quarta-feira, 11 de março de 2020

2020 Fiat Toro Freedom S-Design 2.0 AT9; o queridinho da família

Texto: Yuri Ravitz
Fotos: Yuri Ravitz/Divulgação
Modelo cedido por FCA Brasil


A cor de nossa unidade de teste se chama Cinza Antique e custa R$2.500 à parte. Foto: Yuri Ravitz


Todo pai com muitos filhos tem aquele que é seu preferido, por mais que negue ou tente disfarçar. Tudo indica que, na gama do Fiat Toro, o filho predileto é a versão intermediária Freedom que foi a escolhida para receber o pacote estético S-Design, seja com motor 1.8 flex ou 2.0 turbodiesel. Foi a segunda opção que recebemos para testar por uma semana, cujo valor base é de R$146.990 e que chega a R$153.990 quando se acrescenta pintura metálica + os R$4.500 do kit visual que a marca também oferece para os modelos Argo e Cronos.

O Toro já não é nenhuma novidade pra ninguém, mas o modelo ainda desperta curiosidade por conta de seu porte incomum e sua grande gama de configurações disponíveis. Não é uma picape pequena pra ser chamada de compacta e nem avantajada pra ser considerada média - como um Toyota Hilux ou Ford Ranger - sendo assim, o que ela é e qual seu objetivo de vida? É o que vamos descrever nos parágrafos abaixo.

Faróis se posicionam abaixo das luzes de posição (sem função DRL) e conferem um ar distinto. Foto: Yuri Ravitz

O que é, o que é?

Basicamente, o pacote S-Design faz um "chrome delete" total na carroceria - algo bem parecido com o que a marca executou no Cronos HGT. A diferença é que, neste caso, as peças recebem acabamento fosco e não brilhante como no sedan. Todos os frisos e emblemas que são cromados nas demais versões do Toro, aqui ficam em cinza ou preto fosco, bem como as rodas de 17 polegadas. Para completar, há adesivos decorativos em preto fosco no capô e porta esquerda da caçamba, além dos retrovisores também trazerem acabamento fosco e o forro interno do teto + as colunas saírem de fábrica na cor preta, tudo para deixar o visual mais "malvado" sem exageros.

Cabine do Toro Freedom com pacote S-Design fica mais sóbria graças ao preto predominante. Foto: divulgação

Competência de gente grande

O conjunto mecânico responsável pela movimentação do Toro Freedom mais caro é composto por um 2.0 turbodiesel de quatro cilindros, capaz de gerar até 170cv e 35,7kgfm e que é comandado por uma transmissão automática de nove velocidades e sistema de tração 4WD - funciona apenas em duas rodas ou nas quatro o tempo todo, além de contar com opção de reduzida, tudo controlado pelo motorista. O seletor de tração fica próximo da alavanca de câmbio e, quando usado no modo auto, funciona como um sistema AWD que atua sob demanda: deixa a tração nas rodas dianteiras por padrão mas, caso haja necessidade de mais força/aderência ou perda de tração, começa a distribuir a força do motor entre as quatro rodas igualmente e de forma automática.

A fartura de marchas confere muita elasticidade ao utilitário e garante bons níveis de consumo: conseguimos uma média de 13,6km/l com ar ligado direto e três pessoas a bordo, sendo 7,5km/l o pico de consumo e 18,2km/l o pico de economia, sempre em percurso misto - lembrando que, nessa versão, a picape pesa 1.871kg. O porém da questão é que, por uma ironia do destino, o mesmo ponto forte da caixa de câmbio se mostrou seu principal ponto fraco: por haver muitas marchas, a transmissão perde tempo precioso escolhendo para qual marcha reduzir quando o motorista pisa mais fundo e precisa ganhar velocidade rápido.

Versão Freedom já vem com capota marítima em lona e santo-antônio preto de ferro com acabamento plástico decorativo e nome Toro em alto relevo. Foto: Yuri Ravitz

Uma característica interessante dessa transmissão é que, para uso normal, ela "libera" apenas oito marchas e reserva a primeira para a tração com reduzida - em suma, a "primeira marcha é a segunda" para uso normal, enquanto a nona entra apenas quando se passa dos 100km/h, o que garante bons 1.800rpm mesmo viajando a 110km/h e pouco ruído de motor na cabine. O que incomoda mesmo é o barulho dos pneus que, em alta velocidade, invade a cabine sem cerimônia e mostra que a picape precisa de um reforço no isolamento acústico... Ou de pneus menos ruidosos.

