sábado, 6 de novembro de 2021

2022 Fiat Toro Volcano Turbo 270 1.3 AT6; expandindo os horizontes

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

A cor de nossa unidade de teste é a perolizada Branco Polar que custa R$2.500 à parte.

Quando se fala de Toro, Renegade e Compass, o leitor habitual do Volta Rápida já conhece nossa opinião bem formada: só compre com motor diesel! Embora seja bem mais caro do que os flex, o 2.0 turbinado movido ao óleo combustível alia desempenho e economia de forma invejável, além de vir com sistema de tração integral seletiva e um câmbio extremamente elástico que deixa a condução agradável e esperta.

Essa opinião se sustentava na baixíssima eficiência dos antigos 1.8 (E.torQ), 2.0 e 2.4 (Tigershark) aspirados flex que não conseguiam combinar um desempenho satisfatório a um consumo de combustível igualmente interessante. A Stellantis sabia disso e preparou um novo bloco para mudar esse cenário: o inédito 1.3 turbo flex da família Firefly que estreou no nosso carro de teste da semana - o Fiat Toro reestilizado para 2022.

Dianteira atualizada ficou mais elegante e tecnológica com o conjunto ótico inteiramente em LEDs.

O que mudou?

Visualmente, pouca coisa. No resto, bastante coisa. Começando pelo visual, as mudanças se concentram na dianteira: o friso cromado entre as luzes diurnas/de posição agora é contínuo, pois o emblema FIAT desceu para a grade central redesenhada que, nesta versão, traz acabamento em preto brilhante com filetes cromados interligados aos faróis e a discreta Fiat Flag à esquerda. Os faróis de neblina agora são em forma de paralelogramo e trazem uma nova moldura que vai até o "skid plate" no centro do para-choque. Para esta versão Volcano com motor turboflex há, como opcionais, dois pacotes estéticos que deixam todos os detalhes externos em cromado ou preto brilhante e incluem a grade diferenciada que era exclusividade das versões Ranch e Ultra.

Outra novidade perceptível e muito aguardada para o Toro é a adoção do conjunto ótico frontal inteiramente em LEDs. Disponíveis como item de série desde a versão Freedom, posicionada logo abaixo da Volcano, eles mantiveram a barra de LED característica na altura do capô, mas agora com função tripla: luz diurna (DRL), luz de posição e luz indicadora de direção (seta), deixando um refletor vazio no lugar da antiga seta por lâmpada comum. Os faróis principais trazem três refletores e um friso cromado que se liga aos da grade central com a inscrição "LED Technology". Por fim, os novos faróis de neblina também são em LEDs e continuam com o sistema de luz estática de conversão, se acendendo de acordo com o movimento do volante em baixas velocidades.

Cabine ficou mais tecnológica sem mexer drasticamente no visual. Multimídia vertical é opcional nesta versão.

A cabine da picape também ficou mais tecnológica e elegante com mudanças pontuais: as saídas de ar continuam verticais, mas ganharam formas mais suaves com acabamento em preto brilhante. Há um novo painel de instrumentos 100% digital que é recheado de informações sobre a condução, além de ser altamente personalizável de acordo com os gostos do motorista e uma nova central multimídia com tela de 8,4" e espelhamento para smartphones sem fio.

O painel ganhou, na parte central, uma nova moldura horizontal com acabamento prateado que deixou o ambiente com um aspecto mais refinado, embora a Fiat não tenha mexido no mix de materiais da cabine. Os bancos são em couro de série e há novos comandos para o sistema de ar condicionado e multimídia misturados em um único segmento de botões. A porção superior do painel continua em plástico rígido, assim como as portas dianteiras que trazem couro na parte de contato com o braço.

Novo motor deu nova vida para a picape.

Trabalhando sob pressão

A grande estrela da linha 2022 do Fiat Toro se abriga debaixo do capô. Conheça o inédito 1.3 "Turbo 270" da família Firefly, também atendendo pelo codinome GSE (de Global Small Engine), um bloco de quatro cilindros em linha que entrega até 185cv de potência máxima com etanol (180cv com gasolina) e 27,5kgfm de torque independentemente do combustível. São números muito melhores que os do antigo 1.8 E.torQ - que ainda existe na versão mais barata - e que levam a picape com uma esperteza digna do conjunto turbodiesel.

