Para comemorar seus 50 anos, a Mercedes projetou um modelo ultra-especial que já deixou sua marca registrada na história do automóvel, gostem os haters ou não.
Por Yuri Ravitz
AMG ONE é, basicamente, um F1 de rua. Foto: Divulgação |
Não sei você, mas eu tenho um caso de amor e ódio com os haters automotivos. Amor porque, na maioria das vezes, eles me fazem rir com argumentos estúpidos e/ou extremamente infantis, e ódio porque eles parecem simplesmente se negar a aprender ou perceber determinadas coisas que acabam sendo muito óbvias. Na verdade, o hater me parece aquele indivíduo facilmente influenciável que gosta de repetir discursos aparentemente inteligentes para passar aquela ideia de "eu sei do que estou falando", ou, é apenas um sujeito qualquer que só quer se divertir contrariando o mundo atrás de uma tela por não ter nada melhor a fazer.
Uma das últimas vítimas dos haters da web é o Mercedes-AMG ONE, um hipercarro alemão apresentado em 2017 que a montadora projetou para comemorar os 50 anos da divisão esportiva AMG, mas que atrasou por conta de sua complexidade mecânica e acabou ficando para o ano em que estamos, ou seja: tornou-se um presente de 55 anos da AMG para o mundo. Por si só, o atraso sozinho já seria razão mais do que suficiente para os pilotos de teclado reclamarem, porém, é claro que outros motivos foram surgindo entre os inúmeros comentários nas redes e o pior: alguns deles vieram de fontes teoricamente respeitáveis, mas que se mostraram tão cegas quanto os próprios haters.
Por dentro, o AMG ONE é um carro de corrida com mimos de carros de passeio. Foto: Divulgação |
"Ele não é tão exclusivo assim."
A Mercedes anunciou que 275 unidades do AMG ONE serão fabricadas e que todas já têm destino certo, ou seja, já foram vendidas. É um número bastante expressivo para um hipercarro que se propõe a ser exclusivo, contudo, acho interessante analisarmos o prisma EXCLUSIVIDADE de todos os seus lados. O primeiro deles é o preço: custando iniciais 2,8 milhões de dólares, podemos ter certeza de que o AMG ONE será exclusivo o suficiente e dificílimo de se ver rodando por aí, seja qual for o país. Não espere ver vários juntos em um semáforo ou no centro da cidade como se fosse um Fiat Argo, a não ser que esteja rolando algum evento muito especial.
O segundo e que considero o mais importante é a proposta: com exceção do AMG ONE, o que você compra hoje, custe o que custar, que pode ser dirigido normalmente pelas ruas de uma cidade qualquer e que traz o conjunto mecânico de um Fórmula 1 moderno projetado por toda uma equipe de profissionais com décadas de experiência nisso para funcionar perfeitamente no trânsito do dia-a-dia, atendendo a rígidas normas de emissões e feito para aliar desempenho e durabilidade? Isso mesmo: nada. Absolutamente nada. Por si só, o conjunto mecânico que movimenta o AMG ONE já faz dele um carro único e, portanto, muito mais exclusivo do que outros hipercarros de produção bem mais limitada, mas que trazem mais do mesmo sob seus capôs - isso não é ruim, ok? Que fique claro.
Para encerrarmos esse tópico, o terceiro e último lado que analiso é a USABILIDADE. São pouquíssimos os proprietários de hipercarros que colocam as máquinas nas ruas em pleno uso; a maioria só compra para esperar valorizar e revender tempos depois, especialmente quando falamos de modelos de tiragem limitada. Com o AMG ONE não será diferente, o que significa que as chances de ver um nas ruas serão absurdamente mínimas. Tá bom de exclusividade pra você, senhor especialista?
O AMG ONE é movimentado por um conjunto mecânico híbrido, composto por um motor 1.6 V6 turbo aliado a outros quatro motores elétricos. Não vamos entrar em maiores detalhes porque não é necessário agora; o que você precisa saber, caso ainda não tenha visto, é que essa usina toda rende pouco mais de 1.000cv de potência máxima e traciona as quatro rodas, o que garante um 0 a 100km/h em 2,9 segundos, 0 a 200km/h em 7 segundos e uma velocidade máxima limitada eletronicamente em 352km/h.
Falando isoladamente dos números, eles são estupidamente impressionantes, mas eu sei que já temos alguns outros carros no mercado que superam, seja no 0 a 100, no 0 a 200, na máxima, na potência e etc.. Acontece que isso não tira o mérito do AMG ONE, principalmente porque a Mercedes nunca objetivou estabelecer recordes de aceleração ou velocidade máxima - e continua não tendo isso como prioridade. Por mais que existam hipercarros que batam essas marcas, ainda estamos falando de números que pouquíssimos modelos conseguem se equiparar.
Outra coisa: sobre ser mais lento do que um SF90, estamos falando de míseros 4 décimos de segundo a mais na aceleração de 0 a 100km/h e só. A rapidez de um carro deve ser medida por uma infinidade de fatores que não se restringem ao tempo de aceleração de 0 a XXX quilômetros, até porque, isso também depende de outras coisas; não é uma ciência exata. Por fim: para você ter que apelar ao SF90 na comparação, meu amigo, é porque o ONE pode ser qualquer coisa, menos LENTO. Por favor.
Elementos de aerodinâmica ativa estão presentes na dianteira e traseira. Foto: Divulgação |
"Muito dinheiro para pouco desempenho."
O preço de qualquer produto se deve a uma série de fatores que influenciam diretamente naquela pedida oficial, por assim dizer, da parte do criador do produto. Custando quase 3 milhões de dólares, o AMG ONE pode não ser o carro mais rápido nas saídas de semáforo, porém, afirmar que a pedida é alta pelo desempenho demonstra uma ignorância sem precedentes por parte de quem fala.
Relembro a você, querido leitor e leitora, que estamos falando de um veículo dotado de toda a mecânica de um Fórmula 1 moderno, trabalhada para ser utilizável nas ruas oferecendo níveis aceitáveis de consumo, emissões de poluentes e mantendo uma durabilidade considerável para um carro de passeio - três tópicos que não são prioridades de um motor de F1 tradicional.
Traduzindo: existe aqui um conjunto mecânico que passou por extensos e exaustivos trabalhos de engenharia para chegar ao que é hoje, projetado para entregar uma experiência absolutamente única de direção, sem igual no cenário atual. Você está pagando por, além de outras coisas, a oportunidade singular de usufruir essa experiência, fruto de todo esse trabalho severo realizado por anos de dedicação.