Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Toyota do Brasil
Nosso exemplar veio na cor Prata Lua Nova, cujo preço é de R$1.560 |
O mercado automotivo brasileiro já deixou algumas coisas bem claras: os SUVs estão cheios de disposição e desfilam entre as preferências do consumidor, mas nem todo mundo deseja um veículo desses na garagem. Outros tipos de carros também têm mostrado bastante força e, felizmente, as marcas vêm investindo nesses produtos para ampliar o leque de opções dos clientes.
Nossa avaliação mais recente foi com o Toyota Yaris na carroceria hatch, levemente atualizado para a linha 2023 no começo deste ano e que já avaliamos na versão intermediária XS com a carroceria sedan - confira a matéria completa aqui. Como o exemplar do dois-volumes também é da versão XS e os carros são praticamente idênticos, decidimos fazer algo diferente das avaliações tradicionais: uma entrevista!
Passando dos 100 mil reais nessa versão, o Yaris começa a se aproximar do perigoso território de alguns SUVs compactos e pode deixar o consumidor na dúvida. Quais são os argumentos do hatch para vencer essa batalha? É o que vamos descobrir no bate-papo logo abaixo.
Segundo contato com o Yaris na versão XS. |
Volta Rápida: Yaris, você iniciou sua trajetória no Brasil em 2018, mas a gente sabe que sua carreira começou bem antes disso. Pode nos contar alguns detalhes sobre essa vida pré-BR?
Toyota Yaris: é claro! Só quero lembrar que, embora meu nome seja bem mais antigo do que o povo pensa, eu não sou exatamente o cara que o mundo lá fora conhece. O Yaris original nasceu no final na década de 90, já nas bocas da transição para os anos 2000 - podemos colocá-lo como meu "irmão". Já eu, do jeitinho que vim para vocês, sou bem mais recente: nasci em 2013 e fui todo pensado para o mercado asiático. Apesar de ser bem mais novo do que meu irmão, sou um pouco maior (rsrsrs), porém, confesso não ter o mesmo nível de refinamento dele. Ele é mais playboyzinho e eu sou mais humilde, entende?
VR: hmmmmm, entendi. Sobre essa questão do refinamento, o que exatamente muda entre você e ele?
TY: cara... Basicamente, tudo o que você imaginar. Lembra do Etios? Eu uso a mesma plataforma dele, enquanto meu irmão gringo usa uma outra mais cara que o povo lá de fora gosta mais. Muito da minha mecânica também é compartilhada com o Etios, mas o visual é todo meu. Inclusive, eu tinha outra aparência antes de chegar aqui; fiz essa plástica no final de 2017 para começar 2018 com o pé direito.
VR: ah sim, interessante. Essas mudanças são bem comuns na indústria e são até importantes, pois, cada lugar tem uma determinada característica e preferência do público. Ainda falando de diferenças, vimos que você recebeu outros retoques na linha 2023. O que há de novo dessa vez?
TY: nem é muita coisa não, tá? Não se empolgue. Tipo, por fora, minhas rodas e meu para-choque dianteiro são novos. Também ganhei aqueles faróis maneiros de projetor e as lanternas em LED que só existiam na versão mais cara antes do "tapa" no visual. Por dentro, o padrão dos bancos, a central multimídia e as portas USB para quem vai atrás são novos. Foi mais uma atualização para me deixar mais competitivo do que, propriamente, um retoque visual, saca?
VR: sim, sim. Agora que você se apresentou, vamos direto ao ponto com uma questão bastante polêmica: o preço. Hoje, na tabela, você custa R$103.990 nessa versão, o que te nivela a rivais diretos de motor 1.0 turbo com câmbio automático convencional e até mesmo SUVs compactos como o Fiat Pulse na versão Drive com motor 1.3 aspirado e câmbio CVT (que já testamos). Mecanicamente, você se aproxima mais do Pulse com seu motor 1.5 aspirado e a mesma caixa CVT. Cite alguns motivos pelos quais alguém deveria optar por você ao invés desses concorrentes de preço.
TY: sou um Toyota e, como todos sabem, TOYOTA É TOYOTA! Hahahaha relaxa, é brincadeira. Vamos lá: apesar do meu motor ser aspirado, os números dele são bem próximos aos dos 1.0 turbo dos outros caras e melhores que os do 1.3 do Fiat, então, não fico devendo tanto assim em desempenho - entretanto, ele tem que ser esticado, admito. Sabe como é: o torque só aparece lá em cima... Em compensação, num bebo quase nada no uso geral, o que é sempre bom. Quase dá para dizer que eu mesclo o melhor dos dois mundos! E olha que eu falei que era humilde, não é? Hahahaha...
VR: bons argumentos, viu? Temos que reconhecer, porém, também gostaríamos que você reconhecesse onde precisa melhorar. Ninguém é perfeito, nem os Toyota! Hahahaha
TY: pois é, meu amigo... Ninguém é perfeito, nem os Toyota. Meu maior ponto fraco ainda é a segurança. Fiz aquele teste de colisão lá do Latin NCAP em 2021 e dá até vergonha de falar... Minha estrutura se comportou de maneira instável ao ponto dos caras me darem só uma estrela, sendo que a nota máxima é cinco. Até ganhei uns negócios novos de segurança no geral, mas a casca continua "daquele jeito" e aí, já viu. Não dá para fazer milagre. Meu acabamento interno também tem uns lances que nem sei explicar, tipo uns apliques plásticos com imitação de costura como se fosse uma peça de couro. Vamos mudar de assunto porque já tô morrendo de vergonha...
VR: caramba, rapaz... Que legal você reconhecer seus pontos fracos. Não é todo mundo que consegue admitir isso: só falta a própria Toyota reconhecer e te melhorar.
