O carismático SUV japonês traz a experiência dos kei cars para o mercado brasileiro e tira onda no off-road, mas será que convence no uso diário?
Modelo cedido por HPE Automotores
Nosso exemplar testado veio na cor Branco Superior. O teto pode vir em preto ou na cor da carroceria. |
Toda vez que um novo SUV é anunciado na internet, os comentaristas não perdoam: as zoeiras sobre ser "carro de shopping" e coisas do tipo é certa e frequente. De fato, a maioria esmagadora dos utilitários esportivos dos dias de hoje é pensada para um uso estritamente no asfalto, afinal de contas, é onde eles passarão 99,9% do tempo de sua vida útil. Isso significa que os "SUV de verdade", segundo esses mesmos comentaristas, estão cada vez mais escassos e as poucas opções existentes custam fortunas.
Mas antes que você lamente os fatos, saiba que ainda é possível levar um legítimo utilitário aventureiro para sua casa sem precisar desembolsar meio milhão de reais. Faz alguns meses que nós tivemos contato com o Suzuki Jimny Sierra, um simpático SUV japonês de porte minúsculo e muita valentia para fugir do asfalto. Rodamos bons 700km com o "jipinho" nipônico que é oferecido em seis versões; nossa testada foi a intermediária 4You Plus, disponível atualmente por R$183.990 na linha 2025.
Atualmente na quarta geração, o Jimny já é um velho conhecido do brasileiro: seu antecessor era fabricado por aqui, na planta de Catalão (GO). Já o Jimny que o brasileiro compra hoje é importado do Japão e o sobrenome Sierra serve para diferenciá-lo do Jimny convencional, um pouco menos robusto e sem os grandes arcos plásticos em preto fosco nos para-lamas.
Ele conta com diferentes configurações em seu país de origem, inclusive com carroceria de quatro portas e espaço para bagagens, mas a Suzuki optou por trazê-lo unicamente na arquitetura de duas portas e quatro lugares. No cenário atual, é o único carro que a montadora comercializa no Brasil, com preços partindo de R$152.990 e terminando em R$213.990.
O motor que movimenta o Jimny Sierra é um modesto 1.5 aspirado de quatro cilindros em linha, movido somente a gasolina, capaz de entregar até 108cv e 14,1kgfm de potência e torque máximos. A versão de entrada o combina a uma caixa manual de cinco velocidades, mas a nossa testada traz um câmbio automático de quatro marchas assim como as demais configurações mais caras. A tração, como não podia ser diferente, é integral seletiva com opção de reduzida.
O Jimny Sierra é construído sobre chassi por longarinas, tal qual as picapes médias, sendo o único SUV compacto do Brasil com essa característica. Também é o único que usa suspensão dianteira por eixo rígido; todos os demais são construídos em monobloco com suspensão dianteira independente. Tudo isso foi pensado para garantir o máximo de robustez fora do asfalto e, para melhorar, o utilitário esportivo pesa apenas 1.100kg nessa versão.
Acabamento interno é bastante simples, mas bem montado. |
Falando de equipamentos de série, o Jimny Sierra traz itens como: luzes diurnas halógenas, faróis de neblina, central multimídia JBL com tela de 7 polegadas e espelhamento para smartphones via cabo, ar condicionado, rodas aro 15 em liga leve com pneus de uso misto, airbags duplos frontais, controles de tração e estabilidade, ajuste de altura para o volante e o banco do motorista, entre outros.
A versão 4You Plus que testamos acrescenta recursos como: faróis Full LED por projetores com ajuste elétrico de altura e lavadores, ar condicionado digital automático, bancos com revestimento "premium", câmera de ré e mais alguns outros. Não é uma lista de equipamentos ruim, entretanto, o preço de tabela pede muito mais recursos, principalmente de segurança: deveria haver, no mínimo, quatro airbags.
Os 700km que rodamos com o "nosso" Jimny Sierra compreenderam trechos urbanos e rodoviários, além de uma boa parte de trilhas com inúmeros obstáculos diferentes - nós fomos, inclusive, participar do último Suzuki Day que rolou no ano passado e você pode ver os detalhes da experiência aqui. De cara, o contato inicial com o SUV japonês nos tira sorrisos devido ao porte diminuto do modelo, o que gera uma simpatia quase que automática e absolutamente espontânea.
É uma vista rara em meio a carros cada vez maiores e abrutalhados, mas que cativa e nos faz querer entrar imediatamente nele. Por dentro, o porte diminuto se traduz em um espaço adequado para, no máximo, dois adultos na frente e duas crianças atrás... ou malas e bolsas de compras. O porta-malas de ínfimos 85 litros obriga que o motorista escolha entre deixar os bancos traseiros colocados para transportar pessoas ou recolhidos para levar outras coisas.
