Um é italiano e o outro é alemão. |
Fazer comparativos é uma das práticas mais corriqueiras no mercado automotivo nacional e, também, uma boa maneira de analisar, entre dois ou mais produtos, qual que atenderá melhor aos seus gostos e/ou necessidades. O grande problema dos comparativos é que, muitas vezes, são elaborados de maneira parcial, visando enaltecer aquele produto/causa/coisa qualquer que é preferido de quem o elabora. Na verdade, existe um outro grande problema que é o de realizar comparações sem pé, nem cabeça, confrontando dois elementos que são distintos.
Para o nosso artigo de opinião da vez, decidi responder uma pergunta que vejo muita gente fazer na internet, envolvendo dois modelos que geram polêmica desde que foram apresentados pela primeira vez ao público local: o Volkswagen Polo GTS e o Fiat Pulse Abarth. Vale ressaltar que o Pulse Abarth foi avaliado por nós há pouquíssimo tempo, enquanto o Polo GTS nunca passou pela redação, porém, já tivemos contato com o Virtus GTS que é, essencialmente, o mesmo carro em uma carroceria mais comprida.
O objetivo deste artigo é um só: explicar o porquê de ambos não serem concorrentes, embora sejam parecidos em preço e proposta, o que faz os comparativos entre eles perderem o sentido - tudo isso ao NOSSO ver, é claro. Antes de começarmos, contudo, cabe apresentá-los a você que, talvez, ainda não tenha uma exata noção de quem eles são.
O Polo GTS chegou ao mercado brasileiro logo no começo de 2020 como a versão mais cara do Polo de sexta geração e a única de proposta verdadeiramente esportiva da gama. Para criá-lo, a Volkswagen pegou o Polo nacional e acrescentou toda a parte visual do Polo GTI, brinquedo exclusivo dos europeus, combinando os elementos estéticos ao motor "250 TSI", 1.4 turbo flex, com o câmbio automático de seis marchas da derivação AQ250, um conjunto conhecido há anos e utilizado em inúmeros carros do grupo VAG, inclusive, em alguns Audi.
Paralelo a isso, o GTS também trouxe equipamentos exclusivos da versão e uma certa apimentada no conjunto de suspensão, que ficou mais firme, bem como no mapeamento do sistema de injeção que foi pensado para trabalhar de maneira mais agressiva; já os freios a disco são os mesmíssimos dos antigos "200 TSI", dotados de discos nas quatro rodas. Gerando até 150cv e 25,5kgfm, o Polo GTS é o menor e mais leve VW com esse conjunto mecânico, o que garante um comportamento bastante divertido.
Atualmente na linha 2023, o GTS é oferecido por R$146.790.
O Pulse Abarth foi apresentado há alguns meses, em Novembro do ano passado, como a variante mais cara e apimentada do Pulse, primeiro SUV compacto da Fiat no Brasil. Para criá-lo, a Fiat trouxe um conjunto mecânico tipicamente encontrado em modelos maiores e mais caros como os Jeep nacionais, além da picape Toro, composto pelo motor "Turbo 270", 1.3 turbinado flex, e um câmbio automático de seis marchas. Juntou tudo isso a elementos estéticos diferentes (alguns exclusivos, outros vindos do Fastback) e bateu no liquidificador para criar este que é, até o momento, o único SUV compacto de marca generalista com pegada esportiva do Brasil.
O trabalho da Abarth, contudo, não para por aí. Assim como no Polo GTS, a Stellantis mexeu na central eletrônica (ECU) para que o motor tivesse um comportamento mais agressivo, além do conjunto de suspensão que é mais rígido do que nos demais Pulse e, claro, na lista de equipamentos que também traz recursos inexistentes nas demais variantes do SUV compacto. Gerando até 185cv e 27,5kgfm, o Pulse Abarth repete os resultados do Polo GTS, sendo o menor e mais leve veículo da Stellantis a utilizar esse conjunto, resultando em um veículo muito veloz e pronto para agradar aos entusiastas.
O Pulse Abarth pode ser comprado por R$149.990 pela tabela atual.
Preços próximos, propostas iguais... Concorrentes? Leia e analise. |
"Eu os achei bem parecidos, Ravitz. Por que não seriam concorrentes?"
Exatamente por isso: são PARECIDOS, não semelhantes. Para começo de conversa, temos um hatch e um SUV e isso, por si só, já encerraria a discussão. Analisando apenas as carrocerias, o Polo GTS é 4cm mais curto no comprimento geral do que o Pulse Abarth, porém, conta com 3cm a mais de entre-eixos; um entre-eixos mais longo tende a oferecer mais conforto e estabilidade, principalmente quando combinado a uma altura menor do solo que, novamente, dá a vantagem para o GTS, pois são 14,9cm de vão livre do hatch contra 18,8cm do SUV.
