domingo, 14 de abril de 2024

Um ano e mais de 40 mil km rodados; os prós e contras do Volkswagen T-Cross Sense 2023

Por Yuri Ravitz

Nosso carro está na cor Preto Ninja, sem custo adicional.

Demorou, mas chegou a hora! Nossa avaliação da vez é com ninguém menos do que nossa própria viatura oficial: o Volkswagen T-Cross. Já tivemos a chance de avaliar a versão Highline em 2019 e, dois anos depois, adquirimos um exemplar da variante Comfortline com o qual ficamos por nove meses. Dessa vez, nosso próprio T-Cross é da configuração Sense da linha 2023, sendo nosso sexto carro com motor 200 TSI e o segundo exemplar do SUV compacto.

Ele foi adquirido 0km em Janeiro do ano passado e, desde então, já percorreu mais de 46 mil quilômetros conosco até o momento da produção desta matéria, 14 meses depois - fazendo uma conta rápida, temos uma média aproximada de 3.200km rodados por mês. É bastante coisa e nos permite fazer uma análise bem mais profunda do convívio com o modelo alemão, a fim de destacar onde ele se sobressai e onde deixa a desejar.

Grade frontal é totalmente em preto fosco. Não há faróis de neblina, mas é possível instalar na ligação original que vem preparada.

Básico sim, mas com privilégios

O T-Cross Sense é o SUV mais barato de todo o catálogo atual da Volkswagen, custando 100 reais a menos do que o Nivus Sense. A versão nasceu voltada ao público PCD, porém, passou a ser vendida normalmente depois de algum tempo, posicionando-se abaixo da 200TSI. No ato de nossa aquisição, seu preço de tabela era de R$114.850, porém, a concessionária nos fez por R$113.990 e deu dois acessórios para compor o carro: central multimídia e câmera de ré. Não são equipamentos originais VW, mas alternativas que as lojas ofereceram por alguns períodos mediante a escassez de componentes eletrônicos que dificultou a oferta dos itens originais.

A lista de equipamentos de série é bastante simples. Há computador de bordo, ar condicionado analógico, sensores traseiros de estacionamento, controles de tração e estabilidade, banco do motorista com ajuste de altura, luzes diurnas em LED, direção elétrica, rodas aro 16 em aço com calotas, entre outros. Apesar disso, ele mantém qualidades dignas de modelos mais caros como os seis airbags, faróis com ajuste elétrico de altura, freios a disco nas quatro rodas, sistema start-stop, volante multifuncional com ajustes de altura e profundidade, retrovisores com ajustes elétricos e repetidores de seta, vidros elétricos com um-toque nas quatro portas, chave canivete, entre outros.

O motor é o mesmo até a versão Comfortline

Menos com mais

Outra característica que o T-Cross Sense compartilha com as versões mais caras é o conjunto mecânico, composto pelo conhecido motor 1.0 turbo "200 TSI", flex de três cilindros, capaz de gerar até 128cv e 20,4kgfm, gerenciado por uma caixa automática de seis marchas que permite trocas manuais na alavanca e conta com modo Sport. É a mesma mecânica utilizada até a versão Comfortline, levando o SUV compacto com bastante eficiência e economia - ele faz de 0 a 100km/h em 10,3 segundos e atinge a máxima de 187km/h.

Pesando 1.240kg, o T-Cross Sense não é dos mais pesados do segmento e, quando abastecido apenas com gasolina, consegue médias muito satisfatórias de consumo. Não é raro obtermos médias na casa dos 19km/l em uso prioritariamente rodoviário e condução calma, caindo para 16km/l na mesma condição de rodagem e etanol no tanque; no uso geral, calculando a média em percurso misto e uso mais "mundano", ele fica entre 13 e 16km/l no nosso uso que, vale ressaltar, descarta o start-stop. São três motoristas que alternam o veículo e nenhum de nós usa o recurso.

Calotas prateadas cobrem rodas de 16 polegadas em aço.

Alinhando os ponteiros

Após mais de 40 mil quilômetros rodados, as coisas que mais chamam atenção positivamente no T-Cross Sense são o rodar eficiente e a qualidade da vida a bordo. O motor 1.0 TSI entrega seu torque máximo a partir dos 2.000rpm, contudo, já mostra boa disposição mesmo antes dessa faixa e a nova calibragem da transmissão ajuda muito na tarefa. Ao dirigirmos nossos TSI mais antigos, algumas questões incomodavam no câmbio como, por exemplo, a demora da passagem da 1ª marcha para a 2ª em determinadas circunstâncias. Certas trocas (como da 2ª para a 3ª) também não eram tão suaves, especialmente sob aceleração mais forte, e o creeping (movimento automático do carro com o câmbio em D ao se tirar o pé do freio) era muito bruto, incomodando em alguns casos.

