quarta-feira, 30 de agosto de 2017

2017 Honda WR-V EXL 1.5 CVT: pela razão e tradição

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido pela Honda Automóveis do Brasil




Podemos dividir os compradores de carros em duas categorias básicas: os que adoram e os que necessitam. O primeiro grupo sente prazer em dirigir e sentir o carro, e pauta suas compras quase sempre pela emoção, não vendo muito sentido em desembolsar uma fortuna por um carro 0km. Já o segundo (que é maioria esmagadora no mercado brasileiro) vê no automóvel de passeio um meio de transporte mais confortável e seguro que o público, um símbolo de independência e facilitador de vidas; se levar e trouxer com eficiência já está bom.


Comum a ambos os grupos é a diversidade de poder aquisitivo de seus membros; atualmente, um consumidor do tipo que necessita e tem uma condição financeira melhor prefere quase sempre um "altinho", seja um SUV ou crossover ou algo que pareça um desses dois.

Nosso veículo de teste e o Cristo Redentor. Os testes são executados sempre no Rio de Janeiro capital, sede do Volta Rápida

De "altinhos" o nosso mercado está repleto, e nós tivemos a oportunidade de testar um dos mais recentes da categoria: o Honda WR-V, modelo que se posiciona diretamente abaixo do HR-V e que chega para preencher o espaço deixado pelo esquecido Fit Twist com apelo aventureiro. O japonês foi lançado em Março deste ano e é, na prática, um hatchback que usou do visual robusto para embarcar na onda do momento, o que deu muito certo: a Honda já superou as expectativas de vendas para ele. Chegando em apenas duas versões que dividem o mesmo (e único) conjunto mecânico, nós recebemos a topo de linha EXL que hoje custa R$83.400 e rodamos mais de 1000km durante nossa semana de testes.

Apesar de dividir opiniões, a Honda acertou em cheio nas soluções de design implantadas no WR-V; plásticos em preto fosco, suspensão levemente elevada e rodas de 16 polegadas com acabamento diamantado

Visual

O WR-V divide opiniões, mas o fato é que a Honda foi certeira nos toques visuais do modelo; elementos consagrados como os arcos dos para-lamas com acabamento preto fosco, barras longitudinais prateadas no teto, lanternas com contorno escurecido, rodas de 16 polegadas com face diamantada e suspensão ligeiramente mais alta estão ali para fazer o possível comprador sentir que está levando um SUV para casa. A dianteira ainda traz luzes diurnas em LEDs de série conjugadas nos faróis principais, enquanto a traseira possui lanternas em "L" no mesmo estilo do renovado CR-V (que ainda não veio para o Brasil). 

A Honda disponibiliza seis cores para o WR-V, sendo uma sólida, duas metálicas e três perolizadas, todas sem custo; a do nosso veículo de teste era a Vermelho Mercúrio Perolizado.

Traseira foi o ponto mais criticado no WR-V; lanternas que lembram as do atual Fit e configuração visual não agradou

Mecânica

Há somente uma única dupla de motor e câmbio disponível para o WR-V: o 1.5 16v i-VTEC flex naturalmente aspirado de 116cv e 15,3kgfm de torque que trabalha em conjunto com um câmbio CVT do tipo tradicional (sem simulação de marchas, apelidado carinhosamente por nós de "CVT raiz") com modos S (de Sport, que deixa o giro do motor mais alto para melhorar o desempenho) e L (de Low, ou reduzida, ideal para subidas e descidas muito íngremes). Com isso, ele faz de 0 a 100km/h em 12,5 segundos e atinge máxima de 168km/h, números que estão longe de ser empolgantes, mas que se mostram suficientes para o uso urbano sem cansar ou deixar o motorista na mão caso precise sair de alguma situação ruim com rapidez.

Aqui é onde o WR-V mostra um de seus maiores trunfos: a economia de combustível. Durante nosso teste de percurso misto com maior parte em trecho urbano, o computador de bordo não marcou menos do que 14,5km/l, se aproximando dos 16km/l em circuitos rodoviários. Falando em trecho urbano, a suspensão (independente na dianteira, eixo de torção na traseira) foi recalibrada somente para ele e mostrou eficiência ao absorver os impactos das irregularidades do nosso asfalto "lunar".

