sábado, 4 de fevereiro de 2023

2023 Fiat Fastback Limited Edition 1.3 AT6; do remédio ao veneno

Segundo SUV da Fiat no Brasil, o Fastback quer democratizar a moda premium dos SUVs-coupé e é um aperitivo interessante dos Abarth. Testamos a versão mais cara por uma semana.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

Nosso exemplar de teste veio na cor Cinza Silverstone, oferecida por R$1.990 à parte.

A Fiat tem vivido sua melhor fase no mercado brasileiro: emplaca modelos variados entre os Top 10 dos mais vendidos mensalmente, lança novidades com mais frequência do que seus rivais diretos e eleva, gradativamente, o nível de seus produtos oferecidos aqui. Além disso, não só ela como todo o grupo Stellantis tem colhido os frutos dessa investida pesada e, para nosso teste completo da semana, recebemos um forte candidato a novo queridinho da família.

Depois de avaliarmos o facelift da picape Toro e o inédito Pulse em duas versões diferentes, chegou a vez do também inédito Fastback estrear no Volta Rápida. Passamos uma semana com a novidade italiana em sua versão mais cara, a fim de conferir o que o SUV-coupé tem a oferecer ao consumidor brasileiro. Trata-se da Limited Edition, oferecida atualmente por iniciais R$158.490 e a mais cara da linha até o momento; a verdadeira Abarth chegará em um futuro próximo.

Lanternas finas trazem iluminação totalmente em LEDs assim como os faróis.

Pulsando semelhanças

O Fastback é mais um produto da família Argo e, como você já deve ter imaginado, é um derivado do Pulse. Acontece que a plataforma, apesar de ser a MLA como no irmão SUV, é um pouco diferente: o Fastback tem mais porta-malas por trazer um pouco da plataforma MP-S do Cronos em sua composição, a fim de conferir o comprimento extra que a Fiat precisava para criar o SUV-coupé. Como resultado, o novato possui o mesmo entre-eixos dos irmãos, mas um porta-malas de 516 litros que é, de longe, o maior entre os SUVs compactos.

As portas dianteiras são as mesmas do trio Argo/Cronos/Pulse, enquanto que as traseiras são as mesmas do Cronos - no Pulse, as traseiras são do Argo. Os faróis, apesar de trazerem o mesmo formato das peças do Pulse, são um pouco mais refinados por conta da seta em LED integrada na barra de luz diurna/de posição. O para-choque dianteiro é o mesmo utilizado no Pulse Abarth, enquanto que as lanternas, para-choque e para-lamas traseiros, bem como a chapa do teto, são exclusivos do Fastback.

Motor 1.3 turbo recebe plaqueta decorativa em alusão a Abarth.

Envenenado

A versão Limited Edition, por enquanto, é a única a trazer o motor 1.3 "Turbo 270" da linha GSE/Firefly capaz de gerar até 185cv e 27,5kgfm - é o mesmo motor que equipa as versões mais baratas do Toro, bem como os Jeep Renegade, Compass e Commander. Trabalhando com uma transmissão automática de seis velocidades e tração unicamente dianteira, o pequeno bloco turbinado leva os pouco mais de 1.300kg do Fastback com muita esperteza; não é à toa que a versão ostenta o selo "Powered by Abarth", deixando claro que não é um Abarth de nascença, mas que traz o veneno da divisão.

O Fastback é um dos carros mais leves com esse motor no Brasil, ficando atrás apenas do Pulse Abarth, e entrega um desempenho instigante sem ser beberrão. De 0 a 100km/h são gastos pouco mais de 8 segundos e a máxima é de 210km/h. Durante nosso teste, utilizamos apenas gasolina e a média geral em percurso misto foi de bons 14km/l. Chegamos a picos de 18km/l em trecho rodoviário livre e de 8km/l em trecho urbano com trânsito pesado.

Interior do Fastback é, praticamente, o mesmo do Pulse, salvo mínimas diferenças como o console central elevado.

Tudo e mais um pouco

O Fastback se posiciona imediatamente acima do Pulse, portanto, traz todos os itens presentes no irmão menor e mais alguns exclusivos. A lista de recursos de série da variante Limited Edition contempla: faróis Full LED, quatro airbags, ar condicionado digital, multimídia de 10 polegadas com espelhamento sem fio para smartphones e GPS nativo, painel de instrumentos digital, volante multifuncional com ajustes de altura e profundidade, sensores dianteiros e traseiros de estacionamento, faróis de neblina em LED, rodas aro 18 com acabamento cinza, entre muitos outros.

