terça-feira, 29 de outubro de 2019

2020 Ford Ranger XLT 3.2 AT6; personalidade forte

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Ford Motor Company (FoMoCo)


Gostou da cor? Se chama Azul Belize e custa R$1.600 à parte.


Sem muito alarde, a Ford promoveu algumas mudanças na linha 2020 do Ranger em questão de visual externo e equipamentos de série. Oferecida em versões XL, XLS, XLT e Limited, a picape ganhou uma identidade visual mais alinhada com o restante do portfólio da marca e ficou mais equipada em quase todas as configurações, exceto a intermediária XLT que é nossa viatura de teste da vez. Pelo preço de R$178.790, a versão traz apenas pequenas alterações estéticas e passou pelo nosso teste padrão de uma semana para mostrar suas virtudes e defeitos.

É importante ressaltar que ela e a topo-de-linha Limited são as únicas a trazerem o motor 3.2 turbodiesel de 200 cavalos, enquanto as mais baratas trazem um 2.2 da mesma família, mas com um cilindro a menos e ficha técnica mais modesta. Rodamos mais de 500km ao longo da semana alternando entre trecho urbano e rodoviário, e trazemos nossas impressões pra você nos parágrafos a seguir.

As únicas novidades estéticas estão na dianteira. Todo o restante permanece sem mudanças.

Pacote fechado

A atualização pra 2020 não trouxe novidades tecnológicas pro Ranger. De série, o modelo vem equipado com itens como: 7 airbags, controles de tração e estabilidade, ar condicionado de duas zonas, rodas aro 18, multimídia SYNC 3 com tela de 8 polegadas e espelhamento para smartphones, câmera de ré e sensores de estacionamento, volante multifunção com ajuste de altura e profundidade, sistema de monitoramento de pressão dos pneus, bancos em couro, cintos de três pontos e encostos de cabeça para todos, banco do motorista com ajuste de altura, entre outros.

Apesar de não ser um pacote ruim, ele merece três observações: a primeira é que, pelo valor cobrado pela picape, mais tecnologia embarcada seria muito bem-vinda. A segunda é que uma parte das novidades incluídas na Limited poderia ter vindo para a XLT, nem que fossem apenas os itens estéticos como as rodas diamantadas e o "santo antônio" atrás da cabine. Por último, mas não menos importante, deveria haver algum protetor mínimo de caçamba; o XLT sai de fábrica sem nada, deixando qualquer carga completamente desprotegida e comprometendo a integridade do acabamento do compartimento.

Capô é sustentado por dois amortecedores, dispensando a varetinha

Troglodita

Um dos pontos altos do Ranger XLT é o motor. Debaixo do capô se esconde o 3.2 "TDCi" de cinco cilindros, popularmente conhecido como Duratorq, que é turbinado e gera saudáveis 200cv e 47,9kgfm comandados por uma transmissão automática de seis marchas. A tração é do tipo 4WD, ou seja: pode funcionar apenas em duas rodas "4x2" (nesse caso, as traseiras) ou nas quatro rodas "4x4" em modo normal ou reduzido, tudo de acordo com o desejo do motorista que pode alternar o modo de tração através de um seletor giratório perto do câmbio. É um conjunto mecânico eficiente e que leva a picape sem esforço algum, independente da situação que se apresente, além de fazer um som forte que empolga os fãs dos motores a diesel e passa a sensação de brutalidade.

Cabine é simples, mas bem montada. Iluminação azul e detalhes em aço conferem sofisticação

Um estranho entre nós

Como de costume, nossa avaliação permaneceu em ambiente urbano na maior parte do tempo, sendo o restante na estrada. Passar o dia a dia com o Ranger requer atenção e cuidado redobrados por dois motivos: o tamanho da picape e a força do motor. Apesar de trazer sensores de ré (os dianteiros fizeram falta), o porte avantajado e a posição elevada de dirigir não dão muita noção de posicionamento do veículo na pista, complicando tarefas que são corriqueiras em carros menores como, por exemplo, achar uma vaga pra estacionar na rua ou em um estabelecimento qualquer. O lado bom é que todo esse tamanho impõe respeito e faz boa presença nas ruas, deixando os outros motoristas mais atentos sobre a presença do veículo.

