segunda-feira, 31 de maio de 2021

2021 Jeep Renegade Longitude 2.0 AT9; um pé aqui, outro ali

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

Facelift de 2018 deixou o visual do SUV mais "chique".

Todo tipo de produto é projetado para atingir um determinado público-alvo, um tipo de uso específico onde as características daquele item se encaixarão como uma luva. Com os carros não é nada diferente, mas alguns modelos são mais versáteis do que a maioria e contam com uma gama de versões onde cada uma tem um propósito diferente - ou até mais de um. Um mês após avaliarmos o Jeep Renegade na versão Moab, nova configuração de entrada com motor turbodiesel, a Stellantis nos cedeu uma unidade da versão Longitude, a intermediária e posicionada imediatamente acima da Moab, também com motor diesel para avaliarmos por uma semana.

Atualmente, a Longitude é a única versão do Renegade que está disponível tanto com motor 1.8 aspirado flex quanto com o 2.0 turbodiesel - as demais só podem ser compradas com um ou com o outro. O flex custa iniciais R$119.990 enquanto o turbodiesel salta para R$160.590; se estiver com opcionais como os airbags laterais, de joelho do motorista e de cortina (pack Safety por R$4.090), a pintura metálica Cinza Antique (R$1.700) e o pacote Protection com parafusos antifurto nas rodas e protetores debaixo da carroceria (R$1.240), a conta fecha em R$167.620. Ainda há mais dois opcionais disponíveis que são os bancos em couro marrom por R$1.240 e o pacote Adventure Intelligence com novo multimídia pronto para espelhamento de smartphones sem fio e plataforma de serviços integrados por R$2.000.

Na traseira, lanternas de LED e luz de neblina ao lado esquerdo do para-choque.

No ponto certo

O Renegade estreou no mercado brasileiro no primeiro semestre de 2015 e passou por seu primeiro facelift no segundo semestre de 2018 já como modelo 2019. As mudanças foram bem sutis mas deixaram o utilitário com um ar mais "premium": o conjunto ótico trocou os antigos faróis bi-xenon com luzes diurnas halógenas por peças Full LED cuja assinatura visual remete ao irmão Wrangler, trazendo um semicírculo no farol principal em volta do projetor que atua como luz baixa e alta. Os faróis de neblina também passam a ser por projetores em LED e as lanternas também adotam os diodos nas luzes e posição e freio - tudo de série e conferindo um visual bastante interessante nos passeios noturnos, além da eficiência do conjunto em pistas sem iluminação.

O interior também foi levemente repaginado na porção central, mantendo o restante inalterado até mesmo no acabamento: a central multimídia Uconnect com tela de 8,4 polegadas traz seus comandos entre a tela e os controles do ar condicionado que também são novos - o sistema é dual zone e também é item de série. No mais, o painel segue com acabamento soft touch em sua maior parte enquanto as portas mesclam plástico com o mesmo couro preto que vem de série para os assentos.

As únicas diferenças internas do Longitude para o Moab, mais barato, são o couro dos bancos e parte das portas e a tela do multimídia - um pouco maior do que no Moab.

Você recebe aquilo que paga

Embora o Renegade Longitude esteja disponível com ambos os motores, nós sempre falamos aqui que a escolha certa é o 2.0 turbodiesel: gerando até 170cv e 35,7kgfm, ele dispensa qualquer comparação com o 1.8 flex das variantes mais baratas e muda a "pegada" do carro por completo, especialmente por vir acompanhado do competente câmbio automático de nove marchas e o sistema de tração integral seletiva com modos de condução especiais. Sabemos que os 40.600 reais de diferença entre os conjuntos mecânicos não são nenhuma pechincha (é quase o valor de um Fiat Mobi de entrada), mas valem a pena para quem pensa em ficar mais tempo com o carro ou vai usar muito - ou as duas coisas.

Os números superiores do turbodiesel sobre o flex garantem um comportamento geral muito melhor (retomadas, ultrapassagens, arrancadas), além de melhorar consideravelmente o consumo de combustível (nossa média geral foi de 16km/l) e deixar o Renegade bem mais versátil. O sistema de tração, embora seja 4WD, funciona por padrão como um AWD (atuando sob demanda) e conta com opções de reduzida (4WD LOW) e tração integral permanente (4WD LOCK), além dos modos de condução específicos Auto, Sand, Snow e Mud - Areia, Neve e Lama; o quinto modo Rock só se encontra nas versões Moab e Trailhawk que possuem ganchos para reboque, pneus de uso misto e outras características de off-road mais severo.

Os Renegade com motor diesel e tração integral são mais altos que os flex.

Melhorou sim, mas...

O Regenade Longitude traz os seguintes itens de série: faróis Full LED com ajuste elétrico de altura, rodas aro 18 diamantadas, central multimídia com tela e 8,4" e espelhamento para smartphones, volante multifuncional com paddle-shifters e ajustes de altura/profundidade, ar condicionado digital de duas zonas, faróis de neblina em LED com luz de conversão estática, bancos em couro preto, lanternas em LED, banco do motorista com ajuste de altura, piloto automático, câmera de ré, assistente de descida, entre outros. Custando R$7.600 a mais que o Moab, ele também é um pouco mais equipado que o irmão mais barato.

O problema é que mesmo custando um pouco mais, o Longitude ainda repete algumas pobrezas que se evidenciam mais ainda aqui: a falta de recursos como sensores dianteiros de estacionamento, chave presencial, retrovisor interno fotocrômico e acendimento automático dos faróis em um carro de mais de 160 mil reais é difícil de perdoar, além dos míseros dois airbags obrigatórios por lei que vem nele. Ao menos as bolsas extras estão disponíveis como opcionais mas, nesse preço, deveriam vir de série.

