quinta-feira, 13 de junho de 2019

2020 Ford EcoSport Titanium 1.5 AT6; da água para o vinho

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Ford Motor Company (FoMoCo)

EcoSport ficou mais elegante depois do facelift de 2017

Se hoje os SUVs compactos são tão desejados no Brasil, o grande responsável pelo começo dessa moda é o carro da nossa avaliação da vez: o Ford EcoSport. Apresentado no Salão do Automóvel de 2002, o pequeno utilitário chegou ao mercado no ano seguinte e foi sucesso tanto de crítica quanto de público. Hoje, 16 anos após sua estreia, o modelo está em sua segunda geração e já passou por um facelift há dois anos, trazendo novidades estéticas, mecânicas e tecnológicas que o melhoraram muito.

A versão que a Ford nos cedeu para avaliar é a Titanium, intermediária, que recebeu novidades para a linha 2020 e um item exclusivo no segmento: pneus runflat, aqueles que são construídos com reforços internos para suportar uma rodagem limitada mesmo vazios, o que permitiu a extinção do estepe na traseira. Essa versão tem o preço base de R$103.890 e passou a usar somente o motor 1.5 com câmbio automático - é o mesmo conjunto mecânico do compacto Ka.

Obs.: no configurador do site oficial da Ford Brasil, a lista de versões ainda não foi atualizada. Constam as demais versões e a extinta Titanium Plus equipada com faróis de xenon de série e preço de R$100.890. O correto é a Titanium aqui apresentada, entre a FreeStyle 1.5 AT de R$91.890 e a Storm 2.0 4WD AT de R$108.390.

Versão Titanium é a única sem estepe na traseira. A placa subiu do para-choque para a tampa do porta-malas.

O que mudou?

A Titanium passou por outras mudanças além das citadas acima. É a única variante a trazer os pneus runflat, não podendo mais ser equipada com pneus normais + estepe na traseira e nem com o motor 2.0 Duratec, que agora ficou restrito à versão topo-de-linha Storm. Um ponto negativo da linha 2020 foi o abandono dos faróis de xenon (que também ficaram apenas na versão Storm) em troca dos halógenos convencionais, mas montados em projetores.

Com a adoção dos pneus que rodam vazios, a placa de identificação do veículo subiu para a tampa do porta-malas que ficou mais leve, mas manteve a abertura lateral com o botão de acionamento escondido no acabamento da lanterna direita. É uma solução típica de SUVs mais antigos, mas não é nada prática e requer atenção ao estacionar em determinadas vagas.

Acabamento interno em dois tons confere requinte. Porção superior do painel é do tipo emborrachado.

Evolução da espécie

O ponto forte do EcoSport é, sem dúvida, a lista de equipamentos. A versão Titanium vem bem recheada e traz itens que não existem nos concorrentes, além de não contar com pacotes opcionais. Alguns de seus itens de série são: sete airbags, controles de tração e estabilidade, monitoramento de pontos cegos (com alerta visual) e de tráfego cruzado na traseira (com alerta sonoro, ambos itens do sistema chamado BLIS), teto solar elétrico, ar condicionado digital, multimídia SYNC com GPS e espelhamento para smartphones, sistema de som Sony com nove alto-falantes, sensores crepuscular e de chuva, entre outros.

Há também volante multifuncional com paddle-shifters, piloto automático e limitador de velocidade, retrovisor interno fotocrômico, partida por botão, luzes diurnas em LED, faróis de neblina, sensores e câmera de ré, monitoramento ativo de pressão dos pneus e os mandatórios ISOFIX, cintos de três pontos e encostos de cabeça para todos os ocupantes de trás. Das faltas sentidas, só mesmo os já citados faróis de xenon (bem mais eficientes que os halógenos), saídas traseiras de ar e retrovisores com rebatimento elétrico, pois só trazem os ajustes.

Perfil "altinho" e curto do EcoSport agrada aos fãs de SUVs compactos.

Apetite de dragão

Debaixo do capô do EcoSport Titanium 2020 se encontra o motor 1.5 "Dragon" Ti-VCT flex de três cilindros, capaz de gerar até 137cv e 16,2kgfm e comandado por uma transmissão automática convencional de seis velocidades, um alento para quem ficou traumatizado com o extinto PowerShift automatizado de dupla embreagem. Os números do propulsor podem não parecer animadores, mas são mais do que suficientes pra levar os 1.310kg do utilitário com decência, segurança e conforto de rodagem; o que desagrada é o consumo. Em nosso teste rodando com ar condicionado desligado, gasolina no tanque e três pessoas a bordo, o EcoSport teve dificuldade de fazer mais do que 8,5km/l de média geral (mista), ficando aquém do que se espera de um motor tão novo. O maior consumo registrado foi de 6,7km/l e o menor foi de 10,6km/l.

O câmbio automático cumpre seu dever e leva o EcoSport com tranquilidade, mantendo o motor sempre abaixo dos 2.000rpm e respondendo bem ao motorista em condução normal. Falta um pouco de esperteza em ultrapassagens, por exemplo, pois o sistema demora a reduzir uma marcha para dar força ou segura a marcha atual mais do que o esperado, elevando o giro sem necessidade, mas o comportamento geral agrada e garante um rodar suave.

A Ford chama o acabamento interno da versão de "light stone".

