segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

2025 Peugeot 2008 GT 1.0 CVT; beleza não põe mesa

A nova geração do SUV da Peugeot quer recolocar a marca na guerra dos compactos e aposta em design, recheio tecnológico e correção de falhas. Será que convence? Nós testamos.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

A cor do nosso exemplar testado se chama Cinza Selenium e custa R$2.000 à parte.

Foi-se o tempo em que as novidades mundiais demoravam a aparecer no mercado brasileiro, certo? Para falar a verdade, ainda não - pelo menos não totalmente. Apesar do Brasil ser um país poderoso e importante na estratégia da grande maioria das marcas, alguns lançamentos ainda demoram a acontecer e, quando finalmente chegam, acabam não atendendo a todas as expectativas do consumidor.

Nosso teste da vez é com a segunda geração do Peugeot 2008, apresentada oficialmente ao planeta em 2019, mas que vinha ao país somente com motorização 100% elétrica desde o último bimestre de 2022. Reestilizado em 2023, o SUV compacto finalmente chega com versões a combustão, forte apelo visual e preços relativamente competitivos. Testamos a variante topo-de-linha GT por mais de 1.000km.

Versão topo-de-linha GT vem sempre com o teto em preto brilhante.

Orgulho da família

O novo 2008 mudou completamente em relação ao modelo anterior (que já testamos na versão Style com motor aspirado). A plataforma agora é a CMP, compartilhada com o irmão menor 208, enquanto o design incorpora a atual identidade visual da montadora por todos os lados, além de se espelhar na segunda geração do 3008, seu irmão maior. Graças a essas alterações, o 2008 ficou maior, mais espaçoso, mais tecnológico e muito mais atraente quando comparado ao antigo.

Fabricada na Argentina, a nova geração do 2008 é oferecida em três versões: a de entrada Active (R$143.990), a intermediária Allure (R$153.990) e a top de linha GT (R$173.990), mas é possível conseguir descontos superiores a 15 mil reais. Há ainda a 100% elétrica e-2008 que custa R$269.990 e, além do visual atualizado, traz um conjunto motriz aprimorado em relação ao pré-facelift. Vale ressaltar que nenhuma delas conta com opcionais e que o modelo elétrico continua sendo importado da Europa.

Motor "Turbo 200" é exatamente o mesmo utilizado por modelos Fiat e Citroën

Azul, verde, branco e vermelho

Enquanto o antigo 2008 trazia motores 1.6, incluindo o famoso THP feito em parceria com a BMW, a nova geração chega ao Brasil unicamente com o motor "Turbo 200" que estreou no Fiat Pulse. Trata-se de um 1.0 de três cilindros, turbinado e flex, capaz de gerar até 130cv e 20,4kgfm, que trabalha atrelado a uma caixa automática CVT capaz de simular sete marchas para uso no modo manual. A tração, claro, é unicamente dianteira.

Acreditava-se que, pelo menos na configuração GT, o SUV francês receberia o motor "Turbo 270" de até 185cv e 27,5kgfm que equipa, por exemplo, o Pulse Abarth e o Jeep Renegade, mas não aconteceu. Com o topo-de-linha pesando exatos 1.300kg, o desempenho geral é apenas bom, sem se sobressair ou frustrar quando necessário. A média geral de 10km/l com etanol e gasolina misturados é que deixou a desejar.

Cabine é, essencialmente, a mesmíssima do hatch 208.

Até que enfim, hein!

A nova geração do 2008 deu um grande salto em questão de tecnologia embarcada. O SUV compacto traz uma boa lista de itens de série desde a versão de entrada, incluindo recursos como: faróis Full LED com ajuste elétrico de altura, rodas aro 17 diamantadas, painel de instrumentos 100% digital, central multimídia com espelhamento sem fio, ar condicionado digital, quatro airbags, controles de tração e estabilidade, banco do motorista com ajuste de altura, volante multifuncional com ajustes de altura e profundidade, freio eletrônico de estacionamento, entre outros.

A versão GT acrescenta: bancos em couro, sensores dianteiros de estacionamento (para somar aos traseiros), câmeras em 360º, chave presencial e mais alguns itens exclusivos dela como faróis adaptativos por projetores de LED, teto solar panorâmico, airbags de cortina (totalizando 6), painel de instrumentos em 3D, entre outros. Por fim, há recursos semiautônomos de condução como farol alto automático, frenagem autônoma de emergência, alertas de ponto cego, de saída de faixa, de fadiga do motorista e de placas de velocidade, entre outros.

Rodas de 17 polegadas trazem desenho incomum.

