Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Renault do Brasil
Modelo cedido por Renault do Brasil
Novo Duster aproveitando o belo pôr do sol na Região dos Lagos, no RJ. |
Não há dúvidas de que os SUVs estão na moda e já falamos disso aqui várias vezes, mas eles não são tão novos assim no mercado quanto alguns podem pensar. Não tem como falar nos pioneiros e "pais" do segmento sem mencionar nosso avaliado da vez: o Renault Duster. Lançado no Brasil no começo da década passada, ele ajudou a popularizar a categoria e foi o primeiro SUV de muita gente, sendo oferecido em diversas configurações e opções de conjuntos mecânicos.
Hoje, três anos após o lançamento no mercado estrangeiro, a nova e segunda geração do utilitário chega para nós com profundas mudanças e algumas boas novidades que tivemos a oportunidade de experimentar durante uma semana inteira de testes. O carro em questão é da versão Iconic, top de linha, tabelada atualmente em R$99.290 e que encosta nos 105 mil reais quando se coloca itens como a pintura Marrom Vison (R$1.650), o interior em couro sintético (R$1.700) e o pacote Outsider (R$2.300).
Traseira dividiu opiniões por causa das lanternas cujo desenho se assemelha muito às peças presentes no Jeep Renegade. |
O que mudou?
Bastante coisa. Pra começar, apesar da plataforma ainda ser a conhecida B0, aqui ela passou a se chamar B0 Plus; isso porque ela passou por mudanças para abrigar a nova arquitetura eletrônica e a carroceria remodelada, além de ter recebido aços mais nobres que melhoraram a rigidez estrutural em 12,5%. Falando em carroceria, as linhas não mudaram muito, mas praticamente todos os painéis são novos, assim como os vidros (mais espessos para melhorar a acústica) e o para-brisa que ficou mais inclinado para melhorar a aerodinâmica; de modo geral, as medidas sofreram mudanças ínfimas na casa dos milímetros de diferença.
Na parte tecnológica, o SUV compacto finalmente adotou direção elétrica e os aguardados controles de tração e estabilidade com assistente de partida em rampa, luzes diurnas em LED, interior totalmente redesenhado e até mesmo câmeras em 360º (exclusivas dessa versão). A oferta de versões também mudou: não existe mais opção do motor 2.0 (que já estava ultrapassado) e nem de tração 4x4 (que vendia pouco); quem quiser comprar um novo Duster só pode escolher se quer câmbio manual de cinco marchas ou automático CVT, pois, o único motor disponível é o 1.6 aspirado flex.
Motor 1.6 aspirado é relativamente novo, mas ainda conta com tanquinho de partida a frio. |
Um velho novo companheiro
Como única opção de motor no novo Duster até o momento temos o conhecido 1.6 SCe, aspirado flex, de até 120cv (etanol) e 16,2kgfm que, nessa versão, trabalha unicamente com a também conhecida transmissão automática CVT com simulação de seis marchas no modo manual. O novo 1.3 TCe, turbinado, é esperado para o Duster, porém, em um futuro entre médio a longo prazo; isso porque o bloco chegará primeiro ao Captur facelift, sendo introduzido ao irmão mais velho posteriormente.
O SCe em si não é ruim, pois, é um 1.6 que se alinha com os demais do mercado em potência e torque. O problema é que além da insistência do tanquinho de partida a frio, o Duster ficou ligeiramente mais pesado (39kg) e o acerto do carro ficou extremamente conservador, o que deixou a condução preguiçosa e com consumo mais elevado, pois, qualquer situação que exija um pouco mais de força obriga o motorista a pisar mais forte para o câmbio jogar um giro mais alto e o motor, enfim, mostrar seu poderio.
Nossa média geral foi de 7,6km/l com etanol, sendo 5,4km/l o pico de consumo e 9,3km/l o pico de economia. São números próximos aos do Stepway que testamos há alguns meses e confirmam que o conjunto precisa de uma calibragem mais econômica, pois, existe potencial para isso.
A segunda geração do Duster trouxe novidades muito bem-vindas e mais recheio ao SUV. Sem equipamentos opcionais, a versão Iconic traz itens de série como: ar condicionado digital automático, volante multifuncional com ajuste de altura e profundidade, piloto automático, retrovisores com ajustes elétricos, monitoramento de pontos cegos, câmeras em 360 graus, novo multimídia com espelhamento para smartphones, controles de tração e estabilidade, rodas aro 17 diamantadas, sistema start-stop, entre outros. Além disso, a renovação completa da cabine deu outro ar ao franco-romeno e conferiu mais sofisticação.
Acontece que nem tudo são flores. Inexplicavelmente, o novo Duster não recebeu os airbags laterais presentes no Sandero facelift e até mesmo no Kwid que custa menos da metade do utilitário. Além disso, os freios traseiros continuam sendo a tambor e a Renault repetiu a pobreza de alguns rivais ao usar um acabamento inteiramente em plástico nas portas traseiras ao invés de repetir o visual mais nobre da dianteira. Pra completar, existe apenas uma porta USB em toda a cabine (localizada na moldura do multimídia) e não há saídas traseiras de ar condicionado. Não dá para oferecer apenas dois airbags em tempos onde a preocupação com a segurança automotiva está mais em alta do que nunca, especialmente quando se paga 100 mil reais por isso.
