terça-feira, 19 de abril de 2022

2023 Renault Kwid Intense "Biton" 1.0 MT5; entrando por cima

Subcompacto franco-indiano foi atualizado recentemente, trazendo novidades em todos os aspectos. Passamos uma semana com a versão intermediária Intense que promete ser a mais vendida.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Renault do Brasil

Pacote "Biton" é tratado como uma versão entre a Intense base e a top Outsider.

Muito tem se falado no "novo normal" que promete reger nossas vidas daqui em diante. Ele diz respeito a hábitos de produção, de consumo, posicionamento de marcas e produtos... basicamente, uma nova forma de pensar e encarar todos os aspectos da sociedade moderna. Independentemente de você concordar ou não, muitas alterações já mostraram que vieram para ficar e nosso papel diante disso é entender, aceitar e buscar se adaptar a algumas dessas novas perspectivas. A ideia de "carro de entrada", por exemplo, não comporta mais modelos pelados sem um mínimo de conforto ou segurança.

Nosso teste da vez é com este que voltou a ser o carro 0km mais barato do Brasil, atualizado há alguns meses com uma série de novidades pensadas para melhorá-lo de maneira geral e, é claro, adequá-lo a protocolos já vigentes ou que entrarão em vigor muito em breve. É o Renault Kwid, subcompacto que já avaliamos em 2017 e 2019, e que retorna agora em 2022 com sua primeira reestilização para a linha 2023 com novidades visuais, mecânicas e tecnológicas. A versão testada é a intermediária Intense "Biton", tabelada em R$67.890.

Traseira traz mudanças bem mais discretas do que a dianteira.

O que mudou?

Esteticamente, o Kwid teve sua dianteira totalmente reformulada para ter um aspecto mais nobre e funcional. O conjunto ótico passou a se dividir em dois andares: em cima se encontram as inéditas luzes diurnas e de posição conjugadas em LED com as setas por lâmpada comum logo atrás, enquanto que os novos faróis principais de foco duplo (luz baixa e alta separadas) ficam mais abaixo. Com isso, grade e para-choque também são novos e os faróis de neblina foram descartados definitivamente. Essa configuração é padrão para todas as versões do Kwid 2023.

De lado, as únicas mudanças são as novas calotas ou, no caso do nosso carro testado, inéditas rodas de liga leve de 14 polegadas e acabamento mesclando diamantado e preto brilhante - mantendo os polêmicos três furos. Por fim, o para-choque traseiro ganhou discretos refletores nas extremidades e as lanternas também são novas, trazendo luzes de posição em LEDs. Vale ressaltar que as rodas de liga leve são itens de série apenas na derivação "Biton" que também deixa o teto em preto brilhante; a Intense convencional traz calotas e o teto na cor da carroceria.

Motor recebeu melhorias, mas ainda vibra consideravelmente.

Racionalidade e um pouco de confusão

O Kwid 2023 manteve o motor 1.0 SCe, de três cilindros e flex, na configuração que foi feita exclusivamente para ele, contrariando os fortes rumores de que receberia a variante mais forte utilizada no Sandero. Naturalmente aspirado, ele é capaz de gerar até 71cv e 10kgfm e continua trabalhando unicamente com a transmissão manual de cinco marchas. No mais, os freios continuam sendo por discos ventilados na dianteira e tambor na traseira.

A Renault aplicou algumas alterações para melhorar o pequeno tricilíndrico como, por exemplo, uma nova central eletrônica de gerenciamento, nova calibração e um novo sensor de fase do comando duplo de válvulas. Tudo isso se junta ao novo alternador inteligente pensado para aliviar o trabalho do motor nas acelerações e o sistema start-stop para reduzir o consumo médio.

Segundo nossos cálculos, a média geral ficou na casa dos 15km/l com gasolina e uso alternado de ar condicionado. Não deu para medir com precisão porque o computador de bordo não quis funcionar corretamente, zerando os odômetros parciais (os "Trip A" e "Trip B") sozinho e, com isso, bagunçando todas as demais informações. Tivemos relatos desse mesmo problema em outras unidades do modelo, o que deve acender uma luz de alerta na Renault para a resolução imediata do caso.