Para gerenciar o novato de tração apenas dianteira, a Fiat manteve a conhecida transmissão automática de seis marchas que traz modos Sport e manual com trocas na alavanca ou nos paddle-shifters atrás do volante. Se comparado ao 1.8, o tempo de 0 a 100km/h baixou algo na casa dos 2 segundos, contudo, as retomadas e saídas ficaram consideravelmente melhores graças ao torque inteiramente disponível já aos 1.750rpm.

Novo painel digital é repleto de informações e permite selecionar o que deve aparecer em cada seção de dados em volta do velocímetro.

De olho na grama do vizinho

Falando das novidades tecnológicas, o Toro 2022 também deu um salto qualitativo para tentar fisgar clientes de outras categorias - dos SUVs compactos, por exemplo. Dentre os itens de série, a versão Volcano contempla: ar condicionado digital de duas zonas, sete airbags, faróis Full LED com faróis de neblina também em LED, sensores dianteiros e traseiros de estacionamento, retrovisor interno fotocrômico, volante com ajuste de altura e profundidade, banco do motorista com ajustes elétricos (incluindo lombar), câmera de ré, protetor de caçamba com capota de lona, iluminação interna em LEDs, piloto automático com limitador de velocidade, novas rodas aro 18, entre muitos outros.

Custando R$158.290, o arsenal tecnológico do Toro Volcano é muito bom e pode ficar ainda melhor com o opcional Pacote Tecnologia que, ao custo de R$5.500, acrescenta o novo multimídia com tela vertical de 10 polegadas e sistemas semiautônomos como frenagem automática de emergência, assistente de permanência em faixa com correção ativa de direção e farol alto automático. Embora o pacote seja interessante, notamos uma aparente falta de calibragem de alguns desses sistemas durante os testes diários: o multimídia apresentou algumas falhas de funcionamento e o sistema de frenagem autônoma é um tanto "histérico", mesmo na regulagem mais branda. Pode ser uma mera questão de atualização de software para ambos os casos, mas merece atenção.

Multimídia vertical apresentou algumas falhas no teste, mas é bom quando funciona normalmente.

Agente duplo

Ao sair da concessionária dirigindo o Toro 1.3T, duas coisas chamaram atenção logo de cara: o som quase imperceptível do motor e a tranquilidade da saída - o famoso "creeping" que é o nome do movimento que todo carro automático faz em D ao se tirar o pé do freio. Na verdade, mesmo ao acelerar, a saída do carro é tão tranquila que o faz parecer preguiçoso e lembra o velho 1.8, o que desagrada em um contato inicial onde as expectativas diante do novo motor são altas. Acreditamos que a culpa seja do câmbio que, aparentemente, recebeu uma calibragem extremamente conservadora de modo a privilegiar o consumo de combustível.

Só é possível perceber todo o potencial do pequeno 1.3 turbo na estrada, onde o conjunto parece que acorda e leva a picape com uma desenvoltura de fazer inveja a motores maiores. O Toro ganha velocidade rápido e faz tudo o que é necessário sem pestanejar, especialmente se o câmbio estiver nos modos Sport ou manual - fortemente indicados em situações de ultrapassagem, por exemplo. Falando de consumo de combustível, nossa média geral com gasolina no tanque, entre duas e quatro pessoas a bordo e uso alternado de ar condicionado fechou em 12,4km/l, sendo 9,6km/l o pico de consumo e 14,3km/l o pico de economia.

Atrás, a única novidade é o emblema "Turbo 270" na tampa direita da caçamba, indicando o novo motor.

Um problema que percebemos no modelo 2022 e que já havíamos relatado no Freedom 2020 que avaliamos no ano passado é o barulho excessivo de rodagem dos pneus, o que nos indica duas possíveis causas: que a Fiat não mexeu no isolamento acústico da cabine ou que não mexeu nos pneus e isso é algo que, dependendo da qualidade do asfalto, pode incomodar bastante a quem quer viajar com paz e silêncio. Outro ponto que ainda precisa de atenção é a vedação da capota de lona que, mesmo totalmente fechada, ainda deixa passar um certo nível de umidade para a caçamba, o que pode ocasionar mau cheiro ou prejudicar determinadas cargas.

