Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Volkswagen do Brasil
Nosso exemplar veio na cor Vermelho Sunset, disponível por R$1.650 à parte. |
2023 está acabando e foi, por falta de palavras melhores, um ano bem louco. O mercado automotivo brasileiro foi sacudido de ponta-cabeça por conta, principalmente, das novidades chinesas que chegaram com a proposta de promover mobilidade elétrica a preços muito agressivos e convidativos. No meio disso, tivemos lançamentos importantes e atualizações bastante aguardadas de nomes conhecidos, caso da viatura que protagoniza nossa avaliação da semana e que é a penúltima da temporada 2023.
Depois de conferirmos as novidades do Volkswagen Polo reestilizado para 2023 nas versões Highline e Track, chegou a hora de conhecermos o topo da cadeia do hatch no Brasil: a variante esportiva GTS. Lançada no começo de 2020, a configuração focada em diversão nunca teve vida fácil no mercado, sendo alvo de inúmeras críticas e protagonizando comparativos com modelos usados de preço semelhante, porém, desempenho igual ou superior. No meio de tudo isso, cabe a pergunta: as críticas são justas? Os comparativos fazem sentido? Rodamos mais de 1.000km em sete dias para descobrir.
Aerofólio em preto brilhante no topo do vidro traseiro lembra as peças do T-Cross e do Nivus. |
O que mudou?
Enquanto as outras versões receberam alterações mais expressivas (ainda que discretas), ironicamente, a GTS foi a que menos mudou quando comparada ao modelo pré-facelift. Há novos para-choques, nova grade frontal e novos faróis, bem como um novo emblema GTS na tampa do porta-malas, sem o nome Polo acompanhando. As rodas e lanternas, entretanto, são as mesmas do antecessor, exceto por uma leve mudança na assinatura luminosa que só os mais atentos vão perceber: o elemento vertical que atuava como luz de posição e freio, agora, serve apenas como luz de freio.
Por dentro, o GTS recebeu os mesmos forros de porta dianteira com tecido na parte central da versão Highline e o mesmo aplique decorativo em vinil do Virtus facelift com costura decorativa que emoldura o cluster de instrumentos, central multimídia, saídas de ar e maçanetas das portas dianteiras. Os bancos concha misturam couro e tecido, trazendo a sigla GTS em alto relevo no centro do encosto e os apoios de cabeça integrados. Por fim, o novo volante da VW também está presente com a base achatada e um pequeno GTS decorando o raio central da peça.
Enquanto os Polo turbinados sofreram um downgrade de maneira geral, a versão GTS passou bem longe dos cortes. Ainda é a única variante a ser equipada com o conhecido 1.4 "250TSI" flex que entrega até 150cv e 25,5kgfm com qualquer combustível, trabalhando com uma transmissão automática de seis velocidades. A diferença de comportamento já era grande em relação ao 1.0 "200TSI", porém, aumentou ainda mais mediante o "170TSI" que equipa os demais Polo turbinados.
Pesando 1.220kg, o Polo GTS é o carro mais leve do grupo VAG a utilizar o 1.4 turbo no Brasil, conseguindo um 0 a 100km/h em pouco mais de 8 segundos e atingindo a máxima de 206km/h. Ele manteve os freios a disco nas quatro rodas (passando a ser o único Polo com esse "luxo"), bem como os ótimos níveis de consumo de combustível: rodando apenas com gasolina e ar condicionado ligado o tempo inteiro, nossa média em percurso misto foi de 14km/l com direito a algumas puxadas esporádicas, modo de condução Normal e sem o uso de start-stop. Ou seja: no modo Eco, com start-stop e uso mais comedido, é possível números ainda melhores.
Cabine "digitalizada" traz detalhes em preto brilhante e volante revestido em couro. Multimídia e ar condicionado não trazem botões físicos. |
Só mais um pouquinho
O Polo GTS também não sofreu cortes significativos em equipamentos - perdeu apenas os faróis de neblina. Sem opcionais, a lista de equipamentos contempla recursos como: quatro airbags, ar condicionado digital com controles touch e saídas traseiras, multimídia VW Play com espelhamento sem fio para smartphones, volante revestido em couro com ajustes de altura e profundidade, cluster digital de instrumentos, quebra-sóis com espelho e iluminação, rodas aro 18 diamantadas, trocas manuais de marcha na alavanca e nos paddle-shifters, retrovisor interno fotocrômico, chave presencial com partida por botão, retrovisores externos com rebatimento elétrico, entre outros. Também há a grade dianteira iluminada por uma fina guia de LED que atua apenas como luz de posição, assim como no Taos Highline e no Tiguan reestilizado.
