, composto por um único motor elétrico montado no eixo traseiro, capaz de gerar até 204cv e 31,6kgfm e alimentado por uma bateria de 82kWh (sendo 77kWh usáveis). Com isso, ele vai de 0 a 100km/h em 10,2 segundos e atinge a máxima de 145km/h limitada eletronicamente; não são números empolgantes, mas já superam os de qualquer Kombi oferecido no mercado brasileiro.

A autonomia geral é de 337km segundo o PBEV do Inmetro, porém, encosta nos 400km no uso geral - note que os números são menores que os do ID.4, apesar do conjunto elétrico ser o mesmo. Isso se explica pela aerodinâmica piorada e o peso elevado da minivan em relação ao SUV médio. Para fins de comparação, nós gastamos pouco mais de 30% de bateria com o ID. Buzz no mesmo trecho que o ID.4 percorreu gastando exatos 25%, em um trajeto de aproximadamente 130km entre cidades.

Acabamento interno se espelha nas cores externas, trazendo detalhes claros em um leve tom creme e em amarelo.

Bacanudo, mas não infalível

A versão Pro é uma das mais caras do ID. Buzz lá fora e chega ao Brasil em pacote fechado, sem opcionais. Os itens de série incluem: faróis Full LED adaptativos, direcionais e com função Matrix, ar condicionado digital de duas zonas, bancos dianteiros com ajustes elétricos, duas memórias, aquecimento e massagem lombar, iluminação ambiente em LED customizável com 30 opções de cores, chave presencial com abertura remota de janelas e portas corrediças traseiras, rodas aro 20 com acabamento diamantado, central multimídia com espelhamento sem fio para smartphones, painel de instrumentos 100% digital, entre outros.

Há ainda um conjunto de assistências semiautônomas que engloba: piloto automático adaptativo, assistente de permanência em faixa com correção de direção, frenagem autônoma de emergência, monitoramento de tráfego cruzado traseiro, entre outros. Por fim, há sensores e câmeras em 360º, porta-objetos removível e carregador doméstico incluso. É uma lista de recursos satisfatória, mas que merecia mais: sentimos falta do enorme teto panorâmico e do sistema de três zonas de ar que disponibiliza saídas de ventilação na segunda fila de bancos, entre outras benesses que o ID. Buzz pode receber lá fora.

Ao abrir as portas você se depara com degraus e acredite: você vai usá-los, pois o ID. Buzz é alto.

Carisma para dar, vender, emprestar, alugar...

Como de costume, os 800km que rodamos com o ID. Buzz compreenderam trechos urbanos e rodoviários em uma alternância bastante equilibrada de 50/50. Antes de falarmos disso, contudo, é interessante relatar as impressões iniciais assim que tivemos contato presencial com a minivan, pois as fotos não fazem justiça: ela é enorme. São quase 2 metros de altura e de largura, além de 4,7 metros de comprimento, medidas dignas de SUVs de grande porte e que ficam muito bem disfarçadas nas fotografias que fazem o carro parecer menor do que é.

Ao abrir qualquer uma das portas, um degrau de acabamento antiderrapante aparece e logo se mostra necessário, pois o ID. Buzz é alto como uma picape média. O habitáculo é absurdamente amplo e, como em toda minivan que se preze, repleto de nichos e soluções que otimizam a vida a bordo; os bancos da frente trazem apoios de braço ajustáveis em altura de ambos os lados e há, entre eles, o chamado Buzz Box, um compartimento removível que traz duas gavetas e um nicho superior com uma divisória personalizável.

Ampla área envidraçada torna a condução mais prazerosa.

Já acomodado no banco do motorista, é fácil encontrar a melhor posição de dirigir porque há muita amplitude dos ajustes e os sempre bem-vindos extensores de assento para as pernas que infelizmente são tão raros entre os modelos nacionais. Novamente se assemelhando a uma picape média, andar no ID. Buzz significa estar bem mais alto do que os demais carros nas ruas; diferente do Type 2 original, você viaja com uma distância considerável da dianteira do veículo, separado pelo enorme painel com vigias em vidro nas laterais.

