sábado, 3 de abril de 2021

2021 Jeep Compass Trailhawk 2.0 AT9; inimigo público nº1

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Stellantis Brasil

Versão Trailhawk foi feita pensando em quem quer fugir do asfalto de vez em quando.

Quando se fala em sedan médio no Brasil, não tem para ninguém: o Toyota Corolla é líder isolado e vende bem mais do que todos os concorrentes diretos juntos, sendo um fenômeno da categoria. Quando se fala em SUV médio, segmento de comportamento muito parecido ao citado anteriormente, a coroa fica com o Jeep Compass que se mantém tranquilamente na ponta com, em média, mais de 70% das vendas mensais. Lançado em 2016, rapidamente caiu nas graças do público e receberá seu primeiro facelift muito em breve.

A fim de conhecer as qualidades do utilitário nacional e entender porque ele continua vendendo tão bem, a Stellantis nos cedeu um exemplar da versão Trailhawk para avaliarmos por 10 dias. A variante é a única dedicada ao fora-de-estrada e tem preço base de R$211.990; nosso exemplar de teste conta com alguns opcionais como a pintura Cinza Antique com teto em preto brilhante (R$1.900) e o pacote High Tech (R$8.900), mas deixou o teto solar panorâmico (R$8.900) de fora do conjunto.

Mesmo sendo pensada para o off-road esporádico, versão Trailhawk manteve o perfil elegante do Compass.

Ser diferente é legal

O Compass Trailhawk se destaca das demais configurações pelas características que o deixam apto a encarar um fora-de-estrada mais severo - algo que, é claro, também depende da habilidade do motorista. Além da suspensão mais alta e firme, ele traz pneus 225/60 R17 de uso misto, vedação especial contra água, ganchos para reboque na dianteira e traseira, para-choques com maiores ângulos de ataque e saída e, por último mas não menos importante, o sistema de tração integral que conta com reduzida e bloqueio de diferencial - todos os elementos que ajudam o carro a brincar fora do asfalto.

Não é à toa que a versão Trailhawk é a única a ostentar o selo "Trail Rated" nos para-lamas dianteiros, uma certificação concedida pela própria Jeep a modelos testados e aprovados na trilha de Lyman, nos Estados Unidos, que garante que aquele carro X ou Y pode ser colocado à prova em terrenos difíceis. É o único SUV médio atualmente vendido no Brasil que oferece uma versão desse tipo, o que se torna um diferencial interessante para o cliente que procura algo além de um bom veículo para levar toda a família.

Cabine traz desenho simples mas passa robustez e qualidade de construção.

O melhor dos dois mundos

A única opção de conjunto mecânico do Compass Trailhawk é composta pelo conhecido motor 2.0 "Multijet" turbodiesel que gera até 170cv e 35,7kgfm, números gerenciados entre as quatro rodas por um sistema de tração integral seletiva e transmitidos por uma caixa automática de nove velocidades. É exatamente o mesmo conjunto que equipa algumas versões do irmão Renegade e do primo Fiat Toro e é o melhor disponível para os três modelos, pois combina desempenho e economia de combustível satisfatórios - nossa média geral de consumo (percurso misto, três a quatro pessoas e ar ligado direto) ficou na casa dos 13km/l, sendo 16,2km/l o pico de economia e 9,8km/l o pico de consumo.

Embora o motor seja interessante, o ponto alto do conjunto é o sistema de tração: além dos quatro modos padrão de uso (Auto, Snow, Sand e Mud), a versão Trailhawk traz o exclusivo modo Rock (pedra) e permite ao motorista alternar facilmente entre eles através de um comando giratório perto da alavanca do câmbio. Falando em câmbio, a caixa também se destaca pelo funcionamento inteligente: das nove marchas disponíveis, sete são usadas na condução convencional pois a primeira (1ª) da caixa é de uso exclusivo da tração com reduzida (4WD LOW) enquanto a nona (9ª) é do tipo overdrive, dedicada a reduzir o giro do motor na estrada. No uso convencional, o sistema trabalha a partir da segunda marcha e, caso o motorista queira atestar a velocidade máxima dele, precisa utilizar a oitava marcha (8ª).