Também há um conjunto de assistências semiautônomas que envolve: sistema de frenagem autônoma de emergência, assistente de permanência em faixa com correção de direção e farol alto automático. Sobre os itens exclusivos do Fastback em relação ao Pulse, há o conjunto ótico totalmente em LEDs e o freio eletrônico de estacionamento com função Auto Hold. É uma lista de equipamentos muito boa, contudo, sentimos falta de um teto solar - que casaria perfeitamente com a proposta mais "premium" do SUV - e do piloto automático adaptativo.

Os únicos opcionais são as rodas com acabamento diamantado (R$990), presentes no nosso exemplar de teste, e o pacote de serviços integrados Connect////Me (R$2.850).

Fastback parece grandalhão por fotos, mas é muito próximo do Pulse do qual é derivado.

Escorpiano por conveniência

Rodamos cerca de 550km com o Fastback Limited Edition e precisamos dizer que há um certo "choque" entre ver o SUV-coupé por fotos, ver ao vivo e entrar nele. Por fotos, a silhueta esguia e as grandes rodas fazem-no parecer parrudo e muito maior do que é; a noção exata de seu tamanho (que não foge muito de um Pulse) só pode ser percebida ao vivo, pois, as dimensões básicas são as mesmas do irmão do qual ele é derivado; a diferença principal fica no comprimento que é 2cm maior do que um Jeep Compass. De resto, o Fastback é idêntico ao Pulse - para o bem e para o mal.

Corrigidas as impressões, é hora de entrar no SUV e perceber que, por dentro, as semelhanças com o Pulse são ainda maiores - e não estamos falando do cockpit ou do acabamento, mas sim, das acomodações. O console central elevado, embora proporcione uma certa sensação de mais requinte no interior e aconchego, acaba por fazer o ambiente parecer mais apertado lateralmente do que no Pulse e, para piorar, os 31cm extras de comprimento do Fastback foram unicamente para o porta-malas; o espaço para as pernas de quem vai atrás é o mesmíssimo do irmão menor, frustrando as expectativas de quem esperava um modelo mais espaçoso.

Espaço interno é o mesmo do Pulse, sendo que a área da cabeça é um pouco menor para quem vai atrás.

Porém, o título desse segmento da avaliação se dá pelo comportamento do pequeno utilitário pelas ruas e estradas do nosso Brasil. Já testamos o 1.3 turbo em diversas ocasiões e ele se mostrou bom em algumas e muito bom em outras. No Fastback, ele ficou excelente; sobra disposição para se fazer absolutamente qualquer coisa. O torque máximo aparece cedo, logo aos 1.750rpm, conferindo uma direção altamente ágil e segura cujo mérito também vai para os pneus 215/45; dinamicamente, ele está mais para um Volkswagen do que um Fiat, pois, o conjunto confere uma certa aspereza ao passar pelos defeitos da pista. Ruim para quem prioriza conforto, bom para quem prefere uma tocada mais firme.

Uma boa surpresa foi a programação da transmissão. Em outros carros que testamos, ela se mostrou deveras amarrada e com "mania" de segurar a segunda marcha sem necessidade. Isso não aconteceu no Fastback, embora, ainda não podemos dizer que é um sistema perfeito; o kickdown - redução automática de marchas quando se afunda o pé no acelerador - é bastante lento, incentivando o motorista a acionar as trocas manuais pelos paddle-shifters ou na própria alavanca. Fora isso, a caixa é excelente, apresentando um comportamento bastante suave e condizente com o motor.

Os bancos em couro são ótimos. Há ajuste de altura para o motorista.

Das coisas que mais agradam no Fastback, destacamos a posição de dirigir e a fartura de recursos - e a possibilidade de configurá-los pela central multimídia. É possível regular quase tudo, exceto o sistema start-stop e o assistente de permanência em faixa que, irritantemente, são ativados toda vez que o carro é ligado, obrigando o condutor que não gosta de tais itens a lembrar de desativá-los toda vez. Das coisas que desagradam, citamos a visibilidade reduzida devido ao caimento do teto e as largas colunas C, além da suspensão traseira que abaixa sem cerimônia quando o carro está carregado.

O carregador de smartphones por indução, diferentemente do presente no Pulse Impetus que testamos, funcionou muito bem e a nova linguagem sonora, por assim dizer, também deixou o convívio mais interessante; alguns alertas sonoros bastante incômodos no passado se tornaram mais amigáveis. É um detalhe que não chega a afetar a experiência de compra e propriedade, mas que ajuda a deixar o conjunto mais convidativo. Por fim, as saídas traseiras de ar condicionado e as luzes de cortesia nos retrovisores externos (que ajudam a enxergar onde se está pisando durante a noite, em locais não-iluminados) são mais alguns mimos que um carro de mais de 150 mil reais busca entregar para agradar ao proprietário.

