quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

1990 Chevrolet Corvette (C4) ZR-1; o começo de uma era

A quarta geração do esportivo americano elevou o nome ZR1 a status de versão própria e marcou o começo de uma era. Contamos a história do clássico moderno em palavras e fotos.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
A convite do proprietário

O exemplar da matéria veio na cor Vermelho Brilhante (Bright Red).

Eu tenho um carinho muito especial pelos anos 90 e isso se deve a vários motivos. Além de ter sido a década em que nasci (bem no comecinho), acho que foi um período onde vimos o surgimento de alguns dos carros mais legais da história do automóvel. Você até pode querer argumentar sobre serem legais ou não, contudo, não há como questionar a importância deles não apenas para a história em si, como também para seus fabricantes que muitas vezes inspiram modelos icônicos da atualidade nesses nomes do passado.

Rodas de 17 polegadas são feitas em alumínio.

Um desses ícones de décadas atrás é a grande estrela de nossa matéria da vez - ninguém menos do que o Chevrolet Corvette, um nome conhecido em todo o planeta e que está em produção há mais de 70 anos, sendo um dos principais representantes do que os norteamericanos são capazes de fazer quando se trata de carros de alta performance. Hoje contaremos a história da quarta geração, mais precisamente, do mitológico ZR-1 que é, até hoje, a versão mais cara e poderosa de todo o portfólio de fábrica.

Emblema ZR-1 decora a traseira do Corvette C4.

De pacote a versão

Antes de falar do Corvette em si, é interessante fazer uma abordagem sobre qual seria o significado de ZR1; um nome, um código ou uma sigla? Existem muitas teorias, mas a que faz mais sentido afirma se tratar de uma sigla para "Zora Racer One", o que seria uma homenagem ao engenheiro Zora Arkus-Duntov, conhecido como "o pai do Corvette" (apesar de o criador do esportivo ser o designer Harley Jarvis Earl). Faz muito sentido, porém, não passa de mito; ZR1 é um nome sem significado explícito ou óbvio e, dentro da Chevrolet, é apenas mais um código dentre tantos que a montadora já trabalhou e/ou ainda utiliza nos dias de hoje.

Debaixo do capô, duas luminárias dedicadas a iluminar o motor para facilitar manutenções.

Ele nasceu na terceira geração do Corvette e era um dos muitos pacotes opcionais disponíveis para o modelo: havia o ZL1, ZR1, ZR2, entre outros. Com o passar dos anos, cada um desses nomes seguiu um caminho diferente - o ZL1 foi ressuscitado décadas depois como uma variante na gama do Camaro de quinta geração, enquanto o ZR2 passou a designar pacotes e/ou versões voltados ao off-road, oferecidos para picapes e veículos utilitários da marca. O ZR1, por sua vez, deixou de ser um pacote para se tornar uma versão de modelo, o que aconteceu na quarta geração do Corvette.

Interior traz acabamento mesclando Vermelho Escuro (Dark Red) com preto.

Novas diretrizes

O Corvette C4 foi o primeiro sem a participação de Duntov, que se aposentou em 1975, deixando o cargo de engenheiro-chefe do modelo para Dave McLellan. Ele trouxe inúmeras alterações em relação a seu antecessor como, por exemplo, o porta-malas feito por escotilha de vidro, um recurso que o acompanhou da geração C4 até a penúltima C7. Além disso, resgatou os faróis por refletor único bifocal, uma característica que só esteve presente no primeiro Corvette da história, na década de 50, antes da reestilização.

Capô se abre para frente e revela os faróis embutidos que se abrem dando "cambalhota".

Apesar de tudo, o que mais marcou a quarta geração do Corvette foi, sem dúvida, o nascimento da versão ZR-1 que contou com diversos componentes desenvolvidos pela britânica Lotus, na época, sob o comando do grupo General Motors. O ZR-1 elevou o Corvette ao status de superesportivo, capaz de ir de 0 a 100km/h em cerca de 4,4 segundos e atingir a velocidade máxima de 290km/h. Era um dos carros mais rápidos do planeta em seu tempo e, até hoje, entrega números de desempenho muito bons.

Motor do Corvette ZR-1 foi desenvolvido pela Lotus. Seu bloco é em alumínio.

