segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

2022 Volkswagen Taos Comfortline 1.4 AT6; estratégia é fundamental

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Volkswagen do Brasil

Nosso carro de teste veio na cor Cinza Indium que custa R$1.410 à parte.

O processo de criação de todo e qualquer automóvel passa por diversas etapas, mas creio que haja uma mais importante do que todas as outras: o planejamento estratégico. A que tipo de pessoa ele pretende atender? Em quais países ele será vendido? Como se posicionará no mercado e no portfólio da marca? Quem serão seus concorrentes? Poderíamos ficar até o segundo semestre fazendo todas as perguntas que um fabricante de automóveis precisa responder antes de lançar um novo carro.

A questão da estratégia é tão importante que, sendo boa, ela tem o poder de salvar um mau produto, ainda que por um breve período. Do mesmo modo, uma estratégia ruim pode condenar um bom produto ao ostracismo e o nosso primeiro teste de 2022 é com um carro que, na nossa opinião, é vítima de uma má estratégia. Estamos falando do Volkswagen Taos, um inédito SUV médio lançado no Brasil em maio do ano passado em duas versões: Comfortline e Highline. Passamos uma semana com a Comfortline, a mais barata, para tentar entender o porquê da novidade vender tão pouco.

Taos tem semelhanças com o Tiguan, seu irmão maior.

Conflitos de personalidade

O Taos nasceu para atuar em mercados onde a atual geração do Tiguan na carroceria mais curta, de cinco lugares, não é vendida como Brasil, Estados Unidos, entre outros países. Fabricado no México e na Argentina, o modelo dedicado ao mercado brasileiro vem da planta de Pacheco, no país vizinho, e foi pensado para substituir as versões mais baratas do Tiguan Allspace que estava sendo vendido somente na versão R-Line, mas que deu uma pausa temporária até a chegada do modelo reestilizado.

O problema é que o Taos repetiu a má estratégia do Tiguan Allspace: chegou em poucas versões, importado e com preço médio maior que o da concorrência, principalmente sem ter uma versão de entrada no mesmo valor dos rivais diretos - a saber, Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, ambos fabricados no Brasil com preços equivalentes ou até menores e com mais versões à venda. Para piorar, o Taos até traz algumas das mesmas qualidades presentes no Tiguan, porém, deixa de lado o diferencial dos sete lugares e adota um interior mais simples, algo que o cliente padrão desse tipo de carro não é de deixar passar.

Tudo isso se reflete nos baixos volumes de vendas mensais: até agora, o melhor mês do alemão foi Outubro/2021 com 1.682 unidades vendidas, bem abaixo das 2.999 unidades do Corolla Cross e mais distante ainda dos 6.097 Compass que a Jeep vendeu no mesmo período.

Motor do Taos é o mesmo que equipa outros Volkswagen e Audi.

Receita caseira

O Taos é equipado unicamente com um conjunto mecânico bastante conhecido do brasileiro, composto pelo motor 1.4 turbo "250TSI" e câmbio automático de seis marchas com trocas manuais na alavanca, nos paddle-shifters no volante e modo Sport. Gerando até 150cv e 25,5kgfm independentemente do combustível, ele leva o SUV de 0 a 100km/h em cerca de 9,2 segundos e atinge velocidade máxima de 195km/h, lembrando que a tração é sempre dianteira. Pesando 1.420kg nesta versão, o Taos é mais leve do que a maioria de seus concorrentes principais, o que ajuda a compensar o motor menos potente - mas entregando mais torque do que o 2.0 do Corolla Cross, por exemplo.

Entretanto, embora seja um motor eficiente e consagrado, a VW perdeu a oportunidade de estrear o novo 1.5 turbo que já equipa diversos modelos da marca lá fora, o que seria um diferencial interessante do Taos mediante os rivais principais, ambos equipados com motores novos e mais potentes. O mesmo vale para a transmissão que poderia ser a automática de oito marchas que equipa o Taos norteamericano, abrindo caminho do componente para o Brasil. O 1.4 TSI estreou no Brasil em 2013 com o Golf Mk VII, o que já faz quase dez anos e, mediante o tempo, começa a pedir novidades, principalmente quando falamos de um carro feito para disputar em um segmento tão concorrido.