O mais interessante é que, apesar do tamanho, o ID. Buzz é surpreendentemente fácil e tranquilo de se manobrar e dirigir pelas ruas. O diâmetro de giro é bom e a condução é extremamente leve, precisa e silenciosa, mas a suspensão é mais dura do que um carro familiar pede, embora não chegue a incomodar; sentimos falta dos amortecedores magnéticos do ID.4 com rigidez ajustável. Recomendamos cuidado ao passar por quebra-molas mais altos, pois o meio do veículo pode raspar em alguns deles.

Rodas "Solna" de 20 polegadas são calçadas em pneus 235/50 R20.

A parte mais legal de andar com o ID. Buzz é, sem dúvidas, ver as reações das pessoas nas ruas. É difícil encontrar alguém que não pare para olhar, se espantar e fazer fotos ou vídeos. É possível ver até mesmo outros motoristas reduzindo a velocidade para observá-la melhor, emparelhando para perguntar sobre o carro e coisas do tipo: em casos mais extremos, alguns chegaram a encostar e pedir para passarmos na frente, aproveitando o movimento para fazer filmagens. De tudo o que já testamos até hoje, incluindo os esportivos, nenhum carro chegou perto de causar o mesmo efeito com o público.

Nos momentos de parada, inclusive na hora de fazer as fotos para a matéria, não eram poucas as pessoas que se aproximavam para perguntar sobre a viatura e pedir fotos com ela. Alguns donos de Kombi logo notavam a semelhança e indagavam sobre as características do ID. Buzz, sua comercialização e coisas do tipo. Tudo isso ajudou a enriquecer a experiência da avaliação e mostrou toda a força do carisma do clássico da Volkswagen, bem como de sua versão futurista que, embora seja uma visão raríssima em solo nacional (pois a Volks trouxe apenas 70 unidades), já cativou o povo brasileiro.

Com os faróis acesos, todo o contorno de LEDs se acende junto das guias que se interligam pelo emblema ao centro.

Avaliação geral

Design: as linhas do ID. Buzz são uma releitura futurista do clássico Type 2. Não teve quem não rasgasse elogios ao desenho exótico e inusitado, afirmando que é bem mais interessante de se ver ao vivo do que por fotos. Na nossa opinião, a montadora foi certeira ao projetar a minivan alemã e nós não mudaríamos nada - mas eles poderiam oferecer mais opções de cores para o Brasil. Nota: 10

Interior: se a análise sobre o interior contemplasse apenas o visual, seria fácil conceder nota 10, mas a abordagem também fala sobre o acabamento da cabine e outros detalhes. Há muito plástico rígido por todos os lados e mínimas porções em revestimento ecológico nos apoios de braço das portas, porém, o sistema de iluminação ambiente está por todos os lados, até na segunda fila de assentos. Em suma, é um ambiente mais bonito que o do ID.4, mas menos caprichado quando o assunto é seleção de materiais. Nota: 7

Mecânica: absolutamente tudo o que dissemos na avaliação do ID.4 também cabe para o ID. Buzz nesse aspecto, mas a nota será diferente porque aqui, devido ao peso maior da minivan, a falta do motor mais forte se faz ainda mais sentida. Nota: 7

Tecnologia: o ID. Buzz que vem ao Brasil não é mal equipado, entretanto, a Volkswagen deixou alguns dos "mimos" mais interessantes de fora. Head-Up Display, teto panorâmico com vidro inteligente (opacidade controlada por eletricidade, como no Porsche Taycan) e ar condicionado de três zonas são apenas alguns deles. Nota: 8

Conveniência: conectores USB tipo C em cada porta, luzes de cortesia em LED tipo touch para todos, portas corrediças na traseira com abertura elétrica (inclusive pela chave), retrovisores com rebatimento elétrico e até desembaçador são apenas alguns dos muitos mimos que o ID. Buzz oferece aos ocupantes. É uma pena que os comandos por voz não funcionem por mera questão de linguagem e as janelas traseiras não possam ser abertas. O porta-malas, além de enorme, traz recursos muito interessantes como as caixas de organização para objetos e duas luminárias de LED embutidas na tampa, posicionadas para iluminar o ambiente traseiro em locais escuros. Nota: 8

