domingo, 29 de setembro de 2019

2020 Ford Ka FreeStyle 1.0 MT5; ponto fora da curva

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Ford Motor Company (FoMoCo)




Cada país ao redor do globo terrestre possui suas particularidades culturais, principalmente no que diz respeito ao mercado automotivo. As preferências de cada praça são muito variadas; aqui no Brasil, por exemplo, um segmento que faz muito sucesso é o dos "pseudoaventureiros" - veículos 100% urbanos com visual que sugere uma capacidade fora-de-estrada, receita descoberta pela Fiat na década de 90 e amplamente utilizada pelas montadoras nos dias atuais.

Para nossa avaliação mais recente recebemos um integrante novato nesse grupo: o Ford Ka na configuração intermediária FreeStyle com motor 1.0 e câmbio manual. A denominação FreeStyle surgiu na década passada com o irmão EcoSport e chegou ao Ka agora em 2019, junto do facelift de meia-vida aplicado em toda a linha. O 1.0 sai por R$56.690 somente com transmissão manual, enquanto o 1.5 custa R$68.390 e vem apenas com caixa automática.

Branco Ártico, de R$600, é a cor do nosso carro de teste

Arrumadinho

O que faz de um carro um pseudoaventureiro? A receita é simples: suspensão elevada, racks de teto (alguns sequer são funcionais), para-choques diferenciados e molduras plásticas nos para-lamas. Tudo isso está presente no Ka FreeStyle (mas os racks podem ser utilizados, suportando cargas até 50kg) e é complementado por rodas aro 15 de liga e retrovisores com capa em cinza brilhante - mesma cor das rodas. No geral, o visual ficou harmonioso e foi alvo de elogios tanto de leitores quanto de pessoas nas ruas.

O tratamento estético da versão FreeStyle também envolveu a cabine do Ka. Painel e bancos misturam o tradicional preto com um tom bem fechado de marrom, tipo um café forte, enquanto o forro do teto também é todo preto como em veículos mais caros. Apesar do plástico predominar no interior, a combinação visual quebrou a monocromia característica do segmento e deixou o Ka com um ar mais sofisticado.

Cabine em dois tons agrada pela sobriedade

Ponto fora da curva

Talvez você já tenha percebido que o Ka FreeStyle está entre os mais baratos dentre seus concorrentes diretos. Isso tem um motivo: ele é o único a trazer um motor 1.0 aspirado - o novo Ti-VCT flex de três cilindros que gera até 85cv e 10,7kgfm, sendo gerenciado unicamente por uma caixa manual de cinco marchas. Todos os rivais custam mais e trazem motores maiores/mais fortes, ou seja: o Ka é pra quem deseja entrar no segmento e preza pela economia ao invés do desempenho. Por falar em economia não há pacotes opcionais, apenas cobrança à parte por cores que não sejam o "Preto Ebony".

Ser o mais barato não significa ser menos equipado. Por ser uma versão intermediária, o FreeStyle apresenta um pacote decente de itens que compõe: ar condicionado, direção elétrica, multimídia SYNC 2.5, controles de tração e estabilidade, trio elétrico (vidros, travas e ajustes dos retrovisores), banco do motorista e volante com ajuste de altura, sensores traseiros de estacionamento, entre outros. Em comparação ao FreeStyle 1.5 ele não traz câmera de ré, airbags laterais e piloto automático, além do motor mais forte e da transmissão automática.


Grata surpresa

O Ka sempre disputou a vice-liderança de vendas no mercado nacional com o coreano HB20, da Hyundai, e boa parte disso se deve à construção competente do compacto que garante uma boa dirigibilidade e um convívio diário capaz de agradar a maioria. As alterações que a Ford fez para a versão FreeStyle melhoraram os atributos já existentes: a suspensão elevada deixou o carro mais apto a enfrentar ruas esburacadas sem comprometer a estabilidade de forma perceptível em uso cotidiano. Além disso, o 1.0 de três cilindros se mostrou mais econômico que seu irmão maior 1.5: nossa média de consumo geral foi de 14,6km/l com gasolina no tanque e ar condicionado alternando entre ligado e desligado, sendo 9,9km/l o pico de consumo e 18,8km/l o pico de economia.

