Modelo cedido por Toyota do Brasil
Gostou da cor? Se chama Cinza Celestial e custa R$1.950 à parte. |
Esqueça o velho ditado que afirma que "em time que está ganhando não se mexe". O mundo não é mais o mesmo, as coisas estão mais disputadas do que nunca e quem busca se manter em alta precisa trabalhar. Embora a vida do Toyota Corolla seja bastante confortável no mercado brasileiro, a marca achou que ele merecia um "tempero" a mais para o cliente que procurava isso em seus produtos.
Esse tempero veio em 2019, ano em que a japonesa lançou a 12ª geração do sedan por aqui e, com isso, uma série de novidades interessantes que vieram no pacote. Passamos uma semana com a variante mais cara de todas, Altis Hybrid Premium, que também é a mais equipada para avaliar se o novo recheio fez bem ao veterano.
Conjunto ótico é totalmente composto por LEDs. |
O que há de novo?
Já detalhamos as principais novidades mecânicas e estruturais do novo Corolla na matéria da versão XEi 2020, então agora vamos focar em falar do sistema híbrido e dos principais fatores tecnológicos presentes na versão topo de linha. Como você já deve ter imaginado, o sedan adotou o conjunto híbrido do irmão Prius, mas com a exclusividade de poder trabalhar também com etanol, pois o Prius só bebe gasolina. Além disso, a Toyota incorporou a ele o pacote Safety Sense que traz algumas tecnologias semiautônomas.
No mais, o Altis Hybrid Premium manteve os equipamentos que já trazia no Altis da geração anterior, mas adicionou elementos inéditos como teto solar elétrico, multimídia com espelhamento para smartphones, faróis de neblina em LED, painel digital, entre outros. Sem opcionais, o preço da versão é de R$145.390 e apenas as pinturas são cobradas à parte.
Motor 1.8 bebe etanol e gasolina e opera em ciclo Atkinson. |
O poder da união
O Corolla Hybrid é equipado com um motor 1.8 flex aspirado de até 101cv (com etanol) e 14,5kgfm (qualquer combustível) que trabalha em conjunto com um motor elétrico capaz de gerar 72cv e 16,6kgfm; a Toyota divulga uma potência combinada de até 122cv, mas segue sem revelar qual o torque combinado do sistema. Tudo é gerenciado por uma caixa automática eletrônica do tipo eCVT chamada Hybrid Transaxle que, fugindo à regra, não é feita por polias e sim por engrenagens. Há ainda um outro motor elétrico que faz as vezes de motor de arranque e gerador/alternador de energia.
Os números não são empolgantes e isso é proposital, pois o foco aqui é economia: nossa média de consumo geral foi de 16,4km/l, sendo 21km/l o pico de economia e 11,7km/l o pico de consumo sempre com ar condicionado ligado e três a quatro pessoas a bordo. Ainda assim, o conjunto da obra consegue empurrar o Corolla Hybrid sem dificuldade quando necessário.
Acabamento interno traz bons materiais, encaixes e mostra sofisticação com tons contrastantes. |
Virando o jogo
O Corolla nunca foi referência no quesito "itens de série", mas isso ficou no passado. Como topo de linha, o Altis Hybrid Premium vem muito bem servido com os seguintes itens: faróis Full LED com ajuste elétrico de altura, ar condicionado digital de duas zonas, teto solar elétrico, multimídia com espelhamento para smartphones, banco elétrico para o motorista, interior em dois tons, pacote Toyota Safety Sense com piloto automático adaptativo, assistente de permanência em faixa, frenagem autônoma de emergência e farol alto automático, painel digital, sete airbags, entre outros.
A lista é boa e traz coisas que o Corolla jamais teve, mas não é perfeita: assim como no XEi, itens como sensores de estacionamento, saídas traseiras de ar condicionado e porta USB para os ocupantes traseiros seguem de fora do Corolla. São faltas incompreensíveis para um carro que beira os 150 mil reais, especialmente pelo fato de que há modelos que custam muito menos e trazem tais itens.
Altis Hybrid Premium se diferencia dos demais pelo friso cromado na parte superior das janelas e rodas diamantadas. |
Nas entranhas
Leva certo tempo até entender o funcionamento do conjunto híbrido, mas, para lhe ajudar, nós o destrinchamos de um jeito simples e fácil de compreender. Antes de mais nada é importante saber que ambos os motores (flex e elétrico) atuam na movimentação do carro, porém, não é sempre que eles trabalham ao mesmo tempo; em condições de baixa demanda de força (como uma pista livre em velocidade de cruzeiro ou um congestionamento), o sistema utilizará somente o motor elétrico e, enquanto houver energia, o carro se moverá sem gastar uma gota de combustível ou fazer barulho.
Caso a bateria se desgaste ou o motorista acelere um pouco mais fundo para andar, o motor a combustão é ligado automaticamente e passa a atuar de duas formas: enviando energia para o sistema elétrico e força motriz para as rodas, lembrando que a tração é sempre dianteira e que há um sistema de frenagem regenerativa auxiliando na recarga do conjunto elétrico.
"Monitor de energia" mostra como o carro está sendo usado no momento. Na foto, a frenagem regenerativa ajudando a reabastecer a energia do sistema elétrico. |
Em situações de necessidade de força máxima (como ultrapassagens, viagens em velocidade mais alta ou longas subidas), o sistema utilizará ambos os motores para movimentar o carro. É a ocasião em que há maior consumo de energia e combustível e é por esta razão que o consumo do Corolla Hybrid é melhor em uso urbano do que no rodoviário, contrariando a tendência dos carros normais.