Subida da serra de Nova Friburgo; mesmo sendo mais alto que um Fit por exemplo, WR-V não se mostrou inseguro em curvas
Tecnologia

Outro ponto positivo do WR-V é o de não ter opcionais. O modelo vem de série com trio elétrico (vidros, travas e ajustes dos retrovisores), ar condicionado, faróis de neblina, computador de bordo, seis airbags (dois dianteiros, dois laterais e dois de cortina), sistema multimídia com GPS/Bluetooth/USB/Aux/câmera de ré e tela touchscreen com controle por gestos, quatro alto-falantes, limpador traseiro, repetidores de seta em LED nos retrovisores, bancos ULTRa Seat com ajuste de altura para o do motorista, direção elétrica, volante multifuncional com ajuste de altura e profundidade, piloto automático Cruise Control e ISOFIX nos bancos traseiros com cintos de três pontos e encosto de cabeça para todos os ocupantes.

A lista é satisfatória, mas deixa de fora alguns mimos que fazem falta em um modelo de mais de 80 mil reais (como luzes de cortesia nos quebra-sóis e porta-luvas, além de vidros com função um-toque, presente apenas no do motorista), sendo o grande pecado a ausência de controles eletrônicos de estabilidade e tração, itens que já podem ser encontrados em modelos bem mais baratos no mercado e que comprometem a segurança ativa do WR-V.

Familiarizado com o interior? Não se espante; é o mesmo do Fit

Como Anda

A vida com o WR-V promete ser muito tranquila. Além do peso do nome Honda (que pra muitos significa "zero manutenção, o que na prática nem sempre acontece), a preferência da marca pelo câmbio CVT tradicional não foi à toa. Diferente do atual Civic que utiliza um CVT que simula sete marchas e tem tradição como um carro de condução mais divertida, o WR-V quer oferecer paz e conforto acima de tudo, o que corre o grande risco de se transformar em tédio com o passar do tempo. Pisando com leveza no acelerador, o modelo se conduz de forma contínua e direta sempre por volta dos 1800 a 2000rpm, e a serenidade na cabine aliada a falta de troca de marchas remete a um carro elétrico mesmo em velocidades mais altas. Entre 80 a 110km/h, o conta-giros segue na faixa dos 1800rpm, fator decisivo para o baixo consumo mas que condena o desempenho. O fato da transmissão não utilizar marchas sequer de forma simulada deixa as retomadas e reduzidas lentas, dificultando na hora de uma ultrapassagem por exemplo; aqui a dica é descer a alavanca de câmbio para o S, a fim de elevar o giro do motor de forma mais imediata. Para completar, a direção elétrica é suave como os pedais (que demandam certo tempo até se adaptar) e ajuda significativamente na hora de estacionar, sem ser leve demais durante a condução normal.

Além de oferecer tranquilidade, o WR-V quer ser um carro para a família e deixa isso claro através do sistema de bancos modulares ULTRa Seat que permitem diversas combinações para transporte de objetos, além do generoso espaço para as pernas, especialmente no banco traseiro.

A bela tonalidade Vermelho Mercúrio combinou com o cinza e verde da rodovia

Vale a Pena?

Se faz questão de carros 0km e procura um modelo espaçoso, econômico e com estilo atual, vá em frente; o WR-V atenderá com louvor, pois apesar das falhas graves como a falta dos controles de tração/estabilidade e de freios a disco nas quatro rodas, o japonês agradou e se saiu bem no teste de um modo geral. Se prefere um pacote tecnológico mais interessante e melhor desempenho, há opções bem mais atraentes, pois tanta calmaria acaba por não permitir que se sinta o prazer ao dirigir. No mais, é um Honda, o que no mercado brasileiro representa confiabilidade, facilidade de revenda e baixa desvalorização.

Não deixe de conferir o teste em vídeo no nosso canal no YouTube através do link:


Mais fotos do WR-V EXL (clique para ampliar):