terça-feira, 5 de abril de 2022

2022 Jeep Commander Limited TD380 2.0 AT9; pensando nos próximos

Passamos sete dias com a configuração intermediária do novo Jeep de sete lugares. Modelo justifica lista de espera com preço competitivo e rara configuração de sete lugares.

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

Nosso carro de teste veio na cor Cinza Granite sem qualquer custo extra assim como as demais.

Já reparou que o mercado automotivo brasileiro não pensa muito em famílias numerosas? Se você divide seu teto com mais de quatro pessoas e procura um carro para levar todo mundo bem acomodado, suas únicas opções há alguns anos seriam um 0km de baixo custo (não de baixo preço) como o Chevrolet Spin, um 0km caríssimo de muitas centenas de milhares de reais ou algum carro usado. É verdade que o cenário não melhorou muito, porém, mais uma vez, a Stellantis viu a oportunidade de abocanhar um nicho que estava sendo pouco explorado no país e lançou um produto que consegue se posicionar no meio-termo.

Assim nasceu o Jeep Commander, um modelo inédito na gama da marca que até traz um nome conhecido nos EUA, mas que não tem absolutamente nenhuma ligação com o antigo Commander comercializado por lá nos anos 2000. O "nosso" é fabricado no Brasil e se baseia no Compass, dividindo sua plataforma e mecânica, mas trazendo visual próprio e mais tecnologia embarcada. A montadora nos cedeu um exemplar da versão Limited, a de entrada, equipada com o conjunto mecânico mais caro para avaliarmos por uma semana. Seu preço atual é tabelado em R$267.209.

O teto do Commander sempre vem na cor preta, independentemente da cor da carroceria.

"Parecido" não é sinônimo de "igual"

Construído sobre uma variante alongada da plataforma Small Wide, o Commander tem suas semelhanças inevitáveis com o Compass, mas a Jeep tratou de dar personalidade própria a ele desde o design, apostando em linhas que aproximam o novato dos carros maiores e mais caros da fabricante como o Grand Cherokee e o Wagoneer. Prova disso são os faróis horizontais com refletores triplos decorados por frisos prateados, grade dianteira em preto brilhante e luzes diurnas/de posição em uma posição mais baixa, interligadas por um friso horizontal.

De lado, novamente vemos referências aos irmãos maiores como o friso cromado que começa na coluna A e vai até a D, seguindo o mesmo contorno da peça do Grand Cherokee; a versão Limited traz toda a parte inferior dos para-choques e saias em preto fosco, enquanto a mais cara Overland traz tudo na cor da carroceria. Por fim, na traseira, as lanternas totalmente em LED são estreitas e decoradas por um aplique cromado que, adivinha, é outra referência aos Jeep mais caros. Resumindo a ópera, o Commander mesclou elementos variados em uma receita que deu certo e chamou atenção nas ruas.

Motor 2.0 turbodiesel é um velho conhecido do cliente Stellantis e continua fazendo bonito.

Um pouquinho a mais não faz mal

Antes do lançamento oficial do Commander, eram fortíssimas as especulações de que o utilitário receberia uma versão mais poderosa do conhecido 2.0 turbodiesel, programada para gerar até 200cv de potência máxima, a fim de lidar melhor com o peso extra da carroceria alongada. No final das contas, ele até recebeu um incremento sim, mas no torque máximo: enquanto a potência se manteve nos 170cv, o torque saiu dos 35,7kgfm como no Fiat Toro e no Compass para 38,7kgfm, o que explica a nomenclatura TD380 exclusiva do Commander - Turbo Diesel 380Nm (Newton-metro).

Munido do tanque de ARLA32, composto químico que reduz a emissão de poluentes, o 2.0 turbodiesel é acompanhado da mesma transmissão automática de nove marchas que o cliente Jeep já conhece, assim como o sistema de tração integral que funciona como um AWD na maior parte do tempo, mas que conta com tração reduzida (4WD LOW) e integral permanente (4WD LOCK) disponíveis ao toque de um botão. É evidente que o Commander não se comporta como um esportivo, mas o conjunto leva o SUV médio-grande com bastante eficiência e ainda bebe pouco: nossa média geral foi de 15,5km/l em percurso misto e ar condicionado ligado na maior parte do tempo.

Cabine tem o mesmo visual do Compass, mas o acabamento é bem mais caprichado.

