terça-feira, 4 de outubro de 2022

O que é potência e torque e como eles influenciam na direção?

Poucas pessoas sabem, ao certo, como que a potência e o torque de um motor se manifestam durante a direção. Nós te explicamos.

Por Redação

Em um burnout, você tem muita potência e menos torque - proporcionalmente falando. Foto: Divulgação

Quanto mais, melhor. Esta é uma máxima que vale para quase tudo na vida, principalmente quando estamos falando de algo que gostamos e/ou que sabemos que é bom. Não é diferente no mundo dos carros: quanto mais equipamentos, melhor. Quanto mais espaço, melhor. Quanto mais potência e torque, melhor ainda, não é verdade? Temos a tendência de querer sempre mais para tudo o que nos faz sorrir.

É por isso que sempre queremos mais potência e torque. Sempre, o tempo todo. Pessoas pagam muito dinheiro para extrair mais cavalos de seus motores, mas... o que exatamente são esses cavalos? O que é potência? Pior: o que é torque e por que nunca falou-se tanto nele quanto nos dias de hoje? Como esses dois caras impactam na nossa direção?

É isso que vamos responder a você.

A Bugatti faz questão de que seus motores entreguem níveis absurdos de potência. Foto: Divulgação

O que é POTÊNCIA? O que são cavalos?

Esse é, talvez, o conceito mais mal interpretado da história do automóvel. Na busca por atrair os clientes, inúmeras marcas e comerciantes sempre anunciaram seus carros divulgando o quanto de potência eles "possuem", associando-a ao quanto aquele veículo pode correr. Criou-se a ideia de que carros potentes são mais fortes e correm mais, o que não chega a estar totalmente errado, porém, também não pode ser dito que está totalmente certo.

Buscando explicar da forma mais simples e direta possível, potência é um conceito que mede a taxa de realização de um trabalho qualquer. Quanto mais rápido um trabalho é executado, mais potência é gerada - e por falar em RÁPIDO, entramos no conceito de TEMPO, portanto, potência tem ligação obrigatória com o tempo. No caso dos motores, o tal trabalho em si é a conversão da energia térmica (gerada pela queima do combustível) ou elétrica (no caso dos carros elétricos) em energia mecânica - o movimento dos pistões (ou do motor elétrico) que chega às rodas.

Supercarros geram muita potência para atingir altas velocidades. Foto: Divulgação

Quanto mais um motor está trabalhando, mais energia ele está convertendo, portanto, mais potência está sendo gerada. Esse trabalho do motor pode ser acompanhado pelo conta-giros no painel do carro ou pelos nossos ouvidos, através do ronco do motor: quanto mais ele gira, mais alto e forte ele ronca. Isso significa que o trabalho está sendo intenso, portanto, mais potência está sendo gerada. Embora muitos façam isso, é errado dizer que "um carro tem XX potência", pois não há como POSSUIR potência: ela é GERADA através da execução de um trabalho. Se não há trabalho, não há geração de potência.

Sobre os cavalos, trata-se de uma abreviação do termo "cavalo-vapor", o famoso CV. Nada mais é do que uma das muitas unidades usadas para medir potência, assim como o watt (W) que é o mais comum fora do espectro automotivo. Também há o HP (horsepower) e o kW (kilowatt) que são mais utilizados em outros países, mas a unidade mais comum no Brasil é o CV. É interessante ter acesso a um conversor de unidades sempre que quiser saber, com precisão, a potência de um carro qualquer.

Cilindros de um motor em linha ligados ao virabrequim. Foto: Divulgação

E o torque? O que é torque e por que nunca falaram dele?

Terminada a potência, vamos falar de outro senhor que sempre foi ignorado pelo marketing automotivo, mas que é tão (ou até mais) importante quanto: o TORQUE. Buscando manter a simplicidade da explicação, podemos definir TORQUE como força produzida em sentido giratório, circular, percorrendo uma distância X. É por isso que as unidades de medida de torque são sempre acompanhadas por uma unidade de distância, por exemplo: Newton-metro (Nm) que é a unidade do SI (sistema internacional), quilograma-força-metro (kgfm) que é a medida mais usada no Brasil, libra-força-pé (lb.ft) que é usada nos Estados Unidos, entre outras.

Enquanto a potência expressa a quantidade de trabalho que o motor está exercendo, o torque representa a força desse trabalho. A potência mostra o quão rápido a energia térmica/elétrica está sendo convertida em energia mecânica dentro do motor, enquanto que o torque mostra o quanto de força essa conversão está gerando no virabrequim. Quanto mais torque, mais força é gerada. Essa força, no caso, é gerada no virabrequim - o eixo que fica no coração do motor e recebe toda a força do movimento dos pistões, passando-a para a transmissão e, por fim, para as rodas.

Por que o marketing automotivo sempre ignorou o torque? Por um motivo simples: numericamente falando, a potência sempre é mais alta e, portanto, tem mais apelo comercial. O que te chama mais atenção: ouvir que o motor X tem 84 de alguma coisa ou 10,4 de outra coisa? Esses são, respectivamente, os picos de potência e torque do 1.0 MPI de três cilindros da Volkswagen. Falando unicamente de números, 84 é mais do que 10 e a potência sempre é numericamente maior do que o torque em qualquer motor de carro. Falamos um pouco sobre isso nesse artigo.