O plástico continua predominando no interior, mas o nível de ruídos de acabamento melhorou.

Puxando para cima

O facelift do Kwid também trouxe boas e importantes novidades para ele. De série, todas as versões trazem equipamentos como: controle de estabilidade com assistente de partida em rampa, luzes diurnas em LED, ar condicionado, quatro airbags, sistema de monitoramento de pressão dos pneus, direção elétrica, start-stop, vidros dianteiros elétricos, alerta visual e sonoro de não-utilização do cinto para todos os ocupantes, sistema de som com dois alto-falantes, painel de instrumentos com marcadores digitais, entre outros.

A versão Intense traz a mais: câmera de ré, central multimídia com comandos-satélite na coluna de direção e conexão Bluetooth, retrovisores com ajustes elétricos, chave canivete, detalhes em azul no interior, bancos mesclando couro e tecido e lanternas com luzes de posição em LED. Com o pacote Biton, as rodas de liga leve aro 14 e o teto em preto brilhante são acrescentados; o "mico" da questão é que todas as opções de cores da Intense Biton têm algum custo adicional, o que torna o valor base tabelado em R$67.890 inexistente.

A cor Branco Glacier da nossa unidade testada, por exemplo, custa R$700 a mais, o que já eleva o valor final para R$68.590 - seria mais "bonito" a Renault embutir o valor dela no preço final, assim, o cliente saberia que há pelo menos uma opção de cor sem custo além das metálicas que saem por R$1.500 à parte. O Kwid ainda pertence a uma categoria onde cada centavo pesa na hora da compra e, mediante isso, a estratégia de precificação das cores se mostra ainda mais estúpida.

Bancos ganharam novo acabamento, contudo, ainda são do tipo inteiriço com o encosto de cabeça integrado.

Agora sim!

Rodamos cerca de 500km ao longo dos sete dias com o Kwid reestilizado, tempo mais do que suficiente para observar diversas melhorias, mas também velhos pontos fracos. Começando pelos pontos negativos, algumas coisas como o sistema de som e a câmera de ré continuam de baixíssima qualidade, parecendo que só estão ali para dizer que "tem". Além disso, o tampão (bagagito) do porta-malas só fica no lugar que deve se for forçado; ao levantar a tampa, ele sai da posição e não volta mais ao abaixar da mesma, precisando ter suas abas laterais deslocadas com as mãos para ser reencaixado na altura correta. Se isso não for feito, ele fica ligeiramente levantado e faz bastante barulho durante a viagem.

Também tivemos o já citado defeito com o computador de bordo que nos impossibilitou de fazer a média exata de consumo, porém, não pense que o modelo 2023 só teve problemas. Houve uma melhora significativa do isolamento acústico, o que deixou os passeios mais silenciosos tanto por conta da percepção do ruído do motor quanto por causa dos barulhos de acabamento interno - que agora são praticamente inexistentes. Falando nele, o pequeno SCe ainda vibra consideravelmente, mas já não faz mais o som esquisito e irritante de quando é acelerado ao máximo, se assemelhando a um apito estragado como acontecia no modelo pré-facelift.

Rodas de liga leve deixaram o subcompacto mais harmonioso.

A suspensão também melhorou, deixando o Kwid 2023 bem mais seguro e "na mão" do que antes, embora ainda apresente certa aspereza mediante os defeitos da pista que pode ser relevada devido aos meros 820kg do carro - se a suspensão fosse mais macia, a condução ficaria insegura. Não notamos diferença no trabalho de pedais e câmbio e, para ser direto ao ponto, nenhum dos dois precisava de mudanças porque já eram bons desde o começo.

