Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Nissan do Brasil
Nosso modelo de teste veio na cor Azul Cobalto, disponível por R$1.600 à parte. |
Ele voltou! Na verdade, ele nunca foi embora, mas ficou ausente das lojas brasileiras por algum tempo devido a dificuldades na linha de produção. A situação, entretanto, mudou e o Versa voltou a abastecer as concessionárias do Brasil com força - tanto é que a montadora faz questão de circular com sua frota atualizada de imprensa entre os jornalistas e produtores de conteúdo nacionais, justamente para recolocar o sedan em evidência e, é claro, noticiar as discretas novidades da linha 2023.
Estamos perto de completar 100 carros já avaliados pelo Volta Rápida ao todo e, para ajudar a bater essa marca, a fabricante nos cedeu um exemplar do sedan na versão Exclusive, a mais cara da linha, tabelada atualmente em R$122.890. Ele recebeu mudanças mínimas em equipamento e mecânica, porém, ainda não veio com o facelift que já é produzido no México, cotado para o modelo brasileiro apenas na linha 2024. No portfólio, a mudança é a saída da versão Sense com câmbio manual que testamos no ano passado.
Visualmente, nada; todo o design é o mesmíssimo de quando o sedan estreou em 2020. Tecnologicamente, nossa testada Exclusive ganhou carregador de smartphones por indução e, finalmente, luzes diurnas integradas aos faróis Full LED; nas configurações mais baratas, elas se posicionam justapostas aos faróis de neblina. Para todas, há o sinal de parada de emergência que ativa o pisca-alerta automaticamente em caso de frenagens bruscas.
Mecanicamente, a Nissan retrabalhou a suspensão para melhorar o comportamento do sedan: na traseira, há novos suportes e fixações que, juntos da nova geometria, deixaram o japonês mais firme e a carroceria 15% menos suscetível a inclinações. Por fim, o motor também passou por uma recalibragem por conta das normas L7 do Proconve, porém, as alterações nesse aspecto foram imperceptíveis na prática por serem mínimas.
Contrariando as tendências do segmento, o Versa manteve seu conjunto mecânico ao estilo mais tradicional possível. Debaixo do capô, se abriga um motor 1.6 aspirado flex de quatro cilindros, controlado por uma transmissão automática do tipo CVT que não oferece a possibilidade de realizar trocas manuais das marchas simuladas; elas até existem e são seis, entretanto, se ativam apenas durante acelerações mais fortes e de forma automática, sem qualquer intervenção do condutor, desativando-se sob a mesma circunstância.
Sobre as alterações promovidas por conta das normas L7 do Proconve: antes, o motor gerava até 114cv de potência máxima com qualquer combustível, bem como 15,5kgfm de torque máximo. Agora, a potência máxima é de 113cv no etanol e 110cv na gasolina, enquanto que o torque foi para 15,3kgfm no etanol e 15,2kgfm na gasolina. As faixas de giro onde esses picos aparecem não foram alteradas - a potência máxima aparece aos 5.600rpm e o torque máximo, somente a altos 4.000rpm.
Posicionada no topo da gama e sem oferecer opcionais, a variante Exclusive traz alguns itens de série interessantes como: seis airbags, faróis Full LED com ajuste elétrico de altura, faróis de neblina, rodas aro 17 diamantadas, ar condicionado digital, central multimídia com espelhamento via cabo para smartphones, painel de instrumentos semi-digital, volante multifunção com ajustes de altura e profundidade, piloto automático, monitoramento de pontos cegos, câmeras em 360º, sensores traseiros de estacionamento, alerta de esquecimento de objetos/pessoas no banco traseiro, frenagem autônoma de emergência, bancos em couro, chave presencial com partida por botão, controles de tração e estabilidade, entre outros.
Como já dissemos anteriormente, essa lista sofreu mínimas alterações com o acréscimo do carregador de smartphones por indução e das luzes diurnas, porém, ainda deixou de fora alguns detalhes muito básicos. Não há saídas traseiras de ar condicionado e, para os vidros, a função um-toque existe apenas para o motorista... e só para descer. Não há, nem mesmo, recursos simples como iluminação nos botões dos vidros ou abertura e fechamento das janelas na chave, vacilos que um carro desse preço (e dessa época) não deveria cometer, principalmente por serem queixas que acompanham a nova geração do sedan desde o seu lançamento há quase três anos.
