domingo, 22 de maio de 2022

2023 Renault Duster Iconic TCe 1.3 CVT; a força do coração

Dois anos após seu lançamento, o famigerado SUV compacto recebe o tão esperado motor turbo e evolui em desempenho. Testamos a novidade sobrealimentada por uma semana.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Renault do Brasil

Nosso carro de teste veio na cor Cinza Cassiopée, disponível por R$1.650.

Se você acompanha o Volta Rápida com frequência, é bem provável que já tenha visto nossa avaliação com a segunda geração do Renault Duster - se não viu, acesse-a por aqui. Foi no final de 2020 que passamos uma semana com a então novidade franco-romena na versão Iconic, a mais cara da linha, para conferir todas as mudanças que ocorreram no exterior, interior e no pacote tecnológico, mas não na mecânica.

Dessa vez, o SUV compacto retorna ao VR, porém, de um jeito diferente: a grande novidade da linha 2023 recém-apresentada é a introdução do aguardado motor 1.3 TCe que estreou no Captur reestilizado e que era esperado para o Duster desde a chegada da nova geração. Pelo preço de R$138.790, a versão Iconic TCe é a nova top de linha e única a trazer o novo motor, custando exatos R$14.000 a mais do que a Iconic com motor 1.6 aspirado, o mesmo disponível para todas as demais versões.

Emblema TCe na tampa do porta-malas é a única diferença estética.

Mudou muito, mas quase nada

Embora o Duster esteja na linha 2023 e o novo motor seja muito bem-vindo, as novidades fora ele são mínimas. Por fora, a versão Iconic adota detalhes como a capa dos retrovisores, barras de teto e moldura frontal do para-choque em preto, enquanto que os bancos em couro ganham um novo desenho mais simples e sem o nome DUSTER bordado nos encostos de cabeça. Isso é tudo.

O pacote tecnológico segue sem alterações. A versão Iconic TCe traz os mesmos itens da Iconic 1.6, o que engloba: ar condicionado digital, câmeras em 360º, rodas aro 17 diamantadas, central multimídia de 8", monitoramento de pontos cegos, airbags duplos, volante com ajuste de altura e profundidade, faróis de neblina, trio elétrico, sensores de ré, entre outros.

1.3 TCe é importado da Espanha.

Anabolizante importado

Você já o conhece do nosso teste com o Captur 2022, contudo, vamos apresentá-lo novamente. O pequeno 1.3 sobrealimentado é da família TCe (Turbo Control efficiency), possui quatro cilindros e gera até 170cv e 27,5kgfm quando abastecido com etanol; os números com gasolina estão abaixo, na ficha técnica. Ele trabalha com a conhecida caixa automática do tipo CVT, famosa pelo nome XTronic, que traz simulação de oito marchas no modo manual e possibilidade de trocas na própria alavanca.

É o motor mais forte que o Duster brasileiro já recebeu em toda a sua história e, com isso, o desempenho também é o melhor que o SUV já viu. O tempo de 0 a 100km/h é de cerca de 9 segundos e a máxima é de 190km/h, além das retomadas que são 36% mais rápidas em relação ao motor 1.6, segundo a própria Renault. De fato, o comportamento do Duster melhorou espantosamente com o novo motor, passando a sensação de ser mais rápido até do que o Captur.

A única novidade no interior é o desenho mais discreto dos bancos.

Nascido para isso

Rodamos cerca de 500km com o Duster turbinado e você já pode imaginar como o comportamento melhorou ao comparar os números entre o 1.3 TCe e o 1.6 SCe: são 50cv e 11,3kgfm de picos de potência e torque a mais, o que melhorou consideravelmente as relações peso X potência e peso X torque. Além disso, o motor turbinado entrega todo seu torque já aos 1.600rpm enquanto o aspirado precisa ser esticado até os 4.000rpm. Com gasolina no tanque, nossa média geral em percurso misto foi de 13,8km/l.

Resumindo a ópera, o Duster turbinado anda muito. O desempenho é tão bom que, na nossa percepção, o motor parece ter ficado ainda melhor no Duster do que no Captur, embora os números sejam exatamente os mesmos. Tudo indica que é alguma questão de calibragem do câmbio ou programação da central eletrônica, uma vez que a diferença de peso entre os carros é de apenas 23kg a mais no Captur, o que não causaria um impacto tão grande.

A polêmica traseira com lanternas que remetem ao Renegade pré-facelift.

O mais curioso é que, embora o Duster turbinado ande muito, ele passa a sensação de sobriedade o tempo inteiro. O câmbio CVT continua mais voltado ao conforto, o que promove uma aceleração extremamente linear e suave mesmo quando se pisa mais fundo; parece até o 1.6 SCe, entretanto, a diferença é que aqui, o carro realmente desenvolve velocidade rápido e deixa os demais para trás sem dificuldade.