Outro ponto que merece atenção é o pedal do acelerador. Mesmo pesando mais de 2 toneladas, o Ranger XLT é bruto e ganha velocidade de forma muito fácil graças à fartura de torque do motor turbodiesel. O câmbio gerencia bem o propulsor na maior parte do tempo, mantendo-o na casa dos 1.500rpm em condução normal graças às marchas escalonadas corretamente, mas parece "segurar" uma marcha menor sem necessidade em algumas ocasiões, principalmente em velocidades mais baixas - como os quase 50kgfm de torque já se manifestam desde os 1.750rpm, não há porque programar o câmbio para segurar uma marcha menor a fim de elevar o giro para o motor ter força.


Comandos do multimídia, do ar de duas zonas, duas tomadas 12v, duas USB e comandos do ESP, bloqueio do diferencial e assistente de descida. O seletor giratório perto da alavanca do câmbio comanda o tipo de tração

Todos os pontos negativos do Ranger somem quando o modelo é colocado na estrada. Viajando a 110km/h o motor se mantém em 2.000rpm e, mesmo assim, esbanja força o tempo inteiro - do plano até a subida de serra que encaramos em um dos dias de testes. Não há aletas para troca de marcha no volante, mas o motorista pode fazer trocas na própria alavanca do câmbio se desejar - estando em D, basta deslocá-la para a esquerda. Há também a opção do controle de cruzeiro com comandos no volante.

Outro ponto onde a picape se destaca é no conforto a bordo. Os bancos são densos e quatro adultos conseguem viajar sem aperto; como de costume, o terceiro passageiro do banco de trás sai prejudicado por conta do túnel central elevado. Todos os comandos são bastante intuitivos e a dupla painel/multimídia, embora já esteja cansada por ser a mesma dos Fusion e Edge, dão conta do recado graças ao funcionamento simples e a variedade de funções.



Há mais alguns detalhes que agradam no convívio com o Ranger XLT 2020. Destacamos aqui a chave com abertura e fechamento remoto das janelas e o câmbio que, durante longos declives, aplica o freio-motor automaticamente quando percebe que o motorista não quer descer em velocidade. A versão XLT traz faróis com projetores de função dupla (luz baixa e alta) e ajuste eletrônico de altura que, aliados aos refletores dedicados à luz alta, totalizam quatro faróis altos e deixam a condução mais segura em trechos não-iluminados; é uma pena que não tragam luzes diurnas ou a iluminação por xenon como na versão Limited.



Considerações finais

O Ranger mudou pouco para 2020, mas preservou qualidades e a característica de ser um utilitário forte e robusto, pronto para encarar o trabalho quando necessário. A versão XLT não traz nenhuma grande novidade tecnológica e ainda custa mais do que suas rivais diretas, porém, busca compensar isso sendo uma das maiores e mais fortes disponíveis atualmente. Anda muito bem, faz boa vista e sabe controlar o apetite - nosso consumo geral ficou na casa dos 12km/l, sendo 9,3km/l o pico de consumo e 14,7km/l o pico de economia.

O maior ponto fraco da XLT é, sem dúvida, o pacote de itens. Com tanto conteúdo disponível para a Limited (tanto em mimos quanto em segurança), achamos mais vantagem investir um pouco mais e levar a opção topo-de-linha para casa; a diferença é de 14 mil reais e o recheio é bem mais atraente, além de poupar o proprietário de gastos que não teria como fugir ao levar a XLT como, por exemplo, com um protetor de caçamba.



Concorrentes diretos (pela categoria picape média): Toyota Hilux SR, Chevrolet S10 LT ou Midnight, Nissan Frontier XE, Mitsubishi L200 Triton Sport HPE, Volkswagen Amarok Comfortline

O modelo avaliado não possui concorrentes indiretos.




Ficha técnica

Motor: 3.2 turbo, 5 cilindros em linha, 20 válvulas, diesel
Potência: 200cv a 3.000rpm
Torque: 47,9kgfm a 1.750rpm
Transmissão: automática de seis marchas
Tração: integral seletiva (4WD)
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 265/60 R18
Comprimento: 5,35m
Largura: 1,86m
Entre-eixos: 3,22m
Altura: 1,82m
Peso: 2.213kg
Caçamba: 1.180l
Carga útil: 1.017kg
Capacidade de reboque com freio/sem freio: 2.680kg/750kg
Tanque: 80l

0 a 100km/h: 9,6 segundos
Velocidade máxima: 180km/h

Fotos (clique para ampliar):