quinta-feira, 15 de abril de 2021

2021 Jeep Renegade Moab 2.0 AT9; um pouco mais por um pouco menos

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

Parece preto, mas é verde; Verde Recon pra ser mais exato, a única cor sem custo adicional.

Existem alguns carros que ficam marcados pelas polêmicas que os envolvem e, na nossa avaliação mais recente, trazemos um dos mais comentados nos últimos anos do mercado brasileiro: o Jeep Renegade. Embora o SUV compacto não seja exatamente um lançamento, a Stellantis nos forneceu um exemplar da versão Moab para avaliar por uma semana; a variante estreou em Outubro do ano passado como a nova configuração mais barata da gama de versões com motor 2.0 turbodiesel, substituindo a Sport que agora só existe com motor flex - do mesmo modo, a Moab só pode ser comprada com motor diesel.

Custando R$152.990 e sem oferecer qualquer opcional (exceto as pinturas), o Renegade Moab se destaca como o SUV com motor diesel mais barato do Brasil e busca conquistar o cliente se espelhando na configuração Trailhawk, a top de linha; isso porque, apesar de ser uma versão de entrada, ele traz algumas características que capacitam o Moab a fugir do asfalto e proporcionar um pouco mais de diversão ao condutor. Vamos falar mais sobre esses elementos nos parágrafos a seguir.

A nova variante conta com visual discreto, se destacando apenas pelo adesivo Moab nos para-lamas dianteiros.

Flertando com o topo

Para mostrar que o Moab não é um simples renome da antiga versão Sport, a montadora tratou de fazer uma versão com seus toques próprios; com exceção dos emblemas (Jeep, Renegade e 4x4 Diesel), a parte externa não traz qualquer detalhe cromado, adotando o tom preto fosco em todos os cantos possíveis desde maçanetas e molduras da grade até as capas dos retrovisores. Seria um toque de pobreza típico de versões de acesso se não fossem os aros 17 na mesma tonalidade, o que acabou resultando em um conjunto visual que deu certo e agradou a maioria dos leitores e passantes nas ruas.

Falando em rodas, elas são calçadas em pneus de uso misto assim como na variante Trailhawk e nas mesmas medidas 215/60 R17, diferenciando-se dos pneus comuns do Longitude que atendem apenas ao uso no asfalto. Por fim, ainda se assemelhando ao Trailhawk, o Moab traz a mesma vedação especial contra água, o mesmo seletor de tração com cinco modos (acréscimo do modo Rock -Pedra-, diferente do seletor de quatro modos do Longitude) e os ganchos para reboque na dianteira e traseira da carroceria, aqui pintados de preto ao invés dos vermelhos da versão topo de linha.

Conjunto mecânico faz o SUV compacto brilhar na hora de andar.

Fique à vontade

Como dissemos anteriormente, a versão Moab só pode ser comprada com o conhecido motor 2.0 turbodiesel "Multijet" de até 170cv e 35,7kgfm, câmbio automático de nove marchas e sistema de tração integral seletiva. É um velho conhecido do cliente Jeep e do leitor do Volta Rápida, pois já o testamos no Jeep Compass Trailhawk e no Fiat Toro Freedom S-Design, mas que se mostrou muito mais à vontade no Renegade do que nos irmãos de plataforma - provavelmente por conta do peso, pois o SUV compacto é o mais leve do trio. Diferente do Compass que se mostrou meio "preguiçoso" até acordar, o Renegade se comporta com uma desenvoltura exemplar e ainda bebe pouco: nossa média geral foi de 15,3km/l, sendo 18,6km/l o pico de economia e 12,5km/l o pico de consumo.

Outro ponto alto do Moab é seu comportamento geral: graças às semelhanças com o Trailhawk, o Moab anda como se não houvessem obstáculos no caminho, passando por buracos e desníveis da pista com tranquilidade e encarando desafios maiores sem dificuldade, se mostrando uma escolha interessante para quem gosta/precisa fugir do asfalto esporadicamente, mas não quer (ou não pode) bancar os R$172.990 pedidos pela variante top de linha.

Cabine do Moab é simples mas bem montada, mesclando tecido com revestimento soft touch no painel e comandos que passam solidez na construção.

Estava indo bem demais...

Na mesma medida em que o Renegade Moab agrada e é digno de nota pelo comportamento dinâmico, ele decepciona e merece vaias pelo pacote de itens de série. A lista em si não é ruim, mas apresenta algumas falhas estúpidas para um carro que supera os 150 mil reais: ar condicionado de duas zonas, computador de bordo multifuncional, central multimídia com tela de 8,4" e espelhamento para smartphones, piloto automático, volante com comandos de som, faróis de neblina, câmera e sensores de ré, retrovisores externos com ajustes elétricos, entre outros. Nesse ponto, o Longitude diesel se mostra uma escolha mais atraente pois custa apenas R$7.600 a mais e traz conjunto ótico em LEDs, paddle-shifters no volante e pode receber opcionais interessantes.