Faróis de neblina se acendem de acordo com o movimento do volante.

Avaliação geral

Design: na nossa opinião, a dianteira do Fastback ficou linda. O para-choque mais discreto do que a peça presente no Pulse e os faróis com a luz de seta integrada em LED deixaram o conjunto extremamente bem acertado. Da coluna B para trás, a coisa muda de figura e a traseira do SUV-coupé parece não conversar com a dianteira. Por ser tão comprida, ela deixou o modelo parecendo que foi levemente achatado em uma prensa e, junto das lanternas finas demais e dos plásticos nos para-lamas volumosos demais, quebrou a harmonia. Nada disso impediu que alguns leitores (e pessoas na rua) rasgassem elogios ao italiano, mas, ao nosso ver, podia ter ficado muito melhor nessa região. Os detalhes externos em preto da versão top com os apliques em cromado escurecido ficaram de muito bom gosto. Nota: 7

Interior: o cockpit é quase 100% idêntico ao do Pulse - a diferença está no console central que, elevado, abriga os controles do freio eletrônico de estacionamento, Auto Hold e sistema start-stop. Há um pouco mais de capricho pelas mínimas porções em couro nas portas, as saídas traseiras de ar condicionado e, nessa versão, as menções decorativas da Abarth, mas também encontramos os mesmos sinais de falta de atenção: a tampa do porta-luvas parece estar mal fechada o tempo inteiro, além das linhas superiores frontais dos painéis das portas não se alinharem com as do painel. Pelo preço, o Fastback deveria trazer um acabamento mais próximo do Renegade, não do Pulse; fora isso, o ambiente é bonito, aconchegante e agradável. Nota: 7

Mecânica: se a análise contemplasse unicamente o motor e a transmissão, seria fácil conceder nota 10, porém, um carro não é feito apenas disso. Apesar de ter se saído bem de maneira geral, a decisão de deixar os freios traseiros a tambor foi claramente focada em corte de custos - os discos traseiros deveriam estar presentes, pelo menos nessa versão. A suspensão traseira por eixo de torção também não é algo grave, porém, o "Powered by Abarth" merecia um sistema independente, não acha? Nós achamos. Um ponto será tirado por isso e dois serão tirados por conta dos freios traseiros. Nota: 7

Tecnologia: aqui, a Fiat quase acertou em cheio. O Fastback tem tudo o que um SUV compacto pode oferecer, entretanto, é uma pena que a marca insista em não incluir o ajuste elétrico de altura nos faróis em LED - com o veículo carregado, a traseira abaixa e o feixe de luz se levanta, fazendo com que o condutor do Fastback enxergue tudo e os outros motoristas não vejam mais nada, ofuscados pela luz branca. Seria nota 10 pelo pacote tecnológico muito bom, contudo, dois pontos serão tirados por essa falta tão pequena e, ao mesmo tempo, tão séria. Nota: 8

Conveniência: apoio de braço para o motorista, luzes de cortesia internas para todos, quebra-sóis com espelho (sem iluminação), painel digital configurável, portas USB para todos, chave presencial com partida remota e abertura/fechamento das janelas... Muito bom. Nota: 9

Acomodações: sendo oriundo do Pulse, o Fastback traz o mesmo nível de conforto do irmão menor, o que é bom. O problema é que, mesmo sendo maior em comprimento, o espaço interno também é o mesmo do irmão menor e isso é decepcionante. O porta-malas, em compensação, comporta 516 litros pelo padrão de medição geral e dá uma surra em todos os concorrentes, nivelando-se aos sedans; ainda assim, para fins de propaganda, a Stellantis continua insistindo em usar a medição que ninguém mais usa para divulgar "600 litros de capacidade". Não precisava disso e, da mesma forma, não precisava de um compartimento de bagagens tão grande; se parte desse espaço fosse direcionada às pernas de quem vai atrás, ainda haveria bastante capacidade para as malas e o Fastback teria a tão esperada cabine mais espaçosa que seu exterior sugere. Nota: 6

Funcionalidades: todos os sistemas básicos do carro funcionaram perfeitamente, sem travamentos ou bugs. A assistência do farol alto automático continua muito lenta, demorando a apagar o facho ao detectar um carro à frente e, também, a reacendê-lo quando não há mais nada. Nota: 9

Desempenho: sendo o segundo carro mais leve da Stellantis a utilizar o 1.3 turbo, o Fastback surpreende na pista. Anda muito, bebe pouco e passa bastante segurança. Não é dos mais confortáveis, mas é o preço que se paga pela dinâmica afiada. Faz parte e, nesse caso particular, não incomoda. Mesmo não trazendo a suspensão e os freios que merecia, eles cumprem seu papel. Ouvir a turbina assobiando quando se acelera ao máximo torna a experiência muito prazerosa. Nota: 10