Mecanicamente falando, o Pulse Abarth sai na frente por conta do 1.3 turbo entregar maiores picos de potência e torque - 35cv e 2kgfm a mais, respectivamente, do que no 1.4 turbo do Polo GTS. Em contrapartida, o motor do alemão é mais elástico por entregar seus picos mais cedo; os 150cv do Polo aparecem aos 4.500rpm contra 5.750rpm do Pulse, bem como o torque que se manifesta aos 1.500rpm no Polo contra 1.750rpm no Pulse. O GTS também é o único a trazer freios a disco nas quatro rodas, contudo, o Abarth conta com um escape feito sob medida para roncar mais.
Nas bitolas, um jogo de vice-versa: a bitola dianteira do GTS é mais larga do que no Abarth, enquanto a traseira é mais larga no Abarth do que no GTS. Nos pneus, mais diferenças: o GTS traz pneus 205/45 R18, mais baixos e estreitos, enquanto o Abarth traz compostos 215/50 R17, mais altos e largos que ajudam a compensar a altura elevada com mais controle em curvas e frenagens.
Cabines diferentes em visual, porém, iguais em tecnologia embarcada. |
Em equipamentos, a semelhança é grande. Ambos trazem faróis Full LED, cluster de instrumentos digital, central multimídia com espelhamento sem fio para smartphones, ar condicionado digital com saídas traseiras, carregador de smartphones por indução, câmbio com paddle shifters para trocas manuais, quatro airbags, bancos em couro, câmera de ré, sensores dianteiros e traseiros de estacionamento, sensores crepuscular e de chuva, entre outros.
O Pulse aposta em tecnologias semiautônomas de segurança como frenagem automática de emergência, assistente de permanência em faixa e farol alto automático, enquanto que o Polo contra-ataca com faróis adaptativos do tipo Matrix, rodas aro 18 e ar condicionado com controles tipo touch, além de um seletor de modos de condução que permite ajustar parâmetros do carro de maneira isolada.
Discrição X escândalo; qual você prefere? |
"Tá, entendi essa parte. Eles possuem diferenças, mas você ainda não disse o porquê de não serem concorrentes"
Eles não são concorrentes porque, embora partilhem a mesma proposta, entregam resultados muito distintos. A Volkswagen tem níveis diferentes de performance e, nessa escala, o GTS fica na base da cadeia, abaixo dos GTI/GTX que, por sua vez, ficam abaixo dos R. O Polo GTS é um esportivo muito mais técnico e discreto, chegando ao ponto de se passar por um carro comum para a maioria dos observadores. É melhor de curva, de frenagem e, também, uma "tela em branco" melhor para quem gosta de modificar - não é à toa que existem preparações oficiais como as da Oettinger, oferecidas pela Strasse, que aumentam o desempenho sem tirar a garantia de fábrica. O GTS é um esportivo mais mundano, é mais econômico e agrada a quem busca um modelo de uso diário, porém, com potencial para divertir nos fins de semana ou no evento automotivo local de vez em quando.
Já o Pulse Abarth é mais visceral, agressivo, pensado para quem quer um carro que acabou de sair da concessionária e está pronto para "aprontar" por aí. Nada discreto, o Abarth ostenta adesivos e detalhes decorativos que deixam claro se tratar de um carro especial, até porque, a Fiat não tem graduações de esportividade como a Volkswagen; um Abarth é um Abarth e ponto final. É o topo da cadeia e a Fiat faz questão de mostrar isso. Ronca mais, é mais "nervoso" na condução normal e mais instigante na hora de acelerar, permitindo que se ouça a turbina trabalhando em acelerações mais fortes. Também é o que anda mais em linha reta e, mesmo pesando 61kg a mais do que o GTS, deixa o alemão para trás nas medições de aceleração pura. Resumindo, o Abarth é um brinquedo pronto para agradar a quem quer se sentir em um esportivo na essência e, de vez em quando, utilizá-lo para cumprir as tarefas do dia-a-dia.
Depende do que você quer e precisa. Se deseja um carro melhor para usar diariamente, vá no GTS. Se não vai usar tanto e/ou procura uma experiência geral mais divertida e provocante, vá de Abarth.
Se pensa em modificações mecânicas, o GTS é o mais indicado. Se quer se sentir num carro já pronto, sem necessidade de alterar nada, o Abarth lhe atenderá mais. Se gosta de discrição, passar despercebido, o GTS é a sua praia. Se quer chamar atenção e atrair olhares por onde passa, o Abarth é a opção certa.
No final das contas, o que importa é que temos duas receitas diferentes que são uma luz no fim do túnel para quem busca carros legais sem precisar gastar uma fortuna, ambas com bastante potencial de agradar e arrancar sorrisos tanto de quem dirige quanto de quem anda de carona.