Mas se o Toro manteve alguns pontos fracos, também manteve alguns fortes e acrescentou outros muito bem-vindos. A suspensão da picape continua excelente mesmo em pisos acidentados, assim como a ergonomia graças aos bancos dianteiros com apoios laterais densos. Os novos faróis em LED melhoraram muito a condução noturna e deixaram a picape com um ar mais "chique", além da presença sempre bem-vinda dos muitos elementos de segurança tanto ativa quanto passiva. O ruim é que algumas coisas como o retrovisor fotocrômico e o farol alto automático apresentaram funcionamento muito lento, deixando a desejar em eficiência e incomodando não apenas ao condutor do próprio Toro 2022 como também os demais motoristas.

Fiat Flag está presente na grade dianteira e na coifa do câmbio.

O novo carregador de smartphones por indução faz uma boa dupla com a nova central multimídia sem fio e deixa a vida do condutor bem mais prática ao dispensar totalmente os cabos. Além disso, o modelo 2022 traz partida remota na chave (que é totalmente presencial) e integração com a assistente virtual Alexa, da Amazon, para realizar inúmeras funções de maneira 100% remota, bem como verificar informações a respeito do carro. Em um mundo de carros cada vez mais conectados, a Fiat levou isso a sério na reestilização da picape e deixou o Toro alinhado com as últimas tendências.

Por fim, o novo motor 1.3 turbo faz uma dupla "ok" com a caixa de câmbio que, ao nosso ver, deveria ter uma calibragem mais esperta para se adequar a um propulsor tão competente. Ainda assim, ela cumpre seu papel realizando trocas de maneira imperceptível entre 2.000 e 2.500rpm e, em uma viagem a 110km/h, mantendo o giro do motor na casa dos bons 2.100rpm. O fato de vir apenas com tração dianteira nos lembra que, diferente do turbodiesel, esse conjunto foi pensado para uma aplicação 100% no asfalto, restringindo o uso do Toro turboflex aos ambientes urbanos e rodoviários.

O número 270 se refere ao torque máximo do motor em Newton-metro (Nm).

Considerações finais

Você não precisa mais gastar uma pequena fortuna se quiser um Toro com desempenho decente. O novo 1.3 turboflex finalmente nos possibilita indicar, com segurança, a compra da picape sem o caro conjunto movido a diesel, mas é importantíssimo lembrar que ambas possuem propostas distintas. O motor turbodiesel vem acompanhado do eficiente sistema de tração integral seletiva, o que deixa a picape apta a encarar um fora-de-estrada e, assim, mais indicada para quem precisa viajar a sítios e/ou fazendas, por exemplo. O novo motor Firefly turbinado foi pensado para quem usa a picape no asfalto e, nesse aspecto, ele se comporta com excelência.

Apesar de ser maior do que as picapes compactas, o modelo da Fiat ainda é menor e mais apropriado do que as atuais médias (que acabam sendo bem grandes) e se mostra a compra certa para quem leva a família e precisa, de vez em quando, carregar algo a mais lá nos fundos. O pacote tecnológico da versão Volcano e o nível da motorização são bem mais interessantes que os de SUVs compactos da mesma faixa de preço, entretanto, de um modo geral, o espaço interno do Toro ainda é inferior ao dos utilitários esportivos, o que pode ser um obstáculo para famílias de pessoas mais altas.

Vale lembrar também que, nessa faixa de preço, já é possível partir para alguns SUVs médios, então é imprescindível que o futuro comprador analise sua situação, seus gostos e veja qual produto vai lhe atender da melhor forma. O fato é que após sete dias e mais de 700km rodados com o novo 1.3 turbinado, nosso veredito é o de que o Toro flex finalmente recebeu um motor digno de seu preço e sua proposta, além do pacote tecnológico apropriado para um carro de mais de 150 mil reais.


O modelo avaliado não possui concorrentes diretos na categoria "picape compacta-média".

O modelo avaliado não possui concorrentes indiretos na faixa de preço entre 150 e 170 mil reais.


Ficha técnica

Motor: 1.3 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 185cv (E) / 180cv (G) a 5.750rpm
Torque: 27,5kgfm (E/G) a 1.750rpm
Transmissão: automática de seis marchas
Tração: dianteira
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 225/60 R18
Comprimento: 4,94m
Largura: 1,84m
Entre-eixos: 2,99m
Altura: 1,74m
Peso: 1.707kg
Caçamba: 937l
Carga útil: 670kg
Capacidade de reboque: 400kg (com ou sem freio)
Tanque: 55l

0 a 100km/h: 11 segundos
Velocidade máxima: 196km/h


Matéria em vídeo


Fotos (clique para ampliar):