Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Volkswagen do Brasil
Nosso carro de teste veio na cor Cinza Indium que custa R$1.410 à parte. |
O processo de criação de todo e qualquer automóvel passa por diversas etapas, mas creio que haja uma mais importante do que todas as outras: o planejamento estratégico. A que tipo de pessoa ele pretende atender? Em quais países ele será vendido? Como se posicionará no mercado e no portfólio da marca? Quem serão seus concorrentes? Poderíamos ficar até o segundo semestre fazendo todas as perguntas que um fabricante de automóveis precisa responder antes de lançar um novo carro.
A questão da estratégia é tão importante que, sendo boa, ela tem o poder de salvar um mau produto, ainda que por um breve período. Do mesmo modo, uma estratégia ruim pode condenar um bom produto ao ostracismo e o nosso primeiro teste de 2022 é com um carro que, na nossa opinião, é vítima de uma má estratégia. Estamos falando do Volkswagen Taos, um inédito SUV médio lançado no Brasil em maio do ano passado em duas versões: Comfortline e Highline. Passamos uma semana com a Comfortline, a mais barata, para tentar entender o porquê da novidade vender tão pouco.
O Taos nasceu para atuar em mercados onde a atual geração do Tiguan na carroceria mais curta, de cinco lugares, não é vendida como Brasil, Estados Unidos, entre outros países. Fabricado no México e na Argentina, o modelo dedicado ao mercado brasileiro vem da planta de Pacheco, no país vizinho, e foi pensado para substituir as versões mais baratas do Tiguan Allspace que estava sendo vendido somente na versão R-Line, mas que deu uma pausa temporária até a chegada do modelo reestilizado.
O problema é que o Taos repetiu a má estratégia do Tiguan Allspace: chegou em poucas versões, importado e com preço médio maior que o da concorrência, principalmente sem ter uma versão de entrada no mesmo valor dos rivais diretos - a saber, Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, ambos fabricados no Brasil com preços equivalentes ou até menores e com mais versões à venda. Para piorar, o Taos até traz algumas das mesmas qualidades presentes no Tiguan, porém, deixa de lado o diferencial dos sete lugares e adota um interior mais simples, algo que o cliente padrão desse tipo de carro não é de deixar passar.
Tudo isso se reflete nos baixos volumes de vendas mensais: até agora, o melhor mês do alemão foi Outubro/2021 com 1.682 unidades vendidas, bem abaixo das 2.999 unidades do Corolla Cross e mais distante ainda dos 6.097 Compass que a Jeep vendeu no mesmo período.
O Taos é equipado unicamente com um conjunto mecânico bastante conhecido do brasileiro, composto pelo motor 1.4 turbo "250TSI" e câmbio automático de seis marchas com trocas manuais na alavanca, nos paddle-shifters no volante e modo Sport. Gerando até 150cv e 25,5kgfm independentemente do combustível, ele leva o SUV de 0 a 100km/h em cerca de 9,2 segundos e atinge velocidade máxima de 195km/h, lembrando que a tração é sempre dianteira. Pesando 1.420kg nesta versão, o Taos é mais leve do que a maioria de seus concorrentes principais, o que ajuda a compensar o motor menos potente - mas entregando mais torque do que o 2.0 do Corolla Cross, por exemplo.
Entretanto, embora seja um motor eficiente e consagrado, a VW perdeu a oportunidade de estrear o novo 1.5 turbo que já equipa diversos modelos da marca lá fora, o que seria um diferencial interessante do Taos mediante os rivais principais, ambos equipados com motores novos e mais potentes. O mesmo vale para a transmissão que poderia ser a automática de oito marchas que equipa o Taos norteamericano, abrindo caminho do componente para o Brasil. O 1.4 TSI estreou no Brasil em 2013 com o Golf Mk VII, o que já faz quase dez anos e, mediante o tempo, começa a pedir novidades, principalmente quando falamos de um carro feito para disputar em um segmento tão concorrido.
O Taos Comfortline, apesar de ser um modelo de entrada, mira em modelos como o Compass Longitude e Corolla Cross XRE, ambas versões intermediárias. Sua lista de equipamentos de série contempla itens como: ar condicionado de duas zonas com saídas traseiras, faróis Full LED com ajuste elétrico de altura, rodas aro 18, painel de instrumentos 100% digital, seis airbags, central multimídia com espelhamento para smartphones sem fio, carregador de smartphones por indução, freio de estacionamento eletrônico, volante multifuncional, bancos dianteiros com ajuste de altura e lombar, sensores dianteiros e traseiros de estacionamento com câmera de ré, sensores de chuva e crepuscular, entre outros.
A Volkswagen oferece dois opcionais para ele: o Pacote Segurança que traz piloto automático adaptativo e assistente de frenagem de emergência com detecção de pedestres por R$5.280 e o Pacote Conforto que acrescenta bancos em couro com aquecimento para os dianteiros e ajustes elétricos para o banco do motorista por R$5.980. Sentimos falta de itens como um sistema de monitoramento de pontos cegos e do teto solar panorâmico, por exemplo, que é um opcional isolado da versão Highline e era oferecido no Tiguan Comfortline; ainda assim, a lista do Taos Comfortline consegue se nivelar com a dos concorrentes de preço próximo.
Bancos são confortáveis e acomodam bem até aos mais altos. Sobra espaço para todos os ocupantes. |
Prazer de dirigir
Rodamos mais de 800km ao longo dos sete dias em que ficamos com o SUV e é no asfalto que ele mostra suas principais virtudes. Dotado de suspensão independente nas quatro rodas (ausente no Corolla Cross) e um vão livre do solo menor que o Compass, o Taos se comporta de maneira muito segura e agradável o tempo inteiro, apresentando pouquíssima rolagem de carroceria nas curvas e trazendo uma dirigibilidade típica de sedan médio, o que pode agradar aos órfãos do segmento. Sendo leve, também se move com esperteza e rapidez graças ao bom trabalho do conjunto mecânico; só não é melhor por conta de algumas ocasiões em que a transmissão segura marchas sem necessidade, algo que acontece mais entre a 2ª e a 3ª.
