terça-feira, 4 de junho de 2024

2022 Fiat 500e Icon EV; pequenas grandes experiências

Mesmo vendendo pouquíssimo, o subcompacto elétrico é um produto importante na gama da marca e encanta no uso diário. Testamos por uma semana e 600km.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

Ele conta com quatro opções de cores, todas sem custo. A do nosso exemplar testado é a Branco Ghiaccio.

Foi ao longo da década de 2000 que um movimento muito interessante na indústria automotiva aconteceu: o resgate de nomes icônicos e importantes do passado na forma de releituras modernas. Várias marcas ressuscitaram modelos há muito tempo esquecidos tanto por elas próprias quanto pelo público geral, relançando-os com visual retrô, porém, toda a mecânica e tecnologia embarcada dos tempos modernos; embora os críticos do setor não escondessem o pessimismo, o consumidor adorou e a ideia vendeu aos montes. Atualmente, o apelo por esse tipo de carro já não é tão forte quanto há vinte anos, mas ainda é possível encontrar inúmeros clientes ávidos por esses pequenos pedaços modernos que homenageiam clássicos eternos da história automotiva.

A Dodge, por exemplo, trouxe de volta o Challenger, um nome que ela não trabalhava desde 1983 (em um modelo que todo mundo prefere esquecer) e que retornou em 2008 com o mesmíssimo estilo "bad boy" do Challenger original dos anos 70, fazendo um sucesso sem precedentes. A MINI relançou o carismático Cooper em 2001 após requentar o original dos anos 50 por décadas, trazendo um modelo 100% novo sob a chancela da BMW e que existe até hoje. Já a Fiat resgatou o 500 (Cinquecento) em 2007, fortemente inspirado no Nuova 500 da década de 50, sucessor do famoso Topolino, e que também deu super certo; chegou ao Brasil no final de 2009 e conquistou o público, inclusive com direito a uma versão Abarth legitimamente esportiva que é estimada até hoje entre os entusiastas.

O tempo passou e, hoje, o Cinquecento atende pelo nome de 500e, contando unicamente com motorização 100% elétrica. Ele estreou lá fora em 2020 e chegou ao Brasil um ano depois como ano/modelo 2022, importado diretamente da Itália em versão única Icon e pacote fechado de equipamentos por R$239.900. Sem nunca ter recebido novidades por aqui, o preço foi caindo até chegar aos R$214.990 de agora e ele ainda é o único carro de passeio com propulsão 100% elétrica da Fiat no país, colocando a empresa nesse nicho em expansão; nós o testamos por uma semana e cerca de 600km, a fim de conhecer seus atributos no uso diário. Um fato curioso é que das mais de 500 lojas da rede oficial da Fiat, apenas dez em todo o país comercializam o pequenino elétrico em nove cidades: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Florianópolis, Belo Horizonte, Recife e Brasília.

Um dos pouquíssimos emblemas FIAT no 500e se encontra no centro da tampa do porta-malas.

Esse é o meu jeito

Quase 70 anos depois, o Fiat Cinquecento continua preservando muito de sua essência original. É evidente que ele já não é tão miúdo quanto seu avô, mas ainda é um carro pequeno o bastante para ser categorizado como hatch subcompacto; suas medidas são bem parecidas com as do Mobi, entretanto, o espaço interno é ainda mais limitado, impossibilitando que adultos utilizem os bancos traseiros, o que o caracteriza como um 2+2 (dois lugares padrão na frente, dois bancos para crianças atrás). Sua plataforma deriva da conhecida Mini, chamada Mini BEV, e foi projetada especificamente para modelos elétricos, mas a montadora tem planos de trocar para uma arquitetura híbrida futuramente, utilizando uma das bases da família STLA.

Também já não é leve ou espartano como nos anos 50, contudo, além do porte, o visual é repleto de referências ao passado como o conjunto ótico frontal dividido em dois segmentos, os para-lamas com uma discreta musculatura, as pequenas lanternas verticais e o "bonezinho" no topo da traseira. Por dentro, mais elementos clássicos como o volante de dois raios horizontais, o cluster de instrumentos em formato circular e alguns comandos enfileirados abaixo do multimídia. Fica bem claro que a Fiat quis criar um carro que atendesse as exigências de hoje e, ao mesmo tempo, ostentasse um charme vintage sem afetar a proposta essencialmente urbana do nome 500.

Cofre do motor do 500e não traz coberturas plásticas para o conjunto elétrico.