Acomodações: o ID. Buzz leva apenas cinco pessoas, mas todas viajam com conforto de sobra. Os bancos da frente são, assim como no ID.4, dignos da primeira classe de um avião. O porta-malas já oferece mais de 1.000 litros de capacidade com os bancos no lugar, mas você pode rebatê-los e remover o assoalho elevado para conseguir mais de 2.000 litros. O problema é que, pela cabine ser tão grande, a falta de saídas traseiras de ar condicionado é mais sentida principalmente em dias muito quentes, obrigando o ar condicionado a funcionar nas velocidades mais altas para amenizar a situação. Nota: 8

Funcionalidades: mais uma vez, quase tudo o que relatamos na avaliação do ID.4 nesse aspecto vale para o ID. Buzz. Notamos uma melhoria significativa no funcionamento dos faróis Matrix, mas eles ainda possuem dificuldade para identificar condutores de motocicletas. Nota: 8

Desempenho: a performance do ID. Buzz é apenas ok, mediana - você não ficará impressionado ou decepcionado. Como dissemos acima, a suspensão é um pouco mais rígida do que um carro familiar pede, mas isso faz com que a desenvoltura da minivan em curvas seja surpreendentemente boa e segura, o que é interessante se lembrarmos dos quase 2 metros de altura do conjunto. É um veículo pensado para passeios tranquilos e amigáveis, nada além disso. Nota: 7

Segurança: o ID. Buzz já foi testado por alguns órgãos de segurança pelo planeta e se saiu bem em todos, tanto pela qualidade estrutural quanto pela fartura de equipamentos de proteção presentes. Nota: 10

Custo X Benefício: o ID. Buzz é oferecido em planos de 24, 36 ou 48 meses com franquias de 1.500km, 2.000km, 2.500km e 3.000km. Falando unicamente das prestações, a mais barata é de R$8.990 referente ao plano de 48x com franquia de 1.500km, enquanto a mais cara é de R$13.890 referente ao plano de 24x com franquia de 3.000km. Se falarmos de valores absolutos, o que sai mais em conta ao final é o de 24x com franquia de 1.500km - você terá pago R$311.760 ao final, enquanto o mais caro terá custado R$503.520 no plano de 48x com franquia de 3.000km. Resumindo a ópera, um ID. Buzz custará algo entre 300 mil e 500 mil reais no final das contas, um valor considerável para um produto que sequer será seu. Fabricado unicamente na Alemanha, o utilitário alemão não seria barato de todo modo, mas a Volkswagen deveria permitir, no mínimo, a aquisição ao final do contrato assim como no ID.4. Ele tem suas qualidades e oferece uma experiência singular de condução devido a toda a interação das pessoas, o que faz a "propriedade" ser muito divertida, mas você precisa considerar se realmente vale a pena pagar tanto por essa diversão acima de outros fatores. Nota: 3

Avaliação final: 76/100

Lanternas são totalmente em LEDs e se interligam por uma guia luminosa.

Considerações finais

Escolher um carro novo é, quase sempre, um exercício para tentar achar o equilíbrio correto entre razão e emoção. Há, porém, aqueles modelos que simplesmente são feitos para ficar acima desse "duelo", servindo como uma vitrine do que a empresa é capaz de fazer ou como produtos aspiracionais, pensados para fortalecer a imagem da marca perante o mercado e o consumidor. O fato é que o ID. Buzz, diferente do Type 2, não tem compromisso algum com a racionalidade; sua missão é ser o embaixador da Volkswagen em tempos onde os carros com personalidade própria estão cada vez mais raros.

Já é possível adquirir uma infinidade de modelos diferentes com os 300 ou 500 mil reais que você gastaria assinando um ID. Buzz, inclusive com muitos deles superando o monovolume alemão em diferentes aspectos. Contudo, é seguro dizer que nenhum desses proporcionaria uma experiência tão divertida (e espaçosa) quanto a minivan. Encare o ID. Buzz como um modelo simbólico que pode representar, por exemplo, uma fuga da mesmice dos demais carros ou a sua grande chance de se sentir como uma celebridade, pois acredite: todos os olhos, holofotes e celulares serão apontados para você.