Rodamos pouco mais de 400km ao longo dos sete dias e, o tempo inteiro, a característica que mais se destaca no Versa é a calmaria. O sedan é extremamente pacato e tranquilo de se conduzir, com reações calmas e respostas amenas, entregando um nível muito bom de conforto mesmo com as rodas aro 17; boa parte desse conforto se deve ao novo acerto da suspensão que, de lambuja, também melhorou o comportamento dinâmico nas horas em que ele é mais exigido. A transmissão CVT mantém o motor abaixo dos 2.000rpm o tempo inteiro, garantindo silêncio e economia - nossa média geral com gasolina foi de bons 16,5km/l.
Apesar disso, o pedal do acelerador conta com uma calibragem excelente, difícil de se ver, que garante que o sedan esteja pronto para responder quando for mais exigido, algo muito importante se lembrarmos que o torque máximo só aparece em altos 4 mil giros. Ou seja: é necessário pisar mais fundo em qualquer mínima situação que exija mais força e, aí, o ruído do motor começa a invadir a cabine. Teria sido interessante aproveitar a recalibragem por conta do Proconve para reduzir a faixa de entrega desse torque máximo, a fim de deixar o japonês mais disposto na hora do "fight".
Interior perdeu a opção dos bancos inteiramente em revestimento claro. |
Os faróis Full LED também se destacam positivamente pela intensidade e amplitude do feixe de luz, tanto alta quanto baixa, se mostrando muito melhores que os do Kicks, por exemplo. O painel de instrumentos parcialmente digital nos lembrou a peça do novo Honda City e também se sobressai pela fartura de informações e qualidade da imagem exibida; é uma pena que não combine com a iluminação avermelhada do restante da cabine, característica típica de carros de baixo custo como o Toyota Etios. O que também não combinou nem um pouco foi a baixa qualidade da imagem das câmeras em 360º, uma modernidade (e exclusividade) que merecia dispositivos de captação melhores.
No geral, o Versa agrada e estimula a tranquilidade ao volante, entretanto, embora a tática de não turbinar o modelo seja interessante do ponto de vista da diversidade de opções (afinal, como sempre dissemos, nem todo mundo quer a última palavra em tecnologia ou mecânica e é bom ter alternativas para todos os gostos), acreditamos que seria interessante que, pelo menos, a versão Exclusive estivesse disponível em duas configurações, sendo uma aspirada e a outra, turbinada. Quem gostaria de colocá-lo na garagem, mas ainda não o fez por preferir uma mecânica mais forte e atual, continua sem opção.
Faróis principais são excelentes. Já os de neblina são medianos - e não é por usarem lâmpadas halógenas, mas pela construção mesmo. |
Avaliação geral
Design: embora japonês, o atual Versa tem todo o jeito de carro europeu - e isso é ótimo. Enquanto o anterior dividia opiniões, o novo é quase que unanimidade em acerto visual e linhas harmoniosas. Tudo conversa com tudo e, na nossa opinião, trata-se do sedan compacto mais bonito da categoria. Acertaram em cheio. Nota: 10
Interior: apesar de ter perdido a opção do revestimento claro nos bancos e parte das portas, a cabine do Versa continua bonita e bem resolvida. Seria melhor se a iluminação dos comandos combinasse com a do painel de instrumentos (ou vice-versa), o que é um mero detalhe, porém, um detalhe que importa quando se paga mais de 100 mil reais. Nota: 9
Mecânica: pesando apenas 1.131kg nesta configuração, o Versa mostra qualidade construtiva e auxilia o trabalho do 1.6 aspirado que, no cenário atual, se nivela por baixo em comparação aos rivais. De igual modo, o câmbio CVT acaba caindo no campo da incoerência, pois, possui a programação das marchas simuladas e não deixa que o condutor as utilize quando quiser. No mais, o padrão da categoria com freios a disco somente na dianteira e suspensão traseira por eixo de torção - que melhorou bastante após as alterações. Precisamos ser justos. Nota: 6
Tecnologia: o Versa Exclusive é bem equipado e não deixa que se sinta falta de quase nada. Quase. Deveria ter sensores dianteiros de estacionamento, mesmo buscando compensar a falta deles com as câmeras em 360º. Nota: 9
Conveniência: há luzes de cortesia na frente e atrás, além de portas USB suficientes para todos. Contudo, a chave presencial exige acionamento por um botão na maçaneta, sem a praticidade do sensor, e não conta com abertura e fechamento de janelas - se você trancar o carro com os vidros abertos, eles ficarão assim e não há como mudar nas configurações. Os ajustes de brilho do painel de instrumentos e da central multimídia são separados e, quase nunca, harmoniosos. Nota: 5
