Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Volkswagen do Brasil
Nosso exemplar de teste veio na cor Cinza Platinum, disponível por R$1.650. |
Se você olhasse para o portfólio brasileiro da Volkswagen há cerca de dois anos, veria que a montadora oferecia nada menos do que quatro hatches em nosso país: o subcompacto up! e os compactos Gol, Fox e Polo. O último a se despedir foi o longevo Gol com a série especial Last Edition, enquanto que o up! e o Fox deixaram o mercado definitivamente em 2021. Ou seja; quem sobrou foi, justamente, aquele que passou bons anos sendo ignorado no país sem receber a merecida quinta geração: o Polo. O modelo teve sua quarta geração "requentada" por muitos anos e era uma ponte até o Golf, mas perdeu o sentido diante da concorrência modernizada e a rivalidade dentro de casa com o Fox.
Relançado com muita pompa e glória no final de 2017 já como ano/modelo 2018, o compacto bastante conhecido dos europeus retornou ao Brasil em sua sexta geração e foi o responsável por elevar a régua dos compactos nacionais da época. A tecnologia embarcada e o motor turbo eram seus grandes destaques, contudo, não conseguiram fazê-lo emplacar como a montadora esperava, portanto, a estratégia mudou. Para 2023, ele foi reestilizado e reposicionado - e nós o testamos na versão Highline por uma semana para descobrir os impactos positivos e negativos das mudanças.
O opcional "kit Black" traz adereços externos em preto brilhante e alguns acessórios para o interior, mas seu preço ainda não foi divulgado. |
O que mudou?
Visualmente, a dianteira adotou novos faróis totalmente em LEDs, grade e para-choque redesenhados. De lado, as opções de rodas também são novas em todas as versões, sendo que o nosso Highline testado voltou a trazer peças aro 16 como no ato do lançamento, há seis anos. Na traseira, as lanternas receberam uma máscara negra com um novo desenho para as luzes de freio e posição, além dos emblemas na tampa do porta-malas reposicionados e o para-choque traseiro com novos detalhes refletivos.
A gama de versões também sofreu mudanças. Sem os outros hatches, o Polo passou a ser o carro de entrada da Volkswagen no Brasil, sendo que a versão mais barata é a inédita Track que chega por R$79.090. Logo acima, a conhecida MPI se manteve e antecipa a também inédita TSI que combina, pela primeira vez, o motor 1.0 turbo ao câmbio manual de cinco marchas. Na sequência, as conhecidas Comfortline e Highline, além da esportiva GTS que fecha o portfólio de configurações do compacto.
Hatch manteve o motor 1.0 turbo, mas adotou uma calibragem mais fraca e econômica. |
Do topo para a base
A grande polêmica da reestilização do Volkswagen Polo está debaixo do capô. O famigerado motor 1.0 turbo de três cilindros, antes conhecido como 200 TSI por conta do torque máximo, foi recalibrado e ficou ligeiramente mais fraco: com etanol, agora são 116cv e 16,8kgfm de potência e torque máximos, o que significam 12cv e 3,6kgfm a menos em relação ao motor dos modelos pré-facelift. Em contrapartida, o torque máximo passou a aparecer mais cedo (aos 1.750rpm contra 2.000rpm) e o carro ficou mais econômico: em uso misto e rodando apenas com gasolina, nossa média geral ficou em ótimos 17,5km/l.
Outras mudanças acompanharam o enfraquecimento do motor em seus picos de entrega. Os freios traseiros, por exemplo, trocaram os discos do pré-facelift por tambores e a transmissão automática de seis marchas passou a ser a AQ160 no lugar da AQ200 - na teoria, ela é mais barata por suportar menos torque máximo, mas, na prática, a diferença para o condutor é nenhuma. Essas alterações foram pensadas por dois motivos: reduzir os preços do Polo (que chegou até 7 mil reais mais barato do que os 2022) e distanciar o compacto dos irmãos Nivus e T-Cross.
A versão Highline é tabelada atualmente em R$111.990. Sua lista de itens de série inclui: painel de instrumentos 100% digital, central multimídia VW Play com tela de 10 polegadas e espelhamento sem fio para smartphones, sensores dianteiros e traseiros de estacionamento, câmera de ré, rodas aro 16, chave presencial com partida por botão, sensores crepuscular e de chuva, luzes diurnas, quatro airbags, bloqueio eletrônico de diferencial, piloto automático, ar condicionado digital touch com saídas traseiras, entre outros.
