sábado, 13 de agosto de 2022

2022 Jeep Renegade Sport T270 1.3 AT6; táticas de guerrilha

Modelo mais barato da Jeep no Brasil, o Renegade recebeu atualizações interessantes na linha 2022. Testamos a versão de entrada por uma semana.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

Nossa unidade de teste veio na cor Branco Polar que custa R$2.203.

A disputa entre os SUVs compactos está mais acirrada do que nunca e cada fabricante tem apostado em uma estratégia própria. Enquanto uns buscam volume de vendas de olho no topo dos rankings de emplacamentos mensais, alguns só querem sua fatia desse saboroso e lucrativo bolo, ainda que seja uma fatia pequena. Definitivamente, a Jeep se encontra no primeiro grupo e tem deixado isso bem claro através de alguns de seus últimos lançamentos.

Depois da reestilização do Compass e a chegada do inédito Commander, ambos líderes de seus segmentos, é a vez do aguardado facelift do Renegade que trouxe novidades visuais, tecnológicas e mecânicas, além de toda uma reorganização de portfólio. A Stellantis nos cedeu um exemplar da versão Sport, a mais barata da linha, tabelada atualmente em R$128.971 para a avaliação padrão de uma semana, a fim de conhecermos as mudanças mais de perto.

T270 - T de Turbo e 270 de 270Nm de torque máximo, ou 27,5kgfm.

O que mudou?

Externamente, o Renegade 2022 recebeu um conjunto ótico totalmente novo e inteiramente em LEDs de série para todas as versões. Os faróis trazem refletores envoltos por um semicírculo de função tripla: luz diurna, luz de posição e luz de seta. Na traseira, as novas lanternas ficaram mais retangulares e também trazem iluminação integralmente em LEDs, inclusive para as luzes de ré posicionadas no para-choque.

Rodas e para-choques também são novos e, por fim, a grade dianteira ficou mais estreita verticalmente, trazendo demarcações para as sete fendas que se replicam na junção com o para-choque. Por dentro, as mudanças foram mínimas: a Jeep trouxe o mesmo volante do Compass facelift, a central multimídia utilizada no Fiat Strada e um painel de instrumentos com novos grafismos. Há um cluster 100% digital, mas apenas nas versões mais caras.

Motor 1.3 turbo é o único disponível no cofre do Renegade 2022.

Apelão

Desde o seu lançamento, o Renegade podia receber motor 1.8 aspirado nas variantes mais baratas e 2.0 turbodiesel nas mais caras. Agora, as coisas estão radicalmente diferentes: ambos os motores se despediram definitivamente em favor do novo 1.3 turboflex que estreou no facelift do Fiat Toro. Sendo mais um membro da família GSE/Firefly, o pequeno sobrealimentado gera até 185cv e 27,5kgfm e passou a ser o único motor disponível para o Renegade em todas as versões, contrariando os rumores de que traria o motor 1.0 turbo do Pulse nas versões de entrada.

Nas variantes Sport e Longitude, ele traciona apenas as rodas dianteiras e trabalha com a conhecida transmissão automática de seis marchas com suporte a trocas manuais. As configurações mais caras do utilitário combinam o motor turboflex ao conhecido sistema de tração integral seletiva (4WD) e câmbio automático de nove marchas que eram utilizados no motor turbodiesel. Em tempos onde a grande maioria das marcas aposta na oferta dupla de motores aspirados e turbinados ou no forte uso dos 1.0 turbo, a Jeep chega disponibilizando seu motor flex mais forte em todas as versões e, além disso, mantendo a exclusividade da oferta de tração 4WD no segmento.

Mudanças no interior foram mínimas.

Novo normal

A lista de equipamentos de série do Renegade Sport contempla itens como: seis airbags, controles de tração e estabilidade, faróis Full LED com ajuste elétrico de altura, rodas de liga leve aro 17, volante com ajustes de altura e profundidade, ar condicionado, câmera de ré, piloto automático com limitador de velocidade, central multimídia de 7" com espelhamento sem fio para smartphones Apple e Android, sistema de frenagem autônoma de emergência, assistente de permanência em faixa com correção de direção, detector de fadiga do motorista, entre outros.

Nosso carro também estava equipado com o pacote opcional Exclusive que custa R$5.339 e acrescenta acabamento interno em couro e rodas aro 18 com acabamento em cinza claro - são as mesmas peças disponíveis na versão Longitude, porém, sem a finalização diamantada. É uma boa lista para uma versão de entrada, contudo, nos faz sentir falta de itens básicos pelo preço do carro como sensores traseiros de estacionamento, faróis de neblina ou saídas traseiras de ar condicionado. A falta de pintura nas maçanetas externas e capas dos retrovisores também soa como uma economia desnecessária.

