quarta-feira, 16 de novembro de 2022

2023 Peugeot Partner Rapid Business Pack 1.4 MT5; o amigão da vizinhança

Peugeot aproveita a atualização do Fiat Fiorino para recolocar um utilitário compacto em seu portfólio. Testamos a versão mais cara por uma semana.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

Partner Rapid nasceu para os centros urbanos.

Talvez você não saiba ou lembre, mas a Peugeot não é tradicional apenas com veículos de passeio; a marca também tem uma longa e forte história com utilitários de diversos tipos e finalidades, porém, o ano de 2022 começou deixando a montadora sem um dos principais de sua gama. O antigo Partner, que era fabricado na Argentina e foi comercializado no Brasil até o fim de 2021, ainda era baseado na primeira geração do Citroën Berlingo, datada da segunda metade dos anos 90.

Apesar de algumas atualizações aqui e ali, o veterano não tinha condições de permanecer no mercado e, portanto, saiu de cena. Para não ficar desfalcada, a Peugeot aproveitou a atualização do Fiat Fiorino e pegou o utilitário italiano para criar o Partner Rapid que é, essencialmente, um "rebadge" (troca de emblemas) do furgãozinho clássico da Fiat. O leão francês substitui as letras soltas do emblema da montadora italiana e o nome RAPID substitui o FIORINO nas laterais.

Furgão é acessado pela traseira, através da porta bipartida.

A mesma coisa, mas diferente

O Partner Rapid é 98% Fiorino; as diferenças estão nos emblemas, grade dianteira e em pequenos detalhes ausentes na variante italiana como as calotas, repetidores de seta nos retrovisores, luzes diurnas conjugadas nos faróis de neblina e a forração em couro no assoalho do compartimento de carga. Resumidamente, o Partner Rapid custa a mesma coisa do Fiorino, mas é um pouco mais equipado.

No mais, toda a mecânica e o visual são os mesmos do Fiorino. De maneira geral, é um projeto mais moderno do que o finado Partner, mas isso não significa que são só elogios; o novo Partner Rapid não traz alguns recursos muito úteis do seu antecessor como a porta lateral corrediça, as portas traseiras com vigia em vidro e o motor 1.6 aspirado, mais apropriado para um veículo de carga por ser mais forte.

Motor e câmbio são os mesmos do Fiorino.

Força até a página dois

O Partner Rapid é movido pelo conhecido motor 1.4 aspirado flex da família Fire EVO, de quatro cilindros, capaz de gerar até 86cv e 12,2kgfm e trabalhando com uma transmissão manual de cinco marchas. É o mesmo câmbio manual que a Stellantis utiliza em inúmeros carros das marcas do grupo, mas para o utilitário, ele traz um acerto específico de marchas com as relações da ré, 2ª e 3ª mais curtas para facilitar a locomoção com o veículo carregado, além da 5ª mais longa para melhorar a condução rodoviária.

Pesando 1.131kg quando vazio, o Partner Rapid se movimenta muito bem na maior parte dos casos, mas deixa a desejar quando se é necessário explorar todos os 650kg de capacidade de carga. Nesse ponto, o 1.6 do Partner antigo (que equipa C4 Cactus, 208, C3, entre outros carros atuais) era mais apropriado pelos números melhores de potência e torque máximos; sendo um motor ainda utilizado por outros modelos do grupo, a Peugeot deveria tê-lo introduzido no Partner Rapid. Até mesmo o 1.3 Firefly que a Fiat usa em vários carros seria mais indicado.

A única diferença interna entre o Fiorino e o Partner Rapid é o emblema da Peugeot no volante.

Cesta básica

Diferentemente do Fiorino, o Partner Rapid é comercializado em duas versões: Business e a nossa testada Business Pack, um pouco mais equipada. De série, ele traz itens como: bancos em tecido, forro do teto e colunas em preto, computador de bordo, faróis de neblina com luzes diurnas integradas, rodas aro 14 de ferro com calotas, compartimento de carga com iluminação e forração em couro no assoalho, controle de estabilidade com assistente de partida em rampa, preparação para som com quatro alto-falantes, entre outros. O preço da variante Business é tabelado atualmente em R$103.990.

Já a Business Pack custa R$108.990 e traz alguns recursos de conforto a mais: direção hidráulica, volante e banco do motorista com ajuste de altura, travas e vidros elétricos com função "um-toque" para subir e descer, chave canivete com abertura e fechamento remoto das janelas, protetor de cárter, alarme antifurto e ar condicionado. Mediante o preço, achamos que a Peugeot deveria ter incluído itens como retrovisores elétricos, rádio e sensores traseiros de estacionamento; não são recursos tão caros assim e melhorariam consideravelmente o convívio com o utilitário.

