sábado, 13 de julho de 2024

Teste rápido: BYD Song Pro tem potencial para agitar o segmento, mas a marca precisa se afirmar

Texto e fotos por Yuri Ravitz
A convite da assessoria

O exemplar testado veio na cor Azul Atlântida, disponível sem custo adicional.

A BYD lançou, nesta semana, o novo Song Pro para aumentar seu portfólio de híbridos ao lado do recém-lançado King (um sedan médio) e do já conhecido Song Plus, seu irmão de projeto. O novo SUV médio da marca já começou a ser vendido em toda a rede de concessionárias da empresa e nós fomos conhecê-lo de perto. A missão clara é reforçar a ofensiva no segmento contra os líderes Jeep Compass e Toyota Corolla Cross.

Atualmente importado da China, a marca já confirmou que ele será seu primeiro veículo com fabricação nacional; a montagem começará em regime SKD e CKD com peças importadas e a montagem final aqui, passando para a produção completa no país a partir de 2025, na planta de Camaçari (BA) que já foi da Ford. No momento, ele é oferecido em duas versões: GL (R$195.800) e GS (R$205.800).

Assinatura em LEDs dos faróis conta com três segmentos em forma de L invertido.

Olhando por fora, a proximidade visual entre o Song Pro e o Song Plus não é à toa; Song, na verdade, é uma linha de modelos que a BYD trabalha pelo mundo afora e cada um recebe um "sobrenome" para identificá-lo, mas todos trazem semelhanças visuais óbvias para deixar claro que pertencem a uma mesma linhagem. O Pro é a evolução do Song original, de 2015, como se fosse uma nova geração que nasceu em 2019 para alinhar o modelo ao novo cenário global dos SUVs - o que chega ao Brasil agora é a segunda reestilização do utilitário, apresentada em 2023.

O Song Pro se posiciona abaixo do Song Plus na hierarquia da marca e não será diferente no mercado brasileiro, contudo, o Pro chega a ser ligeiramente maior do que o Plus em algumas medidas. As semelhanças continuam ao analisarmos a cabine, porém, o Pro busca trazer um aspecto mais "moderninho" com a tela do painel de instrumentos em estilo borda infinita, sem tabelier, e uma maior profusão de tons claros combinados a um exótico laranja nas costuras e detalhes dos bancos.

Conjunto híbrido é o conhecido DM-i que equipa os irmãos de portfólio.

A responsabilidade de movimentar o Song Pro fica a cargo do conhecido conjunto DM-i, o mesmíssimo presente nos Song Plus e King, composto por um motor 1.5 aspirado a gasolina, de quatro cilindros, que gera até 98cv e 12,4kgfm auxiliados por um motor elétrico que entrega até 197cv e 30,6kgfm. São até 235cv e 43kgfm de potência e torque combinados, mas essa cavalaria só se manifesta na versão GS por causa da bateria maior, de 18,3kWh; a versão de entrada GL conta com bateria de 12,9kWh, o que reduz a potência máxima combinada para 223cv.

A BYD promete uma autonomia puramente elétrica de até 110km pelo ciclo NEDC (chinês) que caem para cerca de 68km segundo o PBEV do INMETRO, enquanto a autonomia combinada prometida é de 1.100km pelo NEDC e 780km pelo PBEV. Sobre consumo, a chinesa afirma que ele é capaz de conseguir até 22,7km/l e vale lembrar que estamos falando de um PHEV, ou seja, suporta recarga por tomada. Ele pode, inclusive, alimentar dispositivos externos em 220v graças ao V2L (Vehicle-to-Load) através de um cabo dedicado que vem de série.

Interior vem sempre nessa configuração visual, independentemente da cor escolhida para a carroceria.

A lista de equipamentos é muito parecida entre as versões e é tudo de série, sem pacotes opcionais. A GL conta com: faróis Full LED com ajuste elétrico de altura, cluster de instrumentos 100% digital, ar condicionado digital de duas zonas com saídas traseiras, rodas aro 18 diamantadas, sensores dianteiros e traseiros de estacionamento, câmeras em 360º, seis airbags, porta-malas com acionamento elétrico, freio eletrônico de estacionamento com auto hold, central multimídia "giratória" com espelhamento sem fio, entre outros.

A versão GS acrescenta ajustes elétricos para o banco do motorista, carregador de smartphones por indução e filtro de partículas para o ar condicionado, além da bateria maior que melhora a autonomia e o desempenho. O grande porém fica para a completa ausência de itens de condução semiautônoma: assim como no King, não há piloto automático adaptativo, farol alto automático, frenagem autônoma de emergência e outros. Também não há teto solar para nenhuma delas.

