sexta-feira, 29 de abril de 2022

2023 Toyota Yaris Sedan XS 1.5 CVT; choque cultural

Lançado em 2018, o Toyota Yaris recebe seu primeiro facelift e mostra que continuará no mercado por mais algum tempo. Testamos a versão intermediária XS na carroceria sedan.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Toyota do Brasil

Nosso carro de teste veio na cor Branco Lunar que custa R$1.930 à parte.

Toda empresa procura, em seu momento inicial, atuar voltada a uma certa categoria de consumidores para direcionar seus esforços e otimizar a operação. Com o tempo, é normal a atuação se expandir para alguns grupos próximos posicionados um pouco mais acima ou abaixo, mas quando esse foco começa a se desviar muito, são grandes as probabilidades de um sucesso estrondoso ou um desastre sem precedentes.

Na última semana, nós estivemos em contato com o segundo produto da Toyota destinado a atender essa proposta mais generalista de uma marca que sempre quis se posicionar como premium em nosso país. É o Yaris Sedan, a carroceria de três volumes do hatch oriundo do Etios que foi lançado por aqui em 2018 e que recebeu seu primeiro facelift há alguns meses. Nós testamos a versão intermediária XS, tabelada atualmente em R$105.490.

Design do Yaris 2023 mudou muito pouco. Faróis trazem luzes de posição em LED.

O que mudou?

As novidades visuais do Yaris 2023 se concentram na dianteira. Há um novo para-choque com luzes diurnas integradas nas versões XL e XS, sendo que a XS (nossa testada) agora incorpora os mesmos faróis da antiga XLS compostos por projetor halógeno para o farol baixo e acabamento mesclando cromado com máscara negra. A versão de topo XLS agora conta com faróis Full LED e as luzes diurnas integradas neles.

De lado, também são novas as rodas de 15 polegadas com acabamento em grafite claro, enquanto que a traseira recebe as lanternas com luz de posição e de freio em LED da variante XLS. Por dentro, as mudanças estão no couro dos bancos, na central multimídia e nas portas USB traseiras para os ocupantes da segunda fila.

Motor 1.5 não sofreu alterações

Uma opção, várias alternativas

Para 2023, a Toyota deixou toda a linha Yaris com uma única opção de conjunto mecânico: o conhecido motor 1.5 aspirado flex que gera até 110cv e 14,9kgfm aliado a uma transmissão automática do tipo CVT que conta com trocas manuais na própria alavanca ou nos paddle-shifters atrás do volante para quando se quiser utilizar o sistema de marchas virtuais com sete velocidades.

Sem maiores novidades, as únicas mudanças para 2023 são os modos de condução Eco e Sport, selecionáveis por botões ao lado esquerdo do volante que alteram o comportamento do câmbio; com isso, apesar de um único motor e transmissão, o condutor tem bastante liberdade de escolher como quer conduzir o japonês. O antigo motor 1.3, bem como a transmissão manual, saíram de cena definitivamente.

Não é um conjunto que empolgue, mas o 1.5 consegue levar o Yaris com decência graças aos meros 1.130kg da carroceria de três volumes e, de quebra, consome pouco: nossa média com ar condicionado ligado direto, modo Eco selecionado, gasolina no tanque e de uma a três pessoas a bordo foi de bons 15,4km/l em percurso misto, sendo a maior parte em rodovia.

Cockpit do XS é praticamente o mesmo da versão top de linha.

Quase no topo

O Yaris 2023 também passou por algumas mudanças no quesito tecnologia embarcada. Sem opcionais, a lista de itens de série da variante XS contempla equipamentos como: sete airbags, controles de tração e estabilidade, ar condicionado digital, central multimídia com tela de 7 polegadas e espelhamento via cabo para smartphones, câmera de ré, luzes diurnas em LED, volante multifuncional com ajuste de altura, bancos mesclando couro e tecido, chave presencial com partida por botão, piloto automático, entre outros.

A versão XS também traz algumas novidades interessantes vindas da antiga XLS como o já citado conjunto ótico, além do painel de instrumentos com um display multifuncional à direita e o acabamento interno. A linha 2023 trouxe alguns recursos de segurança do pacote Toyota Safety Sense como o alerta de mudança indevida de faixa e o assistente de frenagem automática de emergência.

No geral, o XS deve pouco em relação ao XLS, mas ainda deixa de lado certos recursos que deveriam estar em um carro de mais de 100 mil reais. Sentimos falta de sensores traseiros de estacionamento, saídas traseiras de ar condicionado e de faróis de neblina, além de um ajuste de profundidade do volante e de uma porta USB melhor localizada na dianteira, pois a única que existe se esconde dentro do porta-objetos abaixo do apoio de braço dianteiro.