Acomodações: o espaço é suficiente para quatro adultos, sem fartura. Há um apoio de braço (realmente útil) para o motorista e outro apoio central no banco traseiro. No geral, os bancos são bons, mas o encosto de cabeça poderia estar mais para a frente como é de costume nos carros japoneses, assim, é possível descansar a cabeça durante a condução sem incliná-la para trás e perder a visão da pista. Há comandos internos para abertura do porta-malas e bocal de abastecimento. Nota: 7
Funcionalidades: tudo no Versa Exclusive funcionou o tempo inteiro, sem travamentos ou defeitos. A única exceção ficou por conta do carregador de smartphones por indução que, embora tenha recursos para ajudar a manter o aparelho no lugar certo, serve mais para superaquecer o celular do que, efetivamente, carregá-lo. Nota: 9
Desempenho: o Versa é um carro leve e isso é ótimo. O pedal do acelerador tem uma boa resposta e faz uma dupla interessante com a transmissão; o que não é bom é o fato do motor 1.6 aspirado entregar seus picos de potência e torque em rotações tão altas. Resumindo a ópera, o sedan até consegue entregar um desempenho adequado, desde que seja "esgoelado" para isso. Em comparação aos rivais, mesmo os aspirados, a nítida impressão é a de que o Versa está um degrau abaixo. Nota: 4
Segurança: o atual Versa ainda não passou pelo crivo do Latin NCAP, porém, é preciso fazer algumas considerações. A plataforma do modelo continua sendo a V, utilizada pela geração passada, que foi avaliada em 2016 e teve sua estrutura classificada como instável, incapaz de suportar cargas maiores. Ela foi atualizada para acomodar a atual geração do sedan e, paralelo a isso, o novo modelo traz muito mais recursos de segurança do que o antigo. Daremos um voto de confiança mediante esses fatores, entretanto, o teste estrutural do Latin NCAP ainda é essencial para uma análise mais correta. Nota: 8
Custo X Benefício: dos rivais diretos em preço e mecânica, o Versa bate de frente com o Toyota Yaris Sedan e o novo Honda City, ambos munidos de motores aspirados e transmissão CVT. Em termos de desempenho, o Versa se nivela ao Yaris e perde para o City. Falando de tecnologia embarcada, o nivelamento é geral, apesar de o City se sobressair um pouco (e custar mais). Se você prefere desempenho, não há como escolher nenhum dos três em comparação a rivais turbinados como Hyundai HB20S, VW Virtus e Chevrolet Onix Plus; se não é sua prioridade, o Versa é o que melhor equilibra seu preço a uma lista interessante de equipamentos e um convívio bastante pacato. Nota: 7
Avaliação final: 75/100
É bom voltar a ver o Versa nas lojas e, aqui entre nós, gostamos do fato de a Nissan ter atrasado o facelift - na nossa opinião, o atual é mil vezes melhor. As poucas alterações deixaram o conjunto mais interessante e, mesmo não sendo um carro exatamente barato, ainda custa menos do que as versões top da maioria dos rivais, entregando o mesmo nível de tecnologia embarcada e médias de consumo de combustível muito boas.
Entretanto, o fato é que, para um top de linha, talvez fosse mais negócio apostar em um pouco de modernidade para o conjunto mecânico, ainda que ela viesse unicamente na forma da possibilidade de trocar as marchas manualmente a qualquer momento. No estado atual, o Versa entrega uma experiência de uso extremamente conservadora e até consegue agradar, porém, não o suficiente para deslanchar em vendas. Talvez, seu objetivo seja, de fato, somente o de confirmar que quem é vivo, sempre aparece.
Concorrentes diretos (pela categoria sedan compacto): Volkswagen Virtus Comfortline, Toyota Yaris XLS, Honda City EX ou EXL, Fiat Cronos Precision, Chevrolet Onix Plus Premier
O modelo avaliado não possui concorrentes indiretos entre 110 e 130 mil reais.
Ficha técnica
Motor: 1.6, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 113cv (E) / 110cv (G) a 5.600rpm
Torque: 15,3kgfm (E) / 15,2kgfm (G) a 4.000rpm
Transmissão: CVT
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 205/50 R17
Comprimento: 4,49m
Largura: 1,74m
Entre-eixos: 2,62m
Altura: 1,47m
Peso: 1.131kg
Porta-malas: 482l
Tanque: 41l
0 a 100km/h: 10,6 segundos
Velocidade máxima: 183km/h
Velocidade máxima: 183km/h
Matéria em vídeo
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