Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Nissan do Brasil
Nosso carro de teste veio na cor Azul Elétrico, disponível por R$1.700 à parte. |
Os SUVs compactos se tornaram as "meninas dos olhos" das montadoras. Sendo produtos altamente lucrativos, eles passaram a concentrar boa parte dos esforços de pesquisa e desenvolvimento das marcas, tornando-se vitrines do que elas passarão a oferecer em seus demais produtos quando se fala de estética, tecnologia e mecânica. Eles se tornaram tão importantes que, em alguns casos, chegam a ser os carros mais comercializados de uma marca X ou Y e, diante disso, é natural que cada lançamento traga as últimas palavras do setor em equipamentos ou motorização.
O consumidor já percebeu isso e vem cobrando cada vez mais, das montadoras, essa modernização dos novos produtos que chegam ao mercado. Quando ela não ocorre como o esperado, se tornou normal a enxurrada de publicações polêmicas de "influenciadores" questionando o porquê disso ou daquilo, mas o fato é que as empresas sabem o que fazem e para quem estão vendendo/querem vender seus produtos. Nossa avaliação da vez é com um modelo que se consolidou no Brasil do seu jeitinho próprio e, na última atualização, ficou mais moderno, contudo, sem desapegar das raízes mecânicas: trata-se do Nissan Kicks reestilizado para 2022.
As novidades visuais do Kicks se concentram na parte externa. Começando pela dianteira, a grade central cresceu e ganhou apliques que, na versão do nosso carro testado, trazem acabamento em preto brilhante e/ou cromado. Ela se estende até a porção inferior do para-choque que também é novo e traz molduras em preto brilhante para os novos faróis de neblina nas extremidades - feitos por projetores de LED.
Os faróis principais também são totalmente em LEDs nessa versão e, finalmente, trazem luzes diurnas embutidas, um equipamento que a Nissan custou a adotar no Kicks, além de ajuste elétrico de altura do facho. Na traseira, as lanternas trazem LEDs para luzes de freio e posição, além de um aplique vermelho que as interligam entre si; por fim, o para-choque também é novo e traz mais porções na mesma cor da carroceria.
Motor continua sendo o 1.6 aspirado flex, única opção do Kicks desde os primórdios. |
...e o que não mudou
Quando as primeiras notícias de reestilização do Kicks brasileiro começaram a circular, muito se especulou sobre quais motores a Nissan adotaria: turbinado, híbrido, híbrido-leve, totalmente elétrico... Nenhum deles se concretizou - pelo menos, até agora. A montadora manteve o conhecido 1.6 naturalmente aspirado de quatro cilindros e flex, capaz de gerar até 114cv e 15,5kgfm com qualquer combustível e, nessa versão, comandado pela mesma transmissão automática CVT de sempre, dotada de simulação de seis marchas com o modo Sport ativado. O Kicks vai de 0 a 100km/h em 12 segundos e atinge velocidade máxima de 176km/h.
Enquanto a concorrência tem investido pesado em sobrealimentação, a Nissan optou por manter o bloco aspirado, talvez de olho em uma clientela mais conservadora e que já conhece/gosta do comportamento mais pacato do Kicks. Não sobra desempenho, mas o 1.6 dá conta do carro e, de quebra, bebe pouquíssimo: conseguimos excelentes 21,1km/l de pico de economia, sendo que o pico de consumo foi de 12,7km/l e a média geral foi de 16,8km/l com gasolina no tanque, uso alternado de ar condicionado e de uma a três pessoas a bordo.
Cabine não sofreu alterações, mas pode receber couro cinza como opcional desta versão. |
Tempero hi-tech
A versão Exclusive é a mais cara da linha e pode ficar ainda mais recheada com o chamado Pack Tech, presente no nosso exemplar de teste. A lista de itens de série do Kicks top de linha contempla itens como: faróis Full LED com ajuste elétrico de altura e acendimento automático, faróis de neblina em LED, seis airbags, ar condicionado digital, volante multifuncional com ajuste de altura e profundidade, painel de instrumentos parcialmente digital, chave presencial com partida por botão, câmeras 360º, central multimídia com espelhamento para smartphones, sistema de som da Bose com 8 alto-falantes (sendo dois no encosto de cabeça do motorista), acabamento interno em couro, sensores traseiros de estacionamento, entre outros.
O pacote Tech acrescenta farol alto automático, assistente de frenagem autônoma de emergência, alerta de mudança indevida de faixa e de tráfego traseiro, bem como sistema de monitoramento de pontos cegos. Pelo preço de R$139.490, o Kicks Exclusive é bem equipado e melhora mais ainda com o pacote Tech por R$4.500, entretanto, comete alguns erros estúpidos como a falta de saídas traseiras de ar condicionado, de portas USB para os passageiros de trás e de luzes de cortesia para os ocupantes traseiros, itens presentes até mesmo no Versa de entrada que custa muito menos. Ainda assim, o Kicks Exclusive se posiciona como um bom custo X benefício para quem prioriza tecnologia embarcada no segmento.
Sistema de som da Bose com alto-falantes no encosto de cabeça é exclusividade do Kicks na categoria. |
Tradicionalmente moderno
Rodamos quase 1.000km com o Kicks reestilizado ao longo dos sete dias em que ficamos com ele e, apesar dos retoques e tecnologias, há um ponto forte e um ponto fraco em comum: ao volante, ele continua exatamente o mesmo Kicks que sempre foi. Quem esperava um motor novo e mais forte para melhorar as acelerações e situações que exigem força, por exemplo, vai se decepcionar. Por outro lado, quem sempre apreciou o SUV japonês por seu comportamento comedido pode comemorar a permanência do conjunto mecânico conhecido do público brasileiro. O motor 1.6 trabalha com a mesma suavidade encontrada na caixa CVT, cuja calibragem é quase tão boa quanto a das transmissões utilizadas por Honda e Toyota - muito melhor do que a calibragem adotada pela Renault, por exemplo.
