segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Testamos: Nissan Versa 2024 ignora tendências de mercado e aposta no custo X benefício

Modelo reestilizado chegou com poucas novidades e mirando no preço competitivo para conquistar clientes. Rodamos pouco mais de 300km com a novidade.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Nissan do Brasil

Nosso exemplar veio na cor Vermelho Scarlet, disponível por R$2.000 à parte.

Veja só quem voltou! Faz apenas alguns meses que nós tivemos o 2º contato com a segunda geração do Nissan Versa que, na época, havia sido atualizada para 2023 com novidades interessantes em equipamentos - na ocasião, testamos a versão top de linha Exclusive. Nessa reta final de ano, a montadora nos cedeu mais um exemplar do sedan compacto, porém, da versão intermediária Advance e da linha 2024 que foi apresentada no meio do ano, na véspera da troca de semestre.

Externamente, a única novidade é o para-choque frontal.

O que mudou?

Pouquíssima coisa, na verdade. A grande questão da linha 2024 é que ela estreou apenas quatro meses após a linha 2023, o que gerou dois problemas: fez os modelos 2023 defasarem/desvalorizarem rápido demais e fez os 2024 parecerem que evoluíram pouco. Externamente, as únicas novidades são o para-choque frontal e a opção de cor Cinza Lunar, enquanto a cabine recebeu detalhes em um tom discreto de azul no painel e bancos, além de um (muito bem-vindo) apoio de braço com porta-objetos embutido.

Não se engane: detalhe azul no painel é totalmente em plástico, feito para imitar couro.

Falando de tecnologia embarcada, todas as versões receberam novidades pontuais, mas vamos focar na Advance. Há uma nova chave presencial, carregador de smartphones por indução, duas portas USB tipo C (sendo uma para os passageiros de trás e outra, dentro do porta-objetos do apoio de braço dianteiro), alerta de colisão frontal e detector de tráfego cruzado na traseira. No mais, ela conta com rodas aro 16 diamantadas, painel de instrumentos semi-digital, ar condicionado analógico, câmeras em 360º, bancos em tecido, central multimídia, entre outros.

Debaixo do capô, sem alterações

Na parte mecânica, sem novidades. O Versa continua sendo equipado exclusivamente com motor 1.6 aspirado flex, capaz de gerar até 113cv e 15,3kgfm, trabalhando com uma caixa automática do tipo CVT. A tração é somente dianteira e vale lembrar que o câmbio manual, exclusivo da versão de entrada Sense, deixou de ser oferecido na linha 2023. Testamos essa configuração no começo do ano passado.

Bancos "Zero Gravity" também trazem discretos detalhes em azul nas bordas.

O velho novo Versa de sempre

Mesmo estando na linha 2024, o Versa mostra ser um produto pensado para quem não faz questão de certas modernidades - e isso não é uma crítica, mas uma constatação. O câmbio CVT, por exemplo, até oferece simulação de marchas com seis velocidades, porém, o recurso só funciona ao se afundar o pé no acelerador e de maneira totalmente autônoma, ou seja: o condutor não tem controle e não pode usá-las quando quiser, uma vez que não há paddle-shifters ou possibilidade de trocas independentes na alavanca. É o que alguns chamariam de "CVT raiz" e que tem seus adeptos.

Espaço interno é mediano - não sobra, nem falta.

A central multimídia, por sua vez, continua não oferecendo espelhamento sem fio para smartphones - o uso do cabo é obrigatório. Ele também segue devendo a iluminação nos botões dos vidros, bem como o sistema um-toque para todos; só há para a janela do motorista e somente para descer. Por fim, a suspensão traseira continua abaixando excessivamente quando se coloca passageiros na segunda fila de bancos, fazendo o sedan raspar em quebra-molas. Em suma, são pontos que já destacamos em avaliações passadas, mas que parecem não incomodar o comprador habitual do Versa, uma vez que a Nissan não se preocupou em corrigi-los.

De lado, o Versa lembra o atual Sentra.

Por outro lado, o Versa 2024 manteve qualidades como o rodar macio, o pedal do acelerador com respostas imediatas e o bom nível de consumo de combustível que, no nosso uso, ficou entre 15 e 16km/l com gasolina no tanque e ar condicionado ligado o tempo todo, em percurso misto. A condução é leve, fácil e muito pacata, com a transmissão mantendo o motor sempre abaixo dos 2.000rpm - em uso normal, é claro. O cenário muda rapidamente em subidas e ultrapassagens onde a transmissão eleva as rotações para além dos 3, 4 mil giros conforme se acelera com mais vontade.

Não há alterações na traseira ou nas laterais.

E perante a concorrência?

A versão Advance é tabelada atualmente em R$115.890. Falando de rivais com motores aspirados, temos três: Fiat Cronos, Honda City e Toyota Yaris. O Versa entrega um desempenho melhor do que o Fiat, porém, fica devendo na ausência das trocas manuais que melhoram a esperteza do conjunto - e que o Cronos, o Yaris e o City oferecem, sendo que o Honda é o melhor do quarteto em performance.

Modo L, de "Low" (reduzida), privilegia a relação de força do câmbio para que o Versa passe por obstáculos difíceis.

Passando para os rivais turbinados, são três: Volkswagen Virtus, Chevrolet Onix Plus e Hyundai HB20S. O Versa fica para trás em desempenho, contudo, se nivela em matéria de consumo de combustível. Seu grande trunfo é o preço que, nessa versão intermediária, o coloca abaixo das intermediárias da maioria dos rivais sem ficar tão defasado em equipamentos, chegando a ser melhor em espaço interno do que alguns concorrentes, inclusive entre os aspirados.

Luzes diurnas ficam justapostas aos faróis de neblina, montadas na mesma peça.

No final das contas, o Versa mostra que sua receita deu certo e que a Nissan não quer fazer mudanças mais bruscas justamente por isso. Sendo o único a não possibilitar trocas manuais de marcha e insistindo somente em motorização aspirada, o sedan japonês se destaca ao ignorar as tendências de um mercado em constante mudança para ser uma luz no fim do túnel dos que, de fato, não fazem questão das últimas modernidades. Traduzindo: nosso veredito para o três-volumes japonês é o mesmo de sempre. Se prioriza desempenho, tecnologia embarcada e espaço interno (além de poder pagar a mais por essas coisas), é melhor ficar de olho nos rivais.


Ficha técnica

Motor: 1.6, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 113cv (E) / 110cv (G) a 5.600rpm
Torque: 15,3kgfm (E) / 15,2kgfm (G) a 4.000rpm
Transmissão: CVT
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 205/50 R17
Comprimento: 4,49m
Largura: 1,74m
Entre-eixos: 2,62m
Altura: 1,47m
Peso: 1.122kg
Porta-malas: 482l
Tanque: 41l
0 a 100km/h: 10,5 segundos
Velocidade máxima: 184km/h


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