Interior traz porções do tipo "soft touch" nas portas dianteiras e centro do painel.

Pacote padrão

O Taos Comfortline, apesar de ser um modelo de entrada, mira em modelos como o Compass Longitude e Corolla Cross XRE, ambas versões intermediárias. Sua lista de equipamentos de série contempla itens como: ar condicionado de duas zonas com saídas traseiras, faróis Full LED com ajuste elétrico de altura, rodas aro 18, painel de instrumentos 100% digital, seis airbags, central multimídia com espelhamento para smartphones sem fio, carregador de smartphones por indução, freio de estacionamento eletrônico, volante multifuncional, bancos dianteiros com ajuste de altura e lombar, sensores dianteiros e traseiros de estacionamento com câmera de ré, sensores de chuva e crepuscular, entre outros.

A Volkswagen oferece dois opcionais para ele: o Pacote Segurança que traz piloto automático adaptativo e assistente de frenagem de emergência com detecção de pedestres por R$5.280 e o Pacote Conforto que acrescenta bancos em couro com aquecimento para os dianteiros e ajustes elétricos para o banco do motorista por R$5.980. Sentimos falta de itens como um sistema de monitoramento de pontos cegos e do teto solar panorâmico, por exemplo, que é um opcional isolado da versão Highline e era oferecido no Tiguan Comfortline; ainda assim, a lista do Taos Comfortline consegue se nivelar com a dos concorrentes de preço próximo.

Bancos são confortáveis e acomodam bem até aos mais altos. Sobra espaço para todos os ocupantes.

Prazer de dirigir

Rodamos mais de 800km ao longo dos sete dias em que ficamos com o SUV e é no asfalto que ele mostra suas principais virtudes. Dotado de suspensão independente nas quatro rodas (ausente no Corolla Cross) e um vão livre do solo menor que o Compass, o Taos se comporta de maneira muito segura e agradável o tempo inteiro, apresentando pouquíssima rolagem de carroceria nas curvas e trazendo uma dirigibilidade típica de sedan médio, o que pode agradar aos órfãos do segmento. Sendo leve, também se move com esperteza e rapidez graças ao bom trabalho do conjunto mecânico; só não é melhor por conta de algumas ocasiões em que a transmissão segura marchas sem necessidade, algo que acontece mais entre a 2ª e a 3ª.

Dono do maior porta-malas e entre-eixos dentre os principais concorrentes, o Taos também é o que melhor atende aos que precisam de espaço para a família e bagagens. Mesmo com o banco do motorista ajustado para os 1,80m deste que vos escreve, há espaço de sobra no banco traseiro tanto para as pernas quanto para a cabeça. São 2,68m de entre-eixos no Taos contra 2,64m do Corolla Cross e 2,63m do Compass; já o porta-malas são 498 litros do Taos contra 440l do Corolla Cross e 410l do Compass. Colocamos quatro adultos + uma cadeirinha infantil no meio do banco traseiro e todos se acomodaram com conforto.

Cabine é espaçosa e oferece apoios de braço tanto na frente quanto atrás.

As quatro luzes de cortesia no teto, sendo duas na frente e duas atrás, são em LED assim como as dos quebra-sóis que também trazem espelhos para motorista e passageiro. Há três portas USB do tipo C, sendo duas na frente e uma atrás, e as portas dianteiras trazem compartimento para garrafas de até 1,5 litro. Ponto positivo para as alças de teto que a Volkswagen simplesmente suprimiu dos carros nacionais, contudo, manteve nos importados como o Taos. Os passageiros agradecem e aproveitam para lembrar da importância desse item.