O modelo reestilizado recebeu carregador de smartphones por indução, quatro novas portas USB tipo C, sendo duas na frente e duas atrás e, como grande destaque, os faróis Full LED adaptativos do tipo Matrix, capazes de seccionar o feixe de luz alta dos veículos à frente para evitar ofuscamento, mantendo a iluminação em todo o restante. O recurso faz parte do chamado IQ.Light de faróis inteligentes e é mais sofisticado do que o sistema presente no Taos, sendo compartilhado pelo Tiguan reestilizado, ID.4 e ID. Buzz. Em contrapartida, o GTS não recebeu nenhuma assistência semiautônoma de condução como piloto automático adaptativo (presente no Virtus e Nivus), muito menos, o sempre solicitado teto solar.
Rodamos exatos 1.050km com o Polo GTS 2023, alternando entre trechos urbanos e rodoviários. De cara, o que mais agrada no hatch esportivo é sua discrição e suavidade: é um carro pensado para, além de oferecer diversão quando solicitado, ser um bom companheiro de uso diário. Se não fossem as rodas de 18 polegadas, a grande maioria das pessoas jamais diria que se trata de um carro um pouco mais especial e isso, nos dias de hoje, pode ser um forte ponto positivo, dependendo de onde você mora e por onde costuma circular.
Capaz de entregar seu torque máximo desde os 1.500rpm, o GTS não precisa ser "enforcado" para andar com esperteza e eficiência - basta pisar um pouco mais e ele avança sem pensar duas vezes. A única coisa que não acompanha toda essa agilidade é a transmissão que, mesmo no modo Sport, deixa clara sua calibragem mais voltada ao conforto, demorando na hora do kickdown (redução automática quando se afunda o pé no acelerador). Nada complicado de se resolver: basta usar os paddle-shifters ou as trocas manuais na própria alavanca para acabar com o problema.
A única mudança nos assentos é o emblema GTS reestilizado. |
O fato é que, ao volante, não há o que reclamar do desempenho do GTS. Sobra disposição para se fazer qualquer coisa com segurança e tranquilidade, mesmo com o carro cheio. O melhor é que, embora mantenha a altura em relação ao solo das versões comuns, a suspensão é mais firme e as barras estabilizadoras são um pouco mais largas, vindas do T-Cross, o que garante a firmeza necessária para que o compacto esteja "na sua mão" o tempo todo. Por fim, a experiência fica mais interessante quando se acelera com mais vontade, pois a membrana escondida no para-brisa deixa o ronco do motor entrar mais na cabine e dá até para ouvir o assobiar da turbina. Resumidamente: não há motivo para choros e lamentos.
Apesar disso, é evidente que nem tudo no GTS é positivo. Alguns pontos desagradam pela falta de um planejamento mais lógico como, por exemplo, o acesso a certas funções. É necessário ligar o multimídia para executar tarefas simples como abrir o porta-malas ou desligar o start-stop, recursos que deveriam estar na guia de botões cegos ao lado esquerdo da manopla de câmbio - exatamente como era no modelo pré-facelift. Até para alterar os modos de condução, é necessário navegar pela interface do multimídia até encontrar a função, o que não é nada intuitivo. O ar condicionado com comandos touch é bonito, porém, rouba preciosos segundos de atenção para você ver onde está mexendo e conseguir fazer o que deseja - diminuir a temperatura, aumentar a ventilação, etc.