Mantendo o motor abaixo dos 2.000rpm o tempo inteiro, o câmbio permite trocas manuais na alavanca onde simula oito velocidades, além de trazer um modo ECO que pode ser ativado por um botão no console central e que deixa o comportamento mais ameno - tanto da transmissão quanto do pedal do acelerador. Com o ECO desativado, o Duster tem respostas mais rápidas, porém, sem perder sua calma.

Rodas aro 17 calçam pneus 215/60.

O que não sofreu alterações com a chegada do motor turbo foi o conjunto de suspensão e freios. Isso até tem seu lado bom, pois, o Duster sempre foi conhecido por encarar os buracos e outros inúmeros defeitos do asfalto brasileiro com muita tranquilidade. Felizmente, isso não se perdeu e o Duster continua enfrentando tudo o que se apresenta sem reclamar, mas os freios mereciam ter recebido discos na traseira, pois, continuam sendo por tambores.

No final das contas, diante de um conjunto tão bem acertado, nos perguntamos o porquê da Renault não voltar a oferecer um sistema de tração integral para o Duster, assim como acontece com os modelos estrangeiros. O novo motor + pneus de uso misto + tração nas quatro rodas, ainda que fosse apenas sob demanda, seria um conjunto que daria um diferencial interessante para ele e, além disso, seria uma opção de 4x4 mais acessível que poderia atrair um público diferenciado.

Fora os bancos, o interior do novo Duster continua exatamente o mesmo na linha 2023.

No mais, o Duster 1.3 turbo segue sendo o mesmo novo Duster que testamos em 2020. A cabine mudou por completo e melhorou consideravelmente em aparência e ergonomia, embora o espaço traseiro pareça ter diminuído por conta dos novos assentos. Há detalhes prateados decorando as saídas de ar e um bonito tecido cinza nas portas dianteiras, além da seleção de plásticos rígidos também ter melhorado.

Por outro lado, isso também significa que velhos pontos fracos continuam. Há uma única entrada USB em toda a cabine, não há sensores dianteiros de estacionamento, nem a função de vista superior simultânea das quatro câmeras ao redor do carro. Também não há qualquer recurso mínimo de segurança semiautônoma como o assistente de frenagem de emergência, mais um ponto que compromete o convívio diário com o SUV.

O kit opcional Outsider acrescenta faróis de milha (longo alcance) à frente do para-choque.

Avaliação geral

Design: o desenho da segunda geração do Duster é uma clara e bem-resolvida evolução da primeira geração, com exceção da traseira que ficou, digamos, estranha. As lanternas que lembram um dos principais rivais do SUV não caíram bem e podiam ter sido melhor planejadas, mas toda a traseira em si não expressa a mesma harmonia do restante. No mais, ficou bonito e faz boa vista. Nota: 8

Interior: por dentro, o Duster rompeu totalmente com o modelo anterior e isso é bom, pois, o desenho da cabine evoluiu tanto que quase dá para dizer que o modelo subiu de categoria. Apesar disso, o plástico rígido ainda é predominante e o espaço interno parece ter diminuído, além da Renault ter repetido o corte de custos dos concorrentes ao simplificar (em excesso) o acabamento das portas traseiras. Ainda assim, em relação ao modelo anterior, a evolução foi bem-vinda. Nota: 8

Mecânica: o 1.3 TCe é um motor com tecnologia de ponta e já chegou flex, preparado para o público brasileiro. A caixa CVT, embora não seja de última geração, mostrou que consegue fazer um bom casamento com o motor. Já a suspensão traseira por eixo de torção e os freios traseiros a tambor não combinam com o "coração" do SUV, embora cumpram seus respectivos papéis. Nota: 7

Tecnologia: se compararmos o nível de tecnologia embarcada do atual Duster top de linha com o modelo anterior, notaremos uma boa evolução. Entretanto, se compararmos o Duster com os rivais, a coisa muda de figura e o franco-romeno começa a parecer defasado mesmo diante de alguns rivais mais baratos. Precisa melhorar, afinal, não pode justificar seu preço apenas com um motor de primeiro mundo. Nota: 5

Conveniência: o novo Duster traz a verdadeira chave presencial - basta se aproximar ou afastar do veículo para destravar ou travá-lo por completo, sem a necessidade de qualquer gesto ou toque em sensor. Pena que não há abertura ou fechamento remoto de janelas, partida remota e outros recursos de conveniência, contudo, há luzes de cortesia internas para todos, porta-revistas atrás dos bancos e espelhos nos dois quebra-sóis. Nota: 5