Toda essa operação é gerenciada automaticamente pelo carro e pode ser acompanhada pelo Monitor de Energia, acessado pela central multimídia ou pelo painel digital à frente do motorista. Usando um gráfico dinâmico atualizado em tempo real, ele mostra exatamente o que o carro está fazendo: qual motor está sendo usado e pra onde a força está sendo direcionada através de ícones legendados e setas coloridas.
Tons claros e teto solar deixam a cabine arejada. |
O certinho da turma
O dia a dia com o Corolla Hybrid consegue ser pacato e interessante ao mesmo tempo. Caso haja energia suficiente, o carro é ligado sem que ninguém perceba - somente o motorista por causa das animações do painel digital. Os primeiros metros percorridos ao sair da residência também são silenciosos e causam estranheza nos vizinhos, mas basta pegar a via de maior velocidade para o motor a combustão entrar em ação. A bateria de apenas 1,3kWh possui autonomia baixíssima e existe apenas para reduzir (bastante) o trabalho do motor flex, não para anular seu uso.
Toda essa paz soa monótona com o tempo, mas é interessante (inclusive para o bolso) ver o carro funcionar sem gastar uma gota de combustível. Mostrando sua preferência pela condução urbana, o sistema híbrido é bastante inteligente e gerencia todo o carro sem problemas; pare em um semáforo com bateria suficiente e o motor a combustão se desligará, mantendo coisas como o rádio, ar condicionado e faróis ligados normalmente. Pense em um "start-stop" mais sofisticado.
As rodas aro 17 trazem o mesmo desenho do XEi mas contam com acabamento diamantado. |
A parte ruim da história é que o tanque, de apenas 43 litros, exige idas mais frequentes ao posto em viagens longas ou uso intenso do carro. Por falar em uso intenso, o arrefecimento do sistema elétrico é feito por coolers que os passageiros não podem ver mas conseguem sentir por uma certa "caloria" na região dos pés; não chega a incomodar mas mostra que o carro merecia um isolamento termoacústico mais caprichado.
Há quatro modos de condução: Normal, Eco, Power e EV, mas o que realmente determinará o comportamento do carro é a pisada do motorista + as condições de rodagem (velocidade, inclinação da pista, etc.). O interessante é que, pesando apenas 35kg a mais que o Corolla convencional, o Hybrid manteve as competências da nova geração como o rodar suave e muito seguro, superando os modelos anteriores e apresentando uma dinâmica que antes era exclusiva do Civic, seu eterno rival.
Detalhes como o logo Toyota com contornos azuis e os emblemas Hybrid são os únicos diferenciais estéticos. |
Híbrido ou convencional?
Depende do seu uso. Após uma semana e pouco mais de 800km percorridos, o que fica claro é que o Corolla Hybrid mira no consumidor que usa o carro prioritariamente para ir e voltar do trabalho e quer reduzir os gastos com combustível, além de rodar com mais paz e discrição pelo caos urbano do dia a dia. O comportamento pacato e as conveniências apresentadas fazem dele um bom companheiro de garagem para esse tipo de motorista, sem deixar que os pontos fracos do carro incomodem ou comprometam seu uso.
Se a história for outra leve o 2.0 convencional. Não é tão econômico quanto mas oferece uma condução mais versátil por conta do câmbio que oferece trocas manuais na alavanca ou nos paddle shifters (ausentes do Hybrid), além de trazer o mesmo pacote de itens e custar quase 10 mil reais a menos.
Espaço interno está na média da categoria; nem sobra, nem falta. |
Embora o Hybrid tenha se mostrado mais eficiente em situações de necessidade de força, o 2.0 convencional se sobressai em dinâmica de rodagem e elasticidade da dupla motor e caixa, se mostrando a opção correta pra quem faz uso intenso do carro e tem o hábito de pegar estradas, além de apresentar um custo X benefício melhor por ser mais barato.
No final das contas, o Hybrid veio para completar a gama do Corolla e fazer dele um carro completo, oferecendo opções tanto para o comprador tradicional quanto para os que embarcaram nas tendências da década atual e procuram um carro mais recheado. O "problema" é que o Prius perdeu o sentido de existir, exceto para os que procuram um carro que se destaque na multidão pelo visual excêntrico.
O modelo avaliado não possui concorrentes diretos na categoria "sedan médio híbrido".
Concorrentes indiretos (entre 135 e 155 mil reais): Honda Civic Touring, Volkswagen Jetta R-Line
Ficha técnica
Motor: 1.8, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 101cv (E) / 98cv (G) a 5.200rpm
Torque: 14,5kgfm (E/G) a 3.600rpm
Motor elétrico: 72cv e 16,6kgfm
Bateria: 1,3kWh
Transmissão: automática CVT
Tração: dianteira
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 225/45 R17
Comprimento: 4,63m
Largura: 1,78m
Entre-eixos: 2,70m
Altura: 1,45m
Peso: 1.440kg
Porta-malas: 470l
Tanque: 43l
0 a 100km/h: 12 segundos
Velocidade máxima: 170km/h
Matéria em vídeo
Fotos (clique para ampliar):