Musclecars fizeram sua fama pelos motores "torcudos". Foto: motoryracing

Assim como a potência, o torque é variável de acordo com a rotação do motor. Os números que os fabricantes divulgam em suas fichas técnicas e no marketing são os valores de pico, ou seja, o máximo de potência e torque que aquele motor entrega em um regime X de funcionamento. Como a potência é atrelada ao trabalho do motor, o pico de potência costuma ser atingido nas rotações mais altas daquele motor. Já o torque é diferente, pois ele depende da eficiência da queima do combustível e da riqueza da mistura ar/combustível.

Em outras palavras, o torque se manifesta de maneira independente. Normalmente, o máximo de torque é gerado em rotações medianas (entre 4 e 5 mil rpm) onde o motor consegue receber muito ar e combustível para realizar a mistura e ter tempo suficiente de queimar tudo com a máxima eficiência, resultando no máximo de torque possível; quando o motor está girando rápido demais (gerando muita potência), o tempo da combustão também é reduzido e, com isso, ela começa a perder eficiência, o que faz a entrega de torque cair na mesma proporção.

É por esse motivo que, ao se observar as curvas de potência e torque de um motor, é possível ver que a entrega de torque começa a cair bem antes da faixa máxima de potência. Máximo trabalho não é sinônimo de máxima força, principalmente quando se fala de motores sobrealimentados onde essa relação se altera ainda mais. Isso também se deve a limites físicos dos materiais e operações, mas esse não é nosso foco agora.

Em subidas, marchas mais baixas mantém o giro mais alto para manter o motor em sua faixa de eficiência máxima. Foto: Divulgação

Certo. Como que isso vai me ajudar a comprar e dirigir melhor os carros?

Não basta você procurar o modelo que "tem mais cavalos" ou entrega mais torque, até porque, motores de maior desempenho também tendem a consumir mais combustível - sim, há exceções, mas não são comuns. Se você preza por um carro equilibrado, capaz de atender ao seu uso com plenitude, é interessante prestar atenção a alguns aspectos. Quem costuma circular por locais irregulares, com muitas subidas e descidas, precisa dar preferência a um carro cujo motor entregue mais torque e em rotações mais baixas, a fim de ter uma boa oferta de força disponível desde cedo. O mesmo vale para quem costuma andar com o carro cheio ou pesado de carga. Um motor mais "torcudo" é mais importante do que um mais potente dentre os concorrentes.

Do contrário, se você roda mais por locais planos e costuma andar sozinho ou com um acompanhante, já não haverá problema em optar por motores que não entregam tanto torque desde cedo. O carro atenderá suas necessidades e não gastará tanto combustível, uma vez que seu uso não exige tanta disponibilidade de força. Os modelos que entregam mais potência são bons para quem costuma viajar pelas estradas, pois as velocidades mantidas são mais altas e, portanto, o motor tende a trabalhar em rotações mais elevadas do que no ambiente urbano, principalmente pelo fato das ultrapassagens e retomadas de velocidade. Como você pode ver, cada caso atende a um propósito.

Seja para uso urbano ou rodoviário, cada carro tem um objetivo. Foto: G1

Já percebeu que você reduz uma ou duas marchas toda vez que precisa que seu carro vença um obstáculo? Isso se dá por dois motivos: o primeiro é que as marchas mais baixas priorizam a entrega de força em detrimento da velocidade - quanto mais baixa a marcha, maior a entrega de força e menor a de velocidade, sendo proporcionalmente o contrário para as marchas mais altas que priorizam a velocidade ao invés da entrega de força.

O segundo é que, ao reduzir a marcha, o giro do motor se eleva e, com isso, você o aproxima da faixa máxima de eficiência, aquela em que a oferta de torque e de potência estão harmoniosamente em alta - bem como o consumo de combustível. Passada a ocasião que demanda força máxima, você volta para a marcha mais alta, visando reduzir o consumo de combustível e deixar o motor trabalhando mais suave. É imprescindível lembrar que quanto mais um motor trabalha (gira), mais calor ele gera e mais os componentes são forçados, portanto, nunca leve um motor ao limite se não for estritamente necessário.

Audi e-tron Sportback foi o primeiro 100% elétrico que testamos. Foto: Yuri Ravitz

Bônus: por que carros elétricos entregam potência e torque de maneira instantânea?

Diferentemente de um carro com motor a combustão, um carro elétrico não precisa de ar e combustível para funcionar. O motor elétrico simplesmente tem a capacidade de girar o máximo possível a qualquer momento, desde quando o veículo está parado; além disso, não existe uma caixa convencional cheia de marchas que gerencia a entrega da força gerada pelo motor até as rodas

 A operação toda é mais simples e direta, mas não há milagre: tanto o motor elétrico quanto as baterias que o alimentam também se aquecem intensamente durante o funcionamento e, claro, também se desgastam muito mais quando levados ao limite. Quanto mais forte você acelera um carro elétrico, mais rápido a bateria acaba.