Bancos em couro trazem costura vermelha e bordado Trailhawk no centro.

Faltou pouco para o 10

Sendo uma versão que se posiciona entre as mais caras (atualmente abaixo apenas da Série S), a Trailhawk traz um extenso pacote de itens de série: faróis bixenon com ajuste elétrico de altura, banco elétrico para o motorista, luzes diurnas, faróis de neblina com luz de conversão estática, ar condicionado dual zone, multimídia com espelhamento para smartphones, volante multifunção com paddle-shifters, acabamento interno mesclando couro e material tipo emborrachado, sete airbags, apoio de braço com porta-objetos refrigerado, chave presencial com partida remota, assistente de descida, monitoramento de pontos cegos e muitos outros. Quando equipada com o pacote High Tech, a versão ainda agrega piloto automático adaptativo (ACC), frenagem autônoma de emergência, assistente de correção de faixa, farol alto automático, som Beats com 8 alto-falantes + subwoofer e abertura elétrica do porta-malas com comando na chave.

A lista é grande e não deixa que se sinta falta de nada, mas é em alguns detalhes "tolos" que o Compass escorrega e incomoda no uso diário: mexer no ar condicionado com o multimídia desligado, por exemplo, é uma tarefa complicada, pois o sistema não mostra absolutamente nada do que você está fazendo por não ter uma tela própria dele - qual temperatura, velocidade de ventilação... Nada, a não ser que você já tenha ligado o multimídia antes. Além disso, os sensores dianteiros e traseiros de estacionamento só se ativam se o motorista lembrar de apertar um botão no console, ao contrário da grande maioria dos carros onde eles se ativam mediante aproximação de um obstáculo qualquer - se o condutor esquecer de ativar pode acabar batendo em algo com facilidade. São detalhes que não tiram o brilho do conjunto, mas impedem que o Compass seja mais cativante no uso contínuo.

Cromados da carroceria são substituídos por acabamento cinza acetinado na versão Trailhawk.

Duas bolas com uma única tacada

Falando em uso contínuo, rodamos cerca de 700km ao longo dos 10 dias de teste e alternamos entre trânsito urbano e rodoviário, além de algumas escapadas do asfalto em determinados momentos - nada extremo por falta de mais prática deste que vos escreve, mas ainda desafiador para uma boa gama de carros comuns. O Compass Trailhawk não apenas se saiu bem o tempo inteiro como mostrou aptidão para enfrentar outro tipo de obstáculo muito conhecido dos motoristas brasileiros: os buracos e inúmeros defeitos de nossas pistas. Os pneus "massudos" combinados com a suspensão elevada fazem com que o SUV transmita muito pouco para a cabine, além de anular batidas secas quase que por completo e reduzir consideravelmente os solavancos oriundos dos desníveis de pista.

O motor turbodiesel tem boa entrega de potência e melhor ainda de torque, esbanjando seus 35,7kgfm já aos 1.750rpm e levando o utilitário com eficiência e segurança, mas sem muita desenvoltura: isso porque os 1.751kg de peso total fazem o Compass ter um comportamento meio "banheira" no uso convencional - pelo menos até pegar velocidade. Para ajudar a contornar isso, há a possibilidade de realizar trocas manuais nos paddle-shifters ou na própria alavanca de câmbio, o que permite ao motorista explorar melhor a elasticidade tanto do motor quanto da caixa e levar o carro com mais esperteza. Uma construção mais leve seria bem vinda, mas o conjunto atual atende e não deixa o motorista na mão quando necessário.

Espaço é um dos pontos fortes do Compass; todos viajam com conforto.

Outro ponto alto do Compass é a vida à bordo: quatro adultos viajam confortáveis junto de uma criança no meio do banco traseiro - que não tem as pernas prejudicadas graças a baixíssima altura do túnel central. Há saídas traseiras de ar condicionado e até mesmo uma tomada de 127v, item raríssimo nos carros nacionais; só faltou uma porta USB dedicada. O multimídia Uconnect também agrada no uso, pois a tela possui alta definição e sua operação é fluída e fácil de entender, bem como a tela central do painel de instrumentos que atua como computador de bordo - um grande contraste com a péssima imagem da câmera de ré que parece ter sido comprada em site estrangeiro e instalada em uma loja de acessórios qualquer.