De bom tamanho

Lá fora, o 500e convencional (sem contar o Abarth) possui duas opções de motor e bateria, mas o oferecido no Brasil chega unicamente com a dupla de maior capacidade. Trata-se de um motor elétrico montado na dianteira, capaz de entregar até 118cv e 22,4kgfm de potência e torque máximos, alimentado por uma bateria de 42kWh que garante até 227km de autonomia segundo o Inmetro; já no ciclo WLTP, a estimativa é de 320km de alcance com a carga cheia.

Esse conjunto leva o 500e de 0 a 100km/h em 9 segundos e a uma velocidade máxima limitada eletronicamente em 150km/h. Sobre a autonomia no nosso uso, estimamos na faixa dos 300km ao todo, se aproximando mais da medida WLTP que do Inmetro. Gastamos por volta de 46% em uma viagem de 130km entre cidades com uso de ar condicionado e no modo Normal de condução; em um dia fresco, sem o ar ou utilizando o modo Range, é possível obter médias melhores.

Interior mescla acabamento preto com detalhes claros por diversos lugares.

Mais do que nunca

Além de vir sempre com a configuração mecânica mais forte, o 500e Icon também chega ao Brasil com todos os equipamentos disponíveis para ele. Sem opcionais, a lista de recursos contempla: seis airbags, faróis Full LED por projetores com ajuste elétrico de altura, rodas aro 16 em grafite com pneus runflat, cluster de instrumentos 100% digital, teto panorâmico, chave presencial com partida por botão, carregador portátil com tomada residencial padrão, ar condicionado digital, seletor de modos de condução, freio eletrônico de estacionamento com autohold, central multimídia com espelhamento sem fio para smartphones, retrovisor interno fotocrômico, entre muitos outros.

As principais assistências semiautônomas de condução estão presentes, tais como: piloto automático adaptativo (ACC), assistente de permanência em faixa, sistema de frenagem autônoma de emergência com detector de pedestres, farol alto automático, leitor de placas de velocidade e detector de fadiga do motorista. Por fim, ainda sobre itens de segurança e comodidade, há sensores de estacionamento em 360º, câmera de ré com visão ampla, sensores crepuscular e de chuva, monitoramento de pontos cegos, navegação GPS nativa com espelhamento no painel de instrumentos, entre outros.

Bancos são em revestimento bicolor e trazem comandos manuais. O do motorista conta com ajuste de altura.

Sorrisos, descobertas e atenção

Foram aproximadamente 600km ao longo da semana com o 500e, distribuídos igualmente entre percursos urbanos e rodoviários. É muito difícil ver uma unidade do italiano elétrico nas ruas, pois ele sequer chegou a 300 emplacamentos desde que foi lançado em agosto de 2021, então, assim que o vimos de perto na concessionária, notamos como o design excêntrico chama atenção logo de cara, conseguindo ser "fofinho" e sofisticado ao mesmo tempo. Embora seja pequenino, faz muito boa presença e o conjunto ótico quase totalmente em LEDs ajuda bastante no aspecto requintado - apenas as luzes de ré e de neblina traseira são por lâmpadas convencionais.

As maçanetas externas são embutidas nas portas para favorecer a aerodinâmica, sendo acionadas por botões na parte interna do vão para abrir/destravar o carro ou travar tudo - o de trava só existe na porta do motorista. Ao abrir qualquer uma delas, mais surpresas saltam aos olhos como os botões "e-latch" que servem para abri-las por dentro, substituindo as maçanetas tradicionais, e não se preocupe se eles derem algum defeito: a Fiat instalou puxadores convencionais próximos aos alto-falantes, na parte de baixo da porta, para que ninguém fique preso dentro do carro em caso de pane.

A "calotinha" no centro das rodas pode ser mexida independentemente, caso queira alinhá-la por qualquer motivo.

Os bancos dianteiros são confortáveis e é bem fácil achar a melhor posição para dirigir. Estando tudo pronto, basta pisar no freio e apertar o botão de partida duas vezes ou segurar por alguns poucos segundos; o ícone READY se acenderá em verde na tela do painel e uma musiquinha (que pode ser desligada) sinalizará que o veículo pode ser conduzido. Para o dia-a-dia, é só deixar o seletor de condução no modo Normal e dirigir: é onde o 500e mais se aproxima de um carro convencional a combustão. Existe uma certa regeneração de energia quando se alivia o pedal do acelerador, mas não é nada que afete a fluidez da direção e o movimento do carro - todos os sistemas operam normalmente e ele fica o mais "solto" que consegue ser. É o único onde ocorre o famoso creeping, movimento que todo carro automático faz ao se tirar o pé do freio, estando com o câmbio em D.