Alto escalão

Outro ponto no qual o Commander se diferencia dos Jeep mais baratos é na oferta de equipamentos. Não há opcionais, o que significa que tudo que você vê nele é item de série. A lista da versão Limited contempla: conjunto ótico inteiramente em LEDs, banco do motorista com ajustes elétricos, central multimídia com GPS nativo e espelhamento para smartphones sem fio, ar condicionado de duas zonas com ajuste de ventilação para a segunda fila, painel de instrumentos 100% digital, sensores dianteiros e traseiros de estacionamento, Park Assist, tampa do porta-malas totalmente elétrica, rodas aro 18, entre muitos outros.

Também há o conjunto de condução semiautônoma que a Jeep trouxe a seus últimos lançamentos, englobando itens como piloto automático adaptativo (além do comum que também está presente), assistente de permanência em faixa com correção de direção, farol alto automático, sistema de frenagem autônoma de emergência e leitor de placas de trânsito. Por fim, os sete airbags (frontais, laterais, de cortina e de joelho do motorista) e o monitoramento de pontos cegos fecham a tampa de um pacote que só não é melhor porque a marca podia ter oferecido o teto solar panorâmico como opcional da versão. O equipamento só está presente na Overland.

Vale ressaltar que não há diferenciação de equipamentos entre as motorizações, ou seja: a Limited 1.3 turboflex terá os mesmos equipamentos da Limited 2.0 turbodiesel e o mesmo vale para a Overland e suas opções mecânicas. As diferenças ficam para os equipamentos relacionados a cada conjunto mecânico como, por exemplo, os modos de uso da tração - no caso do motor 2.0, é claro.

Commander é imponente e faz bastante presença nas ruas.

Sinal dos tempos

Se você pegar um SUV de sete lugares e motorização diesel fabricado há pelo menos uns 10 anos, fatalmente terá um veículo de comportamento vagaroso, dinamicamente fraco, deveras incômodo de se usar na cidade e não muito econômico. Felizmente, os tempos são outros e o Commander permite esquecer tudo isso: graças a sua construção do tipo monobloco, o utilitário mais parece um carro de passeio convencional, uma sensação que só é quebrada pelo barulho característico (e bastante agradável, vale acrescentar) do motor diesel.

Claro que é preciso lembrar que estamos em um veículo 36cm mais comprido, 7cm mais alto e 4cm mais largo do que um Compass, mas acredite: ao volante, o Commander não parece ter o tamanho que tem. Em baixa velocidade, o SUV anda com esperteza graças ao torque todo entregue já aos 1.750rpm e a direção levíssima com funcionamento progressivo, sendo capaz de vencer todos os obstáculos da pista com uma suavidade de fazer inveja; em alta, o comportamento dinâmico também impressiona, o que se deve em boa parte ao sistema de braços independentes da suspensão traseira.

Banco do motorista traz ajustes elétricos em contraste com os manuais do banco do passageiro.

Por dentro, mais uma vez, o Commander rompe com o passado da maioria dos utilitários desse tipo. Apesar do layout geral ser o mesmo do interior do atual Compass, o acabamento do SUV médio-grande é mais caprichado com bastante couro nos bancos e portas, além de porções em suede (uma espécie de camurça sintética) nos bancos e no centro do painel, em um acabamento horizontal que pega toda a extensão da peça. O famigerado "soft touch" também está presente na parte superior das portas dianteiras e do painel e, para contribuir com o toque diferenciado, há detalhes em bronze brilhante e costuras na mesma tonalidade. O ambiente é sóbrio e muito bonito, mas merecia um sistema de iluminação ambiente para ampliar a sensação de requinte.

Dotado de um entre-eixos de 2,79m, o Commander acomoda muito bem os ocupantes da primeira e segunda filas de assentos. A segunda fileira traz bancos bipartidos que podem ser deslocados em até 14cm para frente, a fim de melhorar o espaço na terceira fila, além de contar com duas saídas de ar condicionado, uma porta USB e uma tomada de 12 volts. Já a terceira fileira até consegue acomodar adultos, mas com um aperto que impossibilita passeios mais longos devido ao desconforto e a falta de saídas de ar condicionado - há apenas uma porta USB e luzes de cortesia. O deslocamento da segunda fila melhora a acomodação das pernas, mas a cabeça continua muito próxima do teto, o que faz do espaço um tanto claustrofóbico, sendo mais indicado para crianças.

Os bancos da terceira fila são mais adequados para crianças.

Além do espaço na terceira fila de assentos, outras coisas decepcionaram no Commander. Os faróis, por exemplo, embora sejam teoricamente superiores aos do Compass, pareceram mais fracos no uso geral, inclusive na luz alta cujo facho luminoso quase não faz diferença em relação a luz baixa - que também não é dos melhores. A Jeep também não melhorou o funcionamento de alguns recursos de segurança como o farol alto automático e o assistente de frenagem de emergência: enquanto o primeiro atua com muito atraso e incomoda os outros motoristas, o segundo é histérico e assusta a todos quando funciona por conta do alerta sonoro exageradamente alto e repetitivo. Não precisava disso.

