Continuando a pequena série de posts onde quero compartilhar momentos épicos da minha carreira de jornalista, trago aos amigos uma memória inesquecível com um carro alemão que me surpreendeu... e muito.
Texto e fotos por Yuri Ravitz
Este é um daqueles convites que a gente aceitaria mesmo estando doente, de cama, impossibilitado de sair. Quem concorda, respira! |
Faz bastante tempo desde o último conteúdo que publiquei para a série "Memórias do Ravito", idealizada para compartilhar com você, amigo e amiga, alguns dos momentos mais legais e inesquecíveis da minha carreira de jornalista automotivo. No primeiro da série, publicado em setembro do ano passado, falei sobre meu contato com o raríssimo Toyota GT86 e de como foi o fim de semana inteiro que passei com ele. Desta vez, quero falar de uma das experiências mais incríveis que tive com uma das minhas marcas favoritas. Vamos lá!
Ver a minha placa, da minha marca, estampando um carro desses foi uma emoção tremenda que me dá orgulho até hoje! |
Um convite irrecusável
Minha história com o Mercedes-AMG C43 começou no Salão do Automóvel de 2016, realizado no mês de novembro. Na época, bem antes do evento começar, eu já mantinha contato com um dos consultores da Itatiaia Mercedes, revenda autorizada da marca estabelecida no estado de São Paulo, através da antiga (e extinta) conta do Volta Rápida no Instagram. Com a proximidade do evento, marcamos de nos conhecer pessoalmente e conversar sobre possibilidades de parcerias, negócios e coisas que fossem boas para ambos os lados.
Naquele momento, a grande novidade da Mercedes para o Brasil era o lançamento do C43 AMG nas carrocerias coupé e sedan, marcando a introdução de um esportivo de menor calibre para quem achava o C63 muito exagerado - ou muito caro. Naturalmente, todos os holofotes estavam voltados para o novato germânico e, diante disso, pouco tempo depois do Salão, surgiu o convite da Itatiaia para que eu fosse até a sede deles passar um dia inteiro conhecendo e testando o carro nas ruas, algo que eu ainda nem fazia com os modelos de imprensa como atualmente. É lógico que eu aceitei sem pensar duas vezes e teria aceitado mesmo que pensasse outras quinze (rsrsrs).
Saí do RJ na madrugada de sexta para sábado, pois, havíamos combinado tudo para o dia 21 de janeiro e eu fui de ônibus, numa viagem que leva cerca de seis horas por um trecho de pouco mais de 400km da rodovia Presidente Dutra (BR-116) entre Rio de Janeiro e São Paulo, ambas capitais. Cheguei cedo na Rodoviária do Tietê e fui buscado em um CLA250 pelo então consultor que era meu contato na Itatiaia. Como nunca havia andado de CLA, a experiência já começou a ser interessante logo ali, mas eu não parava de pensar no que viria dentro de poucas horas.
Andamos bastante até a cidade de Barueri, no bairro de Alphaville, onde fica a sede da Itatiaia e, ao chegarmos na loja, pude ver a "nave" que me aguardava estacionada na fachada, próximo à porta de entrada. Era um C43 AMG preto, na carroceria coupé, e logo fiz algo que tenho por costume até os dias de hoje: ficar olhando e repetindo mentalmente que "não acredito que esse carrão tá reservado só pra mim". Mas antes da diversão, primeiro vem a obrigação: entrei no showroom e fui devidamente apresentado ao corpo de funcionários, todos bastante gentis e receptivos, o que me fez entender a boa fama da concessionária e lamentar o porquê de não haver mais empresas assim.
Era muito detalhe para reparar, mas eu só queria saber como e o quanto o bichão andava... |
Alemão nervoso
O carro foi cedido para mim no regime de comodato, a modalidade padrão de empréstimo de carros a veículos de imprensa - trata-se de um empréstimo gratuito por um tempo pré-determinado/acordado entre as partes envolvidas em que você fica responsável pelo bem, devendo entregá-lo nas mesmas boas condições em que recebeu; só não é necessário abastecer para devolver. Assinado o contrato e de posse da chave do C43, o então gerente da loja designou um dos consultores para ir comigo e me auxiliar no que eu precisasse, o que foi vital para o sucesso da experiência, visto que eu não fazia ideia de como andar por SP e estava em um carro que nunca havia tido contato antes.
A Itatiaia me deu total liberdade para levar o carro onde quisesse e fazer o que bem entendesse, porém, como eu não sabia andar por lá, o consultor que me acompanhava sugeriu que fizéssemos uma pequena viagem pelas filiais da Itatiaia, sendo uma em São Paulo capital e a outra em Sorocaba. Como estava com o tanque cheio, fomos primeiro até a loja de São Paulo que era um trajeto mais curto, o que me daria tempo suficiente de me familiarizar com o C43 e suas inúmeras "parafernalhas" tecnológicas, além de seu desempenho muito acima da média.