Segurança: a presença dos itens semiautônomos de segurança é algo positivo, contudo, sentimos falta dos airbags de cortina (para totalizar seis bolsas) e um monitoramento de pontos cegos - que seria muito bem-vindo para compensar a visibilidade reduzida proporcionada pelas largas colunas C. Falando de estrutura, a incógnita continua: o Latin NCAP ainda não testou nenhum carro construído sobre a plataforma MLA - leia-se, o Pulse e o Fastback. Se considerarmos que ela é uma derivada da MP1 do Argo, as expectativas não são nada boas, pois, o hatch se saiu mal em seu último teste; contudo, como ela recebeu atualizações para comportar as novas carrocerias dos SUVs, as mecânicas mais refinadas e as novas arquiteturas tecnológicas, pode ser que se saia melhor. Daremos um voto de confiança, porém, no mínimo, o Pulse já deveria ter passado pelo crivo do instituto para sabermos se sua estrutura condiz com a proposta. Nota: 5

Custo X Benefício: custando quase 160 mil reais, o Fastback Limited Edition começa a flertar com o primeiro escalão dos SUVs compactos com motores acima de 1 litro de capacidade - Honda HR-V, Volkswagen T-Cross e Hyundai Creta (no caso, o Ultimate com motor 2.0 aspirado). Em desempenho, ele supera a todos sem dificuldade e ainda consegue se nivelar em tecnologia embarcada, deixando a desejar apenas no espaço interno. Há modelos menores e mais baratos como o Peugeot 2008 e Citroën C4 Cactus que, compartilhando o conhecido motor 1.6 THP, andam mais do que o italiano, entretanto, deixam a desejar no restante. Por estar nesse meio-termo, podemos dizer que o SUV-coupé italiano se configura, analisando de maneira geral, como uma excelente compra mesmo na versão mais cara; se não faz questão de tanto desempenho, economize levando o Impetus com motor 1.0 turbo e o mesmíssimo pacote de itens de série. Nota: 8

Avaliação final: 76/100

Apliques no para-choque traseiro imitam saídas de escape.

Considerações finais

A Fiat tem buscado enxergar nichos pouco ou nada explorados de mercado e tem acertado em cheio. Começou preenchendo o buraco entre as picapes compactas e médias com o Toro; depois, com as compactas sumindo, investiu na revolução do Strada e lançou mais um best-seller no Brasil. Com o Fastback, a ideia foi trazer a moda premium dos SUVs-coupé ao mercado generalista, algo que a Volkswagen tentou com o Nivus e não obteve tanto êxito por conta do porte do modelo, não muito maior do que um Polo e, por isso, sem passar a sensação de um utilitário - mesmo que compacto. Apesar de o Fastback não ser enorme, ele consegue passar mais sensação de SUV do que o Nivus, se alinhando melhor com as expectativas dos possíveis compradores.

O Fastback conseguiu reunir qualidades de veículos premium, como o conjunto ótico inteiramente em LEDs e a interface do motorista digitalizada, em um pacote que chegou com preços competitivos para a categoria e um bom nível mecânico, apostando unicamente em motores turbo. O forte parentesco com o Pulse pode prejudicar a experiência para alguns, especialmente pela permanência de alguns pontos fracos do irmão menor, mas se você for conhecer o utilitário consciente disso, talvez consiga deixar de lado. Até porque, dotado do motor "Turbo 270", ele nos lembra que a diferença entre o remédio e o veneno é a dosagem - com tanta potência e torque disponíveis, ele sai do remédio brando dos 1.0 turbo para entregar um gostinho do veneno da Abarth.


Concorrentes diretos (pela categoria SUV compacto): Renault Captur Iconic, Volkswagen T-Cross Comfortline ou Highline, Hyundai Creta Platinum, Honda HR-V EXL, Jeep Renegade Longitude

Concorrentes indiretos (pelo preço entre 150 e 170 mil reais): Toyota Corolla Cross XR


Ficha técnica

Motor: 1.3 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 185cv (E) / 180cv (G) a 5.750rpm
Torque: 27,5kgfm (E/G) a 1.750rpm
Transmissão: automática de seis marchas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 215/45 R18
Comprimento: 4,42m
Largura: 1,77m
Entre-eixos: 2,53m
Altura: 1,54m
Peso: 1.304kg
Porta-malas: 516l
Tanque: 47l

0 a 100km/h: 8,2 segundos
Velocidade máxima: 210km/h


Matéria em vídeo



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