Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Ford Motor Company (FoMoCo)
Modelo cedido por Ford Motor Company (FoMoCo)
Ranger Black se destaca pela ausência quase completa de cores - a não ser pelo laranja das setas dianteiras. |
Das inúmeras opções e tendências de customização existentes no universo automotivo, uma que ganhou muita força nos últimos anos foi o famigerado "chrome delete", também conhecido como "blackout" por alguns. Como sugere o nome, a ideia é transformar os detalhes cromados da carroceria em preto brilhante ou fosco, dependendo do gosto do cliente. Isso pode ser feito através de envelopamento ou pintura e, diante da onda crescente, alguns fabricantes de automóveis começaram a investir.
Nosso carro de teste da semana é um desses produtos voltados a quem quer se destacar na multidão com um visual interessante e, para alguns, sombrio/misterioso. É o Ford Ranger Black, uma versão inédita lançada na linha 2022 da picape que se baseia na variante XLS com tração somente traseira (4x2) e chega pelo preço de R$205.190 - são exatos 9.900 reais a mais do que a XLS padrão e 28.500 reais a menos do que a XLS com tração integral seletiva (4WD).
O Ranger Black usa e abusa do preto em quase todos os lugares, seja por dentro ou por fora do carro. Começa nas opções de cores, ou melhor, na única opção disponível para a versão: o perolizado Preto Gales que não tem custo algum. Detalhes que seriam na cor da carroceria ou cromados, aqui recebem acabamento preto brilhante e se misturam no restante do conjunto, conferindo um visual "sinistro" que rendeu muitos elogios onde passávamos.
A receita se repete no interior onde muitos detalhes são pretos, exceto pelo teto, colunas e alguns poucos apliques plásticos imitando alumínio (que também são escurecidos). Os bancos trazem costura cinza e são em couro, mesmo material presente em pequenas porções de contato com o braço nas portas e no apoio de braço dianteiro do console central que também conta com costura cinza.
Por ser baseada na versão XLS, a Black é movida pelo conhecido motor 2.2 TDCi "Duratorq" de quatro cilindros, turbodiesel, capaz de gerar até 160cv e 39,3kgfm. Ele é gerenciado por uma caixa automática da Magna (antiga Getrag) com seis velocidades, modo Sport e possibilidade de trocas em modo manual na própria alavanca. A tração escolhida para a versão Black foi a 4x2, somente traseira, e isso se explica pelo posicionamento idealizado pela Ford: é uma configuração voltada para o uso urbano, visando conquistar o consumidor pelo apelo visual a um preço competitivo na categoria.
Não ter tração integral seletiva deixou o Ranger Black mais barato, mais leve e mais econômico: além da já citada diferença de preço, são 92kg a menos do que a XLS 4x4, o que contribuiu com a média de consumo geral de 13,4km/l - um pouco maior do que o conseguido por nós durante o teste da versão XLT em 2019. Em comparação ao 3.2, o 2.2 entrega 40cv e 8,6kgfm a menos de picos de potência e torque, mas o desempenho ainda é bastante competente. Com todo o torque se manifestando já aos 1.600rpm, o Ranger Black anda com vigor e não decepciona quando exigido.
Apesar de se basear na XLS, a versão Black é um pouco mais equipada e condizente com seu preço. Sem opcionais, a lista de equipamentos de série contempla itens como: ar condicionado de duas zonas, 7 airbags, multimídia SYNC 3 com tela de 8 polegadas, painel de instrumentos semi-digital com duas telas de 4,2 polegadas, sensores de estacionamento traseiros com câmera de ré, faróis de neblina, controles de tração e estabilidade com assistente anti-capotamento, entre outros.
Há ainda um acessório interessante: a tampa de caçamba rígida e eletronicamente retrátil que pode ser acionada ao toque de um botão de um controle individual. Ainda assim, a lista é enxuta demais para um carro de mais de 200 mil reais: sentimos falta de sensores dianteiros de estacionamento (essenciais em um carro desse porte), luzes diurnas, sensores crepuscular e de chuva, rebatimento elétrico dos retrovisores, entre outros itens. Beleza é bom, mas precisa vir com conteúdo.