A reestilização trouxe poucas novidades como os faróis Full LED com ajuste elétrico de altura, carregador de smartphones por indução e quatro portas USB do tipo C, além do novo volante multifuncional que estreou no Nivus com pegada em couro, ajustes de altura e profundidade e, por fim, paddle shifters para trocas manuais. Em relação ao modelo 2022, perdeu o rebatimento elétrico dos retrovisores, as rodas aro 17 e os faróis de neblina com função de luz de curva.
Highline vem com rodas aro 16 diamantadas, mas o pacote Black as substitui por peças em preto brilhante. |
Selo anti-birra
Rodamos 650km com o Polo 2023 durante a nossa semana de testes e temos certeza que a sua principal pergunta é: como a redução de potência e torque impactam na condução do hatch? A resposta dependerá de dois fatores: o quanto você se importa com números de ficha técnica e em qual cenário você pretende fazer seu comparativo. É evidente que os números menores deixaram o alemão mais lento, por exemplo, no tempo de 0 a 100km/h que aumentou em quase 2 segundos e nas retomadas que levam alguns milésimos a mais, portanto, se sua ideia é ficar disputando com o hatch em arrancadas de YouTube, ele "levará benga" de carros que não levava antes. Se isso lhe for algo relevante, pode encerrar a leitura e descartar o hatch como possível opção de compra.
Entretanto, no mundo real e durante o uso prático, a diferença é absolutamente nenhuma - e quem vos escreve é um indivíduo que já está no seu sexto carro com motor "200 TSI" que, inclusive, estará aqui no site em breve. A diferença nenhuma se dá, pelo menos, no sentido de disposição e esperteza do compacto, pois o motor mais fraco também ficou mais econômico e o câmbio, novamente reprogramado, casou como uma luva. Determinadas situações que incomodavam nos Polo mais antigos (como algumas ocasiões em que ele segurava marcha) não acontecem mais e toda a operação da transmissão está mais suave. Em suma, os números caíram, mas a qualidade da experiência de condução subiu bastante.
Bancos com encosto de cabeça integrado mantiveram o conforto dos antigos. |
As rodas de 16 polegadas trazem pneus um pouco mais altos e estreitos em relação aos aros 17 do pré-facelift, o que também favorece na economia de combustível e deixa o carro mais macio ao passar pelos defeitos da pista. Por fim, os novos bancos inteiriços inspirados no finado up! não deixam saudades dos antigos e os forros de porta dianteiros, agora com a parte central toda em tecido, visam trazer uma certa melhora ao acabamento interno - que sempre foi um dos pontos mais criticados no compacto. Apesar disso, é claro que nem tudo são flores, afinal, a perda de alguns recursos fez com que a Volkswagen passasse a nivelar o Polo por baixo, ao restante da categoria.
Os úteis faróis de neblina que traziam luz estática de conversão, por exemplo, não existem mais em nenhuma versão, o que deixa o visual frontal um tanto "careta" e é um recurso a menos para auxiliar na condução noturna. A troca dos freios a disco traseiros pelos tambores, apesar de não ter afetado a eficiência da frenagem no uso cotidiano, também explicita o corte de custos e era um diferencial exclusivo do Polo no segmento. A perda do rebatimento elétrico dos retrovisores é incompreensível e, por fim, há a impossibilidade de espelhar o GPS no painel digital de instrumentos - que foi perdida desde a adoção do VW Play na chegada da linha 2022. São detalhes que davam ao hatch um ar de "carrão" e eram diferenciais interessantes para quem queria um compacto com algo além do trivial.
Multimídia e ar condicionado sem botões físicos. É a era do digital. |
Sobre as novidades, algumas observações precisam ser feitas. Os faróis Full LED, por exemplo, não estão entre os melhores que já vimos, mas até conseguem cumprir seu papel - o feixe de luz alta é excelente, porém, o de luz baixa (que é o mais importante) deveria ser melhor. Ao menos, a Volkswagen teve o cuidado de colocar o ajuste elétrico de altura do facho que a Fiat, por exemplo, insiste em deixar de fora dos seus carros. Os comandos tipo touch do ar condicionado digital são bonitos e reforçam o aspecto "hi-tech" da cabine, entretanto, obrigam o condutor a desviar a atenção da pista por mais tempo do que o desejável; os controles físicos são mais intuitivos e seguros, por assim dizer.