Outra boa surpresa foi que, mesmo sendo o único da categoria a trazer motor 1.0 aspirado, ele se mostrou valente e não fez feio quando mais exigido - dentro das limitações de um 1.0, é claro. Pra ficar melhor faltou suavidade no comportamento do motor quando fora da marcha lenta, algo bem parecido ao que acontece nos Firefly usados pela Fiat. Faltou suavidade também no acerto da suspensão: apesar do carro não bater ou raspar em nada na pista, os ocupantes sentirão os solavancos sem muito filtro no caso de um asfalto mais acidentado, dando a impressão de que a suspensão merecia um curso maior.


Trazendo cintos de três pontos, encostos de cabeça para todos os ocupantes e sistema ISOFIX pra cadeiras infantis, o Ka FreeStyle quer se mostrar um bom carro para a família - desde que ela seja composta por pais adultos e filhos pequenos. Além do porta-malas diminuto de meros 257 litros, o espaço interno não é dos melhores e fica ainda mais limitado caso motorista e passageiro dianteiro sejam mais altos.

No final das contas ele se mostrou um bom companheiro ao longo de nossa semana de testes. O computador de bordo mostra tudo que o motorista precisa saber, enquanto o multimídia - que sofreu um downgrade na atualização da linha - manteve a facilidade de uso e o complemento de funções através do espelhamento com smartphones. Some a isso a boa economia de combustível, o visual simpático e está pronta a receita de um vice-campeão: foram quase 1.000 carros de diferença para o terceiro lugar do HB20 no mês de Agosto.


Considerações finais

Não faz questão de um motor maior e quer um aventureiro? Aqui está sua única opção. Se desempenho ou espaço forem prioridades e/ou necessidades economize mais um pouco e parta para a concorrência. O Ka FreeStyle é a porta de entrada para os "aventureiros de loja" mas não deixa isso fazer dele um carro pobre; só o fato de trazer controles de tração e estabilidade de série já o coloca em vantagem contra alguns rivais mais caros e potentes.

Apesar de ser uma versão nova, a concorrência também se renovou e ficou mais acirrada: da parte da Renault com o Stepway, da Hyundai com o novo HB20X e da Fiat com o Argo Trekking. Nosso conselho de sempre é que você dirija todos, veja qual mais lhe agrada e busque o melhor negócio para você, sua família e seu bolso.


Concorrentes diretos (pela categoria hatch "aventureiro"): Fiat Argo Trekking, Hyundai HB20X, Volkswagen Fox Xtreme, Volkswagen Up Xtreme, Renault Stepway Zen

Concorrentes indiretos (pela categoria hatch compacto): Volkswagen Gol 1.6, Fox Connect 1.6, Up! Connect 1.0 TSI, Fiat Argo Drive 1.3 manual, Renault Sandero Zen 1.6 manual, Hyundai HB20 Vision 1.6 manual, Toyota Etios X Plus 1.5 manual


Ficha técnica

Motor: 1.0, 3 cilindros em linha, 12 válvulas, flex
Potência: 85cv (E) / 80cv (G) a 6.500rpm
Torque: 10,7kgfm (E) / 10,2kgfm (G) a 3.500rpm
Transmissão: manual de cinco velocidades
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos sólidos na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 185/60 R15
Comprimento: 3,95m
Largura: 1,69m
Entre-eixos: 2,49m
Altura: 1,56m
Peso: 1.081kg
Porta-malas: 257l
Tanque: 51l

0 a 100km/h: 14,8 segundos
Velocidade máxima: 160km/h


Fotos (clique para ampliar):