As tais faltas incômodas começam nos míseros dois airbags obrigatórios por lei (não há bolsas laterais sequer como opcionais), ausência dos sensores dianteiros de estacionamento, de saídas traseiras de ar condicionado e do mesmo bom revestimento do painel nas portas. É claro que a gente sabe que alguns cortes precisam ser feitos em nome de um valor final mais intere$$ante e dá até pra deixar algumas faltas passarem no dia-a-dia, mas trazer apenas dois airbags é uma falha grave em tempos de preocupação cada vez maior com a segurança automotiva - as bolsas extras deveriam, no mínimo, ser opcionais como no Longitude.

Sistema de tração integral seletiva conta com reduzida, bloqueio de diferencial e assistente de descida, tudo para garantir que o Moab vá ao máximo de lugares possíveis.

Topa (quase) tudo

O Renegade é um dos poucos SUVs compactos do mercado que divide sua plataforma com modelos de maior porte. Isso faz com que o pequeno Jeep conte com certos refinamentos raros e/ou ausentes nos rivais diretos como suspensão independente na dianteira e traseira, freios a disco nas quatro rodas, entre outras características que conferem um rodar muito agradável e confiante. Além de oscilar pouco, a carroceria do utilitário quase não se abala pelos defeitos típicos do nosso asfalto lunar e, junto dos pneus de uso misto, fazem com que o condutor sinta que pode ir a qualquer lugar que desejar. Embora seja um carro extremamente pesado para seu porte, o motor a diesel leva o utilitário com folga e bastante esperteza, entregando todo seu torque já aos 1.750rpm.

O problema é que, apesar de ser um dos poucos a ter plataforma de carro maior, o Renegade também é, ironicamente, um dos menores do segmento: o porta-malas de ínfimos 320 litros (mesma capacidade de um Renault Sandero) é digno de hatch compacto, bem como seu entreeixos de 2,57m; não são grandes problemas para um casal com filhos pequenos, por exemplo, mas começa a complicar para uma família de adultos e pessoas de maior estatura. Ao menos, para compensar, o teto do SUV é alto e dificilmente alguém raspa a cabeça nele.

Espaço interno não é o ponto forte do Renegade.

Considerações finais

Gosta do Renegade e pensa em adquirir um? Agora a escolha da versão certa ficou um pouco mais fácil. Se a grana estiver curta vale a pena fazer um sacrifício e partir para as versões diesel, pois combinam desempenho e economia de combustível de um jeito que as flex não conseguem nem com muito esforço, mas pense bem no que espera do carro: a versão Moab avaliada por nós é uma configuração de entrada e, como você já deve ter percebido, só vale a pena para quem pensa em sair do asfalto de vez em quando e vivenciar a verdadeira "experiência Jeep". Por pouco menos de 8 mil reais a mais, a variante Longitude posicionada logo acima traz um pacote de itens mais interessante e visual mais atraente, embora sua pegada seja prioritariamente urbana.

No final das contas concluímos que o Renegade Moab é ótimo de dirigir em qualquer circunstância, porém, peca no recheio que oferece pelo preço e no espaço interno limitado que faz com que ele não seja a melhor escolha para carro da família. Ele se equipara aos SUVs compactos turbo/flex mais caros do mercado atual em suas respectivas versões top de linha - são mais espaçosos e recheados, contudo, não contam com a mesma versatilidade de uso, embora entreguem desempenho e consumo parecidos. A nova versão do menor Jeep existente mostra que não quer agradar pela razão, mas pela emoção e por uma dose extra de diversão ao volante.


Concorrentes diretos (na categoria SUV compacto aventureiro): Suzuki Jimny Sierra 4You AT ou 4Style, S-Cross 4Style ou Vitara 4Sport

Concorrentes indiretos (entre 140 e 160 mil reais): Honda HR-V Touring, Mitsubishi Outlander Sport GLS, HPE ou HPE AWD, Jeep Compass Longitude 2.0 flex


Ficha técnica

Motor: 2.0 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, diesel
Potência: 170cv a 3.750rpm
Torque: 35,7kgfm a 1.750rpm
Transmissão: automática de nove marchas
Tração: integral seletiva 4WD
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 215/60 R17
Comprimento: 4,23m
Largura: 1,80m
Entreeixos: 2,57m
Altura: 1,72m
Peso: 1.627kg
Porta-malas: 320l
Carga útil: 400kg
Capacidade de reboque: 400kg sem freio, 1.500kg com freio
Tanque: 60l

0 a 100km/h: 9,8 segundos
Velocidade máxima: 190km/h


Matéria em vídeo




Fotos (clique para ampliar):