Em contrapartida, mesmo trazendo pneus voltados 100% para o asfalto, o Commander se saiu muito bem em todas as circunstâncias às quais foi submetido e só exige recursos mais sofisticados para auxiliar quando é extremamente necessário. Na grande maioria dos casos, basta deixar o seletor de modos de condução na posição AUTO e dirigir; como de costume nessa caixa, o uso cotidiano conta com oito velocidades, pois a primeira marcha é exclusiva da tração reduzida. Da 2ª marcha até a 9ª, todas podem ser usadas normalmente, sendo que a 9ª é do tipo overdrive e serve para reduzir o giro do motor em viagens, melhorando o consumo de combustível.

Faróis em LED deixaram a desejar na condução noturna.

Avaliação geral

Design: o desenho do Commander não esconde existir um parentesco com o Compass, mas também deixa claro que é um produto superior. No geral, é um SUV bonito e bem resolvido que atrai olhares nas ruas, mas parece comprido demais para ser chamado de harmonioso; o teto poderia ser um pouco mais alto para quebrar isso e, como consequência, melhorar as acomodações no geral, principalmente na terceira fila. Nota: 9

Interior: visualmente, por dentro, o Commander é a mesma coisa do Compass. Isso é ruim no sentido de faltar personalidade, mas é bom no sentido de ser uma cabine bonita e bem construída, especialmente aqui onde o acabamento é superior. As porções em suede e os detalhes em bronze deram o toque de sofisticação que o cliente desse tipo de carro procura, mas uma iluminação ambiente fez falta. Outros carros mais baratos trazem o recurso e é difícil achar quem não goste. Nota: 9

Mecânica: nós sempre rasgamos elogios ao 2.0 turbodiesel da Stellantis e aqui não será diferente. Mais uma vez, o trio que engloba esse motor + a transmissão automática de nove marchas + o sistema de tração integral seletiva mostrou seus muitos predicados, garantindo ótimos níveis de desempenho e economia. Há freios a disco nas quatro rodas e suspensão independente tanto na dianteira quanto na traseira, como tem que ser. É uma pena que a plataforma Small Wide seja tão pesada, mas o Commander ainda consegue ser mais leve do que os típicos SUVs com essa proposta. Nota: 10

Tecnologia: atualmente, o Commander é um dos produtos mais caros da Jeep no Brasil e, mesmo nessa versão mais barata, não faz feio quando o assunto é tecnologia embarcada. O fato de não ter opcionais é um ponto a favor, mas a marca devia ter oferecido, no mínimo, o teto solar panorâmico para os que gostam do recurso e não querem (ou não podem) levar a variante Overland. Ainda assim, o pacote da Limited é muito bom e deixa pouco espaço para faltas. Nota: 9

Conveniência: há portas USB para as três fileiras, carregador de smartphones por indução, luzes de cortesia até nos retrovisores externos, quebra-sóis com espelho e iluminação, luzes de cortesia no interior para as três fileiras, ajuste de ventilação do ar na segunda fila, porta-malas com acionamento totalmente elétrico, porta-objetos refrigerado abaixo do apoio de braço dianteiro... Enfim, é quase perfeito nesse aspecto. Seria nota 10 se tivesse saídas de ar para a terceira fila. Nota: 8

Acomodações: os bancos da primeira e segunda fila são bons. Trazem espaço mais do que adequado, apoio de braço funcional, porta-copos, saídas de ar... Todo o básico necessário. Já a terceira fila "sofre" mais um pouco e serve mais para crianças do que para adultos, sendo um pouco melhor do que os lugares traseiros dos famosos coupé 2+2. Como dissemos anteriormente, alguns centímetros a mais no teto e saídas de ar dedicadas a deixariam muito melhor. Falando do porta-malas, é excelente com a terceira fila abaixada e ínfimo com ela no lugar. Nota: 7

Funcionalidades: a grande maioria dos equipamentos do Commander Limited funcionou corretamente, sem travamentos ou bugs. Algumas coisas precisam melhorar como os já citados assistentes de farol alto automático e de frenagem de emergência, mas o restante se comportou como devia. O painel de instrumentos e a central multimídia são muito bons. Nota: 8