Quando selecionamos o modo Range, a situação começa a mudar e já se torna possível conduzir o veículo unicamente pelo pedal do acelerador, através do recurso One Pedal Driving, deixando o pedal do freio apenas para frenagens de emergência ou que necessitem de mais rapidez por qualquer motivo; em outras palavras, ele já fica bem mais "amarrado" do que no modo Normal. Por fim, há o modo Sherpa cujo nome faz referência ao grupo étnico que habita as altas montanhas do Himalaia e que ajuda viajantes e expedicionários a chegarem mais longe em meio às condições adversas do ar frio e rarefeito; no 500e, o modo Sherpa limita a velocidade máxima a 80km/h e desativa equipamentos como o ar condicionado, a fim de garantir o máximo possível de autonomia - encare-o como uma medida emergencial, de último caso.

A qualidade das telas é excelente, tanto do painel de instrumentos quanto do multimídia.

O 500e se move com muita suavidade e leveza o tempo inteiro, emitindo um discreto zumbido externo entre 1 e 20km/h para alertar pedestres e demais passantes nas ruas; após isso, entre os 25 e 27km/h, ele toca um pequeno trecho da introdução da música Amarcord, do compositor italiano Nino Rota, mas apenas depois da partida, não se repetindo ao longo da condução até que o carro seja desligado e ligado novamente. Voltando a falar do movimento, o desempenho do pequeno elétrico é bastante satisfatório, porém, só pode ser percebido quando se afunda o pé no acelerador. No geral, a condução é absolutamente dócil e serena, o que nos agradou bastante.

O acerto da suspensão também é surpreendentemente bom para um carro pequeno e tão pesado diante de seu porte. Esperávamos algo mais áspero, mas o 500e mostrou que consegue andar pelas ruas brasileiras sem maltratar os ocupantes - apenas tenha cuidado ao passar por quebra-molas, pois é um veículo baixo e tanto a dianteira quanto o meio da carroceria podem raspar ou até bater no ponto alto do obstáculo. Outro detalhe que pode causar incômodo é a cortina do teto panorâmico que, por ser do tipo perfurada, não bloqueia tanto o sol quanto você pode querer nos dias em que ele estiver mais forte. Um tecido todo fechado que bloqueia a incidência direta de luz deveria estar presente.

Atrás só cabem crianças. Leve adultos apenas em casos de emergência.

No mais, o 500e esbanja o orgulho da própria Fiat e também pela sua linhagem: os bancos trazem o nome FIAT bordado repetidas vezes, além dos easter eggs espalhados pela cabine como a silhueta do 500 original nos puxadores das portas e do horizonte de Turim no carregador por indução, entre outros. A sensação de qualidade transmitida através do acionamento dos comandos, da alta resolução das telas e do acabamento bem montado (mas com bastante plástico) nos lembra de que estamos em um legítimo produto europeu, a exemplo do Renault Megane E-Tech que avaliamos no começo do ano. Ele deixa, inclusive, lições interessantes que a Fiat deveria aplicar imediatamente nos produtos nacionais como a presença do controle de altura dos faróis em LED e as telas de excelente resolução.

Ainda assim, mesmo com tantas qualidades e charme de sobra, é muito fácil entender o porquê dos baixos índices de vendas. Os R$214.990 pedidos por ele não são convidativos diante de modelos parecidos em preço (ou até mais baratos), mas superiores em espaço interno, desempenho, autonomia e nivelados na oferta de tecnologia embarcada. Resumindo a ópera, o 500e mira em um público muito específico e cobra caro por seus atributos sem estar no topo da cadeia - boa parte dessa desvantagem financeira se deve ao fato de vir importado da Itália. É provável que a situação fosse diferente se a Fiat comercializasse a versão esportiva Abarth que, inclusive, teria mais condições de bater de frente com o MINI Cooper S E, seu principal rival que é mais espaçoso, mais rápido e apenas 15 mil reais mais caro.

Abertura no centro do para-choque auxilia no arrefecimento do conjunto elétrico.