O que mais agrada na direção do Kwid é a esperteza do subcompacto, pois ele se movimenta com muita fluidez e facilidade em todas as circunstâncias. O que já não agrada tanto é a quinta marcha excessivamente curta que deixa o giro mais alto do que o necessário a partir dos 90km/h e as frequentes "castanholas" que acontecem nas trocas entre as marchas mais baixas - a partir da 4ª já não acontece mais. Um carro tão novo não deveria fazer isso e, mais uma vez, pode ser motivo para a Renault acender a luz de alerta e verificar o que está acontecendo.

Novos faróis melhoraram a condução noturna. Luzes diurnas são exclusividade na categoria.

Avaliação geral

Design: as linhas externas do Kwid exalavam a sensação de "carro de baixo custo" por todos os lados, contudo, o facelift deixou isso no passado. O porte diminuto ainda causa certa estranheza, contudo, a dianteira melhorou da água para o vinho com as luzes diurnas e os faróis de dupla parábola - não estamos falando se ficou mais ou menos bonita, mas sim sobre aspecto geral. De lado e de traseira, a impressão é a mesma graças às novas rodas de liga e as lanternas com assinatura visual em LED. Gostamos. Nota: 9

Interior: o plástico domina a cabine e, para piorar, deixa bem evidente não ser dos melhores. Ainda assim, o ambiente ficou mais agradável com os novos bancos e o painel de instrumentos composto unicamente por elementos digitais. A falta de alças de teto e de puxadores de porta incomoda bastante, pois os passageiros não têm onde se segurar quando quiserem. Os pinos de trava aparentes nas quatro portas são, com o perdão pela deselegância necessária, ridículos e dignos dos anos 90. Nota: 5

Mecânica: é fato que a variante do SCe utilizada no Sandero cairia como uma luva, mas a do Kwid não fica tão atrás e melhorou com as atualizações promovidas. O câmbio de cinco marchas é bom, assim como a suspensão e os freios, mesmo não sendo os mais refinados do momento. Sendo curto e grosso, é um carro de entrada e não se pode esperar muito mais do que há. Nota: 7

Tecnologia: a lista de equipamentos da versão Intense não é ruim e não deve em nada para a top Outsider, diferenciada apenas pelos detalhes visuais a mais, porém, o Kwid ainda peca pela central multimídia extremamente defasada, o sistema de som pobre e a imagem da câmera de ré que quebra um galho, não mais do que isso. Ainda assim, analisando os preços dos 0km atualmente, você não encontra muitas opções na mesma faixa de preço e uma lista de equipamentos parecida. Nota: 8

Conveniência: só há uma porta USB em todo o interior e luzes de cortesia apenas na frente. De igual modo, só há espelho no quebra-sol do passageiro. Ok, não dá para exigir mimos de um carro pensado para ser barato, entretanto, certos detalhes não encareceriam tanto assim o projeto e melhorariam o convívio com ele. Nota: 3

Acomodações: os bancos do Kwid conseguem ser confortáveis e há até ajuste de altura dos cintos dianteiros, porém, um ajuste de altura e/ou profundidade para o volante fez falta, bem como o de altura para o banco do motorista - ainda que fosse mínimo. Se duas pessoas mais altas viajarem na frente, apenas crianças conseguirão ter conforto nos bancos traseiros. Parece ruim, mas poderia ser bem pior dentro de um Fiat Mobi que é ainda menor do que o Kwid tanto em entre-eixos quanto em porta-malas. Nota: 6

Funcionalidades: é verdade que o Kwid tem algumas pobrezas que não vemos mais nos carros, mas acredite quando alguém disser que a grande maioria delas não impacta o uso diário em nada. O limpador único, por exemplo, tem braço pantográfico e atua com eficiência. Os três furos da roda também não são algo para se esquentar a cabeça; todo o hate da internet sobre isso é pura besteira. Nem o multimídia defasado se mostrou ruim de usar, pois funciona sem bugs ou travamentos. O que realmente incomodou no quesito funcionalidade foi o já citado computador de bordo defeituoso e as saídas centrais de ar condicionado que parecem não fazer diferença alguma na cabine. Como ambos são itens importantes, haverá uma penalidade de um ponto para cada um especificamente, reduzindo o que já não seria um 10 de qualquer modo. Nota: 5

