sábado, 1 de dezembro de 2018

2019 Volkswagen Gol 1.6 AT6; injeção de ânimo no veterano de guerra

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Volkswagen do Brasil


Os carros são como atores de cinema; enquanto uns demandam uma longa apresentação, outros já possuem um nome tão forte que, ao ser pronunciado, todo mundo já sabe exatamente de quem se trata. É esse o caso do nosso último companheiro de pista: o Volkswagen Gol. Apesar das boas médias mensais de vendas, o compacto alemão se viu meio que deixado de lado após a chegada do irmão maior, o Polo, mas a montadora não podia deixar um nome tão forte cair no ostracismo dessa maneira e foi aí que a linha 2019 apareceu.


O que mudou?

O Gol (e também o Voyage) ganhou uma dianteira nova, mas que já é conhecida de todos; é a mesma da picape Saveiro e do finado Gol Track, com faróis e grade mais pronunciados e um para-choque mais elegante, sem tantos detalhes em preto fosco. Laterais e traseira são as mesmas do último facelift, mas as rodas de liga leve aro 15 (opcionais) também são novas e seu desenho se assemelha às peças opcionais no Polo GTI estrangeiro, só que sem o acabamento diamantado.

Por falar em facelift, este já é o terceiro da geração "G5", nascida em 2008; o primeiro veio em 2013 (G6) e o segundo em 2016 (G7). Se formos contar as fases estéticas dele, o Gol 2019 pode ser chamado de "G8", mas se contarmos apenas as renovações completas (que foram três, do quadrado para o bolinha e, depois, para o modelo de 2008), ele ainda seria um "G3". A plataforma é a mesma há dez anos, preservando qualidades mas já dando alguns sinais de cansaço no conjunto da obra, como a cabine pouco ergonômica que não favorece passageiros de maior estatura e peso.

Rodas aro 15 fazem parte do pacote Urban Completo. Freios traseiros continuam a tambor

Na ponta do lápis

A linha 2019 do Gol está disponível somente nas versões de nome "1.0" e "1.6", fazendo referência às motorizações flex. A primeira traz o conhecido 1.0 MPI de três cilindros disponível desde o final de 2016, somente com transmissão manual de cinco marchas, enquanto que a segunda se divide em duas configurações distintas; a mais barata usa câmbio manual e recebe o 1.6 de 8 válvulas da família EA111 (mais conhecido como VHT), enquanto que a mais cara combina o moderno 1.6 de 16 válvulas da família EA211 (conhecido como MSI) a uma transmissão automática de seis velocidades - é o mesmo conjunto oferecido no Polo.

Nosso carro de teste é o da versão mais cara, ou seja, 1.6 EA211 com caixa automática. Seu preço base é de R$54.580 e há apenas dois opcionais disponíveis: o pacote "Urban Completo" de R$3.000 e o pacote "Interatividade" de R$2.000. É possível adquirir o pacote Interatividade de forma independente, mas não é possível escolher o pacote Urban sem incluir o Interatividade. Na ponta do lápis, um carro igual ao da nossa matéria sai por R$59.580, pois a cor Preto Ninja não possui custo.

Diferenças externas entre o Gol sem o pacote Urban (em cima) e com o pacote Urban (embaixo). Foto: Configurador VW

O pacote Urban Completo traz rodas de liga leve aro 15, faróis de neblina, faróis principais de parábola dupla com acabamento cromado, grade dianteira em preto brilhante com filetes cromados, retrovisores elétricos com repetidor de seta em LED, volante com ajustes de altura e profundidade, computador de bordo multifuncional, sensores traseiros de estacionamento, entre outros. Já o pacote Interatividade traz o multimídia "Composition Touch" com tela touchscreen, bluetooth e espelhamento para smartphones, volante em couro sintético com comandos de rádio, telefone e paddle shifters, além de seis alto-falantes espalhados pela cabine.

Sem estes opcionais, a lista de equipamentos de série do Gol é bem modesta: vidros dianteiros elétricos, ar condicionado, preparação para rádio, trava elétrica das portas, rodas com calotas aro 15, direção hidráulica, banco do motorista com ajuste de altura, etc. Mesmo quando equipado com tudo, não há elementos como cintos de três pontos para todos atrás, sistema ISOFIX para cadeiras infantis, controles de tração e estabilidade, piloto automático, entre outros. Tais ausências nos fazem lembrar da idade do projeto, por melhores que sejam as novidades da linha recém-lançada.