Avaliação geral

Design: assim como seu antecessor de 2007, o 500e traz todo o estilo "retro-moderno" que combina referências ao clássico com elementos da atualidade, e a melhor expressão que o define é: uma gracinha. Por onde passa, ele vira cabeças e encanta mulheres e crianças, parecendo ter saído de um desenho animado ou filme futurista. O fato de ser figurinha raríssima pelas ruas ajuda a fazer parecer que é uma novidade, apesar de não ser mais, além de conferir um ar sempre interessante de excêntrico ou exótico. Nota: 10

Interior: a cabine do 500e é bem mais tecnológica do que retrô, mas agrada de maneira geral e é tão bela quanto o exterior. O acabamento bicolor é interessante e muito bem-vindo, porém, há mais plástico do que um carro desse preço tolera e muitas das partes claras se encontram em regiões de contato direto (e constante) com mãos, pernas e braços, ficando encardidas em pouco tempo de uso - elas deveriam estar mais resguardadas de todo esse contato humano. Os bancos em revestimento "vegano" lembram muito o couro, mostrando um aspecto e sensação de toque superiores ao que costumamos ver em compostos sintético. O seletor de câmbio por botões chamou a atenção de quem andou nele e agradou no uso. Nota: 8

Mecânica: com potência e torque máximos muito próximos aos de carros com motores 1.0 turbo, o comportamento do 500e pelas ruas é quase o mesmo desses veículos; a diferença, claro, se deve ao fato de ser elétrico e ter tanto a potência quanto o torque disponíveis de forma imediata. A suspensão traseira por eixo de torção não é a melhor em termos de dinâmica, mas isso acaba sendo compensado pela baixa altura do carro como um todo. Já os freios traseiros a tambor vêm ganhando popularidade entre veículos elétricos porque, segundo os especialistas da alemã Continental, apresentam menos atrito e arrasto, auxiliando na autonomia e outras particularidades desse tipo de carro. Nota: 8

Tecnologia: o 500e é vendido por aqui em versão única e completíssima. Traz quase tudo o que um carro desse preço poderia ter e está mais equipado do que nunca, o que é ótimo. Ajustes elétricos para o banco do motorista seriam bem-vindos, mas é perfeitamente possível conviver sem eles. Nota: 10

Conveniência: há chave presencial com abertura e fechamento remoto das janelas, quebra-sóis com espelho (mas sem iluminação dedicada), carregador doméstico de série, vários porta-objetos espalhados/escondidos pelo interior, recursos integrados através da assistente Alexa, possibilidade de espelhar o GPS no painel de instrumentos, amortecedores para sustentar o capô aberto, entre outros. O fato de precisar acessar as configurações do carro na central multimídia apenas para ligar/desligar o autohold é um pouco bizarro, mas não tanto quanto a impossibilidade de desligar os faróis em locais escuros ou à noite - a chave de luz conta apenas com as posições AUTO (acendimento automático) e farol baixo, ou seja, é impossível desligar os faróis caso queira por qualquer motivo como, por exemplo, andar com discrição em algum lugar, passar por uma blitz policial ou simplesmente tirar uma foto noturna mais impactante. Nota: 6

Acomodações: os bancos dianteiros são bons e duas pessoas viajam na frente com todo o conforto, contudo, os traseiros são apenas para crianças - só leve adultos em caso de emergência e lembre-se que ele é homologado para quatro pessoas. Embora tenha crescido um pouco em relação ao antecessor, continua tão limitado quanto. O porta-malas de 185 litros é um dos menores que existem, se não o menor de todos; pelo menos os bancos traseiros são bipartidos e rebatíveis, o que ajuda no transporte de cargas quando necessário. Há luzes de cortesia apenas na frente, o que complica bastante a operação de instalar e/ou afivelar o cinto de uma cadeirinha infantil na escuridão dos assentos traseiros à noite, por exemplo; considerando que são bancos dedicados a isso, é um vacilo difícil de compreender. Nota: 5

Funcionalidades: tudo no 500e funcionou corretamente o tempo inteiro, sem travamentos ou bugs, porém, nem ele escapou da mania que a Stellantis tem de "obrigar" o uso de certos recursos. Equipamentos como o leitor de placas de trânsito, monitor de fadiga do motorista e assistente de permanência em faixa são automaticamente ligados a cada partida e não adianta tentar salvar a opção DESLIGADO no seu perfil de condutor para nenhum deles: a cada nova partida, eles serão automaticamente reativados e você precisará desligá-los toda santa vez se não quiser usar. É irritante e tirará dois pontos. Nota: 8