Quase tudo no Compass Trailhawk pode ser ajustado, até mesmo a intensidade das respostas e funcionamento de determinados sistemas - inclusive os de condução semiautônoma. Ainda assim, certas coisas deveriam se ajustar automaticamente como os faróis de xenon: a altura do facho de luz pode ser regulada por uma pequena roda próxima ao comando de acionamento das luzes, um elemento que poucos donos de Compass conhecem e acabam por incomodar os motoristas à frente do carro quando colocam mais peso no SUV e se esquecem de reduzir a altura do facho pra compensar a inclinação da carroceria - algo que deveria ser feito automaticamente como em carros mais sofisticados.

Rodas aro 17 mesclam acabamento diamantado e preto fosco.

Um item que deveria ser um opcional isolado é o sistema de som da Beats: composto por nove alto-falantes (quatro médios, quatro tweeters e um subwoofer), ele é parte do pacote High Tech e entrega uma ótima qualidade sonora, mas é extremamente grave, algo que pode até ser amenizado no equalizador do multimídia mas que, mesmo no mínimo, ainda deixa as frequências mais baixas bem expressivas dependendo da música. Quem não gosta tanto assim de graves, mas queria os sistemas semiautônomos não tem como deixar o Beats de fora, tendo que se acostumar a ouvir um som mais "surdo" de um modo geral.

Outras coisas que mereciam uma recalibragem para melhorar o funcionamento são os sistemas de farol alto automático e de correção de faixa. Começando pelo primeiro, ele demora a reconhecer o carro adiante e ofusca o motorista por alguns segundos, muitas vezes incentivando o mesmo a responder sua "faroletada" não-intencional. Já o segundo sistema parece sofrer do mesmo mal, pois demora a perceber que precisa corrigir a faixa e o faz de forma um tanto brusca. São elementos que passam a sensação de que ficam melhores quando estão desligados.


Considerações finais

Não é difícil entender porque o Compass vende tanto: além de ser fabricado aqui, o modelo conta com uma boa gama de versões dedicadas a atender diversos gostos/bolsos e faz quase tudo a que se propõe de forma satisfatória. Na nossa opinião, apesar de cara, a versão Trailhawk se mostra como um dos melhores custo X benefício da gama atual do SUV pelo conjunto da obra e a capacidade de lidar com o péssimo asfalto brasileiro com maestria. O utilitário só não se sai melhor por conta de alguns detalhes que incomodam no uso diário, mas nenhum deles desabona o modelo ou comprometem com seriedade a convivência com ele.

O facelift está muito perto de chegar e é a oportunidade que a Jeep terá para corrigir tais erros e consolidar a liderança do Compass mesmo diante da concorrência renovada - que agora conta com os inéditos Toyota Corolla Cross (já lançado) e Volkswagen Taos (chegará muito em breve). O japonês é feito aqui enquanto o alemão virá importado do México, ambos com suas miras apontadas diretamente no Compass visando complicar a vida do americano; se eles vão conseguir ou não, é outra história. Tudo vai depender do que os adversários observaram e do que a Jeep aprendeu ao longo desses cinco anos da vida do Compass em solo brasileiro.

Emblema decorativo (e chamativo) da versão dividiu opiniões nas ruas.

O modelo avaliado não possui concorrentes diretos na categoria SUV médio aventureiro.

Concorrentes indiretos (entre 200 e 230 mil reais): Volkswagen Tiguan Allspace R-Line, Peugeot 3008 Allure ou Griffe Pack


Ficha técnica

Motor: 2.0 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, diesel
Potência: 170cv a 3.750rpm
Torque: 35,7kgfm a 1.750rpm
Transmissão: automática de nove marchas
Tração: integral seletiva 4WD
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 225/60 R17
Comprimento: 4,41m
Largura: 1,81m
Entreeixos: 2,63m
Altura: 1,65m
Peso: 1.751kg
Porta-malas: 388l
Carga útil: 400kg
Capacidade de reboque: 400kg sem freio, 1.500kg com freio
Tanque: 60l

0 a 100km/h: 10 segundos
Velocidade máxima: 195km/h


Matéria em vídeo




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