Já na loja de São Paulo, no bairro do Brooklin. Toda parada era uma fotinha do C43 com a nossa eterna plaquinha. |
Aos que não conhecem, o C43 AMG foi o "segundo escalão" de alta performance da família Classe C nas gerações W202 (a primeira) e W205 (a quarta e penúltima). Embora não tenha o pedigree do C63 e sua filosofia "um homem, um motor", não pense que ele não tem poder de agradar: seu motor 3.0 V6 biturbo despeja até 367cv e 53kgfm nas quatro rodas e é controlado por uma caixa automática de nove marchas. Na ocasião do teste com o C43, eu já havia tido experiências com carros de alta performance, mas nunca por tanto tempo e com tanta liberdade de percurso, então, foi uma experiência duplamente prazerosa e desafiadora.
Minha primeira surpresa foi a suavidade do C43 quando é dirigido normalmente pelas ruas de uma cidade qualquer. Imaginava que um carro com tanto desempenho e grandes rodas aro 19 fosse indigesto no percurso que é feito diariamente por tantas pessoas, contudo, ele se mostrou tão pacato e confortável quanto um C180 comum. Confesso que, mesmo estando em modelos que podem andar tanto assim, gosto de colocá-los até mesmo nessas condições mais cotidianas e ver como se comportam, além de olhar as reações dos curiosos e entusiastas nas ruas diante da "máquina" que se destaca das outras no trânsito. Acredite: carros legais não precisam estar em alta velocidade para serem legais.
Cabine do C43 mantém a simplicidade e a alta qualidade dos demais Classe C. |
Encerrada a visita no Brooklin, fui orientado a seguir para a loja de Sorocaba que ficava a cerca de 100km do ponto em que estávamos. Era hora de levar o C43 para a rodovia e ver como ele se comportava fora das algemas urbanas; ok, não temos nenhuma autobahn no país (infelizmente), porém, é bem melhor de se explorar um carro na estrada do que na cidade, não é? Pois bem... Pegamos a rodovia Castelo Branco (SP-280) e, diante do trânsito surpreendentemente livre, pude conferir melhor o comportamento do coupé alemão em seus variados modos de condução.
Tenho certeza que, em algum momento, eu extrapolei algum limite de velocidade, pois, confesso não ter mantido os olhos no velocímetro o tempo todo, mas procurei ter atenção e cuidado para não transformar a experiência em um pesadelo - até porque é válido lembrar que, em um comodato de veículo, o comodatário também fica responsável pelas multas que faz. O importante é que deu para ver a rapidez das trocas da caixa 9G-TRONIC e o ronco maravilhoso do V6 que, mesmo sobrealimentado, produz uma melodia que se mostra digna da sigla AMG. Em suma: que carro!!!
Há muito conforto para os ocupantes dianteiros do coupé. Atrás, só cabem crianças. |
Chegando em Sorocaba, entramos rapidamente na cidade para almoçar e visitar a última filial da Itatiaia, além de ver algumas máquinas como uma dupla de Ferrari 458 Spider, ambas amarelas que eu, burramente, não fotografei. Terminados os compromissos, voltamos para a Castelo Branco rumo a Barueri, a fim de retornar para a sede e gravar o C43 para o YouTube. Claro que não perdi a oportunidade de dar mais algumas esticadas para sentir o poder de fogo do alemão nervoso...
De volta à loja, eu ainda tinha até às 18 horas para poder fazer o que quisesse com o C43 e o gerente insistiu, mas preferi posicionar o carro no pátio para gravar o vídeo de detalhes com ele e ir embora para voltar ao RJ ainda no mesmo dia. Por mais que a liberdade de estar com o carrão e a oportunidade sejam incrivelmente maravilhosas, não escondo de ninguém que sempre fico com medo de algo ruim acontecer: acidente, assalto... É uma responsabilidade muito grande com um bem muito caro e procuro sempre ter isso em mente, não abusando e respeitando a confiança que depositam em meu trabalho.
Como já havia feito tudo o que queria e testado o carro do jeito devido, não tinha razão para colocar novamente o C43 na rua e ficar rodando por aí sem rumo ou propósito. Diante disso, agradeci imensamente ao convite épico e acabei voltando tempos depois para outras experiências que contarei para você, amigo e amiga, em outro Memórias do Ravito. Fica comigo que você vai gostar! ;)
Agradecimentos especiais a todos da Itatiaia Mercedes, principalmente aos queridos Ricardo Fanin, Cleber Abrahão e Aderaldo Fernandes por todo o apoio nessa empreitada.