Desempenho: antes de reclamar pela Renault não ter adotado o SCe mais forte do Sandero, lembre-se dos 820kg do Kwid e faça as contas para ver que as relações peso X potência e peso X torque do subcompacto são bem melhores que as do irmão maior. É evidente que isso não faz dele nenhum esportivo, contudo, não dá para reclamar de falta de força; sabendo usar, ele consegue ser bem esperto ou bem econômico quando necessário. É um carro com desempenho bastante adequado para seu preço e proposta. Nota: 9

Segurança: a Renault mandou muito bem ao trazer o controle de estabilidade como item de série para todas as versões, além das luzes diurnas, os quatro airbags (que nem o novo Duster possui) e os novos faróis que melhoraram a condução noturna. No único crash test que o Kwid passou pelo Latin NCAP em 2017, ele obteve três estrelas de cinco possíveis e superou o Fiat Mobi que ficou com apenas uma estrela no teste realizado no mesmo ano. Os protocolos estão mais rígidos e agora exigem equipamentos semiautônomos de segurança que ficaram completamente de fora do Kwid, mas a adoção do aguardado ESP deveria, em tese, manter as três estrelas do subcompacto em um novo teste atualizado. Vale lembrar que o modelo nacional possui reforços estruturais que não existem no indiano. Nota: 5

Custo X Benefício: com exceção do Fiat Mobi, o modelo que mais se aproxima do valor do Kwid Intense "Biton" no mercado dos 0km é o Volkswagen Gol, um projeto com mais de dez anos nas costas em vias de sair de linha e sem nenhum dos recursos de segurança presentes no franco-indiano. A lista de equipamentos do Kwid intermediário é imbatível nessa faixa de preço dos carros novos e, além disso, o conjunto mecânico consegue entregar desempenho ou economia adequados para a categoria. Para quem faz questão de um carro 0km, não precisa levar uma família de pessoas altas e não quer um veículo pelado, não há opção melhor do que ele. Nota: 7

Avaliação final: 64/100

Lanternas novas ficaram de fora da versão de entrada Zen.

Considerações finais

Apesar das evoluções, o Kwid 2023 continua sendo o produto que sempre foi: não tem muito para ser admirado como CARRO propriamente dito, mas atende ao que se propõe e melhorou em pontos importantes que ajudaram a reduzir um pouco a incômoda certeza de se estar em um veículo do mais baixo custo possível. Seu desempenho é adequado e ele consegue ser ainda mais econômico do que antes, porém, se tivemos evoluções de um lado, também tivemos retrocessos de outro.

As falhas citadas na matéria não deveriam acontecer em um carro tão novo e, segundo nossas aferições, se mostraram problemas de projeto em si e não de uma unidade específica; ser barato não significa que pode apresentar defeitos, especialmente porque nenhum deles aconteceu nos carros testados anteriormente por nós. Ainda assim, as melhorias fizeram bem e colocam o Kwid reestilizado como uma opção para quem quer entrar por cima no mundo dos zero-quilômetros.


Concorrentes diretos (pela categoria hatch subcompacto): Fiat Mobi Like ou Trekking

Concorrentes indiretos (entre 63 e 73 mil reais): Fiat Argo 1.0, Volkswagen Gol 1.0, Hyundai HB20 Sense


Ficha técnica

Motor: 1.0, 3 cilindros em linha, 12 válvulas, flex
Potência: 71cv (E) / 68cv (G) a 5.500rpm
Torque: 10kgfm (E) / 9,4kgfm (G) a 4.250rpm
Transmissão: manual de cinco velocidades
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 165/70 R14
Comprimento: 3,68m
Largura: 1,57m
Entre-eixos: 2,42m
Altura: 1,47m
Peso: 820kg
Porta-malas: 290l
Tanque: 38l

0 a 100km/h: 13,7 segundos

Velocidade máxima: 158km/h


Matéria em vídeo



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