No geral, o Fiat Toro se comporta bem em ambos os casos e é agradável de conduzir tanto pela ergonomia (há ajuste de altura do banco do motorista e de altura e profundidade para o volante) quanto pelo rodar confortável. Como usa suspensão independente com molas helicoidais na traseira, seu comportamento lembra mais um SUV do que uma picape, mostrando solidez em curvas com pouca rolagem de carroceria e um bom trabalho de absorção de impactos graças ao trabalho conjunto com os pneus altos, de perfil 65.


Parada em Teresópolis, região serrana do RJ, durante a avaliação em estrada. Foto: Yuri Ravitz

Vida a bordo

O Toro Freedom S-Design traz um pacote justo de itens de série, sem firulas. Há controles de tração e estabilidade, ar condicionado digital de duas zonas, multimídia com GPS e espelhamento para smartphones, piloto automático, apoio de braço com compartimento ventilado, volante multifunção com paddle-shifters, faróis de neblina com luz de conversão estática, retrovisores com ajustes elétricos, entre outros. Apesar de contemplar os itens mínimos de conforto que se espera de um veículo desse valor, há algumas faltas imperdoáveis como os meros airbags duplos e os freios traseiros a tambor. Não há airbags laterais sequer como opcionais, algo que modelos que custam menos da metade dele (como um simples Renault Kwid) oferecem. Além disso, a capota marítima mostrou que não protege tanto de umidade quanto se espera, exigindo cuidado redobrado do comprador com as cargas na caçamba.

Com cintos de três pontos e encostos de cabeça para os três ocupantes da segunda fileira, o Toro consegue levar quatro adultos com relativo conforto e até mais espaço do que é de costume em picapes de cabine dupla - isso porque a marca privilegiou o espaço interno em detrimento da capacidade da caçamba, a fim de fazer do modelo uma opção mais atraente para quem gosta de picapes mas não necessita (ou não tem espaço para guardar) de uma média, maior e mais cara. Como costumamos dizer, tudo depende da prioridade e do gosto de quem vai comprar e, nesse sentido, o Toro deixa claro que busca atrair o consumidor que não precisa de tanta capacidade de carga, transportando itens menores que não pedem uma super caçamba.


Bancos são densos e mesclam couro com tecido, acomodando com conforto. Foto: divulgação

Considerações finais

Não foi à toa que a versão Freedom foi a escolhida para receber o pacote S-Design: é a que, ao nosso ver, apresenta o melhor custo X benefício da gama Toro. Acima dela há as versões Volcano, Ranch e Ultra (exatamente nessa ordem) que são ligeiramente mais equipadas, mas que só justificam o valor mais alto caso o comprador faça questão de determinados "mimos". Do outro lado há a Endurance abaixo que, por ser 12 mil reais mais barata, é bem mais elementar e, na nossa opinião, não justifica a economia por não vir com itens básicos que um veículo de mais de 100 mil reais deveria trazer. Além disso, as versões equipadas com motor flex apresentam desempenho e economia bastante inferiores, não se mostrando opções vantajosas.

O novo kit estético deu um ar renovado à picape, menos luxuoso e mais agressivo, podendo ser uma opção interessante para quem quer fugir do padrão e evidenciar um lado mais "intimidador" da personalidade. É a mesma quantia pedida por picapes maiores, mas menos equipadas e apenas com transmissão manual ou motorização flex, o que exige planejamento do possível comprador e uma análise do que ele precisa/deseja em seu momento atual de vida. Se for para uso mais leve e urbano, o Toro se mostra bem mais apropriado do que os rivais de maior porte.



O modelo avaliado não possui concorrentes diretos em sua faixa de preço.

Concorrentes indiretos (entre 140 e 160 mil reais): Toyota Hilux 2.8 diesel manual, SRV 4x2 ou 4x4 Flex automático, Nissan Frontier S 4x4 manual, Volkswagen Amarok SE manual, Ford Ranger XLS 2.2 manual ou automático, Chevrolet S10 LTZ 2.5 4x4 Flex automático


Ficha técnica

Motor: 2.0 turbo, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, diesel
Potência: 170cv a 3.750rpm
Torque: 35,7kgfm a 1.750rpm
Transmissão: automática de nove marchas
Tração: integral seletiva 4WD
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 225/65 R17
Comprimento: 4,94m
Largura: 1,84m
Entre-eixos: 2,99m
Altura: 1,74m
Peso: 1.871kg
Caçamba: 820l
Carga útil: 1.000kg
Capacidade de reboque: 400kg (com ou sem freio)
Tanque: 60l

0 a 100km/h: 10 segundos
Velocidade máxima: 185km/h