Atrás, ou você leva pessoas ou leva bagagens. Os dois juntos, não dá. |
A posição de dirigir é relativamente agradável e, já acomodado no banco do motorista, há uma sensação incomum de amplitude proporcionada pela carroceria de cantos quadrados e colunas estreitas, o que é bom. Pelas ruas, o Jimny se movimenta com muita serenidade (como é de costume em carros japoneses) e nos surpreendeu positivamente pelas médias de consumo entre 14 e 16km/l em percurso misto. Embora seja leve, ele não é nem um pouco aerodinâmico e a transmissão de quatro marchas também não favorece, o que justifica nosso espanto.
Acontece que, após algum tempo ao volante, o Jimny Sierra se torna um tanto cansativo e isso se deve justamente às características que o fazem ser um devorador de trilhas. Em outras palavras, não é o melhor companheiro para uso diário ou por trechos mais longos: falta um ajuste de profundidade do volante e a direção do carro não passa segurança em altas velocidades. Além disso, os números modestos do 1.5 aspirado tornam as reações lentas e exigem paciência durante ultrapassagens e retomadas. Se você é do tipo apressado ou pé-de-chumbo, esqueça-o.
Bancos traseiros até são confortáveis, mas o espaço para as pernas é muito limitado. |
Quando, porém, você leva o Jimny Sierra para a primeira fuga das estradas asfaltadas, tudo começa a fazer sentido. Os balanços extremamente curtos da carroceria (balanço é a distância entre o eixo e a extremidade do para-choque) fazem com que seja quase impossível raspá-lo em rampas ou degraus, o que já anula as preocupações com esse tipo de obstáculo. A suspensão macia de curso longo não deixa que ocorram batidas secas e faz o Jimny Sierra encarar os locais mais acidentados não como um desafio, mas como uma dança - e os ocupantes junto, balançando de um lado para o outro.
Você pode alternar entre 2H e 4H em movimento, desde que alivie o pedal do acelerador, esteja com as rodas retas e andando a até 100km/h. Já para engatar o 4L (tração reduzida nas quatro rodas), é necessário parar o veículo completamente e colocar a transmissão em N (neutro), desengrenada. O 4H já consegue dar conta de muita coisa, mas caso apareça algum obstáculo ainda mais complicado, o 4L dará jeito - e nós vimos isso na prática durante o Suzuki Day. Mesmo sem experiência em trilhas, este que vos fala conseguiu percorrer toda a aventura com o Jimny Sierra sem ficar agarrado vez alguma.
Uma pequena parte do nosso comboio durante a trilha "Numa Adrena". |
Para resumir a ópera: após tudo o que passamos ao volante do Jimny Sierra, ficou claro que estamos diante de um clássico caso de produto de nicho. É comum vermos comparativos tentando enquadrar o jipinho japonês entre alguns SUVs compactos do mesmo preço como Hyundai Creta, Volkswagen T-Cross, Honda HR-V e outros do tipo, entretanto, não há como fazer essa comparação por um motivo simples: o Jimny Sierra não compete com nenhum outro SUV compacto à venda no Brasil atualmente.
Seu objetivo é ser um off-roader competente desde o momento em que sai da loja, sem exigir nenhuma modificação por fora, missão que ele cumpre com o pé (e o pneu de estepe) nas costas. Ele não oferece o desempenho e as comodidades de nenhum utilitário esportivo urbano, contudo, te leva a lugares onde os outros não levam e, nessa versão 4You Plus, ainda acrescenta mimos interessantes como os ótimos faróis por projetores de LED, o ar condicionado digital e a multimídia assinada pela JBL.