Atrás, os passageiros contam com saídas dedicadas de ar, duas portas USB e luzes de cortesia no teto. |
Na ponta do lápis
Tabelado atualmente em R$149.990, o Polo GTS está na linha 2024 (sem mudanças de qualquer espécie em relação ao 2023) e se nivela em preço a modelos de diferentes propostas. Para começar, há o Fiat Pulse Abarth que custa exatamente a mesma coisa, anda mais e tem um tempero esportivo mais forte (por assim dizer), porém, peca em alguns aspectos mais técnicos. Dentro da própria Volkswagen, ele custa R$1.000 a menos do que um Virtus Exclusive que traz a mesma mecânica, além de ser 2.100 reais mais caro do que um Nivus Highline e 9.000 reais mais barato do que um T-Cross Comfortline, ambos equipados com motor 1.0 turbo.
Por outro lado, nesse valor, já é possível pensar em eletrificar a garagem. Dentre os hatches compactos, há os chineses Dolphin, da BYD, começando em R$148.900 e o Ora 03, da GWM, na versão Skin que começa em R$150.000, ambos 100% elétricos. O Dolphin é mais lento, mas o Ora 03 chega a entregar números ligeiramente melhores de aceleração. Para os que desejam começar a vivenciar essa nova realidade, vale a pena conferir, porém, é importante lembrar que ambas as marcas sequer completaram seu primeiro ano de atuação "pra valer" em solo brasileiro e que a infraestrutura de pontos de recarga ainda está longe de passar tranquilidade, especialmente para fazer viagens e para os que vivem fora do eixo RJ - SP.
Design: o visual do Polo GTS é oriundo do europeu GTI, porém, as rodas e as lanternas prolongadas do irmão chique reestilizado ficaram de fora do tupiniquim. No geral, é discreto como os esportivos da Volkswagen costumam ser e, é claro, como o cliente habitual da marca gosta. Quem deseja se destacar na multidão, certamente sentirá falta de detalhes chamativos e que evidenciem se tratar de um carro "apimentado" (como no Pulse Abarth), mas mesmo sendo algo pessoal, não há como chamar de feio. Nota: 9
Interior: enquanto o visual externo consegue entregar sobriedade, o interior quer apostar em algo um pouco mais exótico com costuras vermelhas em diversos pontos e apliques vermelhos em pontos estratégicos. Até mesmo o painel de instrumentos e a central multimídia contam com suas interfaces em detalhes vermelhos, sendo que são azuis nas demais versões. De maneira geral, a percepção de qualidade melhorou na dianteira, porém, as portas traseiras continuam com seu aspecto pobre por não trazerem partes em tecido em nenhum lugar. Nota: 7
Mecânica: o motor 1.4 turbo não é nenhuma novidade no mercado, contudo, ainda faz bonito e, como já dissemos anteriormente, sobra na carroceria compacta do Polo. A transmissão automática convencional, da Aisin, não é rápida como uma caixa DSG, mas cumpre seu papel e não deixa na mão. Os freios a disco nas quatro rodas passaram a ser exclusividade da versão GTS e reduzem as chances de fading. Nota: 9
Tecnologia: cluster 100% digital de instrumentos, multimídia com espelhamento sem fio e carregador de smartphones por indução nivelam o GTS a outros modelos de sua faixa de preço. O grande destaque, entretanto, está nos faróis adaptativos que são raríssimos nesse valor e, como se não bastasse, ainda contam com a função Matrix, presente apenas em veículos premium. São maravilhosos para a condução noturna e representam um diferencial interessante a favor do alemão, porém, é uma pena que não haja nenhuma assistência semiautônoma de condução ou freio eletrônico de estacionamento... além do teto solar que nunca veio. Nota: 8
Conveniência: há chave presencial com partida por botão e acionamento por sensores nas maçanetas dianteiras, abertura e fechamento remoto das janelas, rebatimento elétrico dos retrovisores no ato de travar/destravar o carro, quebra-sóis com espelho e iluminação, portas USB para todos, saídas traseiras de ar condicionado... resumindo, é quase perfeito. Levaria 10 se a Volkswagen tivesse mantido as funções citadas anteriormente nos botões ao lado da alavanca de câmbio. Quiseram digitalizar demais a cabine e isso acabou mais atrapalhando do que ajudando. Nota: 9