Visto de traseira, o Yaris 2023 é idêntico aos mais antigos.

Tradição que vem do alto

Rodamos mais de 500km durante a semana com o Yaris Sedan e o mais legal sobre ele é que mesmo sendo um carro de entrada, consegue entregar o rodar sereno e confortável que o cliente Toyota já conhece e procura. O ponto alto do japonês, sem dúvida, é o conjunto de suspensão: embora não traga nada de especial em termos de configuração, ele proporciona ao Yaris uma direção muito tranquila e com boa absorção dos defeitos da pista. Poderia ser melhor se não abaixasse tanto a traseira com o carro mais cheio, exigindo cuidado redobrado ao passar por quebra-molas.

O abandono do motor 1.3 foi uma decisão bastante acertada, uma vez que o Yaris nunca foi um sucesso de vendas e, portanto, não precisa dispor de uma ampla gama de configurações. Além disso, o 1.5 sempre se mostrou o motor certo para ele, oferecendo um desempenho comedido e mostrando até uma certa desenvoltura quando é necessário; o câmbio CVT ajuda na tarefa com seu excelente acerto e programação, contando com o recurso de marchas simuladas para facilitar momentos de ultrapassagens, por exemplo.

Outra novidade é o aviso de uso do cinto de segurança até para os ocupantes traseiros.

As demais novidades da versão XS ajudaram a melhorar o convívio e, consequentemente, a relação custo X benefício do Yaris Sedan. Os faróis de projetor, por exemplo, são bem melhores e mais bonitos que os refletores que equipam a versão XL de entrada, mas deveriam trazer um controle de ajuste elétrico de altura do facho no painel para quando o carro está mais pesado, especialmente pelo fato da suspensão traseira abaixar nessa circunstância.

Do mesmo modo, o painel de instrumentos vindo da variante XLS traz mais funcionalidades do que o componente da versão de entrada e, além disso, melhora o visual da cabine. Já a nova central multimídia até consegue agradar pelo bom funcionamento, mas devia ter uma porta USB mais acessível e mais funcionalidades para se nivelar aos equipamentos presentes nos rivais, além de uma tela maior que também não cairia nada mal.

Dianteira ganhou ares de Corolla.

Avaliação geral

Design: de maneira geral, o desenho do Yaris sempre foi apenas "ok", sem pender muito para o belo ou para o feio. Na nossa opinião, há curvas demais e alguns "repuxos" desnecessários nas linhas, mas o discreto facelift até que caiu bem. As rodas poderiam ser maiores para casar melhor com as caixas de roda e deixar o visual mais bem composto. Nota: 7

Interior: a marca até tentou, mas é difícil se sentir a bordo de um Toyota ao entrarmos no Yaris. Não há elegância no desenho da cabine e alguns detalhes não precisavam estar ali como as peças plásticas com costuras para imitar apliques de couro - o mesmo mau gosto que a Hyundai demonstrou no novo Creta. Apesar disso, a mescla de couro preto com costura branca nos bancos e portas foi bem acertada e consegue nos fazer esquecer um pouco a cafonice das imitações do painel. Os detalhes em grafite e a iluminação azul dos comandos são bem bonitos. Nota: 6

Mecânica: o motor 1.5 aspirado não é empolgante, mas isso consegue não ser um problema quando se fala do Yaris. Ele tem uma ótima transmissão CVT para gerenciá-lo e contornar o que poderia ser um problema se a caixa tivesse uma programação ruim. O comportamento da suspensão é ótimo, mas o fato de abaixar na traseira com o carro cheio é bastante incômodo e não deveria acontecer em um carro desse preço na época em que estamos. Pena que os freios traseiros a disco também não vieram no facelift. Nota: 6

Tecnologia: a Toyota continua merecendo elogios pela política de não oferecer opcionais, mas também continua a receber críticas por deixar itens básicos de fora dos carros. Até dá para relevar a falta dos sensores de ré na carroceria hatch, mas não na sedan - é verdade que tem a câmera para ajudar, mas o sensor é mais intuitivo e se encontra na maioria dos rivais do mesmo valor. O pacote da versão XS é bom, mas merecia mais itens para poder ser chamado de excelente. Nota: 7

Conveniência: há quebra-sóis com espelho e iluminação, duas portas USB para os passageiros de trás, comandos internos para abertura do porta-malas e bocal de abastecimento, porta-revistas atrás dos dois bancos, apoios de braço na frente e atrás, além de luzes de cortesia para todos. Tudo como manda o figurino, mas a porta USB da frente deveria ser melhor localizada, especialmente porque será a mais utilizada. Por fim, custava trazer o sistema de abertura e fechamento remoto de janelas do Corolla Cross, direto na chave? Não deve ser tão caro assim. Nota: 8

