quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Testamos: Citroën C3 Feel traz mecânica Fiat e cesta básica de equipamentos em detrimento da segurança

Rodamos mais de 1.500km ao longo de doze dias a bordo do hatch renovado com mecânica italiana para atestar qualidades e defeitos.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

Nosso modelo testado veio na cor Azul Spring com teto Branco Banquise, disponível por R$2.800 à parte.

Ele está de volta! Meses após nosso primeiro contato com a nova geração do Citroën C3, o compacto francês retorna ao Volta Rápida para mais uma bateria de testes no uso diário. No começo desse ano, tivemos contato com a versão top de linha Feel Pack que, até então, era a única a receber o motor 1.6 aspirado flex com câmbio automático de seis marchas. Agora, recebemos uma unidade da versão Feel, a mais cara com motor 1.0 e câmbio manual de cinco marchas.

Tabelada atualmente em R$83.990, a variante Feel é uma das mais agressivas na relação custo X benefício dentro da gama do C3, pois custa apenas 3 mil reais a mais do que a Live Pack com o mesmo conjunto mecânico e já traz uma lista de equipamentos bem mais interessante, nivelando o compacto francês aos outros hatches do segmento com preços parecidos. Rodamos mais de 1.500km para descobrir se a pedida vale a pena.

Novo C3 é mais alto do que a grande maioria dos hatches compactos.

Para mais e para menos

Em relação ao modelo Live Pack com a mesma mecânica, o C3 Feel traz a mais: vidros elétricos nas portas traseiras, luzes diurnas em LED, volante com ajuste de altura, rodas de liga leve aro 15 com acabamento em grafite, duas portas USB para os ocupantes traseiros, entre outros. Quando comparado ao Feel Pack, top de linha, ele deixa de fora: faróis de neblina, câmera de ré, rodas com acabamento diamantado e volante revestido em couro.

Ainda assim, a versão Feel já traz todo o básico que um carro de entrada de uma montadora generalista pode oferecer atualmente: multimídia de 10 polegadas com espelhamento sem fio para smartphones, direção elétrica, ar condicionado, computador de bordo, controles de tração e estabilidade, bancos em tecido, monitoramento de pressão dos pneus e indicador de troca de marcha, um recurso importante em um carro que, em plena véspera de 2024, não traz conta-giros.

O carro é novo, mas a mecânica é bastante conhecida.

Vai sem medo

Um dos principais motivos que sempre afastou muitos possíveis clientes dos modelos da Citroën é o receio pela confiabilidade do conjunto mecânico. Se há fundamento ou não, é assunto para outro momento; o fato é que as versões mais baratas do novo C3 são equipadas com o conhecido motor 1.0 aspirado flex de três cilindros da família Firefly, da Fiat, que entrega até 75cv e 10,7kgfm e trabalha com uma transmissão manual de cinco marchas que também é da montadora italiana. É o mesmo conjunto presente em modelos como Argo, Cronos e o atual Peugeot 208.

Não é o 1.0 aspirado mais forte do mercado, porém, até consegue levar os 1.056kg do novo C3 com uma certa esperteza. O grande X da questão é que o motorista precisa escolher suas prioridades: se for desempenho, coloque etanol, pois a entrega de torque acontece numa faixa bem mais útil, sendo que o pico aparece aos 3.250rpm contra 4.250rpm na gasolina. Se for economia, prefira gasolina, deixando o C3 muito mais econômico do que com o derivado da cana. As diferenças em ambos os tópicos são drásticas, dependendo do combustível escolhido.

Cabine da versão Feel é quase a mesma da top de linha Feel Pack, exceto pelo volante em espuma injetada ao invés de couro.

Missão: levar e trazer

Se você não for motorista profissional, percorrer 1.500km em doze dias é muita coisa; existem pessoas que não rodam isso em um ano inteiro. Aproveitamos a companhia do hatch francês para um bate-e-volta até a cidade de Taubaté, no interior de SP, a fim de ver como o novato se sai tanto em perímetro urbano quanto em ambientes rodoviários de grande fluxo. Tivemos boas e más surpresas.

Começando pelas más: o isolamento acústico deixa a desejar, pois o barulho de rodagem dos pneus invade a cabine sem cerimônia e até mesmo o motor é bastante perceptível em rotações mais altas. Não dá para dizer com precisão porque, como falamos anteriormente, não há conta-giros, mas estimamos que ele se mantenha pouco acima dos 3.000rpm viajando entre 100~110km/h.

Bancos misturam tons diferentes de cinza com discretas faixas em azul.

Outro ponto que chama atenção negativamente é a vibração excessiva em ponto morto: tanto o motor quanto a alavanca de transmissão trepidam bastante e chega a parecer que está acontecendo algo de errado, mas é só uma impressão. Passando para os pontos positivos: mesmo após percorrer pouco mais de 700km do referido bate-e-volta, não dá para sentir tanto cansaço. As acomodações são muito boas e o trabalho dos pedais/marcha não cansa. Tudo tem o peso correto, conferindo uma condução prazerosa e bastante tranquila.

Embora o torque máximo só apareça a partir dos 3.250rpm (com etanol), o C3 com motor 1.0 é deveras "espertinho" abaixo disso, ganhando velocidade com rapidez e atendendo as solicitações do motorista. É claro que não podemos esquecer que ainda é um 1.0 aspirado, portanto, as reduções de marcha são obrigatórias em casos de subidas e/ou ultrapassagens; também é interessante aproveitar o embalo antes de longos aclives, pois, cedo ou tarde, ele vai exigir que você reduza marchas e você não poderá negar. Por fim, o acerto da suspensão é muito bom para o nosso piso "lunar".

Novo C3 é o primeiro carro da estratégia C-Cubed. Ele divide a plataforma CMP com o atual Peugeot 208.

Considerações finais

Para quem o novo C3 pode ser uma boa compra? Depende. Estamos falando de um projeto de baixo custo que se esforça para agradar a quem deseja um simples meio particular de transporte para ir e voltar com comodidade e conforto. Isso, o hatch francês cumpre com maestria e se mostra mais interessante do que muitos rivais, especialmente pela combinação preço + espaço interno. Mas sempre há um porém...

...e o porém, nesse caso, é sério. O modelo passou pelo teste do Latin NCAP há alguns meses e não apenas zerou como saiu com sérias ressalvas do instituto; chegou ao ponto de alguns executivos de alto escalão emitirem notas públicas condenando o compacto. Se você não se incomodar com esse tópico e nem com o acabamento interno totalmente em plástico rígido, pode ter um ótimo companheiro de garagem no novo C3.


Principais concorrentes: Volkswagen Polo Track, Fiat Argo Drive, Peugeot 208 Like, Hyundai HB20 Sense Plus, Chevrolet Onix 1.0


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