terça-feira, 10 de dezembro de 2019

2020 Renault Kwid Outsider 1.0 MT5; o mais racional, menos racional

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Renault do Brasil


Versão Outsider traz visual exclusivo, com foco no estilo "aventureiro"


Ele voltou! Após dois anos desde o nosso primeiro contato, o Renault Kwid retorna ao Volta Rápida com novidades: atualizações mecânicas, tecnológicas e uma nova versão top de linha chamada Outsider, posicionada acima da Intense pelo preço de R$45.390, tudo parte da linha 2020 do subcompacto que foi apresentada há alguns meses. Como de costume, passamos uma semana com ele pra dizer o que melhorou, o que piorou e o que não mudou nada.

A versão Outsider repete a lista de equipamentos da Intense, mas se diferencia pelo trato estético exclusivo: racks de teto meramente decorativos, calotas em preto brilhante, para-choques com proteção inferior plástica e cabine com detalhes alaranjados. São exatos 2.500 reais sobre o valor da Intense, tudo para deixar o franco-indiano com um visual mais "descolado" e a receita parece ter dado certo: o modelo foi alvo de elogios tanto na rua quanto por leitores em nosso Instagram.

A peça plástica em preto nas portas substitui o adesivo utilizado nas demais versões

Finalmente!

Outras boas novidades vieram junto da virada de ano-modelo do Kwid. A montadora mexeu nos freios, substituindo os discos de freio sólidos da dianteira por discos ventilados e deixando o pedal mais responsivo. Além disso, há um novo multimídia com suporte a espelhamento para smartphones (tanto Apple quanto Android) e o antigo porta-objetos do console central, raso e inútil para a maioria das coisas, deu lugar a um porta-copos grande que comporta até um celular, com a borda mais alta para guardar coisas menores.

O que não mudou foi o conjunto mecânico: segue o 1.0 SCe flex, de três cilindros, com até 70cv e 9,8kgfm (no etanol) comandado por uma transmissão manual de cinco velocidades. Pode parecer pouca coisa, mas o peso de apenas 806kg do Kwid Outsider reduz o trabalho do motor e confere ao subcompacto bastante esperteza e agilidade no dia a dia. Nossa média de consumo foi de 13,7km/l, sendo 11,2km/l o pico de consumo e 15,6km/l o pico de economia, sempre com gasolina - números que deveriam ser melhores dado a massa reduzida do carro.

Interior com detalhes em laranja deixou a cabine mais "divertida", sem exageros

Razão demais atrapalha

Nem só de boas novidades vive o Kwid 2020. Mesmo na versão mais cara, o subcompacto ainda não resolveu antigos pontos fracos que o impedem de ser um companheiro melhor para o uso diário; dentre os principais, destacamos a falta de ajustes de altura do volante e do banco do motorista, elementos que fazem falta mesmo em um carro pequeno como ele. Incomoda também a simplificação que a Renault fez no SCe para o Kwid, trocando o comando duplo variável de válvulas (como é no Sandero) pelo simples, o que deixou o motor mais barulhento, mais fraco e menos econômico.

Outros pontos incômodos são a baixa qualidade do sistema de som - que é composto por meros dois alto-falantes na parte superior do painel - e o acabamento interno. Apesar do bom isolamento acústico, o interior do Kwid tende a fazer barulhos quando passamos com o modelo em pisos que não estejam 100%. A impressão que fica é a de que certos mimos (como a câmera de ré e a central multimídia) poderiam ter sido poupados em prol de uma construção mais caprichada em determinados aspectos do subcompacto.


