sexta-feira, 24 de maio de 2024

Testamos: Volvo EX30 chega com metas ousadas e novas filosofias da marca para o Brasil

Texto e fotos por Yuri Ravitz
A convite da assessoria

Modelo está disponível em cinco cores diferentes sem custo adicional. A da foto é a Moss Yellow.

Faz cerca de oito meses que a Volvo apresentou, pela primeira vez, o que promete ser o seu mais novo "game changer" no mercado brasileiro - aquele tipo de produto que quer virar a chave da marca e revolucionar sua história no país. O inédito EX30 é o segundo modelo da nova filosofia de trabalho da montadora sueca para o mundo, porém, é o primeiro desse novo momento para o Brasil e tem pretensões bastante ousadas como, por exemplo, dobrar a participação da fabricante no segmento premium por aqui; tanto é que a gama de preços de acesso (confira mais abaixo) posiciona o EX30 contra SUVs médios de marcas generalistas e motorização a combustão, enquanto que as versões mais caras batem de frente com a precificação de SUVs médios híbridos, quase sempre maiores e mais versáteis, mas sem o apelo da eletrificação total em uma marca premium que alguns consumidores anseiam.

Versão topo de linha vem sempre com o teto em preto contrastante.

Após um longo período de pré-venda e alguns poucos contatos estáticos restritos aos showrooms, a montadora finalmente inicia a comercialização oficial do novo EX30 100% elétrico em toda a sua rede autorizada e já disponibiliza unidades para test-drive. A fim de marcar esse momento e começar a mostrar os atributos do SUV compacto na pista, a Volvo realizou um mega evento com jornalistas, YouTubers e influencers automotivos que puderam ter seu primeiro contato presencial com a novidade e colocá-la no asfalto para ver onde a sueca acertou e onde ainda há espaço para melhorias.

Outra das opções de cores para a carroceria é o Vapour Grey.

São Paulo/SP - a ação contemplou, além de exposições estáticas, um test-drive em duplas a bordo do EX30 entre a capital paulista e a cidade serrana de Campos do Jordão, cobrindo um trajeto de cerca de 150km desde o nosso ponto de partida, no prédio do escritório da marca. A ideia era analisar o comportamento do SUV elétrico por trechos urbanos e rodoviários, focando na usabilidade das soluções pensadas para ele e o desempenho em diferentes cenários. Uma análise mais cuidadosa sobre autonomia no uso geral precisa ser feita em outro momento, durante uma avaliação completa; por hora, o bate-e-volta de pouco mais de 300km foi o bastante para dar uma noção do potencial da novidade sueca.

Minimalismo é a palavra de ordem na cabine do EX30.

Logo de cara, o visual do EX30 chama atenção pelo jeitão futurista, trazendo uma releitura atualizada dos famosos "martelos de Thor" nas assinaturas luminosas dos faróis - saem as antigas barras contínuas e entram pequenos retângulos horizontais agrupados para fazer o T deitado, atuando como luzes diurnas, de posição e de seta. A dianteira é quase que totalmente integrada e fechada, trazendo mínimas aberturas nas laterais do para-choque (que direcionam o ar para ajudar a resfriar os freios dianteiros, sempre mais utilizados do que os traseiros) e ao centro para auxiliar no arrefecimento do conjunto elétrico. De lado, os para-lamas trazem uma leve "musculatura" que deixa a carroceria mais encorpada, enquanto que a traseira conta com lanternas totalmente em LEDs, divididas com uma porção luminosa em ambas as colunas C para fazer estilo; elas se interligam por um aplique meramente decorativo na tampa do porta-malas.

Debaixo do capô se esconde um (bem) pequeno compartimento para levar itens menores.

Falando em conjunto elétrico, o EX30 chega somente com a configuração de motor traseiro, capaz de entregar até 272cv e 35kgfm de potência e torque máximos. A versão mais barata, Core (R$229.950), traz bateria de 51kWh que garante uma autonomia de até 250km segundo o Inmetro - acima dela se encontra a Core Extended Range (alcance estendido, por R$249.950), equipada com bateria de 69kWh que eleva a autonomia estimada para 338km, novamente segundo o Inmetro. A propósito, é essa a bateria que também equipa as demais versões, sendo a intermediária Plus (R$277.950) e a top Ultra (R$293.950).

Interior conta com três opções de acabamento que dependem da cor externa. Certas cores (como o amarelo) só podem vir com um único interior.