Falando em mecânica, ele manteve a suspensão traseira por eixo de torção e os freios a disco somente na dianteira, mas a Nissan conta com dois recursos para melhorar o comportamento dinâmico em trechos que exigem mais da carroceria: o controle inteligente em curvas e o estabilizador inteligente de carroceria. O primeiro atua modulando a pressão dos freios em cada roda individualmente para auxiliar na manutenção da trajetória em curvas fechadas, enquanto que o segundo regula a atuação dos freios e distribuição de torque do motor em pavimentos irregulares para atenuar os impactos. Com esses recursos, o Kicks compensa sua falta de voracidade ao andar entregando um comportamento dinâmico primoroso e um rodar bastante confortável.
Kicks manteve as mesmas medidas do pré-facelift. |
Além do comportamento geral, a atuação dos sistemas de segurança também merece elogios pela eficiência. É raro um sistema de farol alto automático funcionar tão bem quanto o do Kicks, desativando o facho na hora certa para não incomodar o motorista adiante - ele demora para reativar, mas o mais importante é desativar no tempo devido e isso foi cumprido. Do mesmo modo, o leitor de faixas consegue ler até as marcações que não estão 100%, vibrando o volante e tocando um discreto aviso sonoro para alertar o motorista. Vale lembrar que tudo pode ser desativado no próprio painel, operado pelos comandos no volante.
Os alertas de tráfego traseiro e de frenagem autônoma de emergência também mostraram sua boa calibragem, entrando em atuação somente mediante o extremo necessário - sem a histeria do sistema da Stellantis, por exemplo. É uma pena que a Nissan tenha deixado o piloto automático adaptativo de fora, adotando apenas o piloto convencional; uma vez que o radar já se encontra no emblema, bastava aproveitar a solução para incluir o equipamento. Os faróis em LED também são bons, contudo, o feixe de farol alto deveria ser mais amplo - o facho de luz é muito estreito e limitado, fazendo pouca diferença em estradas escuras.
Depende. Até hoje, é possível ver inúmeros vídeos, matérias e posts de várias pessoas reclamando exageradamente da falta de um motor turbo, porém, acredite: essa falta só será sentida por quem, efetivamente, tiver o desempenho como prioridade. Pesando apenas 1.139kg nessa versão, o Kicks é um dos mais leves da categoria e chega a pesar menos do que alguns hatches compactos do mercado, o que ajuda o motor a se esforçar menos na hora de acelerar. É claro que, se tratando de um bloco aspirado, ele precisa ser esticado para entregar todo o seu potencial, todavia, a coisa não é tão grave quanto alguns fazem parecer.
O que realmente se mostra uma fraqueza do Kicks é a falta de determinados equipamentos muito elementares, como já destacamos acima, e o espaço interno que é apenas mediano - com quatro adultos altos a bordo, você já começará a ouvir reclamações de aperto. O SUV compacto japonês aposta em sua própria receita na busca por conquistar os clientes e o que a reestilização fez foi temperar essa receita, focando nos pontos fortes para reforçá-los ainda mais. Pena que alguns dos pontos fracos parecem ter sido ignorados no processo.
O Kicks nasceu como um SUV compacto voltado a quem não precisa tanto de espaço interno e não valoriza tanto desempenho, contudo, procura um carro econômico e gosta de tecnologia embarcada. O facelift do japonês manteve o mesmíssimo foco nesse tipo de cliente, trazendo boas novidades em comodidade e em modernidade - o sistema de som da Bose, a propósito, é fantástico e um diferencial interessante do modelo. O som é de alta qualidade e os alto-falantes no encosto de cabeça fazem parecer que o artista está tocando presencialmente, ecoando por todo o interior.
O ruim é que, além da falta de alguns mimos, o pequeno utilitário peca por "esquecer" quase que completamente dos passageiros traseiros, deixando-os sem itens básicos presentes em carros bem mais baratos. Ainda assim, nenhuma das faltas do Kicks 2022 é grave o suficiente para fazer dele uma compra ruim. Pode não ser um ótimo produto, mas é um bom carro que promete uma vida interessante, confortável e sem sustos.
Concorrentes diretos (pela categoria SUV compacto): Volkswagen T-Cross Comfortline 1.0 turbo ou Nivus Highline 1.0 turbo, Hyundai Creta Platinum 1.0 turbo, Renault Duster Iconic 1.3 turbo ou Captur Zen 1.3 turbo, Chevrolet Tracker Premier 1.0 turbo, Jeep Renegade Longitude 1.3 turbo, Citroën C4 Cactus Shine 1.6 turbo
O modelo avaliado não possui concorrentes indiretos entre 135 e 145 mil reais.
Motor: 1.6, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 114cv (E ou G) a 5.600rpm
Torque: 15,5kgfm (E ou G) a 4.000rpm
Transmissão: automática do tipo CVT
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 205/55 R17
Comprimento: 4,31m
Largura: 1,76m
Entre-eixos: 2,61m
Altura: 1,59m
Peso: 1.139kg
Porta-malas: 432l
Tanque: 41l
0 a 100km/h: 12 segundos
Velocidade máxima: 176km/h
Velocidade máxima: 176km/h
Matéria em vídeo
Fotos (clique para ampliar):