Tudo no interior é em tons escuros

Utilidade pública

Rodamos 400km ao longo da semana com o Partner Rapid e o caráter urbano do utilitário fica muito evidente já nos primeiros quilômetros percorridos. Com as relações encurtadas das marchas mais baixas, ele ganha velocidade rápido e se mostra bastante ágil mesmo quando carregado; em contrapartida, relações curtas significam mais trocas, o que deixa a condução cansativa durante o trânsito pesado. É nessas horas que os 6 mil reais a mais da versão Business Pack começam a se pagar, pois o ar condicionado e os ajustes de altura do volante e banco do condutor ajudam bastante a amenizar o estresse dos congestionamentos.

O ponto alto do francês é a suspensão. Dotada de feixes de mola na traseira, ela passa pelos desníveis da pista com eficiência e uma ótima absorção de impactos, reduzindo o que seria uma pancada considerável em outros carros. O melhor é que mesmo sendo um carro alto (1,90m na região do baú), a rolagem da carroceria em curvas é dentro do esperado e o comportamento geral é muito bom, contando com o controle de estabilidade pronto para corrigir eventuais excessos do motorista.

Portas traseiras podem se abrir em até 180 graus.

Na condução rodoviária, o Partner Rapid também mostra alguns bons atributos, embora não seja o seu foco. Viajando a 100km/h em quinta marcha, o motor se mantém na faixa dos 3 mil giros e seu ronco é pouco percebido; pode ser sinal de um bom isolamento acústico na parede corta-fogo ou, talvez, ele seja abafado pelo elevado ruído de rodagem dos pneus. Ultrapassagens precisam ser bem planejadas e exigem redução de marcha, uma vez que o torque máximo (que já não é grande coisa) só aparece em altos 4 mil giros.

Falando de utilidades, o compartimento traseiro acomoda até 3,3 metros cúbicos de carga e ainda oferece um pequeno espaço acima da cabine dos passageiros para objetos até 10kg, ideal para pequenas caixas/bolsas e coisas do tipo. Uma pequena luz no teto garante a visibilidade no espaço mesmo à noite e as portas contam com travas que ampliam a abertura em mais 90 graus, facilitando as operações de embarque e desembarque de encomendas. As paredes sem forro são uma boa base para adaptações de qualquer tipo.

Faróis de neblina trazem luzes diurnas conjugadas, contando com uma lâmpada dedicada.

Avaliação geral

Design: as únicas diferenças estéticas entre o Partner Rapid e o Fiorino, tirando os emblemas, são a grade entre os faróis e as calotas. No geral, é um veículo de linhas simples, harmoniosas e agradáveis que faz boa presença como carro comercial. Nota: 8

Interior: por dentro, a semelhança com o Fiorino é ainda maior - apenas o emblema do volante é diferente. Todo o resto é exatamente o mesmo do modelo italiano e fica dentro do que se espera de um utilitário, ou seja, é tudo em plástico rígido com bancos em tecido. Fazer o forro do teto e as colunas em preto foi um grande acerto, pois não sofrerão com a aparência de "encardido" com o passar do tempo. Nota: 8

Mecânica: a plataforma do Partner Rapid não é exatamente moderna, mas isso não o impede de ser um carro leve e, portanto, bastante ágil. O que deveria ser melhor é o motor, pois o 1.4 Fire está extremamente datado e defasado, mesmo tendo sido atualizado para atender ao Proconve L7. A Stellantis tem motores melhores na "prateleira" que podiam ter sido usados. Já a transmissão é boa e o escalonamento específico feito para o utilitário até consegue ajudar a driblar a falta de fôlego com o carro cheio. Nota: 5

Tecnologia: ar condicionado, direção hidráulica, luz diurna e controle de estabilidade são recursos que um utilitário mais acessível de anos atrás jamais conheceria. A versão Business Pack consegue justificar o valor a mais em relação a Business de entrada, mas ainda poderia acrescentar alguns mínimos recursos que melhorariam o convívio diário - nada demais como sensores de ré, por exemplo. Nota: 7

Conveniência: há abertura e fechamento remoto das janelas, luzes de cortesia na cabine, porta-luvas e compartimento de carga, possibilidade de abrir as portas traseiras em 180 graus, repetidores de seta nos retrovisores, forração no assoalho do baú, mini-compartimento acima da cabine, entre outros. Dá até para ajustar a luminosidade do painel de instrumentos à noite, um recurso simples, mas bastante funcional que não existe em carros mais caros. Nota: 8

Acomodações: o interior do Partner Rapid consegue ser aconchegante, especialmente para o motorista que conta com regulagem de altura do volante e do banco nessa versão. Há muitos porta-objetos em vários lugares, inclusive nas portas onde tem até nicho dedicado a máquinas de cartão. Nota: 7