O motor do primeiro ZR-1 foi chamado de LT5 e era um 5.7 naturalmente aspirado, de oito cilindros em V e 32 válvulas, entregando até 380cv e 51,1kgfm de potência e torque máximos. Ele trabalha com uma transmissão manual de seis velocidades e é surpreendentemente tecnológico para sua época, contando com recursos para economia de combustível como, por exemplo, a desativação de alguns bicos injetores e, no caso da transmissão, o sistema CAGS - Computer Aided Gear Selection, ou Seleção de Marcha Auxiliada por Computador - que ajuda na escolha de marchas para o melhor consumo durante a condução urbana e acelerador pressionado parcialmente.

Nos modelos pré-facelift, o borrachão que percorre toda a carroceria é em preto.

Por fora, o Corvette ZR-1 é bastante discreto quando comparado aos sucessores, destacando-se pela traseira que trocava as lanternas redondas das versões mais baratas e o contorno traseiro de cantos vivos por lanternas quadradas e uma finalização traseira mais suave, levemente arredondada. As rodas de 17 polegadas trazem acabamento diamantado e calçam pneus 275/40 R17 na dianteira e 315/35 R17 na traseira. A carroceria do tipo targa permite a troca do segmento central do teto que, de fábrica, podia vir todo na cor da carroceria ou em acrílico transparente e escurecido, fazendo as vezes de teto panorâmico. A designação ZR-1 aparece somente na traseira, próxima ao escape direito.

Por dentro, muito couro e carpete por todos os cantos.

Apesar de ser um carro esportivo, o Corvette ZR-1 também sabe como mimar os ocupantes para garantir o conforto dos passeios, por mais rápidos que sejam. Há bancos elétricos, ar condicionado digital, sistema de som com equalizador por comandos físicos, computador de bordo completo, além de um acabamento repleto de couro, carpete e superfícies de toque mais suave. São apenas dois lugares e os ocupantes viajam literalmente "afundados" no carro em uma posição assustadoramente baixa, porém, confortável.

Painel de instrumentos mescla informações analógicas com digitais. Há o aviso de "somente gasolina sem chumbo" e inúmeros mostradores.

O exemplar da nossa matéria é de 1990, primeiro ano de produção do ZR-1, sendo que rodou menos de 7 mil milhas até hoje. O motivo da quilometragem tão baixa, segundo o proprietário (que também nos cedeu o Viper RT/10 meses atrás), é que ele estava guardado em uma concessionária nos EUA e foi adquirido pelo mesmo. Atualmente, o modelo é usado esporadicamente em passeios e eventos de esportivos, além de passar por cuidados períodicos para garantir que tudo funcione como deve ser.

Capô longo e frente baixa, marcas registradas do Corvette.

Demais pontos interessantes sobre o primeiro ZR-1 envolvem a suspensão adaptativa da Bilstein, também calibrada pela Lotus, e a pequena chave seletora no console central que oferece um "modo valet" com desempenho reduzido, pensado para manobristas. Os freios ABS da Bosch trazem discos maiores do que os utilizados nas outras versões e há controles de tração e estabilidade, tudo para que o Corvette ZR-1 seja um monstro tanto nas retas quanto em curvas.

ZR-1 alongando os músculos.

Calcula-se que a Chevrolet tenha fabricado cerca de 7 mil exemplares do primeiro ZR-1 e, quando novo, seu preço podia passar dos 60 mil dólares, o que era quase o dobro de um Corvette em versão de entrada. Atualizada, a cifra passa dos 140 mil dólares americanos, o que mostra que o ZR-1 sempre foi muito caro - um Z06 da geração atual, inferior na hierarquia, começa em 112.700 dólares. Ele foi produzido entre 1990 e 1995, tendo passado por um discreto facelift em 1991 e por algumas mudanças mecânicas em 1993 que elevaram a potência e o torque máximos para 410cv e 53,2kgfm, respectivamente.

Faróis principais são escamoteáveis. Abaixo, luzes de posição/seta e faróis de neblina justapostos.

A versão ZR-1 foi encerrada em 1995, um ano antes do fim da geração C4 como um todo. Ela nunca foi oferecida para o Corvette de quinta geração, voltando a ser produzida somente 14 anos depois de seu fim, na sexta geração do Corvette e sem o hífen no nome, como seguiu até a sétima geração. O modelo C8 já está em produção há alguns anos, contudo, a Chevrolet ainda não apresentou a versão ZR1 dele; estima-se que a marca o faça agora em 2024. Enquanto isso não acontece, nos deleitamos com os ZR1 das gerações C6, C7 e, é claro, do primeiro de todos eles e pioneiro dessa bela história... com hífen!