Acomodações: os bancos do Duster são bons, porém, o espaço é limitado para quatro adultos, principalmente se forem altos. A Renault finalmente aprendeu a fazer um apoio de braço dianteiro utilizável, entretanto, ainda não aprendeu que os ocupantes de trás também merecem atenção. Sentimos falta de pelo menos uma porta USB e saídas de ar condicionado dedicadas a segunda fila de assentos. Nota: 6

Funcionalidades: quase tudo no Duster turbo funcionou corretamente. Em algumas ocasiões, o carro simplesmente parou de reconhecer a chave-cartão e ficou solicitando-a mesmo estando dentro do próprio veículo. Do mesmo modo, em alguns poucos casos, o sistema de câmeras não quis se ativar ao engatar da ré. Seja uma questão de software ou algo mais sério, precisa ser revisto. Nota: 7

Desempenho: o 1.3 TCe conferiu ao Duster um desempenho que o SUV jamais viu igual em solo brasileiro, e o melhor é que não sacrificou o consumo de combustível. Do outro lado, mesmo que a suspensão e os freios não sejam os mais modernos, ambos cumpriram seus deveres quando foram solicitados. Resumindo: finalmente, o Duster se comporta na pista como um carro de primeira categoria. Nota: 10

Segurança: quando a nova geração foi lançada, chamou atenção negativamente por trazer apenas dois airbags enquanto o Sandero e até o Kwid trazem quatro bolsas. Para piorar, no último teste pelo Latin NCAP realizado em Agosto de 2021, o SUV simplesmente zerou por conta da ausência de determinados recursos e da estrutura que se mostrou, de acordo com o protocolo do teste, instável e incapaz de suportar cargas maiores. Ao invés de aproveitarem a linha 2023 para corrigir tais falhas, não fizeram absolutamente nada. Errou feio, Renault. Nota: 0

Custo X benefício: custando quase 140 mil reais, o novo Duster na versão turbinada encosta no Captur de entrada, também turbinado, e fica na mesma faixa de preço de alguns rivais com motor aspirado ou 1.0 turbinado. Se não precisa levar toda a família e quer um carro com desempenho acima da média, o Duster turbinado pode ser uma ótima pedida. Caso contrário, os concorrentes entregam conjuntos mais equilibrados nos demais aspectos e, falando de desempenho ou economia de combustível, alguns até conseguem se equiparar ou deixar pouco a desejar. Nota: 5

Avaliação final: 61/100

Lanterna quadrada traz LEDs nas luzes de posição.

Considerações finais

Ficamos felizes de ver que a Renault, apesar de ter o Captur, não deixou o Duster de lado e trouxe o aguardado motor turbinado para ele, afinal de contas, a expectativa era grande e o modelo merece dada toda a sua trajetória em nosso país. O ruim é que a marca parece ter esquecido todo o resto e nem as falhas reclamadas frequentemente na internet tanto pela imprensa quanto pelos consumidores fizeram-na buscar melhorar o produto nos demais aspectos.

Diante disso, lembramos do nosso veredito final na avaliação do Iconic 1.6, onde dissemos que a Renault tinha a oportunidade de corrigir todas as falhas que apontamos na época quando lançasse o 1.3 turbo. De lá para cá, o Duster encareceu (como todos os outros carros, é verdade), mas parece que a fabricante quer mantê-lo abaixo do Captur como uma alternativa de SUV compacto do segundo escalão, feito para tentar conquistar clientes com toda a força que emana do novo coração que se abriga debaixo do capô.


Concorrentes diretos (pela categoria SUV compacto): Nissan Kicks Exclusive ou Exclusive Pack Tech, Volkswagen Nivus Highline ou T-Cross 200 TSI, Hyundai Creta Limited ou Platinum, Chevrolet Tracker LTZ ou Premier 1.0 turbo, Renault Captur Zen, Jeep Renegade Longitude T270, Citroën C4 Cactus Shine Pack THP

O modelo avaliado não possui concorrentes indiretos.


Ficha técnica

Motor: 1.3 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 170cv (E) / 162cv (G) a 5.500rpm
Torque: 27,5kgfm (E/G) a 1.600rpm
Transmissão: automática CVT com oito marchas simuladas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 215/60 R17
Comprimento: 4,37m
Largura: 1,83m
Entre-eixos: 2,67m
Altura: 1,69m
Peso: 1.353kg
Porta-malas: 475l
Tanque: 46l

0 a 100km/h: 9 segundos
Velocidade máxima: 190km/h


Matéria em vídeo


Fotos (clique para ampliar):