quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

2020 Hyundai HB20S Diamond Plus 1.0 AT6; o amor é cego

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Hyundai Motor Brasil


A cor do nosso carro de teste se chama Cinza Silk e é metálica


Não existe certo ou errado quando se fala de beleza, afinal, gosto é subjetivo. O que é bonito para uns pode ser feio para outros e vice-versa, entretanto, algumas coisas adentram em um "senso comum" de beleza ou feiura, algo quase unânime, que pode fazer um produto deslanchar milagrosamente ou fracassar amargamente. Dos lançamentos automotivos que tivemos em 2019, nosso carro de teste da vez está entre os mais polêmicos: o novo Hyundai HB20S, a carroceria sedan do compacto coreano.

Com valores começando na casa dos 46 mil reais, o modelo passou por uma reformulação quase completa, ganhou novidades mecânicas e tecnológicas mas manteve a plataforma do modelo anterior. Como é de costume no Volta Rápida, passamos uma semana com a versão Diamond Plus, a mais cara da linha, para conferir as novidades de perto e ver a evolução do coreano na prática. O preço da versão é de R$81.290 + 950 pelas cores metálicas.

Traseira do sedan ficou bem mais harmoniosa que a do hatch

Beleza interior

A nova geração trouxe um design externo bastante polêmico para o coreano, enquanto a nova cabine e os novos equipamentos disponíveis foram alvo de elogios pela grande maioria. Não há opcionais: alguns dos principais itens do Diamond Plus são os quatro airbags, ESP e TCS, faróis projetores com luz de posição em LED, faróis de neblina (também do tipo projetor), multimídia com espelhamento para smartphones, rodas aro 15 diamantadas e até mesmo luxos como alerta de mudança indevida de faixa e frenagem autônoma de emergência, um item exclusivo do HB20 na categoria. A cabine renovada também evoluiu em aparência e na qualidade dos materiais, trazendo bancos e detalhes de porta na cor branca nessa versão.

Apesar de grande, a evolução não foi completa. A Hyundai não corrigiu antigos pontos fracos como o espaço interno limitado e o teto baixo para os ocupantes traseiros, além de não ter conjugado a função de luz diurna (DRL) nos LEDs dos faróis, ter trocado o antigo sistema de ar digital automático por um analógico e limitado alguns dos itens de segurança a essa versão topo-de-linha. Alguns dos principais rivais já oferecem itens como os quatro airbags (no mínimo) e os controles de tração e estabilidade de série desde a versão de entrada, o que coloca o coreano em desvantagem mesmo custando menos.

Interior é o ponto forte do novo HB20. Painel semi-digital lembra ao antigo Chevrolet Onix

Coração que bate forte

Atendendo às expectativas, a Hyundai investiu em um novo motor turbinado que promete dar trabalho aos concorrentes diretos: o 1.0 TGDi flex que gera 120cv e 17,5kgfm independente do combustível, associado a uma caixa automática de seis marchas que permite trocas manuais na alavanca ou nas aletas atrás do volante. O propulsor utiliza injeção direta e entrega todo seu torque já aos 1.500rpm, o que deixou o coreano bastante econômico e muito esperto em todas as situações - com etanol no tanque, nossa média de consumo foi de 13,8km/l, chegando a 9,7km/l de pico de consumo e 16,4km/l de pico de economia.

Quando mostramos o carro em nosso Instagram, alguns leitores perguntaram se o desempenho era semelhante ao do motor 1.6, famoso pela esperteza. O 1.0 TGDi supera o 1.6 Gamma aspirado, pois entrega 1kgfm a mais de torque em giro bem mais baixo (os 16,5kgfm do 1.6 só aparecem aos 4.500rpm) e, consequentemente, apresenta desempenho melhor especialmente em condução urbana. É uma pena que a Hyundai tenha restringido o motor às versões acima dos 70 mil reais, pois sua competência seria bem-vinda em variantes mais baratas e certamente aqueceria as vendas do modelo.

TGDi vem de Turbo Gasoline Direct injection, que deveria se chamar TFDi no Brasil por aceitar etanol e gasolina

A lei da compensação

Falando sobre o visual polêmico que citamos alguns parágrafos acima, não teve jeito: o visual adotado pelo novo HB20 se espelhou no novo Sonata apresentado lá fora, com a grade "bicuda" para os lados e muitos cantos vivos na carroceria, o que não agradou a maioria do público que associou o modelo a um bagre. A parte interessante é que dá pra esquecer isso ao entrar no carro e andar, pois o motor é silencioso e mostra disposição o tempo inteiro; completando o bom casamento, a transmissão automática de seis marchas se comporta com suavidade e não demora a entender o que o motorista quer fazer, reduzindo ou avançando marchas no tempo apropriado.