Rodamos cerca de 700km com o Ranger Black ao longo de nossa semana de testes, sendo que a maior parte foi em trecho rodoviário. Pela proposta 100% urbana, ele se mostra bem mais dócil e tranquilo de ser guiado do que as versões mais caras com tração integral e motor maior. A suspensão, por exemplo, não fica "quicando" com o carro vazio como observamos na XLT e, além disso, as saídas com a picape são bem mais apáticas - a ponto de fazer o utilitário parecer preguiçoso.
O câmbio ainda estica as marchas mais baixas sem necessidade, fazendo o motor roncar muito mais do que precisa e gastando mais combustível, mas basta a picape ganhar velocidade para o giro cair e ela se mover com esperteza deveras surpreendente para um veículo desse porte e que pesa pouco mais de duas toneladas. Andando a 110km/h, o 2.2 turbodiesel trabalha na faixa dos 2 mil giros e garante uma viagem agradável e silenciosa.
Bancos são confortáveis. Há ajuste lombar e de altura para o motorista. |
Outro ponto que merece elogios é a percepção de tamanho em relação aos demais carros. Com 5,35m de comprimento e 1,81m de altura, o Ranger Black é bem maior do que a grande maioria dos automóveis de passeio nas ruas e se sobressai como um titã imponente que pode passar por cima dos outros sem muita dificuldade. Não é um problema quando se anda na estrada ou em zonas rurais, mas se torna inconveniente nos apertados e cada vez mais lotados centros urbanos.
Fora que, como já foi dito, o pacote tecnológico deveria ser melhor para um carro dessa faixa de preço. Embora traga mais equipamentos do que alguns concorrentes diretos, o Ranger Black pode decepcionar quem gosta de tecnologia embarcada e mimos que facilitam a condução. A ausência de uma mísera luz diurna (famosa DRL) reforça a sensação de que a Ford deveria ter feito mais com a versão de pegada visual tão atraente.
A nova versão Black deixou o Ranger atraente e se mostra um ótimo custo X benefício para quem quer muito uma picape média. O visual atrai olhares por onde passa e a picape é bem mais interessante de se usar no dia-a-dia, fora que custa apenas R$9.900 reais a mais do que a XLS 4x2 que já se pagam nos equipamentos extras e na capota retrátil da caçamba. O motor 2.2 leva a picape com tranquilidade, bebe pouco e é gostoso de se ouvir. Também é um ótimo custo X benefício entre as médias, pois se nivela com os rivais com câmbio automático e motor flex ou câmbio manual e motor diesel.
Se você gosta de um bom pacote tecnológico e não necessita de uma picape desse tamanho, a conversa muda de tom. Hoje em dia é possível adquirir picapes menores e quase tão capazes quanto as médias, com motores igualmente ou mais eficientes e pacote tecnológico recheado de "bugigangas" para os amantes de modernidades. Além do mais, para quem roda prioritariamente na cidade, um carro menor se mostra melhor de se conduzir. O Ranger Black tem suas virtudes, mas elas só compensarão se o futuro comprador fizer questão de um carro assim.
Concorrentes diretos (pela categoria picape média): Nissan Frontier S 4x4 manual, Mitsubishi L200 Triton Outdoor GLX, Toyota Hilux SRV 4x4 flex ou STD 4x4 diesel manual
Concorrentes indiretos (pelo preço entre 195 e 215 mil reais): Fiat Toro Ranch ou Ultra
Ficha técnica
Motor: 2.2 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, diesel
Potência: 160cv a 3.200rpm
Torque: 39,3kgfm a 1.600rpm
Transmissão: automática de seis marchas
Tração: traseira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 265/60 R18
Comprimento: 5,35m
Largura: 1,86m
Entre-eixos: 3,22m
Altura: 1,81m
Peso: 2.032kg
Caçamba: 1.180l
Carga útil: 1.168kg
Capacidade de reboque com freio/sem freio: 2.750kg/750kg
Tanque: 80l