segunda-feira, 28 de junho de 2021

2020 Volvo XC40 T5 PHEV R-Design 1.5 AT7; o maior dos menores

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Volvo Car Corporation

Gostou da cor? Se chama Thunder Gray e, assim como as outras, não tem custo algum.

Nós sempre falamos aqui sobre a importância que os SUVs conquistaram no cenário automotivo global, mas como tudo isso começou? A resposta está no "andar de cima", no segmento premium que, com o passar dos anos, também se fragmentou em utilitários dos mais diversos portes, tipos de conjunto mecânico, níveis de equipamentos, entre outros. Nossa avaliação da vez é com um integrante da categoria dos SUVs compactos premium feito por uma marca que tem vivido seus melhores anos no mercado brasileiro: é o XC40, modelo de entrada da Volvo por aqui, na versão T5 R-Design com motorização híbrida do tipo plug-in - a mais cara do portfólio do pequeno sueco.

Recentemente, para a linha 2021, a Volvo adotou o nome Recharge para identificar que todos os seus carros vendidos no Brasil são eletrificados - algo que aconteceu junto da estreia do XC40 100% elétrico por aqui. Apesar de nosso veículo de teste seja modelo 2020, as únicas diferenças visuais para o 2021 estão nos emblemas de identificação na tampa do porta-malas e no topo das colunas C logo na parte de junção com o teto, além das saídas de escape aparentes que passaram a ficar ocultas atrás do para-choque. Atualmente, o XC40 nessa configuração top de linha pode ser comprado por R$291.950.

Elemento cada vez mais raro nos carros modernos, as aberturas com borda cromada no para-choque traseiro não são meramente decorativas: as saídas de escape se escondem ali, uma em cada lado, embora sem ligação física com as peças cromadas.

R de Respeite!

Muitas montadoras possuem siglas, nomes ou letras destinadas a seus carros mais especiais. No caso da Volvo, a escolhida foi a letra R que, para a sueca, vem do inglês Refined - refinado. A divisão R nasceu em 1995 dedicada a fazer modelos de alta performance e o primeiro deles foi o clássico 850 T-5R; a ideia deu tão certo que outros R nasceram com o passar do tempo e, a partir de 2008, a marca passou a oferecer as versões R-Design para seus carros. Diferentemente dos R "puros", os R-Design trazem apenas o apelo estético e (em alguns casos) alterações mecânicas menores, sempre como versões top de linha ou pacotes disponíveis nas versões mais caras.

Os R-Design são facilmente reconhecidos pelo bodykit exclusivo com pegada mais esportiva, rodas maiores com design mais dinâmico, interior com acabamento predominantemente preto, elementos externos e internos em preto brilhante, entre outros detalhes. No XC40 não é diferente, embora, as diferenças externas da versão R-Design para as mais baratas sejam até pequenas: o teto e os retrovisores vem em preto brilhante, assim como a grade dianteira (que também troca os filetes verticais pelos horizontais), frisos das portas laterais e as imitações de skid plates dos para-choques. As rodas são aro 20 de série e mesclam acabamento preto fosco com face diamantada.

Sistema híbrido une o melhor de dois mundos: anda muito e bebe pouco.

Colocando os pingos nos I's

A versão R-Design foi a primeira da gama a receber o sistema híbrido chamado Twin Engine, composto por um motor a gasolina e outro elétrico. Falando do primeiro, trata-se de um 1.5 turbinado de três cilindros em linha capaz de gerar até 180cv e 27kgfm, enquanto que o segundo é um motor elétrico que gera até 82cv e 16,3kgfm - em um raro caso de união de forças, potência e torque máximos combinados são a exata soma dos dois motores, o que resulta em 262cv e 43,3kgfm no total. São 10cv e 7,6kgfm a mais do que o antigo 2.0 turbinado, contudo, é importante lembrar que esses números só são entregues quando os dois motores estão trabalhando juntos, o que não acontece o tempo todo.

O R-Design híbrido também traz outras mudanças em relação ao antigo 2.0. O câmbio automático de oito marchas foi substituído por uma caixa automatizada de dupla embreagem com sete marchas e a tração passou a ser apenas dianteira. Além disso, a hibridização fez o SUV "engordar" mais de 130kg, o que piorou consideravelmente as relações peso X potência e peso X torque, aumentando o 0 a 100km/h em quase um segundo (7,3s contra 6,5s); em contrapartida, o consumo geral (que é o foco em carros híbridos) melhorou bastante. Nossa média geral foi de 18,3km/l, sendo 22,4km/l o pico de economia e 14,6km/l o pico de consumo.

Mesmo sendo mais barato, XC40 faz os ocupantes se sentirem a bordo dos irmãos mais caros.