Desempenho: o 500e não lhe fará grudar nos bancos a cada acelerada e nem causará arrepios, mas não lhe deixará na mão quando for exigido. Os números podem não parecer grande coisa na teoria, porém, dão conta na prática e conferem um desempenho decente ao subcompacto elétrico, especialmente no ambiente urbano que é onde ele se sobressai. Mediante o preço de tabela, ele poderia ser um pouco mais "vigoroso", mas é muito gostoso de dirigir e divertido de se usar por aí. Os pneus runflat, a propósito, são tão macios e silenciosos que parecem compostos normais. Nota: 8

Segurança: o 500e foi avaliado pelo Euro NCAP em 2021 e recebeu quatro estrelas de cinco possíveis, um resultado considerado bom. A qualidade estrutural foi aprovada e a presença de recursos de segurança está dentro do esperado, porém, a nota não foi máxima por questões como a ausência de um sistema que acione serviços de emergência e resgate em caso de colisão, além da falta de medidas que evitem acidentes sucessivos (frenagem pós-colisão, por exemplo). Ainda há o risco de um passageiro machucar o outro em uma batida lateral, o que também impossibilitou a nota máxima. Nota: 7

Custo X Benefício: por R$214.990, o 500e é um produto de nicho bastante excêntrico que tem o MINI Cooper S E como seu único concorrente direto em preço e proposta - pegada premium, carroceria de duas portas e forte apelo estético. Ele não tem a pretensão de ser "o primeiro elétrico" de ninguém, muito menos de ser o carro da família ou o principal da casa; está mais para um segundo veículo que pode ser um brinquedo de fim de semana ou um transporte ágil e confortável no meio do vai-e-vem caótico do trabalho nos dias úteis. Posto isso, esqueça comparativos com modelos como BYD Dolphin ou GWM Ora 03, pois eles não disputam o mesmo cliente. Comparado ao Cooper S E, o 500e fica devendo em espaço interno e desempenho, mas se nivela em tecnologia embarcada e supera (com uma certa folga) em autonomia. Nos agradou bastante no uso geral, mas suas características limitam a quantidade de cenários onde ele se posicionaria como a opção mais indicada, o que não acontece em outros hatches elétricos com quatro portas e maior capacidade de transporte como um Nissan Leaf ou um Peugeot e-208, por exemplo, embora seja importante lembrar que nenhum deles entrega charme e carisma como o italiano elétrico. Resumindo, é uma compra bem mais emocional do que racional, como todo bom carro de nicho. Nota: 6

Avaliação final: 76/100

Emblema 500 no porta-malas traz um E estilizado em azul como moldura do numeral cromado.

Considerações finais

O 500e é uma fuga muito bem-vinda da frieza e excessiva racionalidade que muitas vezes acaba deixando o mercado automotivo e as vivências sobre rodas um tanto tediosos, sem "sabor". O visual único e recheado de personalidade própria aliado aos easter eggs, sons diferentes e demais detalhes o tornam um carro especial e que não consegue passar despercebido pelas ruas e estradas. As pessoas se viram para olhar, as crianças apontam curiosas e tudo isso se junta ao rodar suave, o bom pacote tecnológico e a percepção de qualidade construtiva por todos os cantos para entregar uma experiência de direção de alto nível.

Apesar disso, como falamos em alguns parágrafos acima, é possível compreender o porquê das vendas baixas. Não são muitos os clientes que estão dispostos a desembolsar mais de 200 mil reais em um carro que não comporta uma família e que, devido a infraestrutura de recarga ainda restrita, não poderá ser usado tranquilamente em viagens mais longas. É uma pena, porque o 500e é o melhor Cinquecento que já existiu, combinando o charme clássico aos principais atributos que são esperados de um veículo desse preço hoje em dia, garantindo experiências pequenas em tamanho, mas grandes em qualidade e diversão.


Ficha técnica

Motor: um motor elétrico no eixo dianteiro
Potência máxima: 118cv
Torque máximo: 22,4kgfm
Bateria: 42kWh
Autonomia: 227km (Inmetro) / 320km (WLTP)
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 195/55 R16
Comprimento: 3,63m
Largura: 1,68m
Entre-eixos: 2,32m
Altura: 1,52m
Peso: 1.365kg
Porta-malas: 185l

0 a 100km/h: 9 segundos
Velocidade máxima: 150km/h (limitada eletronicamente)


Fotos (clique para ampliar):