Funcionalidades: todos os equipamentos funcionaram o tempo inteiro no Partner Rapid, entretanto, notamos que o carro não quis ligar em alguns momentos após virarmos a chave, aparentemente por algum mau contato do sistema de ignição. Nota: 8

Desempenho: o Partner Rapid tem personalidades distintas de acordo com o ambiente no qual é dirigido e o quanto de carga está transportando. Vazio, o ítalo-francês é um carro ágil e relativamente esperto, dentro dos limites de seu motor antiquado. Cheio, a coisa muda de figura e as trocas de marcha se fazem mais necessárias do que o normal, reforçando a sensação de que ele merecia um reforço debaixo do capô. O ruim é que a economia de combustível ficou de lado: nossa média geral com etanol e gasolina misturados não passou dos 11km/l. Em todos os casos, o Partner Rapid se mostrou muito mais urbano do que rodoviário. Nota: 4

Segurança: veículos utilitários não costumam passar por testes de colisão em nenhum lugar do mundo e a situação não é diferente com o Fiorino/Partner Rapid. Como a base é a mesma da segunda e última geração do Uno, tomaremos seu teste como parâmetro, realizado em 2011 pelo Latin NCAP. Na ocasião, o compacto obteve apenas uma estrela por conta de falhas graves como o rompimento do assoalho e a instabilidade da estrutura, além de observações sobre os acabamentos internos. O Partner Rapid traz itens de segurança que o Uno não tinha na época como airbags duplos frontais e controle de estabilidade, mas não sofreu alterações estruturais suficientes para se sair melhor em um eventual reteste, o que justifica nossa opinião. Nota: 1

Custo X Benefício: por R$108.990, o Partner Rapid na versão Business Pack custa exatamente o mesmo do Fiorino Endurance, única configuração disponível do modelo da Fiat. No comparativo direto, a vantagem da variante francesa é muito clara devido aos itens ausentes do italiano, entretanto, se compararmos com outros utilitários, a situação começa a mudar. Ainda dentro da Fiat, há o Strada na versão Freedom com cabine simples por R$103.690 e o motor 1.3 Firefly, mais moderno, forte e econômico, além de alguns itens a mais de comodidade como retrovisores externos com ajustes elétricos, monitoramento de pressão dos pneus, sensores de ré, controle de tração, entre outros. É verdade que a picape não traz um compartimento de carga fechado como os furgões, mas o comprador pode instalar um baú por fora com o dinheiro que economizaria ao optar pelo modelo italiano. Situação parecida acontece em um comparativo com o Volkswagen Saveiro na versão Trendline com cabine simples, mais equipado e com um motor bem mais forte - 1.6 MSI. Resumindo: economicamente falando, o Partner Rapid não vale a pena diante de outros utilitários, mas se você fizer muita questão de um furgãozinho original de fábrica, sem acessórios externos, terá um carro "ok" em mãos, mais vantajoso do que seu primo. Nota: 5

Avaliação final: 61/100

Lanternas verticais são do finado Dobló.

Considerações finais

O Partner Rapid foi uma espécie de solução emergencial que a Peugeot pensou para não perder sua fatia nos utilitários compactos. A marca consegue justificá-lo com os itens a mais e o mesmo preço do Fiorino, mas só o tempo dirá se o atendimento da rede de concessionárias autorizadas e os esforços dedicados a desfazer a má fama do passado convencerão o público.

É importante fazer as contas e analisar o comparativo que fizemos acima. Reiteramos que, ao nosso ver, o pequeno francês não é vantajoso diante das picapes rivais, mas também salientamos que você não terá muito do que reclamar caso faça questão de levar o furgão original de fábrica, afinal de contas, o Partner Rapid nada mais é do que o "rebadge" de um carro mais do que consagrado no Brasil, conhecido por ser o amigão da vizinhança.

Concorrentes diretos (pela categoria furgão compacto): Fiat Fiorino

Concorrentes indiretos (pelo preço entre 95 e 125 mil reais): Volkswagen Saveiro - a partir da Robust, Fiat Strada - exceto Ranch


Ficha técnica

Motor: 1.4, 4 cilindros em linha, 8 válvulas, flex
Potência: 86cv (E) / 84cv (G) a 6.000rpm
Torque: 12,2kgfm (E) / 11,8kgfm (G) a 4.000rpm
Transmissão: manual de cinco marchas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 175/70 R14
Comprimento: 4,40m
Largura: 1,64m
Entre-eixos: 2,71m
Altura: 1,90m
Peso: 1.131kg
Baú: 3.300l / 3,3m³
Capacidade de carga: 650kg
Tanque: 55l

0 a 100km/h: 13,6 segundos
Velocidade máxima: 160km/h


Matéria em vídeo



Fotos (clique para ampliar):