Acomodações: os bancos do Yaris continuam bons como sempre, mas o espaço traseiro é um tanto decepcionante para um sedan, ainda mais um que aparenta ser tão comprido; já o porta-malas de 473 litros fica entre "razoável" e "bom". O volante deveria ter ajuste de profundidade. Nota: 7

Funcionalidades: tudo funciona como deveria no Yaris, mas há uma coisa deveras chata: ele não permite que certos parâmetros sejam configurados, algo que é muito corriqueiro entre os rivais e até mesmo entre modelos mais caros da própria Toyota. Por exemplo: você não pode alterar o comportamento das portas ao destravar do carro. A navegação pelos menus do computador de bordo é confusa. Nota: 8

Desempenho: o motor 1.5 é correto e atende ao uso cotidiano, mas deve boa parte de sua desenvoltura ao acerto do câmbio CVT. O Yaris consegue ser esperto quando necessário e oferece um rodar quase tão sublime quanto o do Corolla - não tem a mesma dinâmica, mas o conforto é muito bom. Nota: 8

Segurança: o Yaris 2023 até conta com um bom nível de recursos de segurança, mas o péssimo resultado de apenas uma estrela no último teste pelo Latin NCAP (realizado em Outubro de 2021) relatou que "a estrutura do habitáculo não foi capaz de suportar cargas maiores". Pontuará pela presença dos recursos, mas precisa melhorar a estrutura com urgência. Nota: 3

Custo X Benefício: atualmente, o Yaris Sedan é um dos sedans compactos mais caros do Brasil, mas compensa isso entregando itens ausentes nos rivais mesmo nessa versão intermediária. As alterações do facelift não mudaram a sua proposta que é a de ser uma porta de entrada para o portfólio da Toyota no país e isso é bom, mas também significa que ele não recebeu novidades significativas para torná-lo uma compra mais atraente e/ou melhorar os índices mensais de vendas. Resumindo a ópera, é um carro agradável de dirigir, econômico e que promete uma vida pacífica, mas não vai muito além disso - o que já está ótimo para alguns compradores. Nota: 6

Avaliação final: 66/100

Refletores no para-choque são apenas decorativos.

Considerações finais

Ao término dos nove dias com o Yaris 2023, ele se mostrou mais um daqueles casos onde as atualizações do produto foram pensadas apenas para corrigir alguns pontos fracos, mantendo o posicionamento e o público-alvo inalterados. Trocando em miúdos, o Yaris reestilizado veio para acrescentar virtudes às que já eram conhecidas e queridas dos proprietários do modelo.

Acontece que o Yaris, assim como foi o Etios, é uma jogada um tanto controversa para uma montadora como a Toyota e seu posicionamento no Brasil. De maneira geral, apesar dos feedbacks positivos, o público parece não ter entendido a ideia de veículos de baixo custo vindos de uma marca que sempre se vendeu com carros globais, alinhados com o resto do mundo e voltados a um público mais amadurecido e de maior poder aquisitivo.

Entenda: o Yaris brasileiro, embora seja bastante inferior ao europeu, não é um carro ruim de se ter ou usar. É bem provável que se fosse de outra marca qualquer, teria muito mais sucesso no nosso país. O problema é o posicionamento: ser um Toyota causou um choque cultural que o brasileiro ainda não superou e, talvez, nunca supere. As novidades foram bem-vindas, mas não o suficiente para fazê-lo deslanchar.

Rodas em um leve tom de grafite deram um ligeiro ar de elegância.


Concorrentes diretos (pela categoria sedan compacto): Honda City EX, Nissan Versa Sense CVT ou Advance, Hyundai HB20S Platinum Plus, Chevrolet Onix Plus Midnight ou Premier, Volkswagen Virtus Comfortline

O modelo avaliado não possui concorrentes indiretos entre 95 e 115 mil reais.


Ficha técnica

Motor: 1.5, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 110cv (E) / 105cv (G) a 5.600rpm
Torque: 14,9kgfm (E) / 14,3 (G) a 4.000rpm
Transmissão: automática CVT
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 185/60 R15
Comprimento: 4,42m
Largura: 1,73m
Entre-eixos: 2,55m
Altura: 1,49m
Peso: 1.130kg
Porta-malas: 473l
Tanque: 45l
0 a 100km/h: 12,3 segundos
Velocidade máxima: 187km/h

Matéria em vídeo


Fotos (clique para ampliar):