Acomodações: nesse tópico, nossas observações são as mesmas feitas na matéria da versão Highline 2023, exceto pelo acréscimo dos bancos concha. Embora dificultem (um pouco) a operação de entrar e sair do carro, eles são bastante confortáveis e agradam durante a condução por deixar o corpo no lugar certo; já o espaço nos bancos traseiros é limitado como em todo Polo, mas não é impossível de ser utilizado por adultos. Nota: 7
Funcionalidades: tudo no Polo GTS funcionou como deveria, sem travamentos ou bugs, o tempo inteiro. Nota: 10
Desempenho: se sobra motor, é evidente que o desempenho é mais do que satisfatório. O 1.4 turbo trabalha desde cedo e está sempre pronto para atender ao condutor, porém, se você quiser ainda mais performance, há opções "aftermarket" que melhoram o desempenho e não acabam com a garantia de fábrica: a conversão Oettinger, oferecida pela paulistana Strasse, eleva os picos de potência e torque para 200cv e 37,8kgfm. Nota: 10
Segurança: mais uma vez, as observações são as mesmas feitas sobre o Polo Highline 2023, porém, vale fazer dois acréscimos a respeito do GTS. O primeiro é sobre os faróis IQ.Light Matrix que são muito superiores aos das demais versões, enquanto que o segundo é sobre os freios a disco que são mais resistentes a fadiga, portanto, mais capazes de entregar toda a força de frenagem necessária quando o condutor precisar. Não levará 10 por não trazer minimamente o sistema de frenagem autônoma de emergência que os irmãos de portfólio já oferecem até em versões mais baratas. Nota: 8
Custo X Benefício: por 150 mil reais, o Polo GTS fica em uma verdadeira "sinuca de bico", pois custa o mesmo do que outros veículos mais racionais, principalmente para os que precisam de mais espaço interno - e é raro alguém não precisar disso hoje em dia. Por melhor que ele seja (e ele é muito, muito bom), a compra só faz sentido em um cenário bastante específico - como segundo carro da casa ou o principal de um casal sem filhos, por exemplo. O Virtus Exclusive entrega o mesmo bom conjunto e já é bem mais espaçoso, mas é possível partir para um T-Cross se busca um veículo mais alto. Em suma, como todo bom carro de nicho, não é uma compra para ser pensada e sim, vivenciada. O certo é que, pelo valor, o conjunto da obra não deixa a desejar. Nota: 8
Avaliação final: 85/100
No para-choque traseiro, os detalhes refletivos e a parte plástica na cor do carro, integrada ao que seria o difusor, são as novidades. |
Considerações finais
O Polo GTS é uma das melhores opções para quem tem pouco ou nenhum compromisso com os outros. Divertido, bem equipado, discreto e econômico, ainda é uma boa base para quem gosta de fazer upgrades mecânicos para apimentar a brincadeira, pois o 1.4 TSI é um velho conhecido do mercado e já conta com inúmeras receitas próprias para ele. Não faz sentido em uma análise fria e racional, contudo, sua proposta não é a de fazer sentido, tampouco ser racional. Carros, pacotes, versões com foco em esportividade não são feitos com esse objetivo.
Por 150 mil reais, é o Polo mais caro que o brasileiro já viu. Também é o mais tecnológico deles e o que melhor equilibra diversão X comodidade, servindo tanto como um ótimo companheiro de uso diário quanto como um brinquedo decente de fim de semana. Enquanto os "especialistas" de internet procuram motivos para desmerecê-lo (os mesmos que vivem reclamando que faltam opções divertidas e acessíveis), o Polo GTS se mostra um produto para quem tem a coragem de expressar sua personalidade própria, não se deixando levar pela opinião alheia e criando suas próprias experiências.
Até porque, não custa nada lembrar que a eletrificação está vindo com força total. Diante disso, tudo indica que carros legais como o GTS não durarão muito mais tempo e, portanto, devem ser aproveitados enquanto existem.
Ficha técnica
Motor: 1.4 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 150cv (E/G) a 4.500rpm
Torque: 25,5kgfm (E/G) a 1.500rpm
Transmissão: automática de seis marchas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 205/45 R18
Comprimento: 4,07m
Largura: 1,75m
Entre-eixos: 2,56m
Altura: 1,48m
Peso: 1.220kg
Porta-malas: 300l
Tanque: 52l
0 a 100km/h: 8,4 segundos
Velocidade máxima: 207km/h
Matéria em vídeo
Fotos (clique para ampliar):