Altas expectativas, mistas sensações

A semana com o Peugeot 2008 de segunda geração foi interessante porque nos permitiu ver toda a evolução do produto, afinal de contas, vale lembrar que se trata de um carro totalmente novo. Em relação ao antecessor, ele ganhou 15cm em comprimento, 4cm em largura e 7cm em entre-eixos, o que melhorou substancialmente as acomodações para todos; em contrapartida, perdeu 4cm em altura total e, para piorar, a plataforma CMP é reconhecida pela posição baixa dos assentos. Trocando em miúdos, isso significa que você dificilmente se sentirá a bordo de um SUV.

Ainda assim, de maneira geral, a cabine evoluiu bastante em aproveitamento de espaço e até convence aos olhos, mas não ao tato: o acabamento geral está na média do segmento, trazendo plástico rígido por todos os lados e mínimas porções de tecido nos apoios de braço das quatro portas. Para compensar, o design excêntrico faz boa vista e é complementado por recursos como as costuras em verde-limão (exclusivas da versão), as luzes de cortesia do tipo touch, o já conhecido cluster de instrumentos com efeito 3D e o volante diminuto afastado do painel.

Espaço interno melhorou, contudo, ainda não é dos melhores na categoria.

Ao volante, o novo 2008 se sai melhor do que o antigo 1.6 aspirado - o 1.0 turbo entrega todo seu torque a partir de 1.750rpm e trabalha com bastante suavidade o tempo inteiro, garantindo uma condução confortável e quase sempre muito silenciosa. Só não queira comparar com o antigo THP, pois a diferença de eficiência nesse caso é enorme e toda a favor do veterano que anda muito mais e consome menos. A versão GT deveria, no mínimo, ser oferecida tanto com o Turbo 200 quanto com o Turbo 270 para os que fazem questão de performance.

O que continua de altíssimo nível é o acerto da suspensão. O novo 2008 entrega um equilíbrio bastante satisfatório entre firmeza e conforto, passando pelos defeitos da pista sem dar batidas secas de qualquer espécie e filtrando a maioria deles; ao mesmo tempo, a suspensão consegue manter a carroceria nos eixos quando é um pouco mais exigida em curvas, sem rolagem excessiva ou transmitir insegurança. Apenas não abuse, pois não estamos falando de nenhum esportivo: para a Peugeot de hoje, GT representa meramente um topo-de-linha.

Teto solar é do tipo panorâmico e pode ser aberto, mas a abertura é pequena.

Além da suspensão, quem também se destacou foram os faróis Full LED - o GT é o único que traz ajuste automático de altura (de acordo com a inclinação da carroceria e o peso do carro devido aos passageiros e bagagens) e projetores tanto para luz alta quanto baixa. A iluminação é excelente e supera a grande maioria dos rivais sem muito esforço. As lanternas traseiras, por sua vez, também são inteiramente feitas por LEDs e contam com efeito incolor quando apagadas, deixando o visual mais futurista e deveras exótico.

A potência do ar condicionado chamou atenção positivamente, mas houve um retrocesso em relação ao modelo antigo: não há mais um sistema dual zone com temperaturas individuais para motorista e passageiro. A qualidade da imagem das câmeras foi outro destaque positivo, bem como a resolução das telas tanto do painel de instrumentos quanto da central multimídia, que é nova e munida de todas as funções mais básicas que um carro dessa categoria pede atualmente.

As três barras de LED abaixo dos faróis atuam como luzes diurnas e de posição.

Avaliação geral

Design: como já foi dito anteriormente, o novo 2008 se inspira fortemente na segunda geração do 3008 e isso é ótimo, pois se trata (na nossa opinião, é claro) de um dos carros mais bonitos que já passaram pelo Brasil. A nova geração do compacto é quase tão bonita quanto seu irmão maior. Nota: 9

Interior: é fato que a cabine do novo 2008 agrada bastante ao visual, entretanto, a qualidade do ambiente é a mesma da maioria dos rivais, o que significa que há plástico rígido por todos os cantos e, para piorar, nem sempre de bom aspecto visual. Ainda assim, é nítida a evolução quando comparado ao modelo da geração passada. Nota: 7

Mecânica: adotar um motor 1.0 turbo foi muito bom, mas deveria haver outra opção mais forte, principalmente na versão GT. No mais, o padrão de suspensão traseira por eixo rígido e os sempre bem-vindos freios a disco nas quatro rodas. Nota: 7

Tecnologia: o nível de equipamentos a bordo do 2008 evoluiu consideravelmente e, para melhorar, a versão topo-de-linha traz recursos raros ou inexistentes na maioria dos rivais. Ainda assim, é possível sentir faltas como retrovisor interno fotocrômico e piloto automático adaptativo, presentes em alguns concorrentes mais baratos. Nota: 8

