Modelo cedido por Renault do Brasil
Você que nos acompanha há mais tempo já conhece o Renault Captur, a nova cartada da marca francesa pra competir no segmento dos SUVs compactos, pois avaliamos o modelo no ano passado em sua versão mais cara de todas, a Intense equipada com motor 2.0 e câmbio automático de 4 marchas. Apesar da posição que ocupa, a variante topo-de-linha traz um conjunto de motor e transmissão deveras defasado, o que deixa o Captur em desvantagem perante os concorrentes mais modernos ou simplesmente mais leves; por conta disso, a Renault criou a versão Intense com motor 1.6 SCe e câmbio CVT.
Essa opção é exclusiva da versão Intense mas custa um pouco menos que a 2.0, tendo preço base de R$89.950. Nosso exemplar de teste trazia dois opcionais, que são o revestimento interno parcialmente em couro por R$1.500 e a pintura "Biton" com as cores Vermelho Fogo para a carroceria e Preto Nacré para o teto por R$2.900 - na ponta do lápis, a conta fecha em R$94.350, ligeiramente acima dos R$93.650 do 2.0. E como o francês se saiu com a nova dupla mecânica? É o que fomos descobrir.
Quem vê cara não vê coração
O Captur é inegavelmente bonito; seu estilo tipicamente europeu chama bastante atenção nas ruas e faz dele um ótimo veículo pra quem gosta de aparecer, entretanto, a mesma ousadia não é vista no interior ou na lista de itens de série. O interior é bem montado e bastante silencioso, mas é repleto de plástico de aspecto ruim sem superfícies macias ao toque, algo que incomoda em um carro que beira os 100 mil reais. O bom é que se o Captur não ousa em equipamentos, também não permite sentir grandes faltas: há vidros elétricos nas quatro portas com função um-toque, retrovisores com rebatimento elétrico, controles de tração e estabilidade, quatro airbags, multimídia completa com GPS e Bluetooth, câmera de ré com sensores de estacionamento, luzes diurnas em LED, faróis de neblina em LED que atuam como luzes de conversão estáticas, faróis principais do tipo projetor com ajuste elétrico de altura, ar condicionado automático, entre outros.
É uma pena que o Captur não traga itens como teto panorâmico (disponível no mercado europeu), faróis principais em xenon ou LED, pelo menos seis airbags, multimídia mais moderna, freios a disco nas quatro rodas e outros que seriam bem-vindos em um modelo da sua faixa de preço.
O melhor da família
Se formos seguir a lógica, a melhor versão de um carro será sua variante mais cara, pois teoricamente é a que traz o melhor de tudo... Mas o Captur foge dessa lógica, e a "culpa" está no motor 1.6 SCe com transmissão X-TRONIC CVT que simula seis marchas: com eles, o Captur perdeu pouco em desempenho mas ganhou bastante em economia e esperteza, pois o maior número de marchas torna a direção mais flexível e dinâmica, permitindo que o motorista explore mais o potencial do carro quando necessário. Com 120cv e 16,2kgfm de torque, o Captur se saiu bem nas condições às quais foi submetido (trânsito urbano pesado, trechos rodoviários com subidas e descidas, entre outros) e conseguiu médias de consumo impossíveis com o irmão 2.0 AT4, como os pouco mais de 10km/l em perímetro urbano e os 13,8km/l em percurso rodoviário sempre abastecido com gasolina.
Por que consideramos o Intense 1.6 como o melhor da família? Por uma questão simples: traz o mesmo conteúdo do Captur mais caro mas custa menos, anda melhor por ser mais esperto e economiza mais na hora de abastecer, especialmente porque agora o botão ECO consegue fazer real diferença, deixando as respostas mais amenas a fim de favorecer a economia de combustível. Se faz questão de ter um em sua garagem, essa é a versão mais indicada.