Inspiração que vem do alto

Mesmo sendo um carro de entrada na marca, o XC40 ainda é um Volvo, o que significa que oferece um generoso pacote de equipamentos que deixa pouquíssimo espaço para faltas. Sem opcionais, o XC40 R-Design traz alguns itens de série como: teto solar panorâmico, painel de instrumentos 100% digital, som premium da Harman Kardon com 13 alto-falantes, multimídia com tela vertical, ar condicionado digital de duas zonas com saídas traseiras, iluminação ambiente, bancos dianteiros elétricos (com memória para o motorista), faróis Full LED adaptativos e direcionais (acompanham o movimento do volante), seletor de modos de condução, carregador de smartphones por indução, faróis de neblina por projetores de LED, chave presencial inteligente, todos os retrovisores fotocrômicos, entre muitos outros.

O XC40 R-Design também conta com um pacote completo de condução semiautônoma composto por: piloto automático adaptativo, assistente de permanência em faixa com correção ativa de direção, frenagem automática de emergência, monitoramento de pontos cegos com alerta de tráfego cruzado inclusive na traseira e farol alto automático. A lista geral é muito boa, mas não perfeita: sentimos falta de um sistema de ar condicionado de três zonas, item presente em modelos bem mais baratos, além do sistema de espelhamento de smartphones sem fio que faria mais sentido por conta da presença do carregador por indução e das lanternas totalmente em LEDs - luzes de freio e seta ainda são por lâmpadas incandescentes.

Interior do R-Design foca em esportividade: bancos mesclam couro com nobuck e tudo vem sempre na cor preta em contraste com costuras brancas. No painel e nas portas há porções em soft touch.

Desfrute o silêncio

Por conta do foco em economia de combustível, o XC40 híbrido sempre liga no modo unicamente elétrico - enquanto houver carga na bateria, é claro. Por falar em bateria, o componente de 10,7kWh confere uma autonomia de até 47km no modo somente elétrico; pode parecer pouco na teoria, mas na prática, dependendo do seu uso, é suficiente para garantir um longo período sem visitar o posto de combustíveis. Não são raros os relatos de donos de Volvo híbridos que passam semanas ou até meses sem abastecer o carro com gasolina, pois utilizam o veículo para ir e voltar do trabalho próximo de casa e só recarregam a energia do sistema diretamente na tomada, cujo conector é o Tipo 2 (IEC 62196).

A partida do XC40 é absolutamente ecológica, sem emitir ruídos ou poluentes, se mantendo assim pelo resto do caminho enquanto o condutor utilizar o modo de condução Hybrid (recomendado para o uso normal) e manter o pé direito leve no acelerador. O motor elétrico fica localizado próximo da caixa de câmbio e leva o sueco sem problemas mesmo quando é mais exigido, fazendo um leve zumbido quase imperceptível aos passageiros e permitindo ao computador de bordo exibir o consumo satisfatório de 0,0l/100km - estranhamente, a Volvo não permite que o consumo seja exibido em km/l como o brasileiro está acostumado. Nesse modo de condução, o motor a combustão só entra em ação caso a bateria descarregue de forma severa (atua como gerador) ou se o motorista pisar fundo (atua como auxiliar motriz).

Tomada de recarga fica no para-lama dianteiro esquerdo.

Assim que você destrava o carro, o sistema detecta a temperatura externa e, se estiver calor, o ar condicionado é automaticamente ligado para ajudar a melhorar o conforto térmico na cabine. No ato da partida é realizado um check-up geral de itens como os sistemas semiautônomos e os faróis que ajustam automaticamente a altura do facho de luz. Uma animação no painel de instrumentos confirma que está tudo OK e então o layout padrão é exibido: velocímetro analógico e digital à esquerda, tela do GPS no meio (que pode ser desativada) e um indicador de condução com display de marcha à direita.

Embora o desenho do painel possa ser alterado entre quatro temas disponíveis, a disposição dos elementos não pode ser mudada: é sempre a mesma e descarta por completo o conta-giros que não é exibido nem quando o motor a combustão está em uso para mover o carro, o que faz falta em determinadas condições de uso. Apesar disso, o indicador de condução que o substitui é interessante e bastante dinâmico: ele diz ao motorista, através de ícones animados, qual motor está em uso e o quanto a bateria está sendo recarregada nas frenagens. Por padrão, ele não mostra qual a marcha que está sendo usada (se é a 2ª, 3ª...), porém, basta o motorista dar um toque em um dos paddle-shifters no volante ou na própria alavanca para ativar o modo manual do câmbio e ver qual a marcha do momento.

XC40 R-Design se destaca dos mais baratos com as rodas de 20 polegadas e o teto em preto brilhante.

O melhor de tudo é que, independentemente do motor que está em uso, o XC40 se movimenta com muita eficiência e raramente exige que ambos trabalhem juntos - só mesmo nas ultrapassagens que pedem mais força e velocidade. Toda a operação de trocas de marcha e ativação/desativação dos motores é imperceptível a quem está dentro do carro e acontece de maneira imediata, o que torna a condução muito agradável e dinâmica; o que assusta um pouco é o barulho do 1.5 turbo, pois é ruidoso e bem audível do lado de fora do veículo (ou quando se passeia com as janelas abertas). Por outro lado, a "puxada" de quando os dois motores atuam juntos é vigorosa, evidenciando o poder de fogo do pequeno sueco.