Conveniência: há portas USB tipo A e tipo C para todos (quatro no total), luzes de cortesia até na traseira, rebatimento elétrico dos retrovisores externos e chave presencial com acesso/bloqueio sem as mãos, porém, os quebra-sóis trazem espelho sem iluminação, não há sensores ou botões nas maçanetas para trava e destrava das portas, bem como abertura e fechamento remoto das janelas e teto solar. Nota: 6

Acomodações: os assentos não são ruins, porém, a lombar dos bancos dianteiros é muito pronunciada e não há como regular. Há apoio de braço para os ocupantes da frente, mas sem qualquer ajuste. De maneira geral, os assentos são baixos e os vãos de porta são altos, fazendo com que a gente se sinta em um hatchback qualquer - ou seja, se procura se sentir minimamente em um SUV, esqueça-o. O espaço interno é adequado, sem sobras ou faltas. Deveria contar com saídas traseiras de ar condicionado. Nota: 5

Funcionalidades: tudo no 2008 GT funcionou corretamente o tempo inteiro, sem travamentos ou bugs. Nota: 10

Desempenho: o 2008 na versão GT é um dos carros mais pesados do Brasil a trazer um motor 1.0 turbo. A performance não arranca suspiros, entretanto, você não passará sufoco quando requisitá-lo nas estradas; já o consumo deixou bastante a desejar. É possível conseguir médias superiores a 14km/l, mas somente na estrada e somente com gasolina - no uso urbano, o consumo cai assustadoramente. Para uma nomenclatura que já foi sinônimo de esportividade (lembra do 208 GT e seu 1.6 turbinado?), merecia muito mais. Nota: 6

Segurança: praticamente tudo o que foi dito no teste do 208 vale aqui para o 2008, pois a plataforma e as circunstâncias são as mesmas. É verdade que o SUV argentino ainda não foi testado pelo Latin NCAP, contudo, não há razão para esperar melhorias estruturais. Pelo menos a versão GT traz alguns recursos a mais de segurança que não existem nas mais baratas. Nota: 3

Custo X Benefício: se considerarmos o preço de tabela, o GT se torna caro perante os concorrentes por conta do seu nível de eficiência energética aquém do esperado - quando falamos em EFICIÊNCIA ENERGÉTICA, entenda por uma relação entre desempenho e economia de combustível. Se, todavia, a concessionária garantir o desconto anunciado no site que derruba o valor para menos de 160 mil, a coisa muda de figura e o GT passa a ser um bom negócio, pois se torna um top de linha com preço de versão intermediária dos concorrentes principais. Resumidamente, é um SUV compacto para quem valoriza design, suspensão e itens de tecnologia; se procura desempenho, economia de combustível ou farto espaço interno, é preciso partir para os adversários. Nota: 6

Avaliação final: 67/100

Quando o carro está ligado, as luzes traseiras de posição ficam acesas o tempo inteiro. No para-choque ficam as luzes traseiras de neblina, as únicas que usam lâmpadas convencionais.

Considerações finais

Design sempre foi um dos principais apelos dos carros da Peugeot e isso não mudou, mas a incorporação ao grupo Stellantis voltou os olhares da montadora para questões tecnológicas. Você pode encarar o novo 2008 como uma opção mais descolada e avançada em relação a um Fiat Fastback, por exemplo, pois é um papel que lhe cabe muito bem. Ele foi projetado para disputar com os SUVs compactos do primeiro escalão - Creta, HR-V, T-Cross, entre outros.

Apesar disso, ele não possui todas as características necessárias para bater de frente em pé de igualdade com essa turma e a Peugeot sabe disso - não é à toa que a marca anuncia generosos descontos em seu site oficial. Não é uma compra ruim, entretanto, deve ser muito bem pensada para que não haja arrependimento depois, afinal, as qualidades conhecidas dos motores 1.0 turbo não se fazem tão presentes aqui. É como dizem por aí: beleza não põe mesa.

Na versão GT, a grade central traz acabamentos na mesma cor da carroceria.

Ficha técnica

Motor: 1.0 turbo, 3 cilindros em linha, 12 válvulas, flex
Potência: 130cv (E) / 125cv (G) a 5.750rpm
Torque: 20,4kgfm (E/G) a 1.750rpm
Transmissão: automática CVT com simulação de sete marchas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Pneus: 215/60 R17
Comprimento: 4,30m
Largura: 1,77m
Entre-eixos: 2,61m
Altura: 1,54m
Peso: 1.300kg
Porta-malas: 419l
Tanque: 47l

0 a 100km/h: 10,1 segundos
Velocidade máxima: 194km/h


Fotos (Clique para ampliar):