Para entrar no EX30, é preciso aproximar a chave de acesso na coluna B - chave que, na verdade, é um cartão com tecnologia NFC idêntico aos nossos conhecidos cartões plásticos de uso bancário, bem diferente das peças que a Renault utiliza em seus carros há anos. Do mesmo modo, para ligá-lo, é obrigatório posicionar o cartão na região do carregador de smartphones por indução, pisar no freio e colocar o câmbio em D; após esse procedimento, o cartão pode ser retirado do carregador para permitir seu uso. Toda essa operação acaba não sendo tão intuitiva e a Volvo sabe disso, portanto, uma chave presencial padrão será disponibilizada em breve no ato da compra.

Por dentro, profusão de materiais ecológicos é a nova tendência da Volvo.

Por dentro, quase tudo no EX30 quer te fazer reaprender a como operar os diferentes sistemas e equipamentos de um veículo de passeio. Não há um painel de instrumentos à frente do volante; absolutamente todas as informações sobre a condução ficam dispostas permanentemente no topo da central multimídia, tal qual acontece nos Model 3 e Model Y da Tesla; o pequeno display preto que você vê nas fotos abriga um grupo de sensores que monitoram a atenção do motorista, a fim de alertá-lo mediante sinais de sonolência ou algo de errado - é possível desativar a função nas Configurações.

Porta-copos embutido no console central pode ser ajustado para apenas um copo ou, se preferir, escondido completamente dentro do apoio de braço.

Nenhuma das quatro portas traz botões ou comandos de qualquer espécie; eles se reúnem na região do apoio frontal de braço, sendo que há dois botões físicos na parte da frente para a operação dos vidros e três botões touch para travar/destravar as portas e ativar o controle dos vidros traseiros; já na parte traseira, há dois botões físicos para que os passageiros possam operar as janelas e, ao lado deles, duas portas USB tipo C. São soluções tipicamente adotadas em carros de baixo custo e mostram alguns dos sacrifícios para se conseguir um Volvo elétrico por menos de 300 mil reais.

Esse único quadrado faz todos os ajustes do banco, uma solução minimalista que deu certo na prática.

O ajuste dos bancos elétricos é feito através de um pequeno comando quadrado na lateral que, embora não pareça, faz tudo - sobe, desce, inclina o encosto, regula a lombar e a inclinação do assento. Você mexe o quadrado para fazer o que deseja e aperta o botão central para alternar entre o ajuste do banco todo (incluindo o encosto), apenas da lombar ou do ângulo do assento. Já os retrovisores são bastante inusitados: é necessário habilitar o ajuste na central multimídia e fazer o controle pelos próprios comandos do volante até achar a posição ideal para sua condução. A Volvo diz que é questão de costume, porém, na nossa opinião, os comandos físicos específicos para isso são mais simples e rápidos, não exigindo que você perca tempo navegando em menus desnecessários para realizar uma tarefa tão elementar.

No estacionamento subterrâneo do prédio onde fica o escritório da marca se localiza um hub com nada menos do que 84 tomadas de recarga para carros eletrificados.

Com o banco do motorista ajustado e alguma familiarização com os comandos mais básicos, foi a hora de colocar o EX30 nas ruas e analisar como o conjunto se sai durante o uso. Ele não dá indicativos de que está pronto para ser conduzido e, ao se tirar o pé do freio, não acontece o famoso "creeping"; você precisa pisar no acelerador para iniciar o movimento. O seletor de câmbio é uma alavanca que fica à direita do volante, como no Megane E-Tech (um de seus concorrentes diretos), enquanto os controles dos limpadores ficaram embutidos na alavanca esquerda que também serve para acionar o farol alto e as setas indicadoras de direção.

Controles no volante ajustam o piloto automático, funções de mídia, comando de voz, visualização do painel, entre outros. Há ajustes de altura e profundidade.

Falando nelas, eis um outro tópico que demanda atenção especial: é uma alavanca de dois estágios que não trava na posição como de costume, voltando para a posição original logo que você a solta. Ou seja: para usar a seta em uma mudança de faixa, por exemplo, você aciona a alavanca até o segundo estágio para deixá-la ligada continuamente e, para desligá-la, precisa dar um toque de um estágio na posição oposta para desarmá-la, caso contrário, ela permanecerá acesa até que o volante seja virado o suficiente para desarmá-la. Em outras palavras, se você não tiver atenção na operação, poderá esquecê-la ligada por quilômetros a fio ou não a acionará corretamente, pois terá usado apenas o primeiro estágio da alavanca que liga a seta em um pulso rápido de três piscadas. Novamente, um mecanismo tradicional que "trava" na posição da seta escolhida teria simplificado a operação e reduzido riscos.