Dono do maior porta-malas e entre-eixos dentre os principais concorrentes, o Taos também é o que melhor atende aos que precisam de espaço para a família e bagagens. Mesmo com o banco do motorista ajustado para os 1,80m deste que vos escreve, há espaço de sobra no banco traseiro tanto para as pernas quanto para a cabeça. São 2,68m de entre-eixos no Taos contra 2,64m do Corolla Cross e 2,63m do Compass; já o porta-malas são 498 litros do Taos contra 440l do Corolla Cross e 410l do Compass. Colocamos quatro adultos + uma cadeirinha infantil no meio do banco traseiro e todos se acomodaram com conforto.
Cabine é espaçosa e oferece apoios de braço tanto na frente quanto atrás. |
As quatro luzes de cortesia no teto, sendo duas na frente e duas atrás, são em LED assim como as dos quebra-sóis que também trazem espelhos para motorista e passageiro. Há três portas USB do tipo C, sendo duas na frente e uma atrás, e as portas dianteiras trazem compartimento para garrafas de até 1,5 litro. Ponto positivo para as alças de teto que a Volkswagen simplesmente suprimiu dos carros nacionais, contudo, manteve nos importados como o Taos. Os passageiros agradecem e aproveitam para lembrar da importância desse item.
Já o acabamento interno divide opiniões, sendo muito parecido com o do Jetta: há material macio ao toque (soft touch) nas partes superior e central das portas dianteiras, enquanto as traseiras são predominantemente em plástico. Também há uma faixa central no painel que percorre toda a peça horizontalmente no mesmo material macio, enquanto que o resto é no plástico tradicional. A iluminação dos botões e comandos é toda branca, porém, a VW não trouxe o interessante sistema de iluminação ambiente em LEDs que existe até no T-Cross Comfortline - um carro mais barato - que deixaria a cabine mais atraente diante dos rivais.
Assim como a maioria, o Taos é um SUV voltado ao uso 100% no asfalto. |
Outro ponto no qual o Taos se destaca é o conforto de rodagem. O SUV consegue passar pelos inúmeros defeitos da pista sem dar batidas secas e absorvendo boa parte do que chegaria aos passageiros em um carro de construção mais simples. De igual modo, ruídos de rodagem dos pneus e do motor ficam onde devem: isolados, do lado de fora do carro. Viajando a 110km/h, o motor trabalha na casa dos 2.000rpm e só se torna audível nas reduções onde o câmbio eleva o giro do motor para realizar ultrapassagens ou subir ladeiras, por exemplo. O nível de consumo de combustível também agrada: abastecido com gasolina e um pouco de etanol, conseguimos 13,2km/l de média, sendo 15km/l o pico de economia e 11,6km/l o pico de consumo.
Um dos destaques do visual do Taos é a iluminação externa: com exceção das setas dianteiras, todas as luzes são em LED - faróis baixos e altos, luzes diurnas e de posição, freios, setas traseiras, laterais e ré. Os faróis principais são por refletores ao invés dos projetores direcionais da versão Highline, contudo, são igualmente eficientes e contam com ajuste elétrico de altura no multimídia. É um sistema idêntico ao utilizado nas versões convencionais do Jetta, mas que se mostrou bem melhor no Taos do que no sedan médio.
As virtudes do Taos Comfortline são inquestionáveis e muito claras: é espaçoso, bom de dirigir, confortável e munido de todo o básico que a categoria pede nessa faixa de preço. O problema, novamente, é a estratégia adotada para ele; sendo um rival do Compass, a Volkswagen deveria ter investido na fabricação nacional do modelo, de modo a oferecer uma gama maior de configurações com valores mais atraentes. Também foi uma oportunidade desperdiçada de inaugurar novos conjuntos mecânicos que, mais uma vez, seriam um diferencial do alemão perante o americano e o japonês.
O que também poderia ser melhor é a ambientação do interior. É verdade que ele é o único nesse preço a trazer painel de instrumentos 100% digital, todavia, a presença do VW Play (que ainda não está isento de bugs) incomoda por ser o mesmo equipamento usado em carros bem mais baratos como a linha Polo, por exemplo, além do acabamento que merecia mais capricho, principalmente nas portas traseiras. Em suma: o Taos tem muito potencial para agradar aos que gostam de dirigir e precisam levar a família junto, mas precisa trabalhar se almeja posições mais altas nos rankings mensais de vendas.
Principais concorrentes diretos (na categoria SUV médio): Jeep Compass Longitude T270, Toyota Corolla Cross XRE, Mitsubishi Eclipse Cross GLS, Suzuki S-Cross 4STYLE-S Allgrip, Kia Sportage P.252
Concorrentes indiretos (pelo preço entre 160 e 180 mil reais): Honda HR-V Touring, Volkswagen T-Cross Highline, Mitsubishi Outlander Sport HPE 2WD ou AWD, Suzuki Jimny Sierra 4Style ALLGRIP automático, Vitara 4Sport ou 4Style
Ficha técnica
Motor: 1.4 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 150cv (E/G) a 5.000rpm
Torque: 25,5kgfm (E/G) a 1.500rpm
Transmissão: automática de seis velocidades com trocas manuais
Tração: dianteira
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 215/55 R18
Comprimento: 4,46m
Largura: 1,84m
Entre-eixos: 2,68m
Altura: 1,62m
Peso: 1.420kg
Porta-malas: 498l
Tanque: 51l