Já o acabamento interno divide opiniões, sendo muito parecido com o do Jetta: há material macio ao toque (soft touch) nas partes superior e central das portas dianteiras, enquanto as traseiras são predominantemente em plástico. Também há uma faixa central no painel que percorre toda a peça horizontalmente no mesmo material macio, enquanto que o resto é no plástico tradicional. A iluminação dos botões e comandos é toda branca, porém, a VW não trouxe o interessante sistema de iluminação ambiente em LEDs que existe até no T-Cross Comfortline - um carro mais barato - que deixaria a cabine mais atraente diante dos rivais.

Assim como a maioria, o Taos é um SUV voltado ao uso 100% no asfalto.

Outro ponto no qual o Taos se destaca é o conforto de rodagem. O SUV consegue passar pelos inúmeros defeitos da pista sem dar batidas secas e absorvendo boa parte do que chegaria aos passageiros em um carro de construção mais simples. De igual modo, ruídos de rodagem dos pneus e do motor ficam onde devem: isolados, do lado de fora do carro. Viajando a 110km/h, o motor trabalha na casa dos 2.000rpm e só se torna audível nas reduções onde o câmbio eleva o giro do motor para realizar ultrapassagens ou subir ladeiras, por exemplo. O nível de consumo de combustível também agrada: abastecido com gasolina e um pouco de etanol, conseguimos 13,2km/l de média, sendo 15km/l o pico de economia e 11,6km/l o pico de consumo.

Um dos destaques do visual do Taos é a iluminação externa: com exceção das setas dianteiras, todas as luzes são em LED - faróis baixos e altos, luzes diurnas e de posição, freios, setas traseiras, laterais e ré. Os faróis principais são por refletores ao invés dos projetores direcionais da versão Highline, contudo, são igualmente eficientes e contam com ajuste elétrico de altura no multimídia. É um sistema idêntico ao utilizado nas versões convencionais do Jetta, mas que se mostrou bem melhor no Taos do que no sedan médio.


Considerações finais

As virtudes do Taos Comfortline são inquestionáveis e muito claras: é espaçoso, bom de dirigir, confortável e munido de todo o básico que a categoria pede nessa faixa de preço. O problema, novamente, é a estratégia adotada para ele; sendo um rival do Compass, a Volkswagen deveria ter investido na fabricação nacional do modelo, de modo a oferecer uma gama maior de configurações com valores mais atraentes. Também foi uma oportunidade desperdiçada de inaugurar novos conjuntos mecânicos que, mais uma vez, seriam um diferencial do alemão perante o americano e o japonês.

O que também poderia ser melhor é a ambientação do interior. É verdade que ele é o único nesse preço a trazer painel de instrumentos 100% digital, todavia, a presença do VW Play (que ainda não está isento de bugs) incomoda por ser o mesmo equipamento usado em carros bem mais baratos como a linha Polo, por exemplo, além do acabamento que merecia mais capricho, principalmente nas portas traseiras. Em suma: o Taos tem muito potencial para agradar aos que gostam de dirigir e precisam levar a família junto, mas precisa trabalhar se almeja posições mais altas nos rankings mensais de vendas.

Principais concorrentes diretos (na categoria SUV médio): Jeep Compass Longitude T270, Toyota Corolla Cross XRE, Mitsubishi Eclipse Cross GLS, Suzuki S-Cross 4STYLE-S Allgrip, Kia Sportage P.252

Concorrentes indiretos (pelo preço entre 160 e 180 mil reais): Honda HR-V Touring, Volkswagen T-Cross Highline, Mitsubishi Outlander Sport HPE 2WD ou AWD, Suzuki Jimny Sierra 4Style ALLGRIP automático, Vitara 4Sport ou 4Style


Ficha técnica

Motor: 1.4 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 150cv (E/G) a 5.000rpm
Torque: 25,5kgfm (E/G) a 1.500rpm
Transmissão: automática de seis velocidades com trocas manuais
Tração: dianteira
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 215/55 R18
Comprimento: 4,46m
Largura: 1,84m
Entre-eixos: 2,68m
Altura: 1,62m
Peso: 1.420kg
Porta-malas: 498l
Tanque: 51l

0 a 100km/h: 9,2 segundos
Velocidade máxima: 195km/h


Matéria em vídeo



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