Design: o Jimny Sierra traz uma forte inspiração no Mercedes-Benz Classe G - é tão forte que alguns proprietários transformam o jipinho em, literalmente, uma miniatura de Classe G com direito a emblemas Mercedes e tudo o mais. Isso não é demérito algum: o SUV da Suzuki esbanja charme e simpatia, atraindo olhares por onde passa. Nota: 10
Interior: a cabine do Jimny Sierra parece querer entregar uma mistura do clássico com o moderno. É um ambiente inegavelmente funcional e até harmônico, contudo, poderia ser bem mais confortável. Nota: 7
Mecânica: se analisarmos as características mecânicas do Jimny Sierra puramente com frieza, vamos nos perguntar porque a Suzuki parou em 1980. Acontece que não dá para encarar a questão dessa forma, pois tudo no jipinho japonês tem um motivo de ser e, após vermos sua desenvoltura naquilo que se propõe, não dá para contestar o trabalho da engenharia. Nota: 9
Tecnologia: o "kit dignidade" está todo ali, mas isso não é bastante mediante os mais de 180 mil reais do preço de tabela da versão 4You Plus. Não dá para cobrar tanto e garantir um alto retorno em apenas um aspecto do produto adquirido. Nota: 4
Conveniência: é difícil falar em CONVENIÊNCIA quando você sequer pode pensar em levar quatro pessoas e bagagens ao mesmo tempo, algo possível em qualquer outro carro à venda no mercado atualmente. Se servir de consolo, há a possibilidade de instalar bagageiro de teto. Nota: 2
Acomodações: os bancos da frente são bons e os de trás também são, porém, o espaço para as pernas dos ocupantes da segunda fila é muito limitado. Pelo menos há luzes de cortesia até na traseira, um item que falta em vários modelos mais familiares. Nota: 4
Funcionalidades: tudo no Jimny Sierra funcionou como deveria o tempo inteiro, sem travamentos ou bugs. Nota: 10
Desempenho: por melhor que o Jimny Sierra seja em trilhas ou qualquer coisa parecida, você ainda precisa pegar um bom pedaço de asfalto até chegar nelas e é no asfalto que o SUV japonês deixa a desejar em pontos variados, mas principalmente pela sensação de insegurança a partir dos 90km/h. Poderia ser melhor. Nota: 5
Segurança: o Jimny Sierra foi avaliado pelo Euro NCAP em 2018 e obteve três estrelas de cinco possíveis. O instituto fez ressalvas sobre a falta de mais recursos de segurança, a atuação fraca de alguns dos equipamentos presentes e até mesmo sobre elementos da cabine que podem ser perigosos em uma colisão. Em suma, o pequeno japonês tem muito o que melhorar nesse tópico. Nota: 4
Custo X Benefício: dentro da gama do Jimny Sierra, a versão 4You Plus é uma das mais interessantes por já trazer quase todos os recursos principais da versão top de linha, mas com o mesmo "look" das configurações mais baratas. Como dissemos anteriormente, não compare o Suzuki com outros SUVs compactos, pois eles não estão mirando no mesmo comprador. O Jimny Sierra é um carro de nicho pensado para quem deseja se aventurar fora do asfalto e já pode fazer isso assim que sair da concessionária, ou pode servir como uma boa base para projetos mais extremos voltados ao off-road. Como todo bom carro de nicho, não é uma compra racional que preza pelo custo X benefício, porém, apela para a emoção do custo X diversão e nisso, de fato, ele surpreende e deve ser considerado. Nota: 7
Avaliação final: 62/100
O fato do Jimny Sierra ser um dos pouquíssimos SUVs da atualidade realmente aptos a encarar um fora-de-estrada diz muito sobre como o mercado automotivo está nos dias de hoje. Embora os utilitários esportivos tenham nascido com essa premissa, os tempos são outros e, no mundo moderno, a maioria esmagadora dos proprietários busca um veículo que seja a companhia perfeita para o dia-a-dia e a realização das tarefas do cotidiano com sua família. Qualquer uso que saia desse espectro configura-se como uma aventura e, portanto, um luxo que, como todo bom artigo de luxo, não basta querer: é preciso ter condições para bancá-lo.
E é exatamente nesse público que a Suzuki está de olho. É verdade que, pelo conjunto da obra, o Jimny Sierra poderia custar menos para ser ainda mais atraente do ponto de vista financeiro, entretanto, o fato de ser importado do Japão só piora as coisas. Ainda assim, a experiência de passar alguns dias na companhia do simpático SUV nipônico foi inesquecível e nos deixou com vontade de repetir a dose assim que possível; na verdade, o desejo é o de ir a um concessionário Suzuki e adquirir nossa própria meia-entrada para esse mundo das diversões sobre rodas longe do asfalto.
Ficha técnica
Motor: 1.5, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina
Potência: 108cv a 6.000rpm
Torque: 14,1kgfm a 4.000rpm
Transmissão: automática de quatro marchas
Tração: integral seletiva
Suspensão: eixo de torção nas quatro rodas
Freios: discos sólidos na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 195/80 R15
Comprimento: 3,64m
Largura: 1,64m
Entre-eixos: 2,25m
Altura: 1,72m
Entre-eixos: 2,25m
Altura: 1,72m
Peso: 1.100kg
Porta-malas: 85l
Porta-malas: 85l
Tanque: 40l
0 a 100km/h: 14 segundos
Velocidade máxima: 150km/h
Fotos (clique para ampliar):