Outra característica que agradou no novo HB20S foi o pedal do acelerador que, diferente do que se vê em boa parte dos carros atuais, apresenta pouquíssimo "lag" e responde com prontidão às solicitações do condutor. O bom acerto de suspensão que veio no facelift de 2018 se manteve aqui e deixou o coreano firme sem ser desconfortável, apesar da altura elevada não favorecer a estética e fazer as rodas de 15 polegadas parecerem pequenas demais para a carroceria - algo que pode ser resolvido pelo comprador, se ele achar necessário.

Traseira curta quase faz do HB20S um notchback, tal qual o finado Ford Escort

A parte tecnológica também foi mais alvo de elogios do que de críticas negativas. Embora o painel semi-digital traga um visual datado e lembre o antigo Chevrolet Onix, seu rival direto, ele é de fácil compreensão e exibe tudo o que o motorista precisa saber, ainda que ele precise alternar entre as informações por um único e pobre botão no canto do painel. A nova central multimídia é completa de funções e funciona de forma fluída, fazendo dupla com o sistema de som de seis alto-falantes e boa qualidade sonora. Há também sensores de estacionamento e câmera de ré, mas os sensores dianteiros fizeram falta.

Dos destaques tecnológicos, aproveitamos para explicar brevemente o funcionamento do sistema de frenagem autônoma de emergência: uma câmera próxima ao retrovisor interno monitora a presença de obstáculos à frente do carro (outros veículos ou pedestres) e, caso o motorista esteja entre 8km/h e 50km/h e não dê sinais de que vai frear, o mecanismo ativa os freios automaticamente até o carro parar completamente. É um item bastante interessante mas, por não contar com sensores de aproximação, funciona melhor em ambientes bem iluminados: além disso, ele é um mero auxiliar, cabendo ao motorista a obrigação de dirigir sempre atento e pronto para realizar manobras de segurança quando for necessário.

As informações do computador de bordo se alternam através de um botão mal posicionado na parte inferior direita do painel

Considerações finais

Depois de uma semana e 400km rodados com o novo HB20S, a sensação que fica é a de que o modelo evoluiu bastante e tenta passar a sensação de um carro de categoria superior. O rodar sublime e equilibrado garantido pelo casamento do 1.0 TGDi com a caixa automática de seis marchas trouxe um novo fôlego ao coreano, mas alguns pontos como a restrição das melhores novidades às versões mais caras e a não-correção de antigos pontos fracos podem incomodar a quem procurava um carro completamente renovado.

A concorrência se modernizou e chegou com força, mas a Hyundai mostrou que fez a lição de casa e lançou um produto em concordância com a categoria de hoje. O problema é que nem mesmo a boa experiência de direção foi capaz de fazer o público olhar para ele com mais carinho: as vendas ainda tímidas e a chuva de críticas negativas a respeito do design nas redes sociais mostram que ainda vai levar tempo para o consumidor se acostumar com a nova cara dele, caso contrário, a montadora precisará mexer no design sem demorar muito.



Falando somente da versão Diamond Plus, o preço de R$81.290 assusta aos que lembram do HB20 como um carro popular e o posiciona como "o mais barato entre os caros", a saber: City EXL, Yaris XLS Connect e Virtus Highline, todos custando mais de 84 mil reais. Em relação aos rivais, o novo HB20S se equipara em tecnologia e se sobressai em desempenho, mas fica devendo em espaço interno e segurança. Recentemente, o Latin NCAP divulgou resultados de crash tests realizados com uma versão mais barata da linha e apenas na carroceria hatch, atingindo quatro estrelas para adultos e três para crianças - nota que, em tese, pode ser melhor nessa versão mais equipada.

No final das contas, nossa recomendação de sempre é que você experimente o carro e sinta se ele tem potencial para lhe agradar e ir para sua garagem. Talvez pela cabine renovada, pelos equipamentos ou a desenvoltura do motor turbo, o coreano consiga lhe fazer esquecer do design externo controverso e lembrar que, como diz o popular: o amor é cego. Caso seja proprietário de um modelo da geração anterior, encontrará boas novidades mas continuará a conviver com alguns antigos pontos fracos.



Concorrentes diretos (pela categoria sedan compacto "premium"): Honda City EXL, Fiat Cronos Precision, Toyota Yaris XLS Connect, Volkswagen Virtus Highline, Chevrolet Onix Plus Premier, Ford Ka Sedan Titanium

O modelo avaliado não possui concorrentes indiretos.



Ficha técnica


Motor: 1.0 turbo, 3 cilindros em linha, 12 válvulas, flex
Potência: 120cv (E/G) a 6.000rpm
Torque: 17,5kgfm (E/G) a 1.500rpm
Transmissão: automática de seis velocidades com paddle-shifters
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 185/60 R15
Comprimento: 4,26m
Largura: 1,72m
Entre-eixos: 2,53m
Altura: 1,47m
Peso: 1.120kg
Porta-malas: 475l
Tanque: 50l

0 a 100km/h: 9,5 segundos
Velocidade máxima: 190km/h


Fotos (clique para ampliar):