Uma grata surpresa foi o bom funcionamento do VW Play que, diferentemente de testes anteriores, só apresentou bug uma única vez - demorou a mostrar a imagem na tela no começo de um dos dias. É uma pena que os botões do sistema start-stop (que é irritantemente ativado toda vez que o carro é ligado) e de abertura do porta-malas estejam reunidos na tela da central multimídia; a VW deveria ter aproveitado o grupo de botões cegos ao lado esquerdo da alavanca do câmbio que, por sinal, passou a ser a mesma do T-Cross, munida das letras no topo da manopla. Você é obrigado a ligar o multimídia só para abrir o porta-malas por dentro do carro e desligar o start-stop, o que não seria necessário se os botões estivessem ao lado do câmbio.
Design: de frente, o Polo brasileiro passou a ser idêntico ao europeu (o pré-facelift tinha mudanças mínimas) e recebeu toques de Golf Mk VIII nos faróis levemente boleados na parte inferior e o para-choque "bocudo" sendo atravessado pelos frisos horizontais, o que resultou em um conjunto bonito, mas que teria ficado mais composto com os faróis de neblina. Na traseira, os prolongamentos das lanternas no porta-malas não vieram (o que achamos bom), todavia, as lanternas em si não ganharam nada além de uma nova lente com máscara negra; a disposição dos elementos internos é a mesma, bem como as lâmpadas halógenas que poderiam ter sido trocadas por LEDs. No geral, ficou bom e manteve a discrição, porém, o anterior passava mais sofisticação. Nota: 7
Interior: o painel de instrumentos digital ainda é, de longe, o melhor (e o maior) dentre as marcas generalistas e fez um casamento perfeito com o novo volante. O aplique decorativo brilhante que parece fibra de carbono caiu bem no ambiente, assim como as portas dianteiras com a parte central toda em tecido, mas as portas de trás mantiveram a construção barata com forro totalmente em plástico. Por fim, os bancos inteiriços podem chamar atenção negativamente, porém, não interferem no conforto - que é o mais importante. Resumidamente, o interior melhorou na dianteira e manteve o aspecto pobre na traseira. Nota: 8
Mecânica: sim, o motor 1.0 turbo agora atinge picos menores de potência e torque, contudo, ainda é um moderno três cilindros de um litro, dotado de tecnologia flex e injeção direta de combustível, gerenciado por uma transmissão automática igualmente moderna de seis marchas com opção de trocas manuais, o que continua sendo muito bom. A suspensão traseira por eixo de torção é padrão na categoria, assim como os freios traseiros por tambores... que não eram padrão nos Polo turbinados. Um ponto será tirado pelo empobrecimento. Nota: 9
Tecnologia: apesar de algumas perdas, a versão Highline continua sendo bem equipada como sempre. Entretanto, a Volkswagen não incluiu absolutamente nenhum recurso semiautônomo de segurança; no mínimo, os aguardados piloto automático adaptativo e assistente de frenagem autônoma. Para amenizar um pouco a situação, chegou ligeiramente mais barato do que o modelo 2022. Nota: 8
Conveniência: quebra-sóis com espelho e iluminação, luzes de cortesia para todos, chave presencial com partida por botão e abertura/fechamento remoto de janelas, quatro portas USB, painel digital com três visualizações diferentes, carregador de smartphones por indução, multimídia com espelhamento sem fio... muito bom. Seria 10 se o apoio de braço fosse útil e se não existisse a obrigação de ligar o multimídia para realizar tarefas que poderiam estar acessíveis ao toque de um botão. Nota: 8
Acomodações: como foi apenas um facelift, o espaço interno do Polo permanece o mesmo - é o suficiente, sem sobras ou faltas, o que também vale para o porta-malas de 300 litros, suficiente para o uso geral. O alemão agrada por ser um dos pouquíssimos integrantes do segmento a oferecer saídas traseiras de ar condicionado e, além disso, traz as luzes de cortesia dedicadas aos ocupantes traseiros e não no meio do teto como na maioria dos carros. É uma pena que as portas tenham mantido o revestimento totalmente em plástico. Nota: 7
Funcionalidades: tudo no Polo 2023 funcionou corretamente, sem travamentos ou bugs. Até o VW Play, outrora marcado por inúmeras falhas, melhorou consideravelmente. Nota: 9