Bancos da versão Outsider são melhores em acabamento e ergonomia, em relação aos das demais versões

Direto ao ponto

A proposta do Kwid é ser barato e a principal opção de quem deseja muito comprar um 0km. Tanto é que o valor da versão mais barata começa em 34.790 reais - só não é mais barato que o Fiat Mobi na versão Easy, que custa 33.490 reais. Já a versão Outsider mira em um público um pouco diferente: o que quer um carro 0km até 50 mil mas que traga um pouco mais que o trivial. Dentre os itens de série ele traz retrovisores com ajustes elétricos, quatro airbags (frontais e laterais), faróis de neblina, travas elétricas, vidros elétricos apenas na dianteira, câmera de ré, computador de bordo multifuncional e indicador de direção econômica por LEDs no painel.

Apesar dos pontos destacados anteriormente, o Kwid apresenta um rodar agradável e não cansa de dirigir, mesmo em trânsito pesado. Com exceção da primeira marcha curta demais, o câmbio é bem escalonado e agrada pelos engates curtos e precisos, fazendo um casamento correto com a direção (que é elétrica) e os pedais leves. Com a evolução dos freios, o franco-indiano ficou ainda melhor de guiar e se mostra uma boa opção como primeiro carro ou, também, como meio de transporte de uso diário - a menos que você precise levar a família ou seja alto, pois o espaço traseiro é bastante limitado.



A jogada de intitulá-lo "SUV dos compactos" é exagerada e beira o ridículo, mas serve para enaltecer algumas características que são bem-vindas aos carros vendidos no Brasil: altura do solo, ângulo de ataque e ângulo de saída (que são os ângulos relativos às extremidades da carroceria em relação com as partes inferiores das rodas, de contato com o solo). Segundo o INMETRO, o Kwid atende essas medidas mínimas para poder ser chamado de SUV, o que motivou a propaganda por parte da Renault.

Publicidades à parte, a suspensão naturalmente alta do Kwid o torna apto a passar pela boa maioria das lombadas e buracos das vielas urbanas sem reclamar, embora deixe uma sensação de insegurança quando se viaja em velocidades acima de 80km/h. Pra compensar isso, a Renault fez uma suspensão mais rígida por conta do baixo peso do carro, a fim de deixá-lo mais seguro e que resultou num bom comportamento em curvas.



Considerações finais

Como CARRO, o Kwid Outsider está longe de ser um exemplo ou referência, mas a coisa muda quando o analisamos como produto: o subcompacto cumpre o que promete, é agradável de conduzir e, nessa versão, consegue até encontrar espaço para oferecer mimos. Tem seus pontos fracos como todo veículo e é aqui que o possível comprador deve analisá-los, comparar com os rivais e pensar qual a melhor opção para sua vida e seu bolso.

A linha 2020 trouxe boas novidades mas manteve alguns velhos problemas. Como há um facelift previsto para ele (que deve chegar ao Brasil entre o final de 2020 e começo de 2021), a Renault tem uma oportunidade de dar mais atenção a esses pontos fracos e fazer do Kwid uma boa compra por definitivo.

Concorrentes diretos (pela categoria hatch subcompacto "aventureiro"): Fiat Mobi Way, Volkswagen Up! Xtreme

Concorrentes indiretos (hatches entre 40.000 e 50.000 reais): Fiat Mobi Like, Way ou Drive manual, Uno Attractive, Drive ou Way 1.0 manual, Argo 1.0 manual, Volkswagen Up! MPI, Gol 1.0, Chevrolet Joy 1.0, Joy 1.0 Black Edition, Hyundai HB20 Sense 1.0, Vision 1.0, Renault Sandero Life 1.0, Ford Ka S 1.0, SE 1.0




Ficha técnica

Motor: 1.0, 3 cilindros em linha, 12 válvulas, flex
Potência: 70cv (E) / 66cv (G) a 5.500rpm
Torque: 9,8kgfm (E) / 9,4kgfm (G) a 4.250rpm
Transmissão: manual de cinco velocidades
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 165/70 R14
Comprimento: 3,68m
Largura: 1,57m
Entre-eixos: 2,42m
Altura: 1,47m
Peso: 806kg
Porta-malas: 290l
Tanque: 38l

0 a 100km/h: 14,6 segundos

Velocidade máxima: 160km/h