quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

2020 Renault Stepway Iconic 1.6 CVT; mais pra cá do que pra lá

Texto: Yuri Ravitz
Fotos: Yuri Ravitz/Divulgação
Modelo cedido por Renault do Brasil


Dianteira concentra maior parte das mudanças estéticas. Foto: Yuri Ravitz


Fazia tempo desde o nosso último contato com um Renault Sandero. Foi em Setembro de 2017 que avaliamos a versão Expression do compacto franco-romeno e, agora, trazemos nossas impressões mais detalhadas de uma semana a bordo do Stepway 2020 na versão Iconic, a mais cara da linha. Vale ressaltar que o Stepway, antes uma versão do Sandero, passou a ser tratado como um modelo à parte desde meados de 2017 e é oferecido em três opções na linha 2020: Zen, Intense e Iconic. O valor do carro aqui apresentado é de R$74.590 + R$1.500 da pintura metálica Bege Dune.


Foto: Divulgação

O que mudou?

Visualmente, o Stepway 2020 traz uma nova dianteira com para-choque redesenhado e novos faróis com luzes diurnas integradas em LED desde a versão de entrada. De lado, as únicas novidades são as rodas de 16 polegadas e, nessa versão Iconic, acabamento diamantado, enquanto a traseira traz novas lanternas horizontais inspiradas na atual geração do Mégane europeu, luzes de posição em LED e acabamento interno escurecido. No mais, os já presentes racks de teto funcionais, arcos plásticos nos para-lamas e imitação de skid plate em plástico nos para-choques.

A cabine também mudou e traz novos bancos, revestimentos e volante inspirado no do atual Clio. Além do acabamento em couro, os novos assentos da versão Iconic trazem pequenas partes na cor creme, um detalhe que também se repete nas portas dianteiras. Já na parte de equipamentos há quatro airbags, cintos de três pontos e encosto de cabeça para os três ocupantes da traseira, sensores crepuscular e de chuva, além do multimídia com espelhamento para smartphones e o controle de estabilidade - tudo novidade da linha 2020.

Lanternas trazem o mesmo acabamento da versão esportiva RS, diferente dos Sandero comuns. Foto: Yuri Ravitz

Debaixo do capô, sem surpresas: o Stepway 2020 é equipado em todas as versões com o conhecido 1.6 SCe flex, aspirado, que gera até 118cv e 16kgfm e é controlado por uma transmissão muito conhecida por alguns, mas que faz sua estreia no modelo: a automática CVT X-Tronic com simulação de até seis marchas. É a mesma dupla oferecida no Duster e no Captur, embora o 1.6 aqui apresente números ligeiramente inferiores aos dos irmãos SUV.

Nosso Stepway só viu chuva, tanto que mal deu pra fazer fotos em ambiente externo. Foto: Yuri Ravitz

Igual, só que diferente

Rodamos uma semana inteira (e bastante chuvosa) com o Stepway 2020, o que nos permitiu conferir como a nova transmissão se sai ao movimentar o compacto altinho pelas ruas da cidade grande. A impressão que ficou depois de andarmos no Captur foi boa, entretanto, parece que a Renault mudou a configuração do câmbio para o Stepway: o carro é deveras preguiçoso e demora a sair da imobilidade, exigindo que o motorista pise com mais vontade para que consiga andar. Não é um problema de falta de força do motor, especialmente pelo Stepway pesar apenas 1.151kg e o SCe já ter comprovado sua competência, mas o ajuste do câmbio que ficou excessivamente conservador a ponto de segurar giros mais altos sem necessidade, como se estivesse simulando uma reduzida na hora de parar o carro. Um pedal do acelerador mais sensível também ajudaria.

Além desse comportamento lembrar o de uma velha transmissão de quatro marchas, ele também afeta o consumo: rodando somente com etanol, nossa média geral foi de 10,8km/l sendo 13,3km/l o pico de economia e 7,6km/l o pico de consumo - que quase se tornou padrão, visto que rodamos 100% em ambiente urbano e com muito anda-e-para mediante as chuvas que não deram trégua ao Rio de Janeiro. Não é a pior média do mundo, mas é bem parecida com a do Captur 1.6 CVT, um carro mais pesado - no Stepway deveria ser melhor por conta do peso menor.

Falando em "velho", o Stepway 2020 dá alguns sinais da idade do projeto em detalhes como a insistência na direção por assistência eletro-hidráulica (mais pesada em manobras), o volante que só traz ajuste de profundidade e o acabamento interno que, apesar de ter melhorado visualmente, ainda deixa evidente a sensação de se estar em um carro pensado para ser barato.