Os pneus são 225/60 R18. As rodas são as mesmas para ambas as versões.

Gostos daqui, gostos de lá

Nosso teste com o Song Pro foi curto e somente em trechos urbanos, mas já deu para ter uma noção dos acertos e erros do SUV chinês. Como todo bom híbrido, ele sempre prioriza a utilização do motor elétrico (enquanto houver carga, é claro) e a partida é imperceptível, realizada por um botão próximo ao seletor tipo joystick do câmbio. O Song Pro se movimenta com fluidez e silêncio, dispensando o motor a combustão quase que completamente.

A posição de dirigir é agradável e os bancos são bons, mas a coluna de direção deveria ter mais amplitude dos ajustes de altura e profundidade - é bom estarem presentes, porém, são deveras limitados. A ergonomia também agrada de maneira geral, mas leva um tempo até nos acostumarmos com o volume de informações exibido no painel e na central multimídia; fica melhor de ler quando o fundo está escuro com os caracteres claros.

Bancos são confortáveis e o espaço interno é bom.

Falando em claro e escuro, o interior do Song Pro virá sempre do jeito que você vê nas fotos, mesclando tons variados com detalhes em laranja. Por um lado, é interessante por quebrar a monotonia que costumamos ver em alguns rivais que não saem do "all black", porém, a BYD deveria pensar em oferecer interiores mais sóbrios para os que buscam algo mais convencional. Para compensar, a cabine passa a sensação de qualidade e não faz feio perante a concorrência.

Com o carro ligado e tudo ajustado, é hora de cair no asfalto e ver do que o Song Pro é feito. Achamos o pedal do acelerador bastante "fofo", do tipo que precisa ser pressionado com mais vontade para que o carro comece a andar, mas a movimentação depois dessa etapa é tranquila e agradável. O SUV chinês mostra que foi pensado 100% para o conforto, apresentando um rodar que se aproxima muito dos concorrentes japoneses.

A resolução da tela do painel de instrumentos é boa, mas a leitura dos caracteres não é das melhores.

Inclusive, parece que a BYD está começando a entender o gosto do brasileiro por carros mais firmes do que os chineses. O acerto da suspensão se mostrou muito bom durante nosso curto teste, equilibrado corretamente para não deixar a condução boba em curvas e ríspida nos defeitos da pista. De igual modo, o carro respondeu adequadamente quando exigido: ao se pisar fundo no acelerador, uma rápida destracionada e logo o Song Pro avança com vontade, acionando o motor a combustão para auxiliar na entrega de força. Aqui sim, os mais de 200cv e 40kgfm de potência e torque máximos se fazem presentes.

O motor, a propósito, é bastante perceptível de dentro da cabine, sinal de que o isolamento acústico precisa de um reforço. Resta saber se o Song Pro sofrerá do mesmo problema do Song Plus nas estradas: a apatia de quando a energia da parte elétrica está baixa e o 1.5 aspirado precisa se dividir entre alimentar a bateria e mover o veículo. Segundo relatos de quem já dirigiu o irmão "veterano", parece que a arquitetura DM-i não lida muito bem com essa situação, mas só será possível ver como o Song Pro se sai nesse caso em uma avaliação mais completa e duradoura. Por hora, no urbano, agradou.

Encostos dos bancos traseiros podem ser reclinados por alavancas nas laterais dos assentos.

Considerações finais

A BYD tem apostado forte no Brasil e vem crescendo dia após dia, tanto nos números de vendas quanto na oferta de produtos. Entretanto, a marca ainda precisa se afirmar e mostrar a que veio, deixando claro que seus produtos são, de fato, tão bons quanto ela diz que são. A cada lançamento, a chinesa parece corrigir algum ponto em que falhou anteriormente e o consumidor tem percebido isso, mas algumas práticas dispensáveis precisam acabar urgentemente como a que vimos na estreia do Dolphin Mini... e que se repetiu nos últimos lançamentos.

O Song Pro agradou nesse rápido contato e tem potencial para fazer barulho na categoria, contudo, a falta de assistências semiautônomas de segurança/condução e do teto solar não condizem com um marketing que fala tanto em tecnologia, modernidade e coisas parecidas. O consumidor dos SUVs médios não costuma abrir mão de certas coisas e, embora seja o PHEV mais "barato" atualmente, tudo o que falta nele pode ser encontrado nos concorrentes. Será que os possíveis clientes passarão por cima dessas faltas em prol da eletrificação? O tempo vai dizer.


Fotos (clique para ampliar):