Desempenho: andando bem, bebendo pouco e vencendo os defeitos da pista como se mal estivessem ali, não tem como pontuar o Commander de outra forma. Para não dizer que é perfeito, o kickdown (redução automática de marchas conforme se afunda o pé no acelerador) é um pouco lento, mas é o preço de se ter tantas marchas disponíveis e não afeta a desenvoltura do carro. Nota: 10

Segurança: assim como o Compass do qual é derivado, o Commander é repleto de recursos de segurança tanto ativa quanto passiva e sua estrutura, teoricamente, é de alto nível graças aos 80% de aços de alta ou ultra-alta resistência. O grande problema é que tanto ele quanto o Compass jamais passaram por nenhum crash-test pelo Latin NCAP, o que nos impossibilita de saber como essa estrutura se sairia na prática. Se o Compass, pelo menos, tivesse passado, seria possível fazer uma ideia, mas essa será uma incógnita que só o tempo poderá responder. Pontuará pela farta presença dos recursos de seguranças, mas não ganhará mais pontos enquanto não passar pelo teste estrutural. Nota: 6

Custo X Benefício: a motorização diesel acrescida do sistema de tração integral seletiva e a transmissão de nove marchas faz o Commander Limited custar exatos R$52.191 a mais do que o Limited turboflex. É muito, mas muito dinheiro que, para o consumidor geral, só valerá a pena se a pessoa for do tipo que usa muito o carro e/ou fica bastante tempo. A combinação de economia + desempenho do turbodiesel é imbatível e, paralelo a isso, ele se torna bem mais valente e usável por conta do sistema de tração - que, novamente, só vale a pena se a pessoa fizer questão ou precisar dele. O fato é que o Limited turbodiesel é muito bom, mas não o bastante para valer 52 mil reais a mais. Ainda assim, em vista de outros SUVs a diesel com sete lugares, é uma opção que deve ser considerada por já entregar todos os atributos que esse cliente procura, mesmo não sendo construído por carroceria sobre chassi. Nota: 6

Avaliação final: 82/100

Emblema TD 4x4 na tampa traseira é a única diferença visual entre o Limited diesel e o flex.

Considerações finais

Assim como os Fiat Toro e novo Strada, o Jeep Commander se mostra mais uma jogada muito certeira da Stellantis em um nicho que vinha sendo pouquíssimo explorado no Brasil. O modelo vem crescendo nos índices mensais de vendas e, após os sete dias e quase 800km que rodamos com ele, é possível entender os motivos dessa ascensão. É uma pena que a melhor mecânica para ele custe quase um carro popular de diferença, mas não pense que o 1.3 turboflex fica muito atrás.

Também não pense que o Commander rivaliza com nomes consagrados como Toyota SW4 e Mitsubishi Pajero Sport, pois essa rivalidade não existe por dois fatores-chave: precificação e construção. Enquanto toda a internet insiste nos comparativos, não dá para fazê-los: a diferença de preços entre eles, em média, é de mais de 100 mil reais e o tipo de construção é bem diferente - o monobloco do Commander o faz bem mais urbano do que os utilitários japoneses, assim como seu porte menor que o torna mais amigável para o uso diário.

Em suma, o Commander nasceu para quem precisa de mais espaço para toda a turma e não quer ou não pode pagar uma fortuna pelas outras opções de sete lugares do nosso mercado. Ele reúne todas as qualidades dos Jeep modernos e tem poucos pontos a serem revisados - poucos, mas importantes. Um dos principais é cuidar melhor da terceira fila de assentos, uma vez que sua proposta principal é a de pensar nos próximos.


Concorrentes diretos (pela categoria SUV de sete lugares): Mercedes-Benz GLB 200 Advance, CAOA Chery Tiggo 8 TXS, Mitsubishi Outlander HPE ou HPE-S

Concorrentes indiretos (entre 250 e 280 mil reais): Peugeot 3008 Griffe ou GT Pack, Ford Bronco Sport Wildtrak, Lexus UX250h Dynamic, Audi Q3 Prestige Plus ou Black, BMW X1 sDrive 20i GP Plus


Ficha técnica

Motor: 2.0 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, diesel
Potência: 170cv a 3.750rpm
Torque: 38,7kgfm a 1.750rpm
Transmissão: automática de nove marchas
Tração: integral seletiva 4WD
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 235/55 R18
Comprimento: 4,76m
Largura: 1,85m
Entreeixos: 2,79m
Altura: 1,70m
Peso: 1.885kg
Porta-malas cinco lugares: 661l
Porta-malas com sete lugares: 233l
Carga útil: 540kg
Tanque: 61l

0 a 100km/h: 11,8 segundos
Velocidade máxima: 196km/h


Matéria em vídeo



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