Tudo isso começou a ficar no passado a partir da linha 2021, mas a marca continuou aperfeiçoando o conjunto para chegar ao ponto certo. Todas essas observações não acontecem mais, o que significa que a condução do T-Cross Sense 2023 beira a perfeição ao nosso gosto - o que foi um dos principais motivos de nossa escolha por ele. A suspensão é que podia ser mais macia ao passar pelos defeitos da pista, porém, já é melhor do que nas versões Comfortline e Highline com seus aros 17 e pneus de perfil mais baixo que forçam mais o conjunto. Não tem a maciez de um Renault Duster ou de um Jeep Renegade, todavia, essa leve aspereza também faz com que o T-Cross seja um carro bom de curvas e seguro em trechos mais sinuosos, mostrando um comportamento equilibrado.

Interior é absolutamente monocromático com mínimos apliques em preto brilhante.

As acomodações são simples e agradáveis, trazendo bancos em tecido e fartura de espaço interno. São 2,65m de entre-eixos e a Volkswagen optou por deixar um porta-malas menor, favorecendo a cabine, o que permite que quatro adultos viajem com sobra de espaço para as pernas mesmo que sejam mais altos; esse foi outro ponto que nos fez optar pelo T-Cross, pois não é raro precisarmos "esgotar a lotação" e um carro menor complica a questão. Em contrapartida, o ambiente da versão Sense é absolutamente simplório, trazendo bastante plástico rígido por todos os lados e nenhum aplique ou moldura decorativa para quebrar isso - as mínimas partes em tecido se encontram nos apoios de braço das quatro portas e só.

Uma grande falta é a ausência de saídas traseiras de ar condicionado ou portas USB para quem vai atrás como há nos irmãos mais caros, contudo, a Volkswagen manteve as luzes de leitura para a segunda fila de bancos. Há cintos de três pontos para todos, bem como encostos de cabeça e sistema ISOFIX para cadeirinhas infantis, entretanto, até mesmo o bagagito foi suprimido na busca por cortar custos - tivemos que comprar o nosso por fora. Não é difícil encontrar pela internet e sequer custa caro, mas fica claro ter sido uma medida desesperada (e bem desagradável) de corte de custos que não precisava ter sido adotada, bem como a falta do emblema 200 TSI na tampa do porta-malas.

Espaço interno é muito bom.

Outro ponto que incomoda é a baixíssima qualidade dos equipamentos oferecidos pela concessionária. Sendo um representante oficial da montadora, deveriam oferecer itens de mais qualidade: a câmera de ré é péssima e quase inutilizável em locais escuros. A central multimídia, por sua vez, possui interface Android e é igualmente ruim, perdendo as estações gravadas e os ajustes básicos periodicamente, nos obrigando a recolocar tudo alguns dias depois do último ajuste. Há dois cabos USB com portas do tipo A que acompanham o equipamento e, em tese, permitiriam a recarga de aparelhos conectados a eles, bem como a conexão via CarPlay ou Android Auto; o problema é que a recarga, quando decide acontecer, é muito lenta.

Para o nosso gosto, se fôssemos mudar/acrescentar algo, colocaríamos algum dos multimídias originais disponibilizados de fábrica (como o Composition Touch ou o finado Discover Media), saídas traseiras de ar condicionado e alças de teto, outro recurso que a montadora aboliu dos seus carros fabricados aqui e que sentimos falta. Um piloto automático também seria bem-vindo e nem precisava ser o adaptativo que equipa as versões mais caras; o convencional já estava ótimo. Pensamos em aproveitar a pré-disposição para faróis de neblina com a fiação original já pronta, bastando comprar os faróis em si e o comando próprio com o seletor do neblina integrado, mas isso ficará para outra ocasião.

Faróis de foco duplo trazem regulagem elétrica de altura do facho.

Considerações finais

A escolha pelo T-Cross Sense se deu por fatores como: boa experiência com produtos VW, gosto pelo motor 1.0 turbo, ótimo espaço interno e preço da versão. Ter mais equipamentos e um acabamento mais bonito seria interessante, entretanto, nessa faixa de entrada dos SUVs compactos, sempre é necessário abrir mão de uma coisa em favor de outra que você gosta mais. A categoria possui concorrentes que, por esse valor, se sobressaem em equipamentos de série e/ou acabamento interno, mas deixam a desejar em outros pontos que nos são mais importantes.

É possível, por exemplo, optar por um Fiat Pulse nas versões Drive, S-Design ou Audace - há mais equipamentos de série, porém, o espaço interno é bem menor e só o Audace é turbinado, aliado a um câmbio CVT que não é de nosso agrado; os 1.3 ficam muito atrás em desempenho. Também há um Fastback Turbo 200 que cai na mesma questão - é mais equipado, contudo, deixa a desejar em espaço interno. Há o Nissan Kicks nas versões Active e Sense, mas é um carro inferior de maneira geral. Resumindo a ópera: como sempre falamos, há opções para todos os gostos e necessidades.

Nosso convívio com o T-Cross Sense tem sido bastante satisfatório e tranquilo. Tivemos apenas três ocorrências, sendo uma pedra no para-brisa e dois pneus furados, tudo devidamente corrigido. Com o lançamento da primeira reestilização do SUV se aproximando, ficaremos de olho no que a Volkswagen fará: será que os pontos fracos serão corrigidos? Será que os rumores de adoção da mecânica 170 TSI como no Polo reestilizado se tornarão fatos? Muita coisa pode acontecer.


Fotos (clique para ampliar):