Teto panorâmico é fixo e não traz cortina.

O grande destaque do EX30 é a desenvoltura do conjunto elétrico. Os 272cv e 35kgfm de potência e torque máximos superam os números dos rivais que, além do já citado Megane E-Tech, também incluem o BYD Yuan Plus e o Peugeot e-2008 na lista. Mesmo sendo mais pesado do que eles, o desempenho é consideravelmente superior; são cerca de 5,3 segundos no 0 a 100km/h declarado e esse fôlego extra da cavalaria maior se manifesta até em altas velocidades. Sobra disposição no SUV sueco para fazer qualquer coisa e, na prática, os dados de performance parecem ser melhores do que na ficha técnica. Vale lembrar que, lá fora, o EX30 tem a opção de motor duplo com tração integral que vai de 0 a 100km/h em absurdos 3,6 segundos, sendo o Volvo mais rápido da história - perguntamos sobre a oferta dela no Brasil e a marca confirmou que estuda a possibilidade para, quem sabe, o ano que vem.

Embora se pareçam muito com rodas de liga leve, todas as versões do EX30 trazem calotas com pegada aerodinâmica e visual diamantado.

A versão Core em suas duas configurações traz rodas aro 18 calçadas em pneus 225/55 R18, enquanto a intermediária Plus recebe compostos 245/45 R19 e a nossa testada Ultra adota pneus de medidas 245/40 R20. Evidentemente, quanto maior o aro, mais baixo o perfil e maior a tendência a uma condução mais áspera, porém, o EX30 mostrou um comportamento geral muito bom, absorvendo os defeitos da pista sem pancadas secas e sem transmitir tanto para a cabine; o ruído de rodagem também é, dependendo do asfalto, quase nulo. Ainda assim, se você prioriza conforto acima de tudo, prefira a variante Core com os perfis 55. Vale ressaltar que, apesar de não parecer, todas as versões usam calotas com acabamento simulando rodas diamantadas.

Soundbar é outra das características inusitadas do EX30.

Outras soluções inusitadas do EX30 incluem a chamada "soundbar", uma barra de alto-falantes que pega quase toda a extensão do painel frontal, instalada na base do para-brisa que tem a função de distribuir o som por toda a cabine; nas versões Plus e Ultra, ela recebe assinatura da Harman Kardon e entrega até 1.040w de potência. Ela conta com diferentes modos de distribuição de áudio e equalizador com cinco canais de ajuste que causam grande impacto na qualidade do som; é possível ajustar a distribuição para os ocupantes traseiros, apenas para o motorista ou para a cabine toda. Assim como os controles dos bancos dianteiros, é bastante incomum, mas deu certo na prática e agradou no uso.

Apesar do bom entre-eixos, o espaço interno para quatro adultos é limitado.

O que pode fazer alguns possíveis compradores desistirem do EX30 é o espaço interno. Com o banco do motorista ajustado para os 1,80m deste que vos escreve, o espaço para as pernas de quem vai atrás fica bastante reduzido, bem diferente do que acontece nos seus rivais diretos de preço e proposta. Também sentimos falta de saídas traseiras de ar condicionado, porém, para tentar amenizar a situação, há certos caprichos como o mesmo padrão de acabamento das portas dianteiras e luzes de cortesia dedicadas em LED. O porta-malas de 318 litros é melhor que os 312 litros do Yuan Plus, porém, é muito menor do que os 440 litros do Megane E-Tech ou os 434 litros do e-2008.

Coluna C traz assinatura EX30 na junção com o teto contrastante.

Em suma, o primeiro contato com o inédito EX30 foi agradável de forma geral e até surpreendente em aspectos pontuais, mas deixou algumas pulgas atrás da orelha sobre como certas soluções se manifestarão no uso cotidiano. Mediante tantas inovações e ideias inusitadas, a Volvo quer expandir sua operação no país com um produto que rompe paradigmas e que foi pensado para um público mais jovem - daí a escolha por uma pegada mais conectada e digital. De fato, há bastante potencial para fazer barulho e melhorar a situação da Volvo no país, mas só o tempo dirá se isso realmente vai acontecer.


Fotos (clique para ampliar):