De um modo geral, as mudanças aplicadas ao novo Duster melhoraram bastante o convívio com ele. Os pontos fortes como o ótimo comportamento da suspensão e a valentia para enfrentar pisos mais acidentados continuam presentes; buracos são pouco sentidos, sendo absorvidos com eficiência graças ao rodar sólido e confiante do utilitário; pena que o novo acabamento se mostrou deveras ruidoso nesses trechos, indicando que o carro pode vir a incomodar nesse sentido quando tiver mais tempo de uso. Outro ponto observado por nossa equipe é a diminuição da sensação de espaço interno; além dos acabamentos mais volumosos, o painel parece ter ficado mais avançado sobre os ocupantes da frente, o que os obriga a recuar mais os bancos, reduzindo o espaço das pernas de quem vai atrás.
A direção finalmente ganhou assistência elétrica, deixando o SUV mais gostoso de guiar sem moleza excessiva, mostrando uma calibragem apropriada. Já as câmeras em 360 graus, embora não tragam a função da visão superior das quatro simultâneas (como no Nissan Kicks), também ajudam bastante nas manobras: elas funcionam em velocidades até 20km/h e podem ser acionadas automaticamente ao se engatar a ré ou através de um botão dedicado no console central, posicionado logo abaixo da central multimídia. O assistente de ponto cego é outro recurso raro na categoria e funciona com quatro sensores localizados nas laterais do carro, piscando pequenos LEDs âmbar nos retrovisores externos quando qualquer obstáculo é detectado dos lados durante o movimento.
Medidas do novo são praticamente as mesmas do anterior. |
Falando sobre o conjunto mecânico, é fato que o 1.6 SCe dá conta do carro para o uso comum, mas sem brilho ou ousadias; não tem os mesmos números nem a mesma entrega de força dos 1.0 turbinados, o que requer aceleradas mais vigorosas para situações que pedem mais força como ultrapassagens. Para facilitar a tarefa, o condutor pode colocar a alavanca do câmbio em M e usar as seis marchas simuladas pela caixa CVT, deixando o carro mais esperto e quebrando um pouco da letargia do conjunto.
Quando mostramos o carro em nosso Instagram muitos leitores perguntaram se o 1.6 aspirado ainda fazia sentido, apesar dos pontos levantados. A resposta é SIM e por um motivo muito simples: o mercado de carros precisa ter opções e não é todo mundo que busca a última palavra em tecnologia ou desempenho. Diante da enxurrada de motores sobrealimentados nos mais variados segmentos da indústria automotiva, o Duster se junta ao time de aspirados que ainda buscam agradar aos consumidores mais tradicionais.
Para os que acham que o modelo merece mais fôlego, lembramos que ele receberá o 1.3 TCe, turbinado, em um futuro entre médio a longo prazo como já foi dito mais acima.
Após 500km percorridos em uma semana, alternando entre trechos urbanos e rodoviários, a nítida impressão que o novo Duster deixa é que ele representa tudo o que o modelo deveria ter sido desde o começo. Incorporou novas tecnologias, melhorou a segurança a bordo e consegue fazer mais vista sem sair do "andar de baixo" dos SUVs compactos. É claro que tudo tem um preço e, no caso do Duster, ser mais barato implica em não ser tão eficiente ou desejável quanto os mais caros, o que mostra que o modelo quer continuar se posicionando como a porta de entrada para um dos segmentos mais badalados do momento.
Apesar das ressalvas destacadas em nossa avaliação, a nova geração do franco-romeno convenceu e mostrou que tem potencial de agradar ao consumidor padrão, mas também mostrou que ainda há espaço para melhoras em coisas muito elementares que deveriam ter sido vistas no ato de seu lançamento, principalmente porque ele levou três longos anos para chegar ao Brasil (o lançamento no mercado estrangeiro ocorreu em 2017). A Renault tem, no futuro lançamento do Duster 1.3T, a oportunidade certa de corrigir tais falhas e transformar um coadjuvante em um bom candidato a protagonista.
Concorrentes diretos (pela categoria SUV compacto): Volkswagen Nivus Highline ou T-Cross 200 TSI AT, Chevrolet Tracker LTZ 1.0T, Nissan Kicks SV Pack Plus, Ford EcoSport Titanium Plus 1.5 AT, Peugeot 2008 Allure Pack, Jeep Renegade Sport flex AT, Citroën C4 Cactus Feel ou Feel Pack, Hyundai Creta Limited, Honda HR-V LX ou WR-V EXL
O modelo avaliado não possui concorrentes indiretos entre 95 e 105 mil reais.
Ficha técnica
Motor: 1.6, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 120cv (E) / 118cv (G) a 5.500rpm
Torque: 16,2kgfm (E/G) a 4.000rpm
Transmissão: automática CVT com seis marchas simuladas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 215/60 R17
Comprimento: 4,37m
Largura: 1,83m
Entre-eixos: 2,67m
Altura: 1,69m
Peso: 1.179kg
Porta-malas: 475l
Tanque: 50l
0 a 100km/h: 12,6 segundos
Velocidade máxima: 172km/hMatéria em vídeo:
Fotos (clique para ampliar):