Cabine também não teve alterações significativas desde o último facelift

A grande estrela

Quem se destaca dentre as novidades é a combinação da caixa automática AQ160 6F com o 1.6 MSI, mais moderno que o da versão manual. Diferente da finada I-Motion, a nova transmissão é feita pela japonesa Aisin e se trata de um automático tradicional, enquanto que a I-Motion é uma caixa automatizada. De comportamento suave, ela fez um par perfeito com o propulsor do irmão maior e leva o Gol como se estivéssemos em um carro de categoria superior; as trocas são feitas entre 1.500 e 2.000 giros e, mesmo rodando a 110km/h, o motor se mantém pouco acima dos 2.000rpm, favorecendo o silêncio a bordo e o consumo de combustível (que ficou entre 12,5km/l e 16,6km/l, urbano e rodoviário, com gasolina).

A transmissão permite trocas manuais na alavanca ou nos paddle shifters atrás do volante, e conta com modo "S" que estica mais as marchas, explorando a força do motor. Por falar em força, o 1.6 MSI 16v entrega 120cv/110cv (etanol/gasolina) a 5.750rpm e 16,8kgfm/15,8kgfm a 4.000rpm, números que levam muito bem os meros 1.040kg do Gol nessa versão. O 0 a 100km/h acontece em cerca de 10 segundos e a máxima é cravada aos 185km/h.

Para fazer o conta-giros chegar nos 3.000rpm andando normalmente, só indo a mais de 130km/h

Injeção de ânimo

Rodamos pouco mais de 700km ao longo de nossa semana de teste, alternando entre ambiente urbano e rodoviário. Em todas as situações, o Gol 1.6 se comportou com muita esperteza mesmo estando cheio; nos momentos onde se precisa de mais força, basta diminuir uma marcha pressionando a borboleta esquerda do volante ou acelerar com mais vontade - o câmbio reduzirá na hora e o compacto lhe atenderá prontamente, sem engasgos ou enrolação. A suspensão elevada não proporciona tanta firmeza/segurança em trechos mais sinuosos, mas oferece conforto na medida, penando apenas nos trechos mais acidentados por conta de seu acerto mais "duro", não escondendo sua preferência por pisos bem pavimentados.

No mais, outras novidades como o multimídia Composition Touch (também vindo do Polo) ajudam bastante, oferecendo funcionamento fluído e permitindo que o motorista utilize serviço de navegação GPS mesmo não tendo a função nativa; basta conectar o smartphone por cabo USB, apertar a tecla APP no multimídia e abrir o Waze ou Google Maps. O computador de bordo monocromático é bem completo, o sensor de estacionamento exibe seu próprio gráfico no multimídia e o retrovisor direito traz função "tilt down", que abaixa sozinho quando se engata a ré, ajudando a observar o meio-fio.

Uma pausa na avaliação para curtir o visual de um dos mirantes da Estrada das Hortências, que liga Petrópolis e Teresópolis, no Rio de Janeiro

Vale a pena?

Essa foi a pergunta mais feita pelos leitores em nosso Instagram @voltarapida, e a resposta é: depende. Precisamos considerar alguns pontos importantes, e o primeiro deles é que a Volkswagen pretende lançar uma nova geração do Gol. Ainda não se sabe ao certo quando e como isso será feito, mas a renovação do compacto está dentro do plano de 20 lançamentos até 2020. Quem costuma ficar muito tempo com o carro pode achar mais vantajoso esperar para comprar o modelo renovado.

O segundo ponto é que o preço de R$59.580 do nosso carro de teste o aproxima perigosamente do irmão maior em configuração semelhante: os R$62.690 do Polo 1.6 automático sem opcionais. Apesar do Polo ser superior em tudo, alguns dos mimos presentes no Gol top de linha ficam de fora dele nesse preço do carro base, e isso pode incomodar quem procura mais recheio.

O terceiro e último ponto é nossa recomendação de sempre: faça um test drive, sinta o carro e veja se lhe agrada. Mesmo sendo uma linha 2019, o Gol continua o mesmo de 2008 com suas qualidades e defeitos - alguns foram embora, outros novos vieram. Se você é fã do carro e/ou possui algum dos anteriores, ficará bastante satisfeito com as novidades que a recente injeção de ânimo trouxe ao veterano de guerra.


Ficha técnica

Motor: 1.6, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 120cv (E) / 110cv (G) a 5.750rpm
Torque: 16,8kgfm (E) / 15,8kgfm (G) a 4.000rpm
Transmissão: automática de seis velocidades
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: hidráulica
Pneus: 195/55 R15
Comprimento: 3,89m
Largura: 1,65m
Entre-eixos: 2,46m
Altura: 1,46m
Peso: 1.040kg
Porta-malas: 285l
Tanque: 55l
0 a 100km/h: 10,1 segundos
Velocidade máxima: 185km/h


Avaliação em vídeo



Fotos (clique para ampliar):