TY: também acho. Meu irmão gringo ganhou uma nova geração em 2020 e eu também ganhei uma nova geração lá na Tailândia, pensada para a linha 2023. Acho que ela também virá para cá, mas só acho. A Toyota não fala nada oficialmente. Não espero receber mudanças maiores nessa geração, então, pode ser que eles tragam mesmo um modelo todo novo para cá. Vamos ver.
VR: uma nova geração seria legal mesmo, mas como você ainda deve durar uns dois anos, ainda tem tempo para tentar convencer o consumidor brasileiro a te levar para a garagem. Na sua opinião, qual(is) a(s) principal(is) vantagem(ns) de um hatch no cenário atual mediante um SUV ou até uma picape? Todos de porte compacto, é claro.
TY: então... Sabe aquela pessoa que mora em uma casa ou prédio cuja vaga na garagem é apertada? O hatch é ideal para ela. Tem também os que morrem de medo na hora de estacionar na rua, como se a baliza fosse um verdadeiro pesadelo - mais uma vez, o hatch é perfeito para esse indivíduo. Resumidamente, se você não precisa de espaço para levar uma galerona ou entupir de bagagem, o hatch é o veículo ideal. Reúne economia, praticidade e agilidade para todas as ocasiões. Sei que a moda dos SUVs é tentadora para muitos, mas às vezes, é melhor ser racional do que estar na moda. É o que eu penso.
VR: bacana, gostei. De fato, são circunstâncias de uso em que não consigo pensar em um carro melhor do que um hatch e o mais legal é que você também está disponível como sedan, caso a pessoa precise de mais espaço. Voltando a falar de motor, acha mesmo que o 1.5 dá conta e tem espaço no mercado diante dos 1.0 turbinados?
TY: acho, cara. Te sendo bem sincero. Não apenas acho como diria que fico feliz em tê-lo, pois, nem todo mundo quer um turbinado na garagem, não é? Seja pelo motivo X ou Y, a verdade é que nem todo mundo busca a última palavra em tecnologia ou mecânica e, pensando nesses clientes, aqui estou. Estar num mercado onde você pode escolher como quer seu carro é uma coisa maravilhosa; se eu também tivesse motor turbo, seria apenas mais um, pois, os hatches com motor aspirado que não seja 1.0 estão desaparecendo.
VR: é, pensando por esse lado... Você tem razão. Vamos fazer um comparativo rápido com seus rivais da categoria, começando pelo Volkswagen Polo que também foi reestilizado recentemente. Yaris XS vs Polo Comfortline. O que tem a dizer?
TY: o Polo é 2 mil reais mais barato do que eu, mas tem menos airbags e não traz o alerta de permanência em faixa ou a frenagem automática de emergência que eu tenho, além de não ter ar digital. Em contrapartida, é mais seguro, anda mais, tem faróis Full LED e painel de instrumentos digital. Empatamos tecnicamente em espaço interno e porta-malas com diferenças ínfimas e, por fim, eu sou mais voltado ao conforto, enquanto que ele busca agradar a quem gosta de uma direção mais esportiva.
TY: o Polo é 2 mil reais mais barato do que eu, mas tem menos airbags e não traz o alerta de permanência em faixa ou a frenagem automática de emergência que eu tenho, além de não ter ar digital. Em contrapartida, é mais seguro, anda mais, tem faróis Full LED e painel de instrumentos digital. Empatamos tecnicamente em espaço interno e porta-malas com diferenças ínfimas e, por fim, eu sou mais voltado ao conforto, enquanto que ele busca agradar a quem gosta de uma direção mais esportiva.
TY: ele custa 2.900 reais a mais do que eu e é parecido com o Polo nas vantagens, de um modo geral. Também tem motor 1.0 turbo, portanto, anda mais e tem recursos como painel de instrumentos com mostradores digitais, faróis de neblina, partida remota e rebatimento elétrico dos retrovisores, mas também traz menos airbags, não tem ar digital e os recursos semiautônomos de segurança. Por fim, é mais apertado do que eu.
VR: Yaris XS vs 208 Roadtrip. Vamos lá!
TY: tem motor 1.6 aspirado e câmbio de seis marchas. Mais um que anda um pouco melhor do que eu, porém, custa 2.500 reais a menos e traz faróis Full LED, teto panorâmico, carregador de smartphones por indução e painel de instrumentos digital em 3D. Em contrapartida, não tem os recursos semiautônomos de segurança e o espaço interno é digno de subcompacto.
VR: para encerrar, uma rivalidade indireta: Yaris XS vs Pulse Drive 1.3. E aí?
TY: o Pulse nessa versão é 400 reais mais barato do que eu. É o único que anda menos por conta do motor 1.3 aspirado, mas tem faróis Full LED, multimídia com tela maior e mais moderno, rodas aro 16 e um porta-malas maior, além de ser mais alto. Entretanto, fica devendo em recursos de segurança e é um pouco menos espaçoso do que eu.
VR: bom, após todos esses rápidos comparativos, podemos concluir algumas coisas. Seu preço está na média dos rivais diretos, porém, todos oferecem mais desempenho e trazem um ou dois equipamentos que você não tem. Você rebate com semiautônomos de segurança que os outros só trazem nas versões mais caras, espaço interno na média superior da categoria e um nível de economia de combustível que não é tão fácil de se conseguir nos concorrentes. Para encerrarmos, o que tem a dizer sobre isso?
TY: você mesmo já disse na pergunta, praticamente retórica. Os rivais andam mais, contudo, eu entrego um bom espaço interno para a categoria e ofereço ótimos níveis de consumo de combustível no uso geral. Se me permite um recado final: não esqueçam dos hatches! Eles ainda podem te satisfazer, e muito!