Ares superiores

O título da matéria expressa bem a trajetória do EcoSport no mercado brasileiro. Enquanto os modelos antigos passam a sensação de construção pobre, o atual muda isso por completo. A versão Titanium traz revestimento interno em dois tons com bancos, teto, porção inferior do painel e central das portas na cor creme, com o restante em tom preto; por falar em painel, a parte superior do componente traz acabamento emborrachado e detalhes em preto brilhante (black piano) no console central e nas portas, criando uma cabine agradável que lembra a de modelos mais caros.

Mas nem tudo no habitáculo são flores. O espaço para as pernas de quem vai atrás é limitado, além do bom acabamento do painel não se repetir nas portas cujo plástico da parte preta apresenta um aspecto barato - é bem parecido com o que acontecia no extinto New Fiesta nacional, com acabamento pior que o do mexicano. Um ponto bastante positivo é a presença do teto solar com abertura elétrica e cortina manual, item raro no segmento, e outro ponto negativo é o porta-malas de apenas 356 litros; é um dos menores do segmento e não colabora pra versatilidade que se espera de um SUV.


Se os passageiros da frente forem mais altos, o espaço já fica limitado na traseira.

E os runflats?

Talvez o ponto que desperte mais curiosidade no EcoSport Titanium 2020 seja a adoção dos pneus runflat. Fabricados pela Michelin, eles trazem medidas 205/50 R17 e calçam rodas aro 17 de liga leve com uma proteção especial para suportar uma eventual rodagem com o pneu vazio. Como você já imaginou, os runflats são mais caros que pneus convencionais; segundo a Ford, o custo unitário é de R$900, aproximadamente 300 reais a mais que um pneu comum da mesma medida. Quando vazio, o runflat aguenta percorrer até 80 quilômetros de distância com segurança a uma velocidade máxima de 80km/h, o suficiente para que o motorista encontre um local para tentar um reparo definitivo ou a substituição do pneu.

Como não existe a necessidade imediata de trocar o pneu, o modelo não vem com o kit tradicional de macaco e chave de roda. Em seu lugar há um frasco de líquido selante e compressor de ar que pode ser ligado na tomada de 12v do carro, o que estende a autonomia do pneu para até 200 quilômetros. Diante dessas circunstâncias, o sistema de monitoramento ativo de pressão dos pneus se mostra mais do que obrigatório, permitindo ao motorista saber a pressão exata em cada um dos quatro pneus através da tela do computador de bordo no painel. Caso algum deles esvazie repentinamente, um alerta visual e outro sonoro avisarão ao motorista.



Um pneu reforçado significa um pneu mais pesado e, principalmente, mais duro que um comum. Os runflats se saem bem em asfalto bom e são silenciosos, mas já não absorvem as imperfeições e buracos da pista com tanta eficiência e mostram aspereza em pavimentos que não estão 100%. Eles também inibem qualquer eventual uso fora de estrada, fazendo do EcoSport Titanium um veículo unicamente urbano.

O perfil 50 não é dos mais altos, então requer cuidados ao passar por buracos. Dependendo do dano que o pneu sofrer, o kit de reparo rápido não dará conta e será necessária a compra de um novo. De todo modo, é interessante ver um fabricante de "volume" investindo na inovação, uma vez que os runflats eram exclusividade do segmento premium e poderiam se tornar tendência caso nossa malha viária fosse melhor.


A cor do nosso carro de teste se chama Cinza Moscou, perolizada, que custa R$1.450 à parte

Considerações finais

O EcoSport evoluiu muito e se tornou uma ótima compra para quem deseja um SUV compacto e não precisa de tanto espaço interno (como um casal ou família com filhos pequenos). O nível de equipamentos a bordo está acima da média e o modelo é gostoso de dirigir, mas peca na versatilidade e no consumo de combustível. Quem prioriza algum desses fatores ou um desempenho vigoroso poderá encontrar opções melhores em alguns rivais.

A versão Titanium 2020 com pneus runflat não é ruim, mas julgamos a extinta Titanium Plus superior por alguns fatores principais: custava 3 mil reais a menos, trazia os faróis de xenon e usava pneus convencionais que são mais adequados para o nosso asfalto lunar.



Concorrentes diretos (pela categoria SUV compacto): Nissan Kicks SL Pack Tech, Volkswagen T-Cross Comfortline, Hyundai Creta Prestige, Jeep Renegade Limited Flex, Renault Captur Intense, Honda HR-V EX, Chevrolet Tracker Premier, Citroën C4 Cactus Shine Pack, CAOA Chery Tiggo 5X TXS.

O modelo avaliado não possui concorrentes indiretos.



Ficha técnica


Motor: 1.5, 3 cilindros em linha, 12 válvulas, flex
Potência: 137cv (E) / 130cv (G) a 6.500rpm
Torque: 16,2kgfm (E) / 15,6kgfm (G) a 4.500rpm
Transmissão: automática de seis velocidades com paddle-shifters
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 205/50 R17
Comprimento: 4,09m
Largura: 1,76m
Entre-eixos: 2,51m
Altura: 1,69m
Peso: 1.310kg
Porta-malas: 356l
Tanque: 52l


0 a 100km/h: 12 segundos
Velocidade máxima: 180km/h


Fotos (clique para ampliar):