O que encanta no XC40 são os detalhes de bordo: enquanto os dois bancos da frente contam com os raríssimos extensores para as pernas (os mais altos, como eu, agradecem), o do motorista traz duas memórias armazenáveis que ajustam não apenas o banco, mas também os espelhos externos (que são fotocrômicos assim como o interno). A iluminação ambiente em LEDs brancos dá um show à parte e é complementada por três pontos no teto, localizados próximos às luzes de cortesia, que podem mudar de cor para dar um "plus" na cabine. Os bancos em couro e nobuck acomodam a todos com conforto e vale a pena abrir mão do silêncio do motor elétrico para ouvir o som cristalino do áudio da Harman Kardon - são 600w de potência e treze alto-falantes espalhados pela cabine, incluindo um subwoofer.

Faróis "martelo de Thor" são a marca registrada dos Volvo modernos.

O "problema" disso tudo acontece quando lembramos de que se trata de um R-Design. Modelos com essa designação sempre foram marcados pelo desenho claramente diferenciado das demais versões e um conjunto mecânico mais afiado, o que não acontece no XC40: o bodykit é exatamente o mesmo das versões mais baratas, diferenciando-se apenas pelos detalhes menores já citados anteriormente. Além disso, o conjunto mecânico também passou a ser o mesmo das versões mais baratas - a única diferença do R-Design é o chamado "chassi Sport" que traz suspensão mais firme e, junto das rodas de 20 polegadas, torna a condução mais esperta e segura em trechos sinuosos.

Outro ponto controverso do topo-de-linha é a redução de opções de configuração quando comparado com o Inscription, mais barato e focado em luxo: enquanto o R-Design traz interior sempre em preto, o Inscription pode ter a cabine decorada em quatro cores distintas, inclusive no belo tom Oxide Red para os bancos de couro que cairiam muito bem na proposta mais esportiva do R-Design. Também há menos opções de cores mediante o Inscription: são seis cores contra sete do mais barato, embora o R-Design seja o único a contar com o belíssimo Bursting Blue. O conjunto da versão top está longe de desagradar, entretanto, não faz sentido uma variante mais cara ter menos opções de customização do que uma mais barata.

XC40 R-Design no interior do município de Saquarema, no estado do RJ.

Considerações finais

Nosso primeiro contato prolongado com um sueco nos fez entender o porquê do sucesso que a marca tem vivido no Brasil: o XC40 é o menor e mais barato dos Volvo oferecidos em nosso país, mas passa a mesma sensação premium dos irmãos maiores e conta com uma relação custo X benefício excelente para a categoria. O fato de ser um dos poucos híbridos do segmento até agora é um diferencial que conta pontos positivos e faz com que ninguém sinta falta do antigo 2.0 turbinado - o novo conjunto manteve o bom desempenho e ainda consome muito menos. Além disso, analisando apenas os números crus, o 1.5 turbo sozinho já entrega números melhores do que os motores turbinados de alguns rivais diretos e supera todos eles quando aliado ao motor elétrico, entregando potência e torque máximos combinados dignos de veículos esportivos.

É fato que o tempero R-Design já não é mais tão "picante" quanto em outros Volvo, porém, isso não tira o brilho do design e nem a competência do SUV em sua proposta, especialmente pelo vasto pacote de itens de série e o resultado de tudo isso no convívio diário com o sueco. É uma pena que a Volvo ainda sofra de um velho e crítico mal: a rede limitadíssima de concessionárias, o que é um problema para muitos potenciais clientes que acabam partindo para os rivais. Tirando esse fator, o XC40 é quase que imbatível, pois custa o mesmo ou até menos que alguns rivais diretos e é, de um modo geral, muito superior a eles, inclusive nas medidas que ajudam a fazer do pequeno sueco o maior de todos os menores SUVs premium do mercado.


Concorrentes diretos (na categoria SUV compacto premium): Lexus UX250h Luxury, Audi Q3 Black, BMW X1 sDrive20i X Line, Mercedes-Benz GLA 200 AMG Line, MINI Countryman SE ALL4, Jaguar E-Pace R Dynamic S

Concorrentes indiretos (entre 270 e 310 mil reais): BMW X2 sDrive20i GP, Toyota RAV4 SX Connect Hybrid, Mitsubishi Outlander HPE-S Diesel, Land Rover Discovery Sport S Si4


Ficha técnica

Motor: 1.5 turbo, 3 cilindros em linha, 12 válvulas, gasolina
Potência: 180cv a 5.800rpm
Torque: 27kgfm a 1.500rpm
Motor elétrico: 82cv e 16,3kgfm
Bateria: 10,7kWh
Transmissão: automatizada de dupla embreagem com sete velocidades
Tração: dianteira
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 245/45 R20
Comprimento: 4,42m
Largura: 1,86m
Entre-eixos: 2,70m
Altura: 1,65m
Peso: 1.871kg
Porta-malas: 460l
Tanque: 48l

0 a 100km/h: 7,3 segundos
Velocidade máxima: 205km/h


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