Longitude tem pegada mais urbana; pneus Pirelli Scorpion Verde não foram feitos pro off-road.

Um pouco de cada

Foram mais de 700km rodados com o Renegade Longitude ao longo de sete dias, tempo suficiente para atestar os mesmos pontos fortes do conjunto mecânico conhecido do leitor do VR. Quase tudo o que falamos sobre ele na avaliação do Moab também vale aqui, exceto pelos detalhes que diferenciam as versões e que destacaremos aqui: por conta das rodas aro 18 calçadas em pneus 225/55, o Longitude se mostrou ligeiramente mais sensível aos defeitos do asfalto - mais duro, falando em português claro. Sobre os pneus, eles são de uso 100% urbano (como afirma a própria Pirelli) mas ainda é possível fugir um pouco do asfalto - mérito do sistema de tração integral inteligente.

Pegamos um pequeno trecho de areia com o 4WD LOCK ativado (tração permanente nas quatro rodas), modo SAND selecionado no seletor de tração e o utilitário, um tanto desengonçado, passou e nos levou para onde queríamos. O câmbio também ajuda na tarefa por "entender" o que o motorista quer fazer e agir de acordo: nessa circunstância, ele manteve uma marcha menor do que o normal para aquela velocidade momentânea, o que deixou o giro do motor mais alto para melhorar a entrega de torque e potência. Passado o caminho arenoso, basta voltar o seletor de tração para AUTO e desativar o 4WD LOCK para a tração ficar em apenas duas rodas (traseiras) e o veículo ser conduzido normalmente.

Câmbio e sistema de tração fazem uma dupla poderosa.

Um ponto onde o Longitude se sobressai diante do Moab e que merece um parágrafo à parte é o conjunto ótico frontal: os faróis em LED dão um banho nos halógenos mais baratos tanto em design quanto em eficiência. Além da iluminação branca fria típica de carros premium, o conjunto composto por projetores (inclusive nos neblinas) gera um facho de luz largo e forte à frente do carro, o que faz com que mesmo caminhos sem qualquer iluminação pública não representem um desafio; só não são nota 10 por não serem adaptativos. Perto do comando de iluminação existe uma pequena roda por onde se ajusta a altura do feixe de luz assim como no Moab, o que acarreta o mesmo problema que observamos no Compass Trailhawk - os donos menos atentos esquecem do mecanismo e andam ofuscando os demais motoristas quando o carro está mais pesado.

A cabine do Longitude também é mais agradável pela presença do couro nos bancos e portas, inclusive as traseiras - um capricho raro no segmento. Só não é melhor por conta do espaço interno bastante limitado, principalmente se os ocupantes da frente forem altos; falta espaço para as pernas e também para as bagagens, pois o porta-malas é de ínfimos 320 litros, mas sobra para as cabeças de todos por conta do teto alto. Outro ponto que desagrada no interior é a falta de saídas traseiras de ar condicionado, algo presente em carros bem mais baratos e com sistemas de climatização mais simples.


Considerações finais

Urbano? Estradeiro? Trilheiro? A Jeep tem versões do Renegade para atender a todos os gostos e a Longitude, ao nosso ver, é a que busca atender melhor os três tipos citados. Por conta do preço elevado da configuração diesel, nós só a indicamos se o seu perfil estiver mais para o estradeiro que é onde o SUV se sente mais à vontade. Como típica intermediária tem boa gama de equipamentos e algumas faltas bestas pelo seu preço, mas nada que comprometa o dia-a-dia com ela. Só serve como carro da família se for, no máximo, um casal com filhos pequenos ou pessoas de baixa a média estatura.

Não é de hoje que não recomendamos a compra do Renegade com motor 1.8 aspirado flex por conta do desempenho aquém do esperado e o consumo elevado, mas são fatores que podem não incomodar tanto para quem usa pouco o carro e sonha em ter um Jeep na garagem - principalmente pelo valor de compra ser bem mais interessante. Outro ponto é que os 160 mil reais pedidos pelo Longitude diesel já permitem a compra de SUVs médios maiores, um pouco mais baratos e bem mais equipados, a exemplo do recém-reestilizado Compass com motor 1.3 turbo de 185cv e 27,5kgfm também na versão Longitude.

Em suma: só leve o Renegade diesel se não precisa de tanto espaço para a família e faz questão de alinhar consumo, desempenho e versatilidade.


Concorrentes diretos (na categoria SUV compacto): Suzuki Vitara 4Sport ou 4Style, S-Cross 4Style, Honda HR-V Touring, Mitsubishi Outlander Sport HPE ou HPE AWD

Concorrentes indiretos (entre 150 e 170 mil reais): Jeep Compass Longitude T270, Mitsubishi Eclipse Cross GLS, Volkswagen Taos Comfortline, Toyota Corolla Cross XRE


Ficha técnica

Motor: 2.0 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, diesel
Potência: 170cv a 3.750rpm
Torque: 35,7kgfm a 1.750rpm
Transmissão: automática de nove marchas com paddle-shifters
Tração: integral seletiva 4WD
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 225/55 R18
Comprimento: 4,23m
Largura: 1,80m
Entreeixos: 2,57m
Altura: 1,72m
Peso: 1.641kg
Porta-malas: 320l
Carga útil: 400kg
Capacidade de reboque: 400kg sem freio, 1.500kg com freio
Tanque: 60l

0 a 100km/h: 10 segundos
Velocidade máxima: 190km/h



Fotos (clique para ampliar):