Desempenho: a reestilização do Polo deixou o compacto menos empolgante, mas não menos eficiente. O hatch faz tudo o que é necessário na pista sem faltar fôlego e nem mesmo o empobrecimento dos freios traseiros pode ser notado no uso cotidiano - principalmente porque eles são os menos utilizados na condução padrão, deixando o esforço maior de frenagem sempre para os dianteiros. Um ponto foi tirado no quesito MECÂNICA por esse corte de custo, entretanto, não há o que tirar daqui, uma vez que o efeito prático foi nulo; na realidade, por entregar o torque máximo mais cedo, o 170 TSI acaba por se sair ainda melhor na condução cotidiana do que o 200 TSI. Nota: 10
Segurança: quando o Polo Mk VI chegou ao Brasil, ostentava a nota máxima de cinco estrelas no Latin NCAP por conta da boa qualidade estrutural e da presença dos recursos de segurança exigidos pelo protocolo da época. Com o facelift, a história mudou: o protocolo do instituto ficou mais rígido, passando a exigir assistências semiautônomas de segurança para que um carro possa obter a nota máxima - e o compacto não traz nenhuma, o que o fez pontuar com três estrelas das cinco disponíveis, pois a avaliação estrutural continua ótima. É claro que todo recurso de segurança disponível é importante, mas, em uma comparação de peso, consideramos a qualidade estrutural mais importante do que o resto, o que explica nossa nota no presente tópico. Entretanto, seria interessante que a Volkswagen começasse a pensar em incluir, pelo menos, a frenagem autônoma de emergência no compacto. Nota: 7
Custo X Benefício: tabelado atualmente em R$111.990, o Polo Highline é a versão de topo entre os convencionais (abaixo da esportiva GTS) e, diferentemente de quando foi lançado em 2017, já não consta entre os mais caros da categoria. Ainda assim, no uso geral, seu desempenho é superior ao dos rivais com motor aspirado (alguns até mais caros) e o nível de consumo de combustível também fica entre os melhores da categoria. Perdeu a pompa de "carrão" que tinha e quer motivar o cliente VW a subir um degrau e partir para os SUVs, mas continua sendo uma excelente compra para quem não faz questão de estar na moda. Nota: 9
Avaliação final: 82/100
Assinatura luminosa das luzes de posição ficou diferente com a nova máscara da lanterna. |
Considerações finais
Como dissemos anteriormente, o Polo de sexta geração trazia coisas que nenhum outro compacto oferecia na época, o que ajudou a elevar a régua do segmento. Entretanto, também cobrava alto por isso, o que motivava muitos compradores a optarem pelo upgrade para carros de categorias superiores, ainda que fossem nas versões de entrada, pois o status é maior. O fato é que, por melhor que fosse, o Polo nunca foi um sucesso de vendas e parte disso também é culpa dos irmãos: com nada menos do que quatro hatches à venda, a linha de "base" da montadora estava confusa e isso também atrapalhou a vida do modelo.
Em 2023, a Volkswagen quer mudar esse cenário e fazer o Polo emplacar de vez. Para isso, a estratégia da montadora é clássica, porém, arriscada: dar um passo para trás, visando pegar impulso para tentar, na sequência, dar dois para a frente. Ele foi barateado em algumas coisas, mas manteve as qualidades que o consagraram e continua sendo ótimo de guiar, entregando esperteza e economia. Se vai dar certo ou não, só o tempo vai dizer, pois o Polo era um alento a um público restrito que fazia questão do compacto pelos itens que nenhum outro oferecia e, agora, se tornou mais um na multidão.
Concorrentes diretos: Hyundai HB20 Platinum, Peugeot 208 Griffe, Toyota Yaris XLS, Honda City hatch EXL
Motor: 1.0 turbo, 3 cilindros em linha, 12 válvulas, flex
Potência: 116cv (E) / 109cv (G) a 5.000rpm
Torque: 16,8kgfm (E/G) a 1.750rpm
Transmissão: automática de seis marchas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 195/55 R16
Comprimento: 4,07m
Largura: 1,75m
Entre-eixos: 2,56m
Altura: 1,47m
Peso: 1.146kg
Porta-malas: 300l
Tanque: 52l
0 a 100km/h: 10,4 segundos
Velocidade máxima: 191km/h
Matéria em vídeo
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