Quando ligado, o Renegade 2022 mantém as luzes diurnas na dianteira e as de posição na traseira acesas o tempo todo.

Uma segunda chance

Rodamos pouco mais de 650km ao longo dos sete dias com o Renegade e, de cara, o comportamento do "jipinho" com o novo motor já consegue agradar desde os primeiros quilômetros percorridos. Pesando menos de 1.500kg, o Renegade é, até o momento, o carro mais leve a receber o novo 1.3 turbo e isso melhora o trabalho do conjunto mecânico consideravelmente. Até mesmo a irritante e sempre presente insensibilidade do pedal eletrônico do acelerador é menos incômoda aqui do que nos irmãos de plataforma e motorização.

Entregando todo seu torque desde os 1.750rpm, o T270 trabalha muito mais suave do que o antigo 1.8 E.torQ e leva o Renegade com uma eficiência que o SUV desconhecia sem o conjunto turbodiesel. Na prática, o novo turboflex passa a sensação de ser mais esperto até do que o antigo 2.0 movido ao óleo combustível por conta da farta entrega de potência - são 15cv a mais de pico e em uma faixa de giro bem mais utilizável. Traduzindo de forma mais direta: o novo 1.3 turboflex é o melhor motor que o Renegade já recebeu, especialmente para os que consideram desempenho uma prioridade.

As acomodações continuam as mesmas de sempre.

O melhor de tudo é que esse desempenho vem acompanhado de médias de consumo surpreendentemente satisfatórias: rodando apenas com gasolina no tanque e até quatro pessoas a bordo, nossa média geral em percurso misto foi de 14,6km/l. Só há um porém nesse tópico: é possível conseguir médias melhores em uso prioritariamente rodoviário, mas elas caem drasticamente caso o uso seja mais urbano. Boa parte da culpa é da transmissão que continua insistindo em segurar marchas mais baixas sem necessidade.

Fora o motor, o Renegade continua sendo o mesmo de sempre - para o bem e para o mal. O acerto de suspensão é primoroso, capaz de passar por todos os obstáculos da pista com maciez e tranquilidade sem perder a firmeza quando o carro é mais exigido, mantendo-o nos trilhos e com pouca rolagem de carroceria. Já na parte interna, o espaço é bem limitado para as pernas de quem vai atrás e o porta-malas, embora a Jeep afirme ter aumentado para 385 litros, continua com os mesmos 320 litros de sempre; a marca só mudou a forma de medição para favorecer no marketing.

Com as setas integradas aos faróis, o para-choque ficou mais limpo.

Avaliação geral

Design: a Jeep realizou poucas mudanças no visual do Renegade, mas todas melhoraram sua aparência. O conjunto composto pela grade mais estreita e os novos faróis deram um visual mais sério ao SUV compacto, além do novo para-choque ter mantido o bom ângulo de entrada. As novas lanternas totalmente em LED trouxeram não apenas mais sofisticação ao visual como também são superiores em eficiência. Enfim, só melhoras a um design que já agradava por se diferenciar de todos os rivais e ser recheado de referências a clássicos da montadora. Nota: 10

Interior: a cabine da versão Sport foi a que menos trouxe novidades. É a única que não recebeu o novo cluster de instrumentos digital, contudo, já traz o novo volante que estreou no Compass reestilizado. O painel macio ao toque é raridade no segmento, bem como as portas com porções em tecido até na traseira, entretanto, o espaço deveria ser melhor aproveitado. Nota: 8

Mecânica: se o 1.3 turbo ficou bom nos irmãos de plataforma mais pesados, é claro que ficaria excelente no Renegade. O câmbio é bom, todavia, precisa de uma programação melhor para gerenciar o novo motor do jeito que ele merece. No mais, mesmo a versão de entrada conta com suspensão independente e freios a disco nas quatro rodas, como tem que ser. Nota: 9

Tecnologia: conjunto ótico inteiramente em LEDs, seis airbags, multimídia com espelhamento sem fio e assistente ativo de permanência em faixa não são itens costumeiros em versões de entrada dos SUVs compactos, mas fazem parte da lista de equipamentos de série do Renegade Sport. Beirando os 130 mil reais, ele deveria trazer sensores traseiros de estacionamento e faróis de neblina, porém, a lista atual consegue ser muito boa. Nota: 9

Conveniência: apesar da chave não ser presencial, ela conta com abertura e fechamento remoto dos quatro vidros, além de quebra-sóis com espelho e iluminação, apoio dianteiro de braço, volante com ajustes de altura e profundidade, iluminação no porta-luvas, três portas USB (duas na frente, sendo uma do tipo C na frente e uma última comum para os ocupantes traseiros). Para uma versão de entrada, está ok. Nota: 8