Foto: Divulgação

Fora esses pontos, o Stepway agrada no dia a dia: os novos bancos melhoraram bastante a ergonomia em relação aos antigos, além da suspensão elevada (que não é mais exclusividade do "pseudoaventureiro") permitir enfrentar todas as imperfeições da pista sem qualquer problema. O painel é simples mas de fácil leitura, enquanto o multimídia apresenta uma interface bastante cansada, mas funcional e descomplicada. Outra boa novidade muito aguardada por proprietários foi a mudança de alguns comandos: o "switch" do piloto automático e limitador de velocidade continua no console central abaixo do ar condicionado automático, mas os botões das janelas traseiras foram para as portas - há um-toque pra subir e descer em todas as quatro.

Além disso, o comportamento preguiçoso só acontece na saída: em movimento, o compacto anda com decência e a transmissão mantém o giro baixo o tempo inteiro como deve ser, permitindo ao motorista simular até seis velocidades ao deslocar a alavanca horizontalmente de D para M. Abandonar a caixa  automatizada Easy'R foi uma grande evolução e deve ajudar o Stepway a conquistar mais clientes que procuram um hatch de visual aventureiro.

Gostou da cor? Se chama Bege Dune e custa R$1.500 à parte. Foto: Divulgação

Hatch ou SUV?

Se você entrar no site da Renault para procurar o Stepway, verá a marca se referindo ao modelo como sendo um SUV. Se entrar em uma concessionária perguntando por ele, provavelmente o vendedor dirá a mesma coisa. Acontece que a "jogada" para anunciar o compacto como um utilitário da moda está em resoluções do INMETRO que estabelecem determinados parâmetros para que um veículo possa ser chamado de SUV, dentre eles: ângulo de ataque, ângulo de saída e altura em relação ao solo. Por conta da suspensão elevada, o Stepway atende a esses três quesitos assim como seu irmão Kwid, mas isso não faz do modelo um utilitário esportivo em essência. Se quer mesmo um SUV, parta para o Duster ou o Captur.

Para piorar, a Renault precisou realizar algumas mudanças estruturais para instalar a nova transmissão CVT no compacto, o que obrigou a marca a levantar a suspensão de todas as versões da família Sandero e Logan equipadas com transmissão automática a fim de reduzir os riscos da caixa raspar no chão. Resumindo: o Stepway tinha a suspensão elevada como um de seus grandes e exclusivos trunfos mas, agora pra 2020, qualquer Sandero ou Logan equipado com caixa CVT traz suspensão mais alta e arcos nos para-lamas, embora não tragam o mesmo bodykit do Stepway.

Foto: Divulgação

Considerações finais

Mais hatch do que SUV, o Stepway 2020 trouxe algumas boas novidades e tenta parecer ser mais do que é, mas só vale se o comprador não abrir mão do visual diferenciado e alguns mimos a mais que são exclusivos dele: se for apenas pelo conjunto mecânico e a suspensão elevada, o Sandero comum com câmbio automático dará conta do recado e ainda sairá mais barato do que a versão pseudoaventureira.

Outro ponto que deve ser levado em conta é a idade do projeto: mesmo com novidades, o Sandero ainda é o mesmo carro desde o lançado em 2014. Rivais mais modernos como o Fiat Argo Trekking e o novo Hyundai HB20X devem ser lembrados na hora da pesquisa e test-drive. É sempre bom lembrar que nenhum desses hatches é pensado para o uso fora-de-estrada, e sim para oferecer um visual mais descolado - o que mais se aproxima desse tipo de uso é o Argo Trekking por trazer pneus de uso misto.


Foto: Divulgação

Concorrentes diretos (pela categoria hatch "aventureiro"): Fiat Argo Trekking 1.8 AT, Ford Ka FreeStyle 1.5 AT, Hyundai HB20X Diamond ou Diamond Plus

Concorrentes indiretos (pela categoria hatch compacto): Toyota Yaris XL Plus ou XS, Volkswagen Polo Comfortline, Fiat Argo HGT, Ford Ka Titanium 1.5 AT, Hyundai HB20 Sport, Diamond ou Diamond Plus, Chevrolet Onix Premier Turbo


Foto: Divulgação

Ficha técnica

Motor: 1.6, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 118cv (E) / 115cv (G) a 5.500rpm
Torque: 16kgfm (E/G) a 4.000rpm
Transmissão: automática CVT com seis marchas simuladas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: eletro-hidráulica
Pneus: 205/55 R16
Comprimento: 4,07m
Largura: 1,73m
Entre-eixos: 2,59m
Altura: 1,63m
Peso: 1.151kg
Porta-malas: 320l
Tanque: 48l

0 a 100km/h: 11 segundos
Velocidade máxima: 175km/h