Paz e silêncio
O grande trunfo do Captur é, indubitavelmente, o conforto. O bom acerto da suspensão permite um rodar suave o tempo inteiro, absorvendo as imperfeições do asfalto com eficiência e reduzindo as possibilidades de barulhos incômodos na viagem, até mesmo do acabamento interno. Colaboram pra isso o isolamento termoacústico bem feito e a adoção do câmbio CVT que mantém os giros do motor abaixo dos 2.000rpm quase sempre, e não se assuste caso precise fazer uma ultrapassagem ou subir uma serra, pois mesmo em giro mais alto, pouco se ouvirá do 1.6 SCe lá na frente.
Os bancos são densos e macios, mas faltam apoios laterais; o corpo fica solto em curvas fechadas, pois o encosto dos assentos é quase plano. Por falar em plano, o assoalho traseiro reto se combina com o espaço satisfatório para as pernas e cria uma cabine onde quatro adultos (e uma criança no meio) conseguem viajar sem aperto e com segurança, pois há cintos de três pontos, ISOFIX e encostos de cabeça para todos. Para encerrar as críticas sobre a ergonomia, faltou ajuste de profundidade do volante (há apenas o de altura, vertical) e o apoio de braço é um tanto inútil, pois para usá-lo o motorista precisa tirar a mão direita do volante. Outro ponto minimamente estranho é a péssima posição dos botões ECO e limitador de velocidade/piloto automático, localizados abaixo da alavanca do freio de estacionamento e impossíveis de acionar sem o motorista tirar os olhos da pista.
Dá pra melhorar
Se a Renault deseja ver o Captur em posições mais altas nos rankings de vendas, precisa rever alguns pontos. Começamos pela multimídia Media Nav Evolution que apesar de ser fácil de usar e completa de funções, é a mesma encontrada no Sandero e até mesmo no Kwid, carros que custam a metade; o mesmo vale para o comando do ar condicionado automático, o mesmo presente no Sandero. Além disso, os plásticos da cabine podiam ser melhores e itens como retrovisor interno fotocrômico, saídas de ar pros passageiros de trás e luzes nos quebra-sóis melhorariam o nível de conveniência a bordo sem encarecer o produto.
Há rumores que falam numa atualização do motor 2.0 (codinome F4R) e na chegada do 1.3 TCe já usado no mercado europeu, soluções que deixariam o Captur mais ágil, provavelmente mais econômico e definitivamente mais competitivo. A Renault não confirma nem nega os boatos.
Vale a pena?
Quer um utilitário atual que combine o design chamativo a um rodar tranquilo? Dificilmente encontrará opção melhor do que o Captur. Se prioriza questões como economia, condução divertida/esportiva ou mais itens de tecnologia, talvez compense pagar um pouco mais e levar algum dos concorrentes pra casa. Como sempre recomendamos: faça o test-drive assim que possível e analise qual mais lhe agradará.
Um dos concorrentes diretos do Renault Captur é o Honda HR-V, não tão macio quanto o francês mas mais econômico, vigoroso e tecnológico. Confira aqui nossa avaliação com a versão Touring, a mais cara da linha.
Ficha técnica
Motor: 1.6, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 120cv (E) / 118cv (G) a 5.500rpm
Torque: 16,2kgfm (E ou G) a 4.000rpm
Transmissão: CVT com seis marchas simuladas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: eletro-hidráulica
Pneus: 215/60 R17
Comprimento: 4,32m
Largura: 1,83m
Entre-eixos: 2,67m
Altura: 1,61m
Peso: 1.286kg
Porta-malas: 437l
Tanque: 50l
0 a 100km/h (estimado): 13,1 segundos
Velocidade máxima: 169km/h
Velocidade máxima: 169km/h
Principais equipamentos de série: ar condicionado automático, vidros elétricos nas quatro portas, travas elétricas, retrovisores com ajustes elétricos, repetidores de seta e rebatimento, sistema de som com seis alto-falantes, banco do motorista e cintos dianteiros com ajuste de altura, console central com porta-copos, porta USB, iluminação interna no porta-malas, quebra-sóis com espelho, porta-revistas nos bancos dianteiros, banco traseiro bi-partido, faróis de neblina em LED.
Fotos (clique para ampliar):