Acomodações: os bancos são bons, porém, a falta de espaço decente para as pernas traseiras continua sendo um dos principais pontos fracos do Renegade - as saídas traseiras de ar condicionado poderiam ter chegado no facelift, mas a Jeep parece ter esquecido ou apenas não achou necessário. Por fim, novamente, pontos serão tirados pela jogada de mudar a forma de medição para fazer o porta-malas parecer maior. Nota: 4

Funcionalidades: tudo funcionou corretamente no Renegade o tempo inteiro, sem travamentos ou bugs. Ainda tivemos, finalmente, a ótima surpresa do assistente de frenagem de emergência atuar sem fazer escândalo e assustar a todos dentro do carro - agora, o alerta de três apitos só acontece uma vez e em volume aceitável. Muito bom, Stellantis. Nota: 10

Desempenho: o Renegade 1.3 turbo é, sem exageros, um foguetinho divertido. Junto do trabalho primoroso de suspensão, ele se tornou um dos SUVs compactos mais interessantes do Brasil para quem dirige por prazer. Nota: 10

Segurança: o Renegade é o único Jeep vendido no Brasil que já passou pelo crash-test do Latin NCAP. Isso foi em Julho de 2015 e, na ocasião, o modelo tirou nota máxima com boas observações em todos os aspectos. O protocolo está bem mais rígido agora, contudo, o SUV também recebeu novos recursos de segurança e está bem mais equipado do que o primeiro modelo testado sete anos atrás. Considerando a avaliação positiva da estrutura e a adoção dos novos recursos, o "jipinho" terá um voto de confiança, mas uma nova avaliação seria interessante. Nota: 9

Custo X Benefício: custando na faixa dos 130 mil reais, o Renegade se nivela a rivais com motor 1.0 turbo ou 1.6 aspirado - o único que se aproxima em motorização e custa na mesma faixa é o Peugeot 2008 Griffe THP, equipado com o conhecido motor 1.6 turbo de até 173cv e 24,5kgfm. Pelo preço, o desempenho do Renegade Sport é simplesmente imbatível e a lista de equipamentos também agrada, contudo, a compra deve ser bem pensada pelos que precisam de bastante espaço interno - que é, de fato, o único ponto fraco realmente sério do modelo. Se o carro é só para você e um acompanhante, então será difícil achar compra melhor. Nota: 8

Avaliação final: 85/100

Luzes de ré agora estão dos dois lados do para-choque e também são em LEDs.

Considerações finais

Quase dá para dizer que o facelift do Renegade só teve acertos. O desenho ficou mais sofisticado no geral e, embora os excelentes faróis por projetor tenham saído, os novos refletores também são muito bons e ainda trazem as setas integradas no semicírculo de luz diurna, uma solução estética e tecnológica que deu bastante certo. A evolução na lista de equipamentos também foi bem-vinda, porém, a cereja do bolo foi a adoção do 1.3 turbo.

Muitos se preocuparam com a perda do 2.0 turbodiesel que sempre foi, notoriamente, a opção mecânica mais adequada ao menor Jeep do Brasil, mas basta testar e comprovar para ter certeza de que não há motivos para lamentar, principalmente porque a marca sabe o que está em jogo. A própria tática de ter trazido direto o T270 a todas as versões deixa claro o que a Stellantis quer no meio dessa guerrilha dos SUVs compactos: a liderança, assim como seus irmãos têm feito em suas respectivas categorias.


Concorrentes diretos (pela categoria SUV compacto): Nissan Kicks Advance, Advance Plus ou Exclusive, Renault Duster Iconic 1.6, Volkswagen T-Cross 200 TSI, Nivus Comfortline ou Highline, Fiat Pulse Impetus, Citroën C4 Cactus Feel, Feel Pack ou Shine, Peugeot 2008 Griffe THP, Hyundai Creta Comfort ou Limited

O modelo avaliado não possui concorrentes indiretos entre 120 e 140 mil reais.


Ficha técnica

Motor: 1.3 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 185cv (E) / 180cv (G) a 5.750rpm
Torque: 27,5kgfm (E/G) a 1.750rpm
Transmissão: automática de seis marchas
Tração: dianteira
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 215/60 R17 (de série) / 225/55 R18 (opcionais)
Comprimento: 4,26m
Largura: 1,80m
Entre-eixos: 2,57m
Altura: 1,69m
Peso: 1.468kg
Porta-malas: 320l
Carga útil: 400kg
Tanque: 55l

0 a 100km/h: